A epistemologia é o estudo ou ciência do conhecimento.
Dois dos grandes problemas da epistemologia são o das origens
e fundamentação do conhecimento (quais os processos
pelos quais o adquirimos, em que ele se fundamenta) e o dos seus
limites, ou extensão (quais as coisas que podem, em princípio,
ser conhecidas e quais as que não podem). Ao longo da história
da filosofia, esses dois problemas epistemológicos quase
nunca foram tratados separadamente, já que há conexões
entre eles. Porém, para fins de análise a distinção
é útil, e podemos classificar as doutrinas epistemológicas
em dois grupos principais, conforme se ocupem de um ou de outro
desses problemas.
No caso do problema das origens e fundamentação do
conhecimento, há essencialmente duas posições
antagônicas:
i) Empirismo.
Sustenta que o conhecimento se baseia e se adquire através
do que se apreende pelos sentidos. Admite-se, além dos
sentidos “externos” (visão, audição,
tato, olfato e paladar) a participação de um
sentido “interno” (introspecção), que
nos informa acerca de nossos sentimentos, estados de consciência
e memória. Como quase toda doutrina filosófica,
o empirismo encontra raízes na Grécia Antiga; ganhou
novo ímpeto com a revolução científica
do século 17, e seus principais defensores no período
moderno foram Locke, Berkeley e Hume.
ii) Racionalismo. Mantém
que as fontes do verdadeiro conhecimento encontram-se não
na experiência, mas na razão. Como no caso do empirismo,
também essa doutrina já era defendida entre os gregos;
na era moderna, seus principais expoentes foram Descartes e Leibniz.
Naturalmente, é possível manter-se uma posição
empirista acerca de determinado tipo de conhecimento e racionalista
acerca de outro. De fato, é freqüente, por exemplo,
que empiristas com relação ao conhecimento do
mundo físico sejam racionalistas com relação
ao conhecimento matemático. E mesmo dentro de uma mesma área,
é cabível sustentar-se posições diferentes
quanto à origem do conhecimento, dependendo do tipo de proposição
envolvida. Esse é o caso da teoria epistemológica
de Kant; segundo ela, nosso conhecimento da física é
parcialmente a priori (como no caso das leis de Newton)
e parcialmente empírico, ou a posteriori (a lei
de Boyle, por exemplo).
Não iremos aqui discutir e avaliar, ou mesmo apresentar
de forma sistemática, as múltiplas variantes dessas
doutrinas epistemológicas sobre a origem do conhecimento.
Notemos apenas que, como resultado das profundas transformações
sofridas pela física em nosso século (que, entre outras
conseqüências, levaram à descrença na verdade
universal das leis da dinâmica newtoniana, e à adoção
de geometrias não-euclideanas), o racionalismo com relação
ao conhecimento do mundo físico aparentemente perdeu muito
de sua plausibilidade.
Passemos agora à questão dos limites do conhecimento.
Aqui, a oposição principal se dá entre a doutrina
epistemológica do realismo e uma série de
doutrinas com nomes diversos, ditas genericamente anti-realistas.
Poucos conceitos filosóficos têm recebido caracterizações
tão diversas quanto o de realismo. Em um sentido
amplo, o termo realismo denota uma determinada posição
filosófica acerca de certas classes de objetos, ou de proposições
sobre esses objetos. Consideram-se, por exemplo, os objetos matemáticos,
os universais, os objetos materiais ordinários, as entidades
não-observáveis postuladas pelas teorias científicas,
etc.
Em uma formulação puramente metafísica, o realismo
sobre os objetos de uma dessas classes se caracteriza pela afirmação
de que os objetos em questão “realmente existem”,
ou “desfrutam de uma existência independente de qualquer
cognição”, ou “estão entre os constituintes
últimos do mundo real”. Pode-se pois ser realista com
relação a uma classe ou classes de objetos e anti-realista
com relação a outras. Outros filósofos preferem
(por razões que não examinaremos aqui) formular o
realismo em termos epistemológicos, dizendo, por exemplo,
que por realismo se deve entender a doutrina segundo a
qual as proposições sobre os objetos da classe em
disputa possuem um valor de verdade objetivo, independente de nossos
meios para conhecê-lo: são verdadeiras ou falsas em
virtude de uma realidade que existe independentemente de nós.
As posições anti-realistas por vezes recebem nomes
especiais, de acordo com a classe de objetos em questão.
Assim, o anti-realismo com relação às entidades
matemáticas é conhecido por construtivismo;
com relação aos objetos materiais ordinários
por fenomenalismo; com relação aos universais
por nominalismo. O anti-realismo científico
questiona a possibilidade do conhecimento das entidades e processos
inobserváveis postulados pelas teorias científicas;
recebe várias denominações, dependendo de como
a tese do realismo científico é negada: instrumentalismo,
redutivismo, empirismo construtivo, relativismo, etc.