Luiz
Carlos Formiga
> A Mulher do "Próximo" - dos delitos
e das penas
Nicolau era vaidoso, embora sem grandes
dotes físicos. Nasceu num período de constantes crises,
teve infância difícil e juventude cercada de problemas
financeiros. "Aprendeu" a observar comportamentos. Ficou-lhe
clara a ideia de que a natureza humana é egoísta, malvada,
sem remédio e que a sociedade nunca superará a fase
Caim & Abel. É o pessimismo do pecado original sem redenção
pela cruz. Com a idade madura consolidou-se a ideia: "o
fim justifica os meios".
Nicolau não fugiu à regra: "mulheres bonitas
se casam com homens feios". Casou-se com Norberta, advogada,
com formação cristã, uma dessas
mulheres que nos apaixonam pela beleza interior. Para ela a religião
deveria imunizar-se contra o fascínio do poder econômico,
(1) e do proselitismo, neste caso intimamente
ligados. Tinha Jesus como modelo, amava São
Francisco e era devota de um santo, que fora doutor em Direito
Civil, São Caetano (2).
Por economia, não vamos nos aprofundar no porquê o destino
une criaturas tão diferentes (3).
Nicolau morreu primeiro (1900-1958). Ela chegou à casa dos
noventa. Mas que fatos e principalmente ideias são dignos de
relato?
O aparecimento de uma terceira pessoa não
pode ser deixado de lado. Antes vamos lembrar que Nicolau acreditava
na possibilidade de se constituir um estado a partir da experiência
real sem a necessidade de levar em conta os valores éticos,
religiosos ou espirituais.
Norberta pensava diferente. Com cultura diversa acreditava que, para
isso, era necessário um conjunto de amplos princípios
a partir dos quais se pode compor a ordem.
Nicolau, utilitarista rigoroso, parecia presa fácil daquilo
que se convencionou chamar de "fascinação"
ou de ideias que subjugam. Ele chegou a acreditar que o fim último
era o "Estado", a que tudo deve ser subordinado. Personalidade
inflacionada pelo complexo de superioridade chegou a admitir que se
o filho batesse no pai sua mão deveria ser cortada. Ela, pacientemente,
dizia que isso era costume superado.
Nicolau, que não pensava no bem comum e que tinha um outro
conceito de justiça estava irremediavelmente desatualizado
em Ciência Política. Achava que o importante
era a técnica, mas não aquela que simplesmente fizesse
chegar ao poder, mas que garantisse a permanência nele.
Para isso, pensava, era necessário conjugar a força
do leão e a refinada prudência da raposa. Era fundamental
conhecer as paixões humanas e suas fraquezas, para usar como
meio de dominação. Por outro lado,
lembrando um antigo costume indiano, acrescentava a necessidade do
eventual uso da violência.
Nicolau, sem intenção de trocadilho com o sobrenome,
estava mais próximo de Nicolau Maquiavel (*),
enquanto ela de Norberto Bobbio (**).
O casal me fazia lembrar de Carlos Lacerda (ou Marat?), embora por
motivos diferentes: - "a inteligência é pecado
sem perdão, quando a mediocridade tem poder de decisão".
Decidir é o verbo no Estado Democrático de Direito
(4).
Norberta, nas suas atividades profissionais, vivia cercada de jovens
acadêmicos aos quais procurava orientar oferecendo raciocínio
inverso ao do marido.
Dois jovens se destacavam. Rodolfo, o que sempre
lembrava o direito-justo e Jorge, que sem esquecer
o momento histórico cultural, chamava a atenção
para a necessidade do conhecimento da natureza humana, mas enfocada
na causalidade e também no plano teleológico.
Norberta percebia que seus futuros colegas tinham absorvido seu pensamento
da "necessidade de se conhecer as paixões humanas, no
entanto com outros objetivos". Para ela, a democracia podia ser
cansativa, onerava o tempo, mas não lhe haviam ainda apresentado
coisa melhor. Ela enfatizava que a democracia representativa
possui seus problemas, como o "ainda não ter conseguido
um poder que não seja controlado por outros poderes",
como o econômico. Lembrava que a democracia não havia
também conseguido contornar outro poder, o neurótico
(5), aquele que insiste em nos apresentar
os mesmos candidatos e que sempre são reeleitos.
Norberta pensava num projeto pedagógico que privilegiasse a
educação para a cidadania e levasse
ao voto consciente. Para ela o "consciente"
seria aquele voto usado não para "decidir"
a mudança, mas para escolher o que iria, por nós, tomar
decisões. Ela era uma democrata incorrigível.
Nicolau, que não era de ferro, na sexta-feira também
ia ao bar com os colegas e chegava tarde... Ele nem pensava numa terceira
pessoa e muito menos que sua bela mulher pudesse engravidar.
Lembrei-me agora do DNA, do teste de paternidade, do "falso"
neto na novela do horário nobre, do oriente antigo e daquele
código da sociedade dividida em castas, onde o filho
bastardo era um "cadáver vivo".
Hoje no cemitério podemos ler: "Aqui jaz Dr. Nicolau
Próximo".
Sobrenome peculiar, inesquecível, diferente, como o meu!
Poderíamos acrescentar: - "Homem estressado, que não
conhecia bem suas próprias paixões e fragilidades".
Norberta tinha tido um sonho premonitório (6).
Ele veio a falecer, ainda relativamente jovem, mas não
antes de se envolver com a secretária, casada com homem violento.
No entanto, devo dizer que sua morte não teve nenhuma ligação
com o marido enganado. Enfarte da vida!
Norberta morreu velhinha, mas feliz, ao lado o filho (legítimo),
cercada de netos e bisnetos, que nunca esquecerão suas lições:
- "Democracia deve ser pensada
como um processo contínuo”. “Sem desconsiderar
os direitos humanos devemos constituir um ordenamento com as normas,
definidoras da legitimidade, de quem deve governar".
O projeto pedagógico de Norberta,
que começou entre os seus, certamente vai ganhar novos adeptos,
principalmente entre os que se preocupam com o período
infantil. Nesse período, crucial da vida humana, é
necessário "deixar muito claro" o amor que sentimos
por eles e, como lembrava Jorge, enfatizar os seus objetivos existenciais
como pessoa (7).
Leitura adicional
(1) Idolatria
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/sequestro-e-idolartria.html
(2) São Caetano
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/sao-caetano-futebol.html
(3) Evidências científicas sugestivas de reencarnação
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/reencarnacao.html
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2014/05/reencarnacao-existe-como-provar.html
(4 ) A escolha de candidatos O voto consciente
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/EL_ANT_D_VOT_PER_AO_CAN_SOBR_O%20AB_LCF.html
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/eleicao-mulheres-e-voto-consciente.html
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/em-quem-votar.html
(5) Poder neurótico
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2011/03/apego-ao-cargo-o-poder-neurotico.html
(6) Sonhos
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/A_VISAO_ESP_DOS_SONHOS_LCF.html
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/sonhos.html
(7) Importância do período infantil e da religião:
- Deixe claro para o seu Filho
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/DEIXE_CLARO_P_SEU_FILHO_LCF.html
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/deixe-claro.html
- Evangelização infanto-juvenil
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/assistencia/vacinacao.html
- Por que as crianças se suicidam
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-criancas-se-suicidam.html
_____________________________
Originalmente publicado em:
http://www.cefamiami.com/newsletter/materias/artigo/05.04/index.html
(*) Nicolau Maquiavel (em italiano: Niccolò
di Bernardo dei Machiavelli; Florença, 3 de maio de 1469 —
Florença, 21 de junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata
e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como
fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo
fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são
e não como deveriam ser. O "Príncipe" é
provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente
escrito em 1513, apesar de publicado postumamente, em 1532. Maquiavel
era um verdadeiro republicano, mas ele acreditava que somente a força
de um líder especial poderia criar o um Estado italiano forte
como ele imaginava. A ética em Maquiavel se contrapõe
à ética cristã herdada por ele da Idade Média.
Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os
Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana
destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel
a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção
da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio,
de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má
a não ser sob uma perspectiva histórica. Reside aí
um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com
essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência,
seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo,
o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la
má.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel)
(**) Norberto Bobbio (Turim, 18 de outubro de 1909
— Turim, 9 de janeiro de 2004) foi um filósofo político,
historiador do pensamento político e senador vitalício
italiano. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos,
lógicos e, ainda assim, densos. No campo da Filosofia do Direito
Norberto Bobbio incorpora-se na corrente dos que identificam no corpo
doutrinal três áreas de discussão: uma área
ontológica, da Teoria do Direito, que se preocupa com o direito
com existe, procurando alcançar uma compreensão consensualizada
dos resultados da Ciência Jurídica, da Sociologia Jurídica,
da História do Direito e outras abordagens complementares; uma
área metodológica que compreende uma Teoria da Ciência
do Direito e que recai no estudo da metodologia e dos procedimentos
lógicos usados na argumentação jurídica
e no trabalho de aplicação do Direito; e, por fim, uma
área filosófica materializada numa Teoria da Justiça
como análise que determina a valoração ideológica
da interpretação e aplicação do Direito,
no sentido da valorização crítica do direito positivo.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Norberto_Bobbio)
Fonte:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/A_MULHER_DO_PROXIMO-D_DELIT_E_D_PENAS_LCF.html
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