Zaqueu era um homem que tinha posses
e poder. Riqueza e poder são concedidos por Deus à criatura
para experimentá-la. Na verdade a prova é escolhida
pelos próprios Espíritos, após a fase de escolaridade,
na fase de planejamento da nova encarnação.
Seria a riqueza uma prova mais terrível do que a miséria?
Enganou-se o que escolheu a segunda, pois na realidade tanto uma como
a outra são escorregadias. As questões 814-816, de “O
Livro dos Espíritos”, elucidam isso. A miséria
provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a
todos os excessos.
Um dia chegaremos ao estágio de pureza (q. 268) e já
não teremos que sofrer provas, mas estaremos sujeitos a deveres.
Deveres, nada penosos, cuja satisfação auxilia o aperfeiçoamento
espiritual, mesmo que consistam apenas em auxiliar os outros a se
aperfeiçoarem. Deus experimenta o pobre pela resignação
e o rico pelo emprego que dá a bens e poderes.
Na Terra, o homem rico e poderoso tem mais obrigações
a cumprir, ambos são meios que podem gerar o bem ou o mal.
Riqueza e poder fazem nascer paixões, que nos prendem à
matéria e nos fazem retardar o estado de pureza. Difícil,
por isso, “entrar um rico no reino dos céus”. Recordemos
como Jesus chegou à casa de Zaqueu.
O Nazareno, tendo entrado em Jerico, dirigiu-se ao chefe dos publicanos,
coletor de impostos, muito rico, dizendo-lhe que descesse do sicômoro,
pois que se hospedaria em sua residência, o que Lhe rendeu críticas,
porque iria alojar-se na casa de um homem de má vida.
A riqueza é prova cheia de equações complicadas,
uma vez que o rico torna-se com frequência um ser egoísta,
orgulhoso, e insaciável (q. 815). Com a riqueza, suas necessidades
aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente.
Mas Zaqueu era diferente. Apresentando-se diante do Senhor, contou
o que fazia. “Eu dou a metade dos meus bens aos pobres; e se
causei mal a alguém, no que quer que seja, eu lhe retribuirei
em quádruplo.”
Chico Xavier, talento extraordinário, “não tinha
onde cair morto”, no entanto, apesar de escrever livros altamente
lucrativos, dos quais não admitia a sua autoria, nunca aceitou
qualquer dinheiro pelas obras psicografadas, sendo tudo revertido
em benefício de obras de caridade. (1)
Podemos dizer o mesmo de Yvonne Pereira.
Com um dos livros de Yvonne pudemos fazer ligeiros comentários
sobre a relação entre docentes-pesquisadores e alunos
na universidade. Com a médium, descobrimos que poderemos fazer
graduação (fase de escolaridade) e pós-graduação
(julgamento pessoal e planejamento) na Universidade do Espírito.
(2) Foi ela quem psicografou um grande escritor que chegou
ao suicídio. Nesse romance ele relata sua história triste
e realista, de fundo filosófico e moral. O leitor tomará
conhecimento do que lhe aconteceu após o ato tresloucado, sua
decepção e sofrimento. Na realidade foi um mergulho
num novo e espantoso “inferno”. Memórias de
um Suicida é obra seria e doutrinária, do Espírito
Camilo Cândido Botelho.
Antes de pensar em suicídio, deveríamos procurar saber
se somos, por acaso, um espírito imortal e se, realmente, estamos
nos livrando do problema ou aumentando-o exponencialmente, pelo desrespeito
às Leis de Deus. (3)
A mediunidade é fenômeno que deveria interessar a docentes-pesquisadores.
Fenômenos inusitados (9, 9b) deveriam
receber maior atenção nas universidades.
O Livro dos Médiuns diz que “Toda pessoa que sente a
influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade,
é médium. Essa faculdade é inerente ao homem.
Por isso mesmo não constitui privilégio e são
raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar”.
O leitor pode se interessar por um livro psicografado, de origem mediúnica
católica, encontrado na WEB. Veja no final do texto, em leitura
complementar, psicografias, uma indicação.
Ressurreição e Vida é outro livro psicografado
por Yvonne, como contribuição às comemorações
do centenário de “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
organizado por Allan Kardec. Uma observação interessante
sobre esta psicografia, de Leon Tolstoi, é que foi a obra mais
fácil de captar do Além-Túmulo. Logo no primeiro
capítulo, o leitor perceberá que quem trabalha para
Jesus não deve se preocupar com quantidades, mas com o “milagre”
de remover as montanhas interiores, que insistem em nos manter longe
da purificação, do Cristo interior.
O Espírito autor de Ressurreição e Vida,
Leon Tolstoi, foi excomungado na Terra, mas acabou aluno pós-graduado
numa Universidade Espiritual. Pasmem! Um de seus professores havia
estado na presença de Jesus e seu “orientador de tese”,
um apóstolo-doutor. Voltaremos ao assunto mais adiante.
Na apresentação do livro, Tolstoi diz que se apenas
um leitor conseguir anestesiar dores e dirimir dúvidas, quanto
ao importante assunto da imortalidade da alma humana, dar-se-á
por bem recompensado das dificuldades, que precisou arredar a fim
de ditá-las. Se apenas uma pessoa sentir que o seu coração
nelas se inspirou para a procura dos santos ensinamentos cristãos,
exultará de alegria, louvando o Senhor por Lhe haver concedido
ensejo de ser útil ao seu próximo.
Antes de desencarnar, Leon Tolstoi já demonstrava um sincero
desejo de ser útil. Assim, Tolstoi trouxera para a Vida do
Além o desejo sincero de aprender a amar e a servir. Confessa
que acreditava que nos últimos momentos de sua vida, na Terra,
intuições protetoras de amigos celestes falavam-lhe
de rumos novos que deveria tomar, bem diversos daqueles que a sociedade
viciosa do seu tempo lhe apontara.
O Espírito escolhe as provas que queira sofrer (q. 264) de
acordo com a natureza de suas faltas. Uns, portanto, impõem
a si mesmos uma vida de misérias e privações,
objetivando suportá-las com coragem. Outros preferem experimentar
as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas.
Tolstoi nos adverte sobre os problemas das dependências encontradas
na sociedade atual. Ainda na espiritualidade muitos Espíritos
decidem experimentar suas forças nas lutas que terão
de sustentar em seus contatos com drogas diversas. Não saberemos
qual o mais difícil de deixar, se o álcool ou o tabagismo.
Estes são apenas um exemplo, porém restrito, de escravidão.
O que aconteceu com Zaqueu, depois de ter hospedado Jesus e, também,
depois da crucificação?
Após a morte do corpo, na espiritualidade, urge reaprender
tudo o que uma alma necessita para a reabilitação perante
si mesma. Necessário fazer inventário examinando o mérito
pessoal. Já não perguntaremos se somos um espírito,
uma alma imortal. Sentiremos a necessidade de rogar a Deus que nos
proporcione ensejos de um aprendizado que venha saciar a alma, até
às suas remotas fibras, fazendo desaparecer nosso “complexo
de desamor”. O que aconteceu a Zaqueu depois que Jesus foi crucificado
é detalhado no livro Ressurreição e Vida.
Voltemos ao Evangelho no capítulo XVI. A Salvação
dos Ricos. Nele aprendemos que não se pode servir a dois senhores.
O moço rico, que ambicionava a vida eterna, sabia que era importante
guardar os mandamentos: não matareis, não cometereis
adultério; não furtareis; não direis falso testemunho.
Honrava pai e mãe e se esforçava para amar o próximo
como a si mesmo. O leitor votaria nele se fosse candidato a cargo
eletivo?
Certamente não seria eleito se não tivesse desprendimento
material, como Zaqueu. Para receber o voto e ganhar a vida eterna
há necessidade de boa conduta ética. Surge então
o desafio de dar aos pobres, à semelhança de Clara e
Francisco, que tinham ordem nas paixões: a paixão pelo
Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a de um pelo outro, nesta
ordem. (4)
Candidato sem votos, reprovado, tornar-se-ia triste, embora na posse
de grandes bens. Cumprir-se-ia mais uma vez o ditado de que é
mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha. Mas Zaqueu
recebeu o voto de confiança, embora rico e trabalhando para
o Leão, da “Receita Federal”. É duro ver
os impostos pagos sem a devida correspondência, em obras de
conforto para a comunidade. (5) Eleitor
não gosta de pagar impostos porque percebe que existem apenas
promessas de campanha. Zaqueu seria um bom nome para as próximas
eleições.
Existem indicações ou maneiras diversas para entender
a cabeça de eleitores, assim como, também, para entender
as entrelinhas nas mensagens do Evangelho. Neste último caso
é sempre necessário extrair o espírito da letra.
Confesso que senti dificuldade, no início, tentando extrair
o espírito da letra de Feira de Mangaio, de Sivuca. (6)
“Arreio de cangalha eu tenho pra vender, quem quer comprar?
Tenho fumo de rolo, cabresto de cavalo, rabichola e pavio de candeeiro.
Havia também uma vendinha no canto da rua, onde o mangaieiro
ia se animar, tomar uma bicada com lambu assado. Naquela hora, lembrava
que tinha ainda que xaxar o seu roçado, mas a alpargata de
arrasto não o queria levar.” No link (6)
há indicação de como ouvir e tentar entender
o significado da letra.
Temos que contextualizar, não ficar apenas pensando na ponta
do iceberg, mas mergulhar em profundidade e examinar todo
volume. Teremos que, entre outros cuidados, examinar os problemas
linguísticos e nos situarmos na mensagem, como dizia o Honório,
Coordenador do livro Luz Imperecível, da União Espírita
Mineira. (7)
Na década de 70, último quartel do século passado,
hospedamos Honório de Abreu e esposa. Conhecemos o espírita
de Belo Horizonte, como facilitador, num encontro na Bahia para dirigentes
de mocidades espíritas, organizado pela FEB, durante a Campanha
Nacional de Evangelização Infantojuvenil. Posteriormente,
fez uma série de palestras no Rio de Janeiro, lecionando “como
estudar o Evangelho”. O livro coordenado por ele é imperdível,
como o de Lamartine Palhano Junior, “Dossiê Peixotinho”.
(8) Encontramos Lamartine também
em Salvador, mas já o conhecíamos, pois fora nosso aluno
no Curso de pós-graduação na UFRJ.
Retornamos de Salvador dispostos a divulgar valores ético-espíritas.
Veja textos sobre vacinação; suicídio e valores,
no final do texto.
Zaqueu, o homem rico vitorioso, apresentava necessidades morais de
estímulo para o bem e demonstrava aflitivo desejo de ser bom.
Sentindo na alma um vazio, por não estar aceito e trabalhando
entre os militantes da Boa Nova, havia empregado o que possuía
de forma pouco convencional. Havia doado parte dos seus bens aos pobres,
disponibilizou recursos para a sua família, distribuiu terras
entre os camponeses e reservou, vida mais simples, apenas o necessário
à própria manutenção, pelos primeiros
tempos.
Posteriormente, como seus recursos escasseavam, procurou compensá-los
lecionando. Como professor, ganhava o seu sustento.
Recordemos que Zaqueu já possuía alguma estatura espiritual
e, elevando seu padrão vibratório, bastou subir num
arbusto para poder ver Jesus. O Mestre disse que necessitava de sua
hospedagem e o homem rico não pensou duas vezes. O anfitrião
já havia doado a metade de seus bens e, se causasse dano a
alguém, retribuiria em quádruplo.
E depois da Copa?
Zaqueu daria conta de sua administração após
hospedar Jesus? O que lhe aconteceu depois do suplício na cruz?
Leon Tolstoi nos diz que ele sofreu e chorou copiosamente. Frustrou-se,
pois não logrou participar dos momentos sublimes da reaparição
do Cristo, após o terceiro dia.
Apesar de visitar Pedro, tentou insinuar-se entre os seus discípulos
em várias oportunidades, mas a sua figura insignificante nem
era notada. Por outro lado, a ressurreição do amoroso
Mestre também lhe havia revigorado a esperança.
Um dia foi ouvir a palavra do fariseu Saulo de Tarso, também
chamado Paulo. Ouviu sobre o colóquio que este tivera com o
Nazareno, à entrada de Damasco, e nunca mais o deixou. Por
ele foi aconselhado e guiado na sua formulação de sua
“linha de pesquisa”.
Inicialmente, o fariseu renovado lhe disse para “não
se limitar à adoração inativa, que pode cristalizar-se
em fanatismo”. Isto posto, passou à ação.
Quais os milagres realizados por Zaqueu?
Certamente o candidato à “Vida Eterna” realizaria
seus prodígios. Curaria leprosos, levantaria paralíticos,
expulsaria demônios, ressuscitaria mortos. Esses milagres ainda
hoje são anunciados na mídia. No entanto, o candidato
a trabalhador do Cristo não logrou realizar o que se promete,
de modo fácil, na mídia. Não lhe parece estranho?
Por outro lado, ainda hoje, podemos encontrar prodígios difíceis
de explicar, como uma cirurgia com bisturi invisível ou com
troca de válvula cardíaca defeituosa, sem hemorragia
significativa. (9, 9b)
Fenômenos foram importantes, mas a legenda de agora é
Kardequizar. (3, 10)
Kardequização do sentimento, raciocínio, da ciência,
da filosofia, da fé, da inteligência, do estudo, do trabalho,
do serviço, das relações, do progresso, da liberdade,
do lar, do debate, do sexo, da personalidade, da corrigenda, da existência.
São inúmeras as frentes de trabalho.
Bezerra aponta para o Cristo interno. “Kardequizarmo-nos
na carteira de obrigações a que estamos transitoriamente
jungidos é a fórmula ideal de ascensão.”
Zaqueu, candidato ficha-limpa, não curou leprosos, mas estancou
a aflição com suas palestras em torno do Mestre. Candidato
ao Reino de Deus, não levantou paralíticos, mas ergueu
a coragem e a fé de corações desanimados ante
a incúria pelas coisas santas. Não expulsou demônios,
mas lutou e venceu o ateísmo, recuperando almas para o dever
com Deus. Também, não ressuscitou um morto, mas renovou
esperanças na alma de muitas mães desgostosas com a
indiferença dos filhos com a prática do bem. Revigorou
a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho,
porque estavam envergonhados de se apresentarem a Deus, através
da prece, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras.
Na parábola do moço rico, doar tudo aos pobres talvez
não fosse o mais complicado, mas seguir Jesus como fórmula
de ascensão, sim. Isso demandaria ultrapassar as montanhas
do egoísmo e da vaidade, eliminando o “complexo do desamor”.
Paternidade, missão bem cumprida pelos pais de Zaqueu.
Kardequizar é tornar explícita a reencarnação.
Entregar um filho “Homem de Bem” (*) à sociedade
já “está de bom tamanho”.
(*) O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII.
Sede Perfeitos. O Homem de Bem, item 3.
9. Bisturi invisível