Carlos Aveline nos fez pensar.
Reproduzo trechos. (1)
"Criar estruturas coletivas
saudáveis não é fácil".
Como organizar uma estrutura de poder que seja coerente com a busca
espiritual?
"O caminho espiritual envolve situações
coletivas em que surge a questão do poder, da organização,
dos relacionamentos interpessoais e das decisões em grupo".
Como evitar que trabalho e vida pessoal se misturem. Como fazer para
não escutar que você está trabalhando tanto que
quase não vê os filhos e os netos?
"É necessário usar ciência
e a arte de formar cidadãos conscientes, saudáveis e
equilibrados nos seus atos pessoais e sociais".
Como fazer frente a ilusão do poder pessoal sobre
outros?
"Existem pessoas que buscam o poder coercitivo,
que é um mecanismo doentio, sob o ponto de vista psicológico".
Somos pessoa fortemente competitiva? (2)
"A ânsia de poder
neste caso não se origina da força, mas da fraqueza.
Ela é expressão da incapacidade do eu individual para
ficar sozinho e viver. É um esforço desesperado para
conseguir força simulada quando se tem falta de força
autêntica. O oposto do poder neurótico e manipulador
não é a ausência de poder e de liderança,
mas o poder solidário, a estrutura que se organiza para facilitar
a ajuda mútua".
Dentre as habilidades valorizadas pelas maiores
empresas destacam-se a capacidade do trabalho em equipe e motivação
para objetivos e metas.(3)
Os destruidores do trabalho em equipe
não são encontrados quando há espiritualidade.
Na espiritualidade o ideal é a individualidade ética,
capaz do diálogo, com consciência crítica, livre,
criativa e responsável. A pessoa está liberta do poder
e é “pobre de espírito”. A incredulidade
zombou dessa máxima. Doutores não entenderam a mensagem
porque pensavam que tinham grande saber e eram infalíveis.(4,
5)
Espiritualidade nos faz lembrar de
Caetano, que se doutorou em Direito Civil e Eclesiástico. Secretário
do Papa Júlio II, voltou a terra natal, após a morte
do Papa e dedicou-se exclusivamente ao serviço hospitalar.
Com a Inquisição, em Nápoles, viu o povo rebelar-se.
A revolução ceifaria inúmeras vidas. Rogou a
Deus que aceitasse sua vida em troca da Paz. Adoeceu e faleceu ao
mesmo tempo em que os ânimos se acalmaram. A opinião
foi unânime, a paz se instalou através de sua intervenção.
Coincidência ou não, o gesto é digno de admiração.(3)
Como Caetano,
especialistas em relações interpessoais ditam regras.
O grupo de futebol de São Caetano ficou atento. Palmeiras e
Botafogo, não. Eles foram parar na segunda divisão.
A primeira regra é acreditar que se pode ser líder (campeão).
A perseverança persegue o objetivo porque tem uma missão
grandiosa. Jesus lecionou no sentido do atemporal e ilimitado.
A liderança bem sucedida está
nas mãos daqueles que assumem a postura de um parceiro e está
sempre voltada para a formação de novos líderes.
A autoridade é um crédito de competência que se
dá a quem merece por direito. Ninguém "se torna"
autoridade; a pessoa "é tornada" autoridade.
Jesus constituiu um grupo de trabalho
e a unidade se deu em torno do objetivo comum. Cada individualidade
foi estimulada no seu potencial. Apesar de sua grandeza espiritual
ele nunca se colocou superior ao grupo.
"Poder possui duplo sentido. Um é a posse de poder
sobre alguém. O outro é a posse de poder para fazer
algo, o que nada tem a ver com dominação, mas maestria
no sentido de capacidade. Aí, poder significa potência.
Dominação e potencia são excludentes, uma vez
que o primeiro é a perversão do segundo".
Uma casa espírita deve pensar na "sociologia
da solidariedade". "Um modo solidário
de produzir, trabalhar e viver em sociedade. Esse modo solidário
de produção começa a ser possível quando
os indivíduos definem como meta exigir mais de si mesmos do
que dos outros, e decidem controlar mais a si mesmos que ao mundo
externo".
São inadequadas as estruturas de poder que repousam na idealização
cega de uma pessoa ou aquelas baseadas na desconfiança e na
competição. O exercício da sinceridade solidária
é saudável. A dose certa de ceticismo evita a cegueira,
embora dose excessiva possa asfixiar.
"Três coisas incorporam grande quantidade de valor
a tudo o que é relativo ao caminho espiritual: conhecimento,
trabalho e intenção solidária. Essa combinação
ilumina o conceito de democracia e são indispensáveis
para colocar uma instituição espiritualista em movimento".
Inteligentes e procurando amar (6) uns aos outros, os membros da equipe
de Jesus eram identificados. Até para os de fora isso era tarefa
fácil: "Nisto todos os reconhecerão".
"Os níveis de
trabalho acumulado e de experiência são diferentes entre
pessoas, por isso a democracia espiritual não significa que
todos têm igual peso, necessariamente. Se a democracia impedisse
o processo de liderança dos mais experientes, o grupo se nivelaria
por baixo e teria apenas a força do mais fraco dos seus elos".
Algumas pessoas, embora ocupem um cargo por muitos anos, nunca chegam
a ser lideres. Liderança é transparente, aberta a questionamentos
e só pode existir e manter-se pela constante renovação
do seu reconhecimento por parte dos membros do grupo.
"Com o passar do tempo, a liderança
se torna cada vez mais interior e se refere menos aos procedimentos
externos, salvo em certos momentos decisivos".
A força de uma instituição está na clareza
e na nobreza de suas metas; na eficiência dos seus métodos;
na intensidade do seu trabalho e na confiança recíproca
dos seus associados.
Líderes não procuram apegar-se aos cargos.
Na casa espírita, o modelo é Jesus.(7)
1. Aveline, C.C. Quatro Idéias Para Uma Teoria
do Poder Solidário. Sociedade de Estudos Filosóficos.
4pp. Abril de 2003. Brasília.
7.http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-considero-inteligente.html