O deputado José Genoino, no artigo de Wellington Balbo, nos
fez recordar o artigo: “Eleição, Mulheres
e Voto Consciente”, publicado na Revista Internacional
de Espiritismo, setembro de 2000 -
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/eleicao-mulheres-e-voto-consciente.html
Antes das eleições, na TV duas candidatas discutem.
Uma delas havia enfrentado, com muita angústia, um aborto espontâneo.
Percebi que, embora fossem do mesmo credo, apresentavam posições
antagônicas. Eram materialistas. Muitos têm fé
no niilismo e acreditam na inexistência de vida após
a morte, embora esta tese seja defendida sem nenhuma evidência
experimental que a suporte. Uma opinião apresentada por uma
delas, a de que o aborto é um direito, foi o que me chamou
a atenção.
Disse:
“a campanha pela legalização
do aborto deve seguir na direção pura e simples do
direito de abortar, não necessitando a mulher explicar que
há problemas com o feto ou que foi estuprada. O aborto não
deve ser considerado crime e o argumento que invoco é um
só. A mulher pode dizer que não quer este filho e
que seu corpo lhe pertence. Este é o projeto de lei pelo
qual anseiam as mulheres".
Diz a outra:
“mas, aqui o direito
de um implica na morte do outro. Não podemos auto-atribuirmos
a decisão e a ação de matar o outro. Isto é
questão de poder acumpliciado a uma licença ética.
É exatamente o que se dá com o político que
leva o povo à guerra; dá-se ainda com o terrorista,
com o torturador, com os assassinos de todos os matizes. Poder e
não-ética, associados, produzem todas as lesões
ao outro: o roubo, a censura, o seqüestro, a lista é
longa. O aborto não é um direito, é uma possibilidade
decorrente do poder e da anestesia da consciência, como escravizar
o negro, matar judeus.”
Como que se não tivesse
escutado os argumentos, surge a réplica:
“A legislação
do aborto não dá à mulher autonomia sobre seu
corpo. Precisamos entrar na modernidade! Estamos atrasados em relação
à Itália, Alemanha ou à França.”
“Sim. Mas, não
seria o caso de ampliar a informação sobre anticoncepção?
Usar do direito de não engravidar, nestes dias de Aids, usar
a camisinha e exigir a colaboração do companheiro?”
“É, mas um dia a casa cai e você aparece grávida,
minha filha!" - diz a outra.
A resposta estava na ponta
da língua:
“mas a culpa é
do bebê?”
O óvulo é seu.
O útero, também, mas o ovo fertilizado é outra
pessoa!
A outra engoliu em seco e não se deu por vencida.
“Sim, mas enquanto os
teóricos, como você, discutem se o feto com duas ou
com quatro semanas já é uma pessoa, a mulher engrossa
as estatísticas. As mulheres pobres vão continuar
abortando com agulha de tricô?
De repente a outra disse:
“Espera aí, vamos
entrar nessa de que o Ministério da Saúde adverte...
e, gastar fortunas dos recursos públicos, para tratar enfisema
e câncer pulmonar que apareceram por causa de uma droga socialmente
aceita?
“Minha amiga”, falou com tom de piedade, “não
seria melhor investir numa estrutura melhor para gerar filhos? Investir
em creches e oferecer orientação sobre contracepção?
O país já tem os sistemas de comunicação
bem desenvolvidos é só questão de vontade política
fazer a opção pela educação!”
E arrematou:
“Isto não é
o mesmo que colocar o aborto na lei e a consciência fora da
lei?”
“Ora, minha amiga, estamos
discutindo a existência de alguém que ainda nem é
uma pessoa. É apenas um amontoado de células. Eu estou
defendendo a mulher e você vai ficar defendendo um feto!”
“A mulher é sempre ignorada. Essa é a grande
questão do nosso século. As mulheres que abortam,
no Brasil, não o fazem por opção. Quando falo
no direito de abortar falo em direito à vida humana, decente
e digna. É preciso existir estrutura para gerar filhos, foi
você mesma quem colocou!”
“Sim”, veio a
resposta: “e deve ser aí que devemos gastar a nossa
energia e não tentando desumanizar o outro! Sempre que se
quer humilhar, castrar, limitar ou matar o outro, recorre-se a esta
técnica consagrada. O primeiro ato é desumanizar.
Se o embrião é um "vir a ser", mas não
é ainda por que não suprimi-lo em favor dos que são?
Hitler e Stálin tinham idéias, até nobres,
pelas quais se delegaram o direito, e até o dever, de matar
judeus, dissidentes, capitalistas, comunistas e católicos.
O que se quer é “desumanizar” o embrião
para adormecer as consciências com uma legitimidade.
"A ciência não tem uma definição
de vida, portanto não pode justificar um procedimento tão
grave sobre o que desconhece.”
Este diálogo é
encontrado no opúsculo que recebeu o título “Antes
de votar pergunte ao candidato sobre o aborto” e que
está colocado em Campanhas (1998), na antiga HP do NEU-RJ,
no endereço eletrônico http://www.geocities.com/neurj/neurj.htm
Votar não é fácil, apertar botões não
deveria ser a única preocupação dos educadores
de época de eleição.
Devemos tomar cuidado. Nestes dias, na beira do precipício
Portugal recebeu o empurrão!