Eu sou apenas o que sou. Eu sou um moço-velho, que já
viveu muito, que já sofreu tudo e já morreu cedo. Eu
sou um velho-moço, que não viveu cedo, que não
sofreu muito e não morreu tudo. Eu sou alguém livre,
não sou escravo e nunca fui senhor. Eu simplesmente sou um
homem que ainda crê no amor. Do CD "Aos Mestres, com carinho",
de Silvio César.
O tema foi motivo em 2007 de edição
especial da Revista de Psiquiatria Clinica, USP. Agora em 2008 retorna,
volume 35. Suplemento 1. Nova edição especial - Álcool
& Drogas - tendo como editor convidado o professor doutor Arthur
Guerra de Andrade. (7). No seu editorial "A importância
do conhecimento científico no combate ao uso nocivo de tabaco,
álcool e drogas ilícitas ", o editor afirma que
"o consumo indevido de drogas lícitas e ilícitas
é um sério problema de saúde pública que
atinge de forma preocupante todos os países do mundo. Estima-se
que entre os anos de 2005 e 2006, aproximadamente 200 milhões
de indivíduos tenham consumido drogas ilícitas. Em relação
às substâncias lícitas, a situação
não é menos preocupante: o consumo prejudicial de álcool
é responsável por quase 4% de todas as mortes no mundo,
sendo a principal causa de morte e invalidez nos países em
desenvolvimento que apresentam baixa taxa de mortalidade e o terceiro
principal fator de risco para a saúde, após o tabaco
e a hipertensão arterial sistêmica, em países
em desenvolvimento. No mundo há, por sua vez, 1,3 bilhão
de indivíduos que utilizam tabaco e essa substância responde
por 4,1% da carga global de doenças, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS)."
"Além de enfermidades
e mortes, o consumo de drogas associa-se a uma série de problemas
psicológicos e sociais, estando os jovens situados no grupo
de maior risco para o uso experimental e possível abuso de
substâncias, especialmente o álcool, o tabaco e a maconha.
Entre as possíveis conseqüências negativas, podemos
mencionar desintegração familiar, depressão,
violência e acidentes de trânsito. Diante desse quadro,
continua o professor, "é fundamental o investimento
no tripé prevenção: educação,
controle e tratamento. Todas as ações ainda devem
estar embasadas em evidências científicas que poderão
auxiliar na compreensão da prevalência dos problemas
causados pelo uso indevido de substâncias e contribuirão
para a identificação das melhores estratégias
de prevenção e tratamento".
No inicio do ano, tivemos o Seminário
sobre Drogas no Movimento de Amor ao Próximo (MAP) no Rio de
Janeiro. As fotos estão no site, http://www.map.org.br/, assim
como o convite para outro Seminário que será realizado
em 7 de setembro, agora com alguns autores do livro que deverá
ser relançado - http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.15.htm.
O dia 7 de setembro é especial para os brasileiros, mas 29
de agosto, para os espíritas. Neste dia nasceu, em 1831, Adolfo
Bezerra de Menezes Cavalcante, em Freguesia do Riacho do Sangue (CE).
Conhecido como o "Médico dos Pobres" escreveu "A
Loucura Sob um Novo Prisma".
O filme "Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírito"
foi lançado no circuito de cinemas de 40 cidades brasileiras.
Depois de conhecer a Doutrina dos Espíritos que o doutor Bezerra
passou a ver com outros olhos os casos diagnosticados como doença
mental. Enquanto escrevia, minha filha me telefonou dizendo que não
conseguiu comprar entradas. Todos os lugares no cinema estavam ocupados.
Que bom, pensei comigo. Muitos vão conhecer o médico
brasileiro através do cinema.
Lemos na Revista de Psiquiatria Clínica um prefácio
com o título: Religião, Espiritualidade e Psiquiatria:
Uma Nova Era na Atenção à Saúde Mental.
(1)
A palavra religião pode trazer aos desavisados algum desconforto,
uma vez que produz desconfiança. "religiosos" se
tornaram materialistas. No entanto, apesar do discurso dos que mercadejam
a mediunidade para levantar grandes fortunas e apesar também
dos líderes que perseguem cargos, posições e
títulos, a religião pode oferecer grande contribuição
à área de saúde, não só mental.
Naquela época em que o adepto podia parar na delegacia, doutor
Bezerra foi destemido diante do preconceito.
No prefácio da Revista de Psiquiatria, escrito pelo professor
da Universidade de Duke (1), podemos verificar números. Uma
pesquisa on-line na PsycINFO, uma base de dados que contém
2,3 milhões de pesquisas e artigos acadêmicos de 49 países
em 27 idiomas, usando as palavras-chave "religion", "religiosity",
"religious beliefs" e "spirituality", revela algumas
tendências interessantes.
Quando o professor restringiu os anos da busca de 1971 a 1975, foram
identificados 1.113 artigos, mas ao repetir a pesquisa restringindo-a
aos anos entre 2001 e 2005, obteve 6.437 artigos, havendo um aumento
de mais de 600% em 30 anos. Assim, parece ocorrer um rápido
incremento na pesquisa e discussão acadêmicas relacionadas
à relação entre religião, espiritualidade
e saúde mental.
O médico Arthur Conan Doyle, criador da série Sherlock
Holmes, escreveu no livro "A História do Espiritismo"
que: "os homens de ciência se dividem em classes, há
os que absolutamente não examinaram o assunto - o que não
os impede de pronunciar opiniões muito violentas." (2)
O Brasil é um país de contrastes. Cientistas podem ocupar
lugar de destaque e serem absolutamente ignorantes em relação
a religiosidade. Na universidade ainda encontramos o preconceito.
Alguns professores bem informados procuram diminuir distâncias.
Vamos a um exemplo: publicação britânica destaca
papel da Unicamp na Inovação. "O desempenho da
Unicamp na geração de patentes é um dos destaques
do livro Brazil: the natural knowledge economy, que acaba de ser publicado
pela editora britânica Demos. O trabalho faz parte do Atlas
de Idéias, um programa que pretende mapear a nova geografia
da ciência e da inovação no planeta. A Unicamp
tem mais patentes requeridas do que qualquer outra universidade brasileira,
escreveu a pesquisadora britânica, observando que 40% delas
foram produzidas na área de química." (3)
Por outro lado, é de um professor da Unicamp o artigo que fala
da "Excelência Metodológica do Espiritismo"
(4). Doutrina que surgiu a partir da pesquisa sistemática,
que afirma que o homem é um ser de natureza bio-psico-socio-espiritual.
O Supremo Tribunal Federal está diante dos fetos anencéfalos.
Alguns ministros desconhecem as leis do plano espiritual, o que poderá
levar a tomar decisão geradora de prejuízo aos espíritos
que reencarnarem para viver alguns momentos. Alguns nem desconfiam
da finalidade desse tipo de experiência.
Muitos fetos nesta condição podem não possuir
alma, mas outros há que nascem e respiram. Será que
minutos na carne podem ser de grande valia perispiritual? Doutores
em ciências jurídicas podem ser hipossuficientes nas
espirituais.
André Luiz, pela psicografia do médium Francisco Cândido
Xavier, no capítulo "Assistência Fraternal",
do livro Libertação, edição da Federação
Espírita Brasileira, nos informa que a hipossuficiência
é encontrada mesmo em espíritos já libertos do
corpo: "na maior parte dos presentes não surgia o mais
leve traço de compreensão da espiritualidade. Raciocínios
e sentimentos jaziam presos ao chão terrestre, vinculados a
interesses e paixões, angustias e desencantos".
Em Religião, Espiritualidade e Psiquiatria: Uma Nova
Era na Atenção à Saúde Mental.(1) o professor
Koenig diz que "muitos dos primeiros hospitais destinados
ao cuidado de pessoas com doenças mentais foram organizados
por monges e sacerdotes. O tratamento moral tornou-se o tipo dominante
de cuidado psiquiátrico nos Estados Unidos e Europa no começo
do século dezenove. Entretanto, este cenário mudou no
início do século vinte com os escritos de Sigmund Freud
na psiquiatria e de G. Stanley Hall na psicologia. Esses autores acreditavam
que religião gerava neurose e que teorias psicológicas
iriam substituir as religiões como propiciadoras de visão
de mundo e fonte de tratamento. Tais atitudes negativas em relação
à religião não eram baseadas em pesquisas científicas,
mas primordialmente nas crenças e opiniões pessoais
desses pioneiros.
Como conseqüência, durante
a maior parte do século vinte, o campo dos cuidados à
saúde mental subestimou e freqüentemente desqualificou
as crenças e práticas religiosas dos pacientes. Tais
posturas estão refletidas em textos fortemente anti-religiosos
escritos ainda nas décadas de 1980 e 1990."
E, continua, "contudo, mudanças começaram a ocorrer
na área da saúde mental na década de 1990 e
na virada para o século vinte e um. Investigações
sistemáticas passaram a demonstrar que pessoas religiosas
não eram sempre neuróticas ou instáveis e que
indivíduos com fé religiosa profunda, na realidade
pareciam lidar melhor com estresses da vida, recuperar-se mais rapidamente
de depressão e apresentar menos ansiedade e outras emoções
negativas que as pessoas menos religiosas. Além disso, esses
achados provinham não apenas de grupos de pesquisadores dos
Estados Unidos, mas também de cientistas no Canadá,
Grã-Bretanha, Irlanda, Espanha, Suíça, Alemanha,
Holanda, outras áreas da Europa, Tailândia, Austrália,
Nigéria, Egito, Oriente Médio e Índia."
O que se encontra sobre a
religiosidade, a espiritualidade e o consumo de drogas?
A Revista de Psiquiatria, no seu suplemento de 2007 (2), com Sanches,
Z.M. & Nappo, S.A., nos informa que a "religiosidade e a
espiritualidade vêm sendo claramente identificadas como fatores
protetores ao consumo de drogas em diversos níveis. Eles nos
dizem que, além disso, os dependentes de drogas apresentam
melhores índices de recuperação quando seu tratamento
é permeado por uma abordagem espiritual, de qualquer origem,
quando comparados a dependentes que são tratados exclusivamente
por meio médico." Concluem que "devido ao forte papel
de assistência social das religiões no Brasil, a exploração
deste tema no contexto brasileiro seria de grande relevância
para a saúde pública."
Koenig, o professor da Universidade de Duke, diz ainda que "as
pesquisas em populações saudáveis sugere que
as crenças e práticas religiosas estão associadas
com maior bem-estar, melhor saúde mental e um enfrentamento
mais exitoso de situações estressantes. Essas associações
entre religiosidade e melhor saúde mental são encontradas
de modo marcante em situações de alto estresse."
Em tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo
- Escola Paulista de Medicina - para obtenção do título
de Doutor em Ciências. 2006, a pós-graduanda Zila Sanches,
estudou as práticas religiosas atuando na recuperação
de dependentes de drogas. Utilizou de método qualitativo, empregando
técnicas de entrevistas semi-estruturadas e observação
participante.
Visitou 21 instituições religiosas dos segmentos católico,
protestante e espírita, nas quais foram contatados informantes
que permitiram a entrada e acesso à cultura e a 85 ex-usuários
de drogas que foram entrevistados em profundidade.
A doutoranda observou que a crise é o maior motivo de busca
de tratamento, nos três grupos, sendo representada pela perda
de família, emprego e sujeição a fortes humilhações.
Nas suas conclusões afirma que "o tratamento religioso
para dependência de drogas ganha espaço na saúde
pública brasileira e compartilha responsabilidade com o serviço
de saúde convencional. Tais intervenções são
consideradas eficazes pelos indivíduos submetidos a elas e
despertam a atenção destes pela forma humana e respeitosa
pela qual são tratados."
A doutoranda conclui ainda que "a maior potencialidade destes
tratamentos está no suporte social do grupo que os recebe,
no acolhimento imediato e sem julgamentos. O que mostra que o sucesso
destas ações não se esgota num possível
aspecto sobrenatural, como se poderia supor, mas sim, em especial,
na dedicação incondicional do ser humano por seu semelhante."
Chamo a atenção que embora o sucesso destas ações
possa não se esgotar num possível aspecto chamado de
"sobrenatural", certamente a intervenção dos
benfeitores espirituais é grandemente facilitada diante da
generosidade inerente ao ser humano espiritualizado, como foi exposto
no artigo - Ciência, Filosofia Científica, Espiritismo
e NEU (6).
O livro que será relançado no Seminário do MAP
examina mensagens de Joanna de Ângelis, psicografadas pelo médium
Divaldo Pereira Franco, fazendo breves comentários e trazendo
também alguns depoimentos. Ele não traz o relato daqueles
que participaram da equipe de apoio fraterno. No entanto, a experiência
de dois anos após a criação do Serviço
de atendimento a usuários de drogas em ambulatório do
Instituto de Psiquiatria da UFRJ "se apresentou como uma experiência
rica em trocas com relação ao desenvolvimento do trabalho
em equipe, assim como pela busca de reposicionamentos e conseqüente
bem-estar para os pacientes."(5)
Os centros espíritas já estão conscientes de
que podemos ajudar pessoas a se libertarem da escravidão a
que se submeteram. No livro "Libertação" vemos
que a liberdade é possível. No capítulo "Reencontro"
aprendemos que "a prece ajuda, a esperança balsamiza,
a fé sustenta, o entusiasmo revigora, o ideal ilumina, mas
o esforço próprio na direção do bem é
a alma da realização esperada."
Espíritos fragilizados são prejudicados pela dúvida.
Emmanuel, no livro Fonte Viva, adverte: "Não Duvides".
Você que procurou o auxílio do Centro Espírita,
não duvide do tratamento espiritual, do auxílio generoso.
"Em teus atos de fé e esperança, não permita
que a dúvida se interponha, como sombra, entre a sua necessidade
e o poder do Senhor. A hesitação no mundo íntimo
é o dissolvente de nossas melhores energias. Quem duvida de
si próprio perturba o auxílio em si mesmo. Ninguém
pode ajudar aquele que se desajuda."
Comecemos nesta hora. Vamos permanecer libertos só por hoje.
"Abandonemos a pressa e olvidemos o desânimo. Vale trabalhar
e fazer o melhor que pudermos, aqui e agora, porque a vida se incumbe
de trazer-nos aquilo que buscamos."
"Avançar sem vacilações, amando, aprendendo
e servindo infatigavelmente - eis a fórmula de caminhar com
êxito, ao encontro da nossa Vitória."
Avancemos para a libertação. No livro, mãe e
filho se abraçam. Ele diz depois de tenebroso inverno. "Mãe!
Minha mãe! Minha mãe!... Matilde enlaçou-o e
exclamou: - Meu filho! Deus te abençoe! Quero-te mais que nunca!"
"Verifica-se, ali, naquele abraço, espantoso choque entre
a luz e a treva, e a treva não resistiu..."