Não basta buscar a verdade, é preciso saber expressá-la
Hoje abril de 1992 sou paciente terminal
sem data marcada. Ser humano comum, que não ousaria denominar-se
sadio, porque saúde não se caracteriza unicamente pela
ausência de doença ou enfermidade.
Isto é uma crítica ao modelo biomédico porque é
necessário ressaltar a importância da angústia,
decorrente de conflitos emocionais, na determinação de
doenças orgânicas.
Em Pediatria existem importantes publicações que ressaltam
o papel dos vínculos afetivos e dos conflitos emocionais inconscientes
em distúrbios como cólicas do bebê, distúrbios
do sono, diarréia, vômitos, anorexia, asma, retardo do
crescimento e desenvolvimento.
Estes fatos parecem recuperar o aspecto central da existência
humana, complicado por parte do homem, de fazer com que os instintos
obedeçam ao invés de governar.
Lembro que estamos num país onde educação e saúde
são importantes apenas durante campanhas eleitorais. Difícil
encontrar pessoas saudáveis.
Gente nos faz lembrar de Rogers, o psicólogo
do trabalho centrado na pessoa. Ele coloca alguns princípios
filosóficos a respeito do ser humano. Seriam-lhe inerentes a
liberdade, a dignidade e a capacidade de auto-determinar-se.
"Saúde não é
apenas um direito do cidadão e um dever do Estado. É
uma liberdade que tem de ser conquistada para dar dignidade ao homem."
O doutor Carlos T. Rizzini
(Membro da Academia Brasileira de Ciências), foi muito feliz quando
analisou, num artigo em 1976, esta questão da liberdade. Diz
ele que os valores morais não têm qualquer significação
para o mundo físico. Quando se examinam as propriedades da matéria
nenhuma questão moral entra em cena. Uma droga poderá
ser muito útil ou maléfica, conforme o uso que dela se
faça; não é, em si mesma, nem boa nem má.
Sendo o homem apenas matéria, a nossa ciência é
ciência da matéria, assim no mundo científico atual
é absolutamente natural que a ética não seja considerada.
Estendeu-se as leis da matéria a todos os setores de investigação.
Neste nível do conhecimento os valores éticos (de índole
imponderável e imaterial) não se ajustam.
Diz Rizzini que a Psicologia tem procurado manter estreita ligação
com as ciências físicas e aceitado como substrato a doutrina
materialista. O seu escopo é a "psicologia sem alma".
No entanto, a própria investigação experimental
fez emergir do fundo do ser humano funções inexplicáveis
por intermédio das forças e noções materiais.
A Parapsicologia moderna retoma o conhecimento já bastante antigo
trazido pela Doutrina Espírita e pela Metapsíquica.
A psicocinese, que é ação da mente, sem nenhum
vínculo físico, sobre objetos materiais colocados à
distância, introduz uma nova ordem de idéias, a existência
no homem de um fator extra-físico.
Com a adição da percepção extra-sensorial
muda-se o panorama, pois revela-se um outro nível de conhecimentos,
além da matéria. Estas observações retiram
o fundamento materialista de parte da atividade mental, toca nas questões
dos valores éticos e renova em bases científicas o manifesto
do Sermão da Montanha.
Sem a certeza da vida após a morte, não tem sentido falar-se
em moralidade, a não ser que se cometa uma incoerência.
Rizzini lembra que foi sobre a "pedra angular" do espírito
imortal que Jesus fundou o Cristianismo. Seus preceitos éticos
destinam-se ao aperfeiçoamento espiritual, com vistas a uma existência
mais perfeita, nos dois planos. Assim o homem precisa conhecer a base
factual sobre a qual se erigiu o edifício ético, para
que a moral não tenha aparência de espuma flutuante.
O primeiro problema a ser considerado é o seguro conhecimento
da imortalidade da alma. Como sem livre decisão não há
moralidade, surge o segundo que é o livre arbítrio.
A certeza da presença de um fator espiritual no homem estabelece
lógica e claramente a possibilidade da vontade livre, o que não
é o mesmo que agir ao acaso. Na prática há liberdade
de escolha, ninguém age como autômato e todos os sistemas
de atividades humanas pressupõem que as pessoas dispõem
de vontade própria para gerenciar a própria vida.
O determinismo do mundo físico foi abalado no nível intra-atômico.
Hoje existem evidências de liberdade de ação no
plano material para as partículas físicas e organizadas.
Os postulados da mecânica clássica começam a enfraquecer-se.
Surge o conceito de possibilidade e acaso. Nasce a mecânica ondulatória,
que é essencialmente estatística. Os físicos passam
a afirmar que "não há existência objetiva fora
da observação", que "as partículas só
podem ser descritas em termos de probabilidade".
O princípio de incerteza de Heisenberg, princípio de indeterminação,
no nível atômico, significa uma brecha na causalidade,
uma vez que o futuro de um sistema físico não está
fixado, e nem pode ser previsto seguramente, no nível atômico.
É como se cada partícula gozasse da propriedade de fazer
determinada escolha, estando incluída na mesma ordem de idéias
a desintegração espontânea dos elementos radioativos.
Rizzini lembra ainda que também os seres vivos denotam o comportamento
descontínuo de partículas elementares. Considerando os
genes como átomos da hereditariedade, compara as flutuações
(ex: sem vitamina C aparece o escorbuto) com as mutações
(albinismo - falta de pigmentação na pele, cabelos e olhos)
e comenta que se as primeiras mantém relação e
continuidade com o meio, não sendo hereditárias, as segundas
são independentes deste meio, não havendo nenhuma condição
natural capaz de provocar o seu aparecimento. Não é o
ambiente que as comanda.
Com a mutação aparece a indeterminação no
mundo vivo, já que não poderemos prever o momento de seu
aparecimento e qual o resultado da sua expressão.
Há existência de liberdade nas partículas elementares,
físicas ou vivas e desta forma surge justificação
racional da Ética, pela Parapsicologia, Física e Biologia.
A investigação científica materialista colocou
ao nosso alcance boas razões para penetrar no terreno da moral
e ainda confirmou os resultados muito anteriores da pesquisa psíquica
e espiritualista.
Estigma insuportável
Somente a compreensão empática pode aceitar a regressão
sofrida pela mãe e pela criança diante do quadro patológico.
Que outra atitude poderia ser tomada diante de uma criança com
o vírus HIV? Só a empatia irá permitir que esta
criança seja olhada como "indivíduo único,
específico e peculiar". Sabemos que uma identificação
excessiva não será útil na prática médica.
Esses limites parecem depender da capacidade de intuição,
de bom senso e de uma vocação profissional livre de conflitos.
Esse caminhar junto com o paciente só possui na realidade um
obstáculo que é o medo.
O medo da morte nos revela, sob o ponto de vista humano, a nossa finitude
mas é justamente neste ponto que o espírita, "com
seu jogo de cintura", poderá apresentar uma postura facilitadora
da empatia.
Rogers baseado em valores, considerou importantes determinados comportamentos
ou atitudes que deveriam ser observados pelos que lidam com o ser humano.
Alguns verbos como sentir, gostar, amar têm o poder de resumir
seu pensamento. Mas o "aceitar " transmite vibração
especial.
Enfatiza a aceitação incondicional do outro. O outro deve
ser aceito como é. Não devemos exigir que seja, ou que
venha a ser. É a aceitação do outro como ser separado,
portador de sentimentos, valores, maneira própria de ser e de
se expressar. Aceitação parece ser comportamento difícil
de ser conseguido. É sinal de maturidade emocional.
Um sujeito é algo particular em sua identidade, independente
do que o médico nele percebe ou distingue. O objeto da medicina
é um sujeito e por isso é também uma profissão
que precisa reformular os seus diálogos. É difícil
o seu discurso científico e tecnológico. Isto pode explicar
a crescente dificuldade de comunicação, não só
verbal, como também, intelectual e emotiva entre médico
e paciente.
Sabemos que tanto a absorção do jargão científico
quanto a manutenção do sigilo médico visam em primeiro
lugar o benefício do paciente. Mas, na era da comunicação,
o hermetismo não é bem visto nem é saudável.
Este comentário não procura confundir o sexto artigo da
Resolução 35/91 do CREMERJ -
"O segredo médico que
liga os médicos entre si e cada médico a seu paciente
deve ser absoluto, nos termos da lei e notadamente resguardado em
relação aos empregadores e aos serviços públicos".
Esta resolução, de 27
de fevereiro de 1991, que dispõe sobre a responsabilidade ética
das instituições e profissionais médicos na prevenção,
controle e tratamento dos pacientes com Aids e soropositivos, foi elaborada
por uma comissão a partir da verificação diária
da evolução dos casos de Aids e de denúncias feitas
por pacientes aos quais era negado tratamento e internação.
Cabe à medicina procurar reformular o seu diálogo com
o público sendo necessário para isso uma maior noção
e uma melhor postura, no que diz respeito à responsabilidade
profissional e maior conhecimento e consideração pela
responsabilidade moral que envolve a sua atividade.
Na verdade todos somos responsáveis quando transmitimos valores,
atitudes, tabus, preconceitos e estereótipos.
Nesses últimos anos temos presenciado, lido ou escutado muitos
depoimentos que falam a respeito dessas coisas. Principalmente porque
pudemos conviver com pacientes, ou ex-pacientes de Hanseníase,
que chamam de Lepra por desconhecimento da origem do termo. São
pessoas que não ouviram Menninger lembrar que a própria
palavra câncer é tida como capaz de matar.
A iatrogenia, que é a alteração patológica
instalada no paciente por tratamento médico errôneo ou
inadvertido, pode ser provocada por uma simples palavra ou por seu tom
ou ênfase, quando a relação médico-paciente
não se abre e fica restrita, fechada a atitudes e incompreensões.
A solução não está em sonegar a verdade
mas em desmistificar a concepção do sintoma ou da doença.
A palavra ouvida pelo paciente quase sempre é hiperdimensionada
por fatores multicausais, fato que pode criar situações
iatrogênicas. O que é dito pelo médico, nestas circunstâncias,
pode ser compreendido de forma distorcida e sentido como ameaçador.
Soubemos de um caso em que a doméstica, ao receber o diagnóstico
de Hanseníase, confundido pela lepra, foi à casa e deu
veneno as duas filhas (5 e 6 anos). Não as queria leprosas. Duro
saber que a infecção era do pólo tuberculóide,
i.é., não transmissível.
Com outro enfoque Hossne discute a responsabilidade ética da
linguagem médico-científica afirmando que se não
é adequada e utilizada por pessoas com "autoridade"
ou "prestígio", pode conduzir à aceitação
de conceitos equivocados.
Diz que o extraordinário avanço tecnológico tem
permitido o aparecimento de novas drogas e novos equipamentos, que o
investimento financeiro, elevado, exige como contrapartida a venda de
grande número de aparelhos e de medicamentos e, por isso, ao
lado da promoção comercial, procura-se criar uma atmosfera
de entusiasmo que, às vezes, leva ao uso inadequado da linguagem
escrita ou falada nos meios médicos, transmitindo-se uma mensagem
subliminar incompleta ou equivocada.
O mesmo autor comenta a possibilidade da linguagem inadequada gerar
a supervalorização de equipamentos e drogas, o "modismo"
ou o "modernismo" e ainda outra conseqüência grave
a tentativa de encobrir inseguranças indicando desnecessariamente
a realização de exames sofisticados.
Trabalhos desenvolvidos no exterior demonstraram que em 6.200 exames
laboratoriais pré-operatórios realizados em 2.000 pacientes
mais de 60% não se justificavam pela história clínica.
Em relação a endoscopias digestivas 17% não tinham
indicação assim como as coronariografias.
Enfatiza Hossne que, sob o prisma de interesse direto do paciente, a
linguagem adquire extraordinário valor ético em certas
situações, como por exemplo, por ocasião da obtenção
do "consentimento esclarecido" do paciente, nos trabalhos
de experimentação com seres humanos. É dever ético
do pesquisador esclarecer de forma adequada o paciente antes de obter
o chamado consentimento.
Lembra que em atividades acadêmicas em geral e, sobretudo, em
argüições de teses, tem sido praxe analisar-se o
conteúdo e a forma da publicação. Esta análise
não deve restringir-se a questões de gramática,
mas à linguagem enquanto veículo final de comunicação
e transmissão adequada e correta do conteúdo. Afirma com
propriedade que "em ciência não basta, do ponto de
vista ético, buscar a verdade - é preciso saber expressá-la".
Espero que meus médicos tenham a humildade de, eventualmente,
admitir que não sabem.
Em sua angústia existencial, esclarece Hossne, o homem sempre
se interroga diante dos fatos da Natureza e busca respostas concretas
(verdade científica). Não as encontrando, cria hipóteses
ou formula teorias; não conseguindo tal façanha, "salva-se"
da cruel angústia da incerteza e da ignorância, apelando
para a linguagem: cria um nome ou um rótulo.
Não é apenas um "rótulo salvador" o nome
dado a quadros clínicos cuja patogenia ainda se desconhece? Indaga
Hossne.
Aí encontramos as expressões "primário",
"essencial", "de causa não esclarecida" ou
"difteróide" para indicar em Microbiologia Clínica
aquela bactéria que parece mas não é. Espero que
meus médicos, como eu diante dos difteróides, admitam
que também não sabem quem são, de onde vieram e
qual a sua destinação. Possam até aceitar a "minha"
hipótese de reencarnação, para explicar a genialidade
precoce, a memória extracerebral, as desigualdades sociais ou
mesmo as doenças estigmatizantes, como a Aids, diante da "Justiça
Divina".
O estar doente representa o lado sombrio da vida, isto é, uma
cidadania mais onerosa em todos os sentidos, com destaque para o emocional.
Existe a iatrogenia da onipresença ou da omissão, ao se
trabalhar somente as queixas sem se preocupar com a simbologia por elas
expressa. Aqui a iatrogenia se instala pela falta de desenvolvimento
do processo de atenção médica. Muitas vezes são
valorizadas as técnicas de acerto só do biológico
e o aspeto biográfico nem é pensado.
A doença não é o resultado apenas da agressão
por agentes físicos, químicos e/ou biológicos,
mas também por aqueles fatores sócio-econômicos
como ignorância, pobreza, superpopulação e fome.
Os estigmas que cercam os pacientes de Hanseníase e Aids são
muito cruéis e estressantes. Arthur Ashe, que se projetou no
tênis mundial, escondeu sua condição de portador
do vírus após uma transfusão sanguínea,
porque "tinha medo do estigma que é insuportável".
O estado de estresse pode ser causado por qualquer tipo de situação
que exija uma fase de adaptação orgânica e/ou emocional,
com gasto de energia superior àquele a que o organismo está
acostumado. Este estresse pode ser físico, psíquico (emocional)
ou misto.
A internação hospitalar induz a estados emocionais intensos.
Um estresse misto se estabelece quando uma lesão física
é acompanhada de comprometimento psíquico ou vice-versa.
Os fisiologistas demonstraram que nos estados de estresses há
liberação de determinadas substâncias de grande
importância durante a "síndrome geral de adaptação",
mas que, a longo prazo, tem um certo efeito destruidor sobre tecidos,
inibindo o crescimento somático e a formação óssea.
Em indivíduos estressados é comum o relato da perda do
sono. Períodos curtos de sono ou insônias originam déficit
na capacidade de síntese molecular do cérebro, tão
necessária à estruturação da memória
a longo prazo.
Os estressados podem apresentar um número variado de distúrbio
como infarto do miocárdio, úlceras pépticas, doenças
circulatórias, envelhecimento precoce, etc.
Pode-se fazer uma ligeira comparação com os princípios
relacionados com os "estados excitados", amplamente utilizados
no estudo dos fenômenos atômicos e moleculares, na física
quântica. Assim, durante o estresse, o organismo se mantém
fora do seu "estado fundamental, estando em níveis mais
altos". Mesmo numa vida sem grandes novidades não é
possível a manutenção constante deste estado fundamental.
O organismo está realmente oscilando o tempo todo em torno desde
estado, sendo até possível que o envelhecimento e o tempo
de vida estejam relacionados com a intensidade dessa oscilação.
Isto exige um processo, quase contínuo, de adaptação
às condições oferecidas pelo meio, aquilo que o
afasta do seu estado fundamental a todo instante. Surge o paradoxo:
para sobreviver, os seres vivos encurtam o seu tempo de vida, envelhecendo
(O estresse e suas implicações fisiológicas).
A mente, a Saúde e a Doença
É muito comum encontrar hansenianos ou pessoas infectadas pelo
HIV sofrendo situações de fortes pressões emocionais.
Vivem intimamente dores extenuantes. Este é um dos motivos deste
artigo.
A crença de que desordens afetivas possam originar efeitos biológicos
indesejáveis é antiga e é também hoje motivo
de pesquisa na medicina psicossomática.
Estudos sobre as relações afetivas do bebê colocam
em evidência a relação mãe-filho no processo
de desenvolvimento infantil destacando seu aspecto vital.
Spitz é um dos pioneiros neste campo, analisando diversas doenças
orgânicas dos bebês a partir de uma perspectiva psicossomática
e psicossocial.
Estes estudos representam uma importante área da psicopatologia
da primeira infância e se caracteriza por uma necessária
colaboração entre a Pediatria e disciplinas psicológicas.
Estes são aspectos profundamente revolucionários para
a prática pediátrica.
Múltiplos fatores psicológicos e biológicos estão
interligados em nossas funções gastrintestinais. Há
uma gama de distúrbios nos quais a relação mente-soma
está intimamente intrincada, tendo merecido grande número
de estudos, tanto na psiquiatria quanto na gastroenterologia. Entre
estes, a síndrome do cólon irritável (diarréia
nervosa) parece ser a mais frequentemente observada, estando associada
na maior parte dos casos à ansiedade ou depressão.
Esta síndrome é caracterizada por sintomas contínuos
ou recorrentes de dor abdominal, constipação ou diarréia,
muco nas fezes, flatulência, etc. Em adição a estes
sintomas, muitas vezes, se associam sensações de fadiga,
fraqueza, palpitações, tonturas, cefaléias, tremores
de extremidades, dores lombares, distúrbios do sono e disfunção
sexual. Numa pesquisa recente em deprimidos demonstrou-se diminuição
do apetite em 80,5% (Ansiedade na síndrome do cólon irritável).
A Microbiologia e a Imunologia, apesar da extensa listagem de trabalhos
diariamente publicados, são campos relativamente novos, que evoluíram
principalmente a partir do último quartel do século passado.
A ponte entre eles e a Psicologia, pode ser feita observando-se o aumento
da freqüência da manifestação do Herpes simples
em pessoas deprimidas.
O Herpes simples é um vírus que exibe afinidade dermoneurotrópica,
mostrando tendência à citopatogenicidade focal, que se
traduz pelo aparecimento de pústulas na pele. São lesões
autolimitadas recorrentes de curta duração.
Na dependência de estímulos diversos, físicos, emocionais,
hormonais, etc, os vírus podem ser ativados e promover recidivas,
geralmente nos mesmos locais.
Outros estudiosos relatam o aumento de infecções respiratórias
em pacientes com nível de estresse mais elevado.
A viuvez pode provocar efeitos adversos sobre o sistema imune humoral,
responsável pela produção de proteínas denominadas
imunoglobulinas (anticorpos) . Estes anticorpos são capazes de
aderir e destruir especificamente antígenos invasores. O sistema
imune celular, composto por glóbulos capazes de eliminar células
cancerosas ou infectadas por microrganismos, também é
atingido. Demonstrou-se posteriormente que pacientes internados, muito
solitários, apresentavam alterações na atividade
dos linfócitos "matadores naturais". Esses linfócitos
matadores foram assim chamados por destruírem certas formas de
células tumorais.
Em estudantes de medicina fenômeno semelhante foi encontrado,
quando iam ser submetidos a avaliações dos seus desempenhos
acadêmicos.
Demonstrou-se ainda que pessoas muito deprimidas são menos competentes
na reparação de DNA (leucócitos submetidos aos
raios X) do que pacientes com nível mais baixo de depressão.
Hoje sabemos que determinados fatores (Interleucina II) são produzidos
pelos linfócitos T4 que ativam diversos mecanismos em defesa
do organismo. Médicos residentes submetidos a alto índice
de estresse apresentaram baixos níveis de linfócitos matadores
e Interleucina II e aumento de infecções respiratórias.
Admite-se hoje que o estresse produz a imunossupressão dos mecanismos
ligados não só às infecções, mas
também aos ligados as doenças malignas e as enfermidades
auto-imunes.
Estas observações deverão ser valorizadas principalmente
pelas pessoas que sofrem e por aquelas que estão lidando com
elas. São conhecimentos que precisam ser socializados. A omissão,
que é também uma forma de iatrogenia, poderá ser
interpretada como crime de lesa-humanidade.
Eutanásia
Lembrando novamente Rogers e aqueles comportamentos, atitudes ou qualidades
que considera fundamentais a quem quer que lide com o ser humano, com
a finalidade de favorecer o seu crescimento, retomamos a aceitação
incondicional.
Esta aceitação dispensa juízo de valores frente
a tudo o que poderá ser colocado pelo indivíduo. O outro
é o que é.
Espero que meus médicos aceitem a minha
posição contra a eutanásia. Que aceitem o fato
de que o paciente enquanto está morrendo, está vivendo.
Precisa de ajuda para ampliar e valorizar o seu passado, uma vez que
aparentemente o futuro é muito pequeno.
Sou contra, mesmo na doença em estado avançado, disseminada,
com prognóstico severo, onde já se esgotou todo o arsenal
terapêutico, cirurgia, radioterapia, quimioterapia, onde a equipe
médica não tem mais nada a oferecer. Onde não há
mais lucro. Onde há dor, aparente incurabilidade e inutilidade.
A eutanásia é, sempre e em qualquer hipótese, um
homicídio. O "direito de matar" ou "de se fazer
matar" não pode configurar-se diante de uma lógica
ou de uma necessidade ético-jurídica, pois direito é
aquilo que está cristalizado na tradição; nos costumes
e no interesse social. Desse modo, não se pode falar em "direito
de matar" ou em "direito de morrer", pois a racionalização
e a humanização do direito tutelou e consagrou a vida
como o mais valioso dos bens.
Difícil conciliar uma medicina que cura com uma medicina que
mata. Ensinava Kant que a melhor maneira de se medir a licitude de uma
ação era imaginá-la como regra geral. Caso se concluísse
pela negativa, a ilicitude seria manifesta. Imagine-se a eutanásia
legalizada e nas mãos de todos os interesses: políticos,
religiosos, econômicos, eugênicos, entre outros.
Os que justificam a prática da eutanásia o fazem baseados
na incurabilidade que é um dos conceitos mais movediços
e duvidosos. No sofrimento, mas a dor é algo controlável
e extremamente pessoal. Na inutilidade, que nestas condições,
é mais uma concepção preconceituosa e consumista
do que um meio científico de decisão.
Espero que meus médicos lembrem e aceitem que sou admirador de
Kardec e de suas pesquisas. Gostaria de informá-los de que o
mestre francês utilizou o método científico das
ciências sócio-morais e descobriu que a morte do corpo
não mata a vida.
"A vida eterna, é um conceito atraente mas fica na dependência
de quem serão nossos vizinhos". Imortalidade é tradição
popular, referida por grandes pensadores do passado (Sócrates,
Platão, Aristóteles, etc); foi autenticada pela ciência,
nas célebres materializações de espíritos,
com Crookes. Para os religiosos é pertinente lembrar a enfática
demonstração feita a Tomé e também a muitos
outros pela conversa que Ele entreteceu com Elias e Moisés. Alias
este último quando esteve legislando entre nós proibiu
a comunicação com os espíritos dos mortos. Creio
que se proíbe só o que é possível!
Uma importante escola psicológica é a de Jung. Em Memórias,
Sonhos, Reflexões escreve:
"Não é possível
apresentar uma prova aceitável ao assunto da sobrevivência
da alma, depois da morte; no entanto, existem acontecimentos que dão
o que pensar..."
Que acontecimentos fizeram Jung
pensar?
Meus médicos deverão
lembrar que sou reencarnacionista. Até hoje a única desvantagem
que se encontrou para a reencarnação é que ela
não conta tempo para a aposentadoria.
"Ninguém, se não nascer de novo, pode ver o reino
de Deus". Difícil compreender o conceito naqueles tempos.
Com Nicodemos Ele nivelou por cima mas mesmo ele que era doutor não
entendeu. Difícil explicar a genialidade precoce ou quando crianças
lembram que viveram antes e os fatos narrados são comprovados.
A regressão de memória é dado complicador.
Lembro com os antropólogos franceses, "La Table, Le Livre
et Les Esprits", 1990, que "o fenômeno espírita
é hoje de extrema importância no Brasil e sua influência
é constantemente crescente" (Reformador, 110 (1958):146,
1992).
Meus médicos deverão pensar neste fato e aceitar que eu
tenha esta "nova visão da realidade", mesmo que seja
diferente da concepção de mundo do pensamento hegemônico.
Ainda lembro que acaba de ser criado na Universidade de Brasília
(UnB) o Núcleo de Estudos dos Fenômenos Paranormais, a
exemplo do que acontece em países da Europa e América
do Norte.
Hoje somos obrigados a acompanhar as experiências que trazem "evidências
sugestivas" da imortalidade e da reencarnação para
não sermos colocados no grupo dos indigentes culturais. Saúde
também é informação, ou seja, consciência.
As religiões são reencarnacionistas.
Até a Católica já o foi.
Em "Muitas vidas, muitos mestres", há o relato de uma
experiência bem sucedida de uma senhora diante de um câncer,
que se disseminara dos seios para os ossos e o fígado. O processo
se arrastou por quatro anos e não foi possível retardá-lo
através da quimioterapia. Neste mesmo período o doutor
Weiss prosseguia com Catherine nas sessões de regressão
de memória à outras vidas e resolveu dividir a experiência
e as revelações obtidas com a paciente, que era sua sogra.
Ela as aceitou querendo saber mais. Weiss deu-lhe diversos livros e
também acompanhou-a num curso sobre cabala, os centenários
textos místicos judaicos. "A reencarnação
e os planos intermediários são os princípios básicos
da literatura cabalística, mas os judeus modernos não
têm consciência disto."
A sogra de Weiss sentiu-se fortalecida para atravessar o corredor da
morte e a tristeza dos que ficaram foi mitigada por toda aquela experiência.
O médico percebeu também que tinha aumentado sua capacidade
de transmitir sentimentos de tranqüilidade, calma e esperança,
em especial quando se tratava de morte, tristeza e aconselhamento.
Como ajustar as noções
de imortalidade da alma e reencarnações à sua educação
e às suas crenças?
Esta preocupação tinha feito o doutor Weiss reler o livro
do curso de religiões comparadas, da Universidade de Colúmbia.
Ele chega a conclusão que "havia de fato referências
à reencarnação no Velho e no Novo Testamento. Em
325 d.C., o imperador romano Constantino, o Grande, e sua mãe,
Helena, suprimiram as que estavam contidas no Novo Testamento. O segundo
Concílio de Constantinopla, reunido em 553 d.C., validou este
ato, declarando herético o conceito de reencarnação.
Aparentemente, ele enfraqueceria o poder crescente da Igreja, dando
aos homens tempo demais para buscarem a salvação. Mas
as referências originais existiam, os primeiros padres da Igreja
haviam aceitado a idéia. Os antigos gnósticos - Clemente
de Alexandria, Orígenes, São Jerônimo e muitos outros
- acreditavam ter vivido antes e que voltariam a viver."
É como negar o conceito de transversalidade trazido pela Análise
Institucional. Há pelo menos duas formas radicais de negar a
transversalidade. Uma, negando ativamente toda influência externa
- são os paranóides. Outra, acreditando apenas no grupo
em que se está engajado - são os depressivos. Nesta segunda
forma as pessoas aceitam plenamente sua situação, sua
posição e hierarquia de poder.
Paranóides e depressivos são grupos-objeto, porque se
subjugam às normas sociais, não as colocando em questão,
seja, isolando-se numa atitude belicosa e fanática, seja, neutralizando-se
numa postura de alienação frente ao que ocorre em volta
de si.
Já Sartre aplica ao grupo sua visão dialética da
realidade e nele a alienação é a situação
na qual o homem nasce matéria e com ela tende a se identificar,
limitando o seu projeto de realização humana. Introduz
o conceito de serialidade, situação onde os homens marcados
pela inércia da alienação se tornam indiferentes
uns aos outros.
Meus médicos deverão lembrar, portanto, que não
sou materialista ou agnóstico.
Prevenindo acidentes
Aubrée e Laplantine, antropólogos franceses que visitaram
o Brasil há pouco tempo, escreveram que a Doutrina Espírita
possibilita conciliar a positividade científica e a fé
religiosa ou, antes, o que se concebe através do laboratório
e o que se imagina do outro lado. Ela permite reunir o passado e o futuro,
a vida e a morte, o espírito e a matéria, a terra e os
outros planetas. Tornar-se espírita é poder manter intacta
a esperança da religião na qual nos engrandecemos abandonando
o pessimismo do pecado e do inferno.
A conciliação entre positividade científica e a
fé religiosa possibilitada pela Doutrina Espírita traz
ao Centro de Convenções Anhembi, São Paulo (maio
de 1992) o Congresso Internacional de Transcomunicação
(comunicação das almas dos mortos através de aparelhos
eletrônicos - televisores, computadores, etc). Com promoção
da Associação Médico Espírita de São
Paulo o evento teve como Tema "Das mesas girantes ao VIDICOM: os
mortos despertando os vivos." Interessante encontrar entre os pesquisadores-oradores
um padre católico francês (François Brune).
Dizem os antropólogos franceses ainda que o Espiritismo canaliza
e civiliza uma confiança oriunda na noite dos tempos. Como as
religiões, num sentido habitual do termo, ele visa à compreensão
do homem, do mundo e da sociedade na sua globalidade, dá uma
explicação sobre a natureza e o destino, mas realiza uma
modernização da crença. Ele fala do futuro, mas
o apresenta, como diz Kardec, "sob um aspecto que a razão
pode admitir."
Aos da equipe de saúde, talvez tenham sido meus alunos, quero
lembrar não só a necessidade psicobiológica (eliminação
intestinal, vesical, conforto físico, etc.,) mas as necessidades
psicossociais (comunicação, recreação, privacidade,
etc.) e as psicoespirituais.
Praticar a minha religião, receber a terapêutica do passe,
é para mim não só uma necessidade como também
um direito. O passe está para o psiquismo assim como a transfusão
de sangue está para o organismo. Lideres religiosos deveriam
ser considerados membros integrantes da equipe que assiste o paciente
em fase terminal.
Se o paciente tem uma religião, uma crença, ele deve ser
respeitado e ajudado a sentir-se seguro nela. Não se deve discutir
ou tentar mudar sua fé na última hora, a menos que por
ele isso seja solicitado.
Pacientes terminais são instáveis emocionalmente. Espero
que a equipe de saúde identifique e compreenda minhas reações
de negação, raiva, negociação, depressão
e aceitação.
Na vida um dos maiores desafios que enfrentamos é o de criar
em torno de nós um clima democrático. Esta capacidade
é proveniente de longos períodos de exercício.
Parece ser mais fácil a obtenção de boa massa muscular
do que a aquisição dessa forma de comportamento. Como
democracia é um jogo de direitos e deveres hoje encontramos com
freqüência a hipertrofia dos direitos, naquilo que poderíamos
chamar de "democratite ".
Não posso me permitir uma postura passiva, como a da maioria
dos brasileiros, diante não só de um tratamento clínico
ou de uma cirurgia. Espero colaborar com meus médicos lembrando
por exemplo de prestar informações relevantes sobre minha
história clínica.
Para prevenir acidentes vou talvez aceitar a recomendação
do Gauderer. Diz ele que basta ser "chato" e assertivo, não
tendo vergonha de exercer os direitos. Fazendo cobranças (direito)
mas prestando informações (dever).
A quem pertence a história clínica do paciente? Embora
o assunto ainda permaneça na arena das controvérsias,
não entregar é regra absoluta. O médico está
apenas obrigado a atender à requisição judicial,
fornecendo informações que ele admite serem válidas
para cada caso. Deve informar simplesmente o que considera conveniente
para esclarecer fatos que ele reputa de relevantes e esclarecedores.
A manutenção, em caráter absoluto, de tais documentos
acha-se amparada pelo princípio do direito de propriedade intelectual.
Quando houver necessidade de o médico fornecer certos dados,
cabe-lhe o direito de entregar apenas informações, que
possam ser objeto da necessidade do seu médico assistente ou
de outro profissional que venha tê-lo na sua relação,
dentro da conveniência que a informação possa merecer.
Entregar cópias autênticas dos exames subsidiários
e resumo da terapêutica utilizada.
O Gauderer diz que tenho o direito de saber todo tipo de informação
contida no meu prontuário médico e os diagnósticos
de exames laboratorias e psicológicos. Posso até requisitar
uma cópia desses prontuários.
Aconselha levar uma câmara de vídeo, àqueles nervosos,
na consulta, e que interpretam as palavras do médico com uma
dramaticidade que não corresponde à realidade. Parece
absurdo, diz ele, mas não é (Pacientes também têm
culpa, Veja, 3 de julho de 1991).
O meu cunhado filmou todo o parto do Junior.
Gauderer diz que "quem não deve não teme. Os bons
profissionais vão entender que o interesse dos pacientes é
mais que legítimo. Eles querem ser parceiros na vitória
de um tratamento - e não vítimas da derrota. Ninguém
tem a perder com o exercício dos direitos do paciente".
O erro médico pode ser de conseqüência funesta, indo
de lesões simples, recuperáveis ou de marcas indeléveis
ou até à morte. Entretanto existem situações,
mesmo advindo o êxito letal, que não podemos considerar
erro e sim acidente, em clínica ou principalmente em cirurgia,
quando o profissional adota uma conduta e não obtém o
resultado satisfatório.
Na modernidade atual não cabe lugar para os misticismos do passado
e nem a aceitação da invulnerabilidade dos sacerdotes
médicos. Aliás esta questão de invulnerabilidade
deve ser um espinho na carne dos profitentes de determinadas religiões.
O médico como ser humano, erra, e o erro médico existe.
Diz o Diretor Técnico na revista Hospital - Administração
e Saúde, no artigo "O hospital e o erro médico",
que resta aos Administradores Médico-Hospitalares, conscientizar
a sua existência e adotar os mecanismos capazes de minimizar ou,
se possível, erradicá-los. Diz ainda que o Hospital é
corresponsável por todos os atos e procedimentos realizados,
estando sujeito às mesmas penas legais, e que o Diretor Técnico
é a autoridade máxima.
Dizem esses mesmos Administradores que o exercício da medicina
exige dos profissionais e do hospital duas grandes virtudes. A primeira
é a Justiça, para que todos os atos e procedimentos efetuados
sejam perfeitos, iguais e indiscriminados para todos. Isto é,
sem qualquer distinção, dentro do padrão estabelecido
e ter o seu julgamento pela própria Justiça.
Com o título "A tortura psiquiátrica" Súmula
Radis, FIOCRUZ, janeiro, 1992, notícia que eletrochoque, pancadas,
isolamento em cela escura, fome frio e acorrentamento às camas
é o tratamento psiquiátrico oferecido a 2.100 pacientes
no Município fluminense de Paracambí.
Segundo o psiquiatra do Conselho Regional de Medicina, 90% dos internos
tiveram seus estados tornados crônicos dentro da Casa de Saúde.
Ao reagir às críticas o Diretor defendeu a lobotomia e
afirmou que "essa coisa de Psiquiatria Moderna não é
a realidade do país, é coisa de jornal e de televisão".
A comissão de auditoria que examinou os prontuários da
clínica em nome da Secretaria de Saúde e do Inamps, uma
semana após a visita, constatou a morte de um paciente a cada
três dias. Encontraram superlotação, alimentação
insuficiente, esterilização precária e acomodações
inadequadas.
Espero de meus médicos, mesmo que tenha problemas de saúde
mental, um tratamento diferente deste quadro aterrador.
Avaliação de desempenho
O exercício da medicina exige duas grandes
virtudes: a justiça é o primeiro o segundo é a
caridade. Caridade para que realizemos os atos e procedimentos com o
mesmo amor que desejamos que sejam realizados a nós próprios
ou aos nossos entes queridos.
A Doutrina Espirita estimula-nos a pensar, a sentir e a realizar obras
de valorização do ser humano. Com esses comportamentos
não nos isolamos sectariamente ou nos tornamos insensíveis
aos avanços do conhecimento. Neste processo de desenvolvimento
cultural do espírito reconhecemos o valor da caridade no apuro
da sensibilidade emocional.
Pelo exposto cabe lembrar que este é o lema liberal da Doutrina
Espírita, que coloca na caridade o seu postulado máximo.
Nunca ninguém viu na obra do ilustre pesquisador francês,
o Professor Rivail, que hoje conhecemos com o nome de Allan Kardec,
a afirmação que "fora do espiritismo não há
salvação". Mas, em toda a obra percebe-se que "fora
da caridade não há."
Kardec foi muito feliz ao aplicar o método científico
e até hoje não se conseguiu demonstrar que incorreu em
erro. Ao contrário tudo que se fez para demonstrá-lo acabou
vindo a seu favor. E as religiões salvadoras não se salvaram
a si próprias. Se não mudarem morrem.
O erro é inerente à prática de qualquer atividade,
por mais cuidadoso e experiente que seja aquele que o pratica. O erro
médico, admissível na prática médica, torna-se
inadimissível no contexto moral e no campo da responsabilidade
de quem a pratica.
Segundo os Administradores médico-Hospitalares o controle do
bom desempenho do corpo clínico pode ser avaliado por diversos
indicadores. Pode-se apontar o prontuário do paciente, o índice
de mortalidade, os resultados da Assistência na UTI, porte e indicações
cirúrgicas necessárias e desnecessárias, comprovação
histopatológica de todas as peças cirúrgicas, tempos
cirúrgicos metodizados, sistematizados e padronização
de fios e medicamentos, Anestesia (permanência, técnica,
recuperação), Correlação clínico-laboratorial,
etc...
Como vemos o bom desempenho pode ser avaliado de diversas formas, mas
gostaríamos de destacar também a Infecção
Hospitalar e o Relacionamento Médico-Paciente. Devemos encontrar
baixo índice de infecção hospitalar, que estará
sob controle de uma Comissão de Infecção Hospitalar
coordenada e supervisionada por um Infectologista. Deverá estar
sob controle o uso de antibiótico profilático e terapêutico.
A existência de um bom Laboratório de Bacteriologia é
vital.
Espero de meus médicos um bom nível de informações
que me serão prestadas e aos meus familiares.
Admite-se que ao longo dos tempos, inúmeros fatores tem contribuído
para macular a imagem do médico, como a sua formação
em níveis cada vez mais decadentes e a precária seleção
dos candidatos que ingressam nas Faculdades de Medicina. Não
é feita uma avaliação correta do seu comportamento
e caráter, nem uma avaliação sócio-familiar.
Comenta-se que muitos jovens diplomam-se para que a família tenha
a segurança de ter um médico e posteriormente um político.
Um trabalho recentemente publicado no exterior anota em seu sumário
informações obtidas de 144 prontuários de médicos,
de todas as especialidades e graus acadêmicos, que foram internados
por dependência de drogas e/ou álcool.
Metade foi internado por indicação de outro médico,
sendo a "social morbidity" um dos mais importantes fatores
para a procura de auxílio.
A realidade é que os médicos são humanos e que
os agentes psicotrópicos são para eles disponíveis.
Tornam-se dependentes e só muito mais tarde é que vão
procurar auxílio. O materialista é impermeável,
mataram Deus e são extremamente medrosos diante da morte. Muitos
são vaidosos e orgulhosos, possuem uma redoma de tal ordem que
desencarnam em péssimas condições.
O livro "Nosso Lar", psicografado por Francisco Candido Xavier,
relata a situação de um médico após a morte
do corpo.
Estes comentários são pertinentes porque ninguém
quer estar num avião em que o piloto é usuário
de drogas.
O médico interfere no campo do sujeito, em seu corpo e, por vias
indiretas não apenas contingentes, em sua vida pessoal, suas
emoções, sua socialidade, suas economias. Por isso é
a medicina uma profissão moral.
A medicina não é uma ciência, campo de exatidões,
de estatísticas, de generalizações. É, na
verdade, uma aplicação prática das ciências
médicas, fisiológicas e biológicas em alguém
em particular, num tempo e local particular.
É preciso portanto se focalizar a crítica, de uma maneira
mais constante e mais construtiva, no ponto central da atividade médica:
o ato médico, com sua característica moral, uma vez que
implica em responsabilidade direta sobre pessoas.
Os dois lados
da moeda
Assim sendo tenho o direito de: ser tratado como um ser humano até
a minha morte; conservar o sentimento de esperança; ser cuidado
por aqueles que possam manter um sentimento de esperança; exprimir
os meus sentimentos e emoções a respeito de minha morte
próxima, à minha maneira.
Tenho o direito de não ser enganado; de ser ajudado, assim como
a minha família, a aceitar a morte; morrer em paz e com dignidade;
manter a minha personalidade e não ser julgado por minhas decisões
que podem ser contrárias às crenças dos outros.
Tenho o direito de participar das decisões sobre a minha assistência;
exigir a continuada assistência médica e de enfermagem,
mesmo embora as metas de "cura" possam ser mudadas pelas metas
de "conforto".
Tenho o direito de não morrer sozinho; de ser liberado da dor;
de ter as minhas perguntas respondidas honestamente; discutir e aumentar
as minhas experiências religiosas e/ou espirituais seja o que
elas possam significar para os outros.
Ainda tenho o direito de exigir que a inviolabilidade do meu corpo seja
respeitada após a morte; de doar meus órgãos; de
ser assistido por pessoas carinhosas e com capacidade de sentir prazer
em me ajudar em face da morte.
Esta "Declaração de Direitos" foi criada em
uma reunião de trabalhos sobre "O Paciente Terminal e a
pessoa que o Assiste" ("The Terminally III Patient and the
Helping Person") em Lansing, Mich, patrocinada pelo Southwestern
Michigan Inservice Education Council, dirigida por Amélia J.
Barbus, Professora associada de Enfermagem da Wayne State University
Detroit.
Rogers a partir de alguns princípios filosóficos a respeito
do ser humano (liberdade, dignidade e capacidade de auto-determinar-se)
levantou alguns comportamentos, atitudes ou qualidades que considerou
fundamentais a quem quer que lide com o ser humano. Uma dessas atitudes
é a " compreensão empática". Ser capaz
de ter uma consciência sensitiva em relação ao que
é comunicado pelo cliente. Isto implica em sentir como se fosse
o outro.
"Obrigado doutora, escuta a médica e se volta para ver a
paciente que voltou para agradecer os carinhos que dela recebera no
momento da sua desencarnação."
No futuro, talvez com a transcomunicação experimental,
essa mensagem será encontrada com maior freqüência.
Afinal, não iatrogenicamente, longe das palavras muito pode ser
conseguido com um sorriso.
O medo da morte é comum a grande maioria das pessoas. É
conhecido o pânico que ficou Francisco Cândido Xavier no
momento em que a pane se instalou no avião. Sua calma somente
retornou quando o espírito Emmanuel apareceu e lembrou-lhe a
imortalidade. Disse-lhe para pelo menos morrer com educação.
Ao que Chico deve ter retrucado: "O Senhor fala assim porque já
está desencarnado".
Espero que meus médicos-pacientes possam parar para refletir
um pouco sobre essas coisas. É importante que o façam,
no mínimo porque são aquelas pessoas que terão
a oportunidade de vivenciar os dois lados da questão.
"A morte é hereditária".
Fonte:
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.29.htm