Silvio
Seno Chibeni
> O desenvolvimento dos textos de Allan Kardec sobre o
caráter da revelação espírita
Resumo:
Neste artigo identificamos e analisamos as principais fases
do desenvolvimento dos textos de Allan Kardec sobre o caráter
da revelação espírita. Neles Kardec
propõe que ela seja entendida como um processo inteiramente
natural de busca de conhecimento sobre a dimensão
espiritual do ser humano, e não como uma via sobrenatural
de comunicação da divindade com a criatura.
O texto mais conhecido sobre o assunto é o do primeiro
capítulo do livro A Gênese, os Milagres e as
Predições segundo o Espiritismo. Como muito
frequentemente ocorre com os textos que compõem as
obras de Kardec, esse texto foi gestado na Revista Espírita,
num par de substanciosos artigos, publicados em 1866 e 1867.
Foi, ainda, dada sua importância, publicado em separata,
logo após a publicação de A Gênese.
Por fim, o próprio texto do capítulo introdutório
desse livro foi objeto de diversos aperfeiçoamentos,
em edição subsequente, conforme o padrão
típico de Kardec, que modificou em maior ou menor
grau todas as suas principais obras, ao longo de suas várias
edições.
1. Introdução:
Revelação como fonte de conhecimento
O conceito de revelação
é fundamental nas principais tradições religiosas
ocidentais, a saber, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Teóricos dessas tradições sustentaram, ao longo
dos séculos, que a divindade pode transmitir aos homens certos
conhecimentos e prescrições sociais e morais por meios
tidos como “extraordinários”, ou seja, que fogem
aos processos usuais pelos quais os homens se comunicam entre si e
obtêm o restante de seu conhecimento sobre o que quer que seja.
Durante o largo período de tempo em que a religião cristã,
em especial, dominou a Europa, ela esteve aliada não apenas
ao poder temporal, mas também aos centros de estudo que hoje
classificaríamos como “filosóficos”. Santo
Agostinho e Santo Tomás de Aquino, por exemplo, a um intervalo
de cerca de mil anos um do outro, procuraram analisar teses e conceitos
cristãos sob uma perspectiva crítica, racional, típica
do trabalho filosófico, tal qual concebido pelos pais da filosofia,
na Antiga Grécia. Santo Tomás, em particular, é
comumente visto como o filósofo que mais longe foi na tentativa
de conciliar a filosofia pagã – especialmente a aristotélica
– com o cristianismo.
Com o advento da Modernidade, a partir do século XVI, o interesse
no assunto entrou em franco declínio. Os filósofos modernos
viam com extrema desconfiança qualquer alegação
de existência de processos físicos ou cognitivos não
naturais, ou seja, que não fossem regidos por leis naturais,
abertas ao exame experimental e racional. John Locke, um dos pais
da filosofia moderna, foi talvez o último dos grandes pensadores
a se ocupar seriamente da análise da revelação
como possível fonte de conhecimento. Em seu Ensaio sobre
o Entendimento Humano, publicado em 1690, abriu expressivo espaço
ao estudo do assunto, em especial nos capítulos XVIII e XIX
do Livro IV, intitulados, respectivamente “Da fé e da
razão, e suas províncias distintas” e “Do
entusiasmo”. Neles, Locke argumenta, reforçando e atualizando
a perspectiva tomista, a favor da tese de que, embora devamos admitir
a possibilidade de que Deus, por meios incomuns, faça chegar
aos homens certos conteúdos cognitivos ou morais, não
podemos, em nenhum caso, admiti-los ao arrepio da razão. “A
revelação”, diz Locke, “não pode
ser admitida contra a evidência clara da razão”
(Essay, IV.xviii.5; ver também ix.14:
“A razão deve ser nosso último juiz e guia em
tudo”).
Apesar da sobriedade e rigor com que Locke procurou conciliar a fé
e a razão, nos albores do período moderno, não
resta dúvida de que, a partir de então pouquíssimos
grandes filósofos estiveram dispostos a seguir discutindo o
assunto. Afastada a fé – e com ela a revelação
– do âmbito acadêmico, os estudos epistemológicos
se concentraram na natureza e alcance das faculdades cognitivas naturais
do ser humano, a observação e a razão. A ciência,
que então se constituía, moldou-se inteiramente por
essa perspectiva, e isso constitui um dos ingredientes básicos
de sua respeitabilidade, até nossos dias.
No século XIX, o ambiente hostil à revelação
e a tudo o que lhe dissesse respeito – a religião, em
suma – exacerbou-se. É neste contexto que nos cumpre
entender a proposta de Kardec de estudo da dimensão espiritual
do ser humano fora das perspectivas religiosas típicas, e de
forma compatível com os fundamentos experimentais e racionais
da ciência. Por esse motivo foi que denominou o Espiritismo
de “ciência espírita”, argumentando, em textos
pouco conhecidos ou notados da Revue Spirite e de seus livros,
que ele não deveria ser considerado uma religião, no
sentido comum do termo [1].
De forma interessante e corajosa, Kardec procurou, no entanto, recuperar
espaço para uma noção filosoficamente aceitável
de revelação – nisso seguindo Locke, sem que,
ao que tudo indica, jamais tenha tido contato com a obra do filósofo
inglês. Dessa noção refinada de revelação,
estariam purgados todos os elementos que haviam, até então,
caracterizado a revelação, nos sistemas teológicos
clássicos, e que levaram à sua forte rejeição
por parte de filósofos e cientistas modernos. Desse expurgo
sobrou, efetivamente, apenas a noção etimologicamente
primitiva do termo revelação, que, como o próprio
Kardec faz questão de explicar em seus textos, é simplesmente
a noção de tirar de sob o véu, descobrir, trazer
à luz algo até então desconhecido.
Seguindo nessa direção, seu primeiro movimento nos textos
que analisaremos neste artigo foi mostrar que, nesse sentido original,
toda atividade cognitiva pode ser considerada como um tipo de revelação:
o professor revela certos conteúdos aos alunos; o cientista
revela, mediante suas pesquisas, as leis que regulam o mundo físico;
o filósofo, igualmente, revela as leis do mundo moral. Sob
tal ângulo, o Espiritismo se enquadraria como uma revelação,
na medida – e somente na medida – em que traz
à luz, por meios diversos e inteiramente naturais,
uma série de conhecimentos novos sobre o ser humano, referentes
à sua natureza dual – física e espiritual.
Vejamos agora como o assunto da revelação espírita
surgiu e se desenvolveu na obra de Kardec. Não está,
porém, no escopo do presente trabalho discutir as teses e argumentos
kardequianos em si, mas tão somente examinar o método
que seguiu para gradualmente chegar ao seu texto mais completo sobre
o assunto, na última edição de A Gênese.
Esse estudo histórico e filosófico só se tornou
possível com a disponibilização, ao longo dos
últimos anos, pelo esforço de diversos indivíduos
e instituições, dos originais da Revue Spirite
e de todas as edições de La Genèse,
até a 5a edição. Esse material está convenientemente
reunido no site da Kardecpedia, www.kardecpedia.com.
É somente com base nele, e em nenhuma tradução
ou obra secundária, que desenvolvemos o texto a seguir.
2. Etapas preliminares do percurso
de Kardec no estudo da revelação espírita
2.1. Revelação no Imitation
de l’Évangile selon le Spiritime e no Évangile
selon le Spiritisme
Indubitavelmente, a fonte mais provável
que um espírita típico, não necessariamente acostumado
ao estudo detalhado da obra de Kardec, indicaria para a classificação
do Espiritismo como uma “revelação” é
o primeiro capítulo do Evangelho segundo o Espiritismo,
o livro mais popular de Allan Kardec. Na verdade, esse livro, publicado
em 1866, deriva de obra com nome parecido, de dois anos antes, a Imitação
do Evangelho segundo o Espiritismo (1864). Grande parte do conteúdo
do livro de 1864 foi aproveitada no de 1866, apresentado como “terceira
edição, revisada, corrigida e modificada”. Sabemos,
no entanto, que a rigor não seria uma “terceira”
edição, já que o livro de 1864 tinha outro título.
A edição de 1866 é, de fato, um livro novo. Sabemos
que o Imitation teve uma segunda edição, já
com o novo título, mas com o conteúdo idêntico
ao da primeira edição. Não cabe neste artigo
desenvolver mais esse ponto histórico; mas já convém
notar que temos aqui um importante exemplo da disposição
típica de Kardec de aperfeiçoar suas obras [2].
Voltaremos ao assunto mais adiante.
Retomando a questão da revelação nessas obras
sobre os Evangelhos, notemos, inicialmente, que o capítulo
1 foi um dos que menos alterações teve: Kardec limitou-se
a reorganizar o material e introduzir uma divisão em seções.
Os textos, propriamente ditos, não foram alterados. Neles,
o Espiritismo é explicitamente dado como uma revelação.
Seria a terceira revelação, de uma série que
começou com Moisés, no decálogo, e passou pelo
Cristo, nos Evangelhos. Cada uma delas é brevemente comentada,
quanto às suas características principais. No que toca
ao Espiritismo, o traço que Kardec destaca é que ele
seria uma revelação no sentido fundamental, não
teológico, do termo, como já antecipamos na Introdução:
O
Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos
homens, mediante provas irrecusáveis, a existência
e a natureza do mundo espiritual e suas relações
com o mundo corporal. Ele nos mostra esse mundo não mais
como algo sobrenatural mas, ao contrário, como uma das
forças vivas e constantemente atuantes da natureza.
(Imitation, I.6; Évangile I.5;
segundo grifo nosso.)
Essa passagem não deixa dúvidas
de que, ao sustentar que o Espiritismo pode ser visto como uma revelação,
Kardec não queria assimilá-lo às revelações
religiosas, no sentido teológico do termo. Note-se que a qualificação
principal do Espiritismo é, aqui, a de uma ciência. Kardec
já havia deixado isso claro ao defini-lo, no Preâmbulo
de Qu’est ce que le Spiritime (O que é o Espiritismo),
publicado em 1859. Como se sabe, essa obra é especificamente
destinada a analisar a natureza da nova abordagem de estudo do elemento
espiritual que constitui o homem [3].
Infelizmente, porém, o fato de Kardec haver, nas obras sobre
os Evangelhos, situado o Espiritismo como um item de uma sequência
de revelações milenarmente tidas como religiosas favoreceu,
no meio espírita, a interpretação de que ele
seria similar a elas quanto a aspectos que, como vimos, Kardec reconhecia
como inteiramente divergentes. Diante disso, torna-se particularmente
relevante examinar como Kardec viria, mais tarde, a reexaminar o assunto,
num contexto mais geral, nos artigos da Revue e no primeiro
capítulo de La Genèse. Olhando esse conjunto
mais avançado de textos com a vantagem da retrospecção,
podemos hoje ver que eles não foram suficientes para reverter
uma tendência que, ao que podemos julgar, Kardec teria razão
para lamentar. A análise desse ponto foge, porém, ao
escopo do presente trabalho.
2.2. Referências esparsas
à revelação na Revue Spirite
Embora a análise mais minuciosa
e aprofundada da questão da revelação espírita
só viesse a ser feita nos mencionados artigos da Revue,
de 1866 e 1867, nesta mesma revista podem-se encontrar, antes deles,
algumas referências esparsas à revelação
espírita, que vale a pena registrar aqui:
2.2.1. No mês de março
de 1861, Kardec insere na Revue, na seção “Enseignements
et dissertations spirites”, um texto intitulado “La
loi de Moïse et la loi du Christ. Communication obtenue par M.
R… de Mulhouse”, carta recebida de um assinante dessa
cidade, na qual ele relata que, sendo profitente da religião
judaica, notava que nas comunicações espíritas
recebidas na Societé de Paris não havia referências
a Moisés e à moral que ensinou, com base nos mandamentos
recebidos no Sinai. O correspondente, Sr. R., se pergunta se a referência
exclusiva a Jesus não seria o reflexo do fato de o Cristianismo
ser a religião dominante na Europa e de os Espíritos
preservarem essa influência mesmo enquanto desencarnados. Resolveu
então colocar essas questões ao seu Espírito
protetor. As respostas, assinadas “Mardoché R.”,
são bastante lúcidas, equilibradas e instrutivas e,
embora sem referência explícita a revelações,
indicam laços de continuidade histórica e conceitual
entre a moral mosaica, a cristã e a espírita. A partir
delas foi que Kardec montou, com rearranjos, cortes e acréscimos,
o texto que se encontra no Imitation e no Évangile,
capítulo 1, constituindo a primeira das três “Instruções
dos Espíritos”, que Kardec identifica como de “Um
Espírito israelita, Mulhouse, 1861”.
No mês de setembro do mesmo ano de 1861, Kardec faz inserir,
novamente na seção “Dissertações
e ensinamentos espíritas [i.e. de Espíritos]”,
três interessantes comunicações mediúnicas
“de um Espírito israelita a seus correligionários”,
que assina “Edouard Pereyre”. Kardec informa que se trata
de um parente, recentemente desencarnado, do mesmo Sr. R., de Mulhouse.
Os textos mostram bastante erudição histórica
e, como no artigo de março, acima comentado, situam o Espiritismo
num movimento de progresso da humanidade no conhecimento de Deus e
de suas leis que tem como pontos altos a revelação mosaica
e a cristã. Mas, embora o Espírito se apresente como
pertencente ao povo hebreu, sua análise avança, de forma
despojada, para além dos limites da perspectiva estritamente
judaica, reconhecendo, como o fizera o Espírito protetor do
médium de Mulhouse, não somente o papel excepcional
de Jesus, mas também o do Espiritismo. E, neste último
caso, que é o que nos interessa aqui, o Espírito reforça
a interpretação já dada por Kardec, de que o
Espiritismo seria uma revelação, mas num sentido por
assim dizer “científico” do termo. Vejamos, a título
de amostra, este trecho que abre o segundo parágrafo da segunda
comunicação:
Sim, meus amigos, o Espiritismo
é uma nova revelação; compreendei o alcance
pleno dessa palavra. É uma revelação, pois
vos desvela uma nova força da natureza, da qual não
suspeitáveis, embora seja tão antiga como o mundo…
2.2.2. No mês de maio de 1865,
um dos textos da seção de “Dissertações
espíritas [i.e. de Espíritos]”, é assinado
por Pascal, conhecido filósofo e matemático francês.
Ele tem por título “A verdade”. Como parece típico
desse Espírito, em numerosas comunicações dadas
a público por Kardec, propõe conceitos e teses bastante
idiossincráticos, devendo, portanto, ser examinados com especial
cuidado. Uma dessas teses é de que “o espírito
humano se move e se agita sob a influência de três causas:
a reflexão, a inspiração e a revelação”.
Não vamos aqui discutir a forma peculiar pela qual os dois
primeiros conceitos são apresentados; quanto ao terceiro, devemos
notar que, curiosamente, é caracterizado em termos muito próximos
dos pertencentes ao enfoque religioso tradicional. Isso, aliás,
é compatível com o forte envolvimento de Pascal, quando
encarnado, com o contexto religioso de sua época. Mas não
deixa de ser surpreendente que, transcorridos tantos séculos,
tal traço ainda apareça no texto do autor – assumindo-se
que de fato se trata do mesmo indivíduo. Vejamos o trecho relevante:
A revelação
é a mais elevada das potências que agitam o espírito
do homem, pois provém de Deus, só se manifestando
por sua vontade expressa. É rara, por vezes mesmo imperceptível;
por vezes evidente para aquele que a experimenta, ao ponto de
se sentir involuntariamente capturado por um respeito santo. Repito:
ela é rara, e ordinariamente é dada como recompensa
à fé sincera, ao coração devotado.
Porém não tomeis como revelação tudo
o que vos possa ser dado como tal. O homem faz exibição
de sua amizade com os grandes [homens]; os Espíritos fazem
exibição de uma permissão especial de Deus,
que, no entanto, frequentemente lhes falta. Fazem, por vezes,
promessas que Deus não ratifica, pois só ele sabe
o que é preciso e o que não é preciso.
Esse texto singular e complexo começa,
como vemos, inteiramente alinhado com a interpretação
teológica da revelação. Mas, felizmente, esse alinhamento
é mitigado pela ressalva, na segunda metade do trecho citado,
de que não podemos, sem mais exame, tomar cegamente por revelação
todo e qualquer conteúdo que nos seja apresentado como tal. Essa
ressalva é exatamente a mesma que Locke fez no referido livro,
com vasto suporte analítico. Kardec não comenta o texto
de Pascal; simplesmente o transcreve, deixando ao leitor a indispensável
tarefa de examiná-lo criticamente. Não o faremos aqui,
evidentemente. Nós o trouxemos à consideração
como testemunho do interesse de Kardec no assunto, e como exemplo de
sua isenção intelectual, ao transcrever na Revista
um texto com respeito ao qual, quase que certamente, teria importantes
restrições a fazer.
3. Os artigos sobre o caráter
da revelação espírita na Revue Spirite de 1866
e 1867
3.1. “Da revelação”,
Revue Spirite, abril de 1866
Embora a questão da revelação
estivesse presente há pelo menos dois anos nos textos de Kardec
– e muito provavelmente há mais tempo em suas reflexões
privadas –, foi somente em 1866 que ele publicou um texto detalhado
e específico sobre o assunto. Tal texto saiu na Revue de abril
de 1866, logo no início do fascículo, ocupando nove páginas.
Kardec inicia, como era seu costume, com uma análise etimológica
do termo ‘revelação’, para, a partir dela,
delinear um sentido do termo em que ele pudesse ser aplicado ao Espiritismo.
Isso implicava, claro, rejeitar de forma cabal o sentido usual do termo,
sentido esse que Kardec qualifica de “litúrgico”.
Nessa acepção, o termo evoca “uma ideia falsa”:
a de um processo sobrenatural pelo qual algum conteúdo cognitivo
ou normativo seria dado a alguém. Ao invés disso, Kardec
advoga o uso do termo em seu sentido mais simples e literal, segundo
o qual “revelar é fazer conhecida uma coisa até
então desconhecida”. Seguem-se então diversos exemplos
de aplicação do termo, nessa acepção: o
professor, o cientista, o filósofo seriam reveladores, cada um
em um âmbito próprio. Quanto aos religiosos, que por vezes
se apresentam a si próprios como reveladores, ou profetas, podem
de fato sê-lo; mas, retomando um de seus temas clássicos,
Kardec adverte que, muitas vezes, de fato não o são. São
movidos, neste caso, por uma série de “ambições
secundárias”, que pouco ou nada tem a ver com os objetivos
superiores da verdadeira religião. Mais uma vez, o posicionamento
de Kardec lembra muito, quanto a isso, o de John Locke. Cabe aos homens
interessados na verdade exercerem atenção redobrada, no
terreno religioso, para não se deixarem iludir por pseudo-revelações.
A partir desse ponto, o texto procura explicitar em detalhe as características
do Espiritismo que tornariam aplicável a ele o qualificativo
de revelação. Tais características não guardam
nenhuma relação com o misticismo, o ocultismo, os mistérios;
são, antes, aquelas que dizem respeito à descoberta, por
meios cognitivos normais, de uma realidade espiritual no ser humano,
capaz de transcender a finitude de sua dimensão estritamente
corpórea:
Uma nova
e importante revelação se produz na presente época:
a que nos mostra a possibilidade de nos comunicarmos com os seres
do mundo espiritual. Esse conhecimento, sem dúvida, não
é novo; mas permaneceu até hoje no estado de letra
morta, ou seja, sem proveito para a humanidade. A ignorância
das leis que regem as relações entre os homens e os
Espíritos o havia abafado sob a superstição.
Daí o homem não era capaz de tirar nenhuma dedução
salutar. Estava reservado à nossa época desembaraçar
aquele conhecimento de seus acessórios ridículos,
tornar compreensível seu alcance e fazer com que dele brotasse
uma luz que deverá iluminar a rota do porvir.
Ao explorar de forma racional e construtiva
as relações com os Espíritos, o Espiritismo faz
deles reveladores, do mais ao menos elevado. Todos podem nos
ajudar a conhecer aspectos diversos da realidade espiritual. Já
chegando ao final do texto, Kardec formula a bela parábola do
navio desaparecido, supostamente naufragado, mas que na verdade aportou
em uma terra nova e fértil, em que seus ocupantes viveram felizes.
Muito tempo passado, os que acreditavam na perda de seus familiares
e amigos queridos obtêm a notícia de que eles não
estão mortos, mas apenas distantes, em vida de plenitude e alegria.
No caso da revelação espírita, não apenas
ela nos descortina a continuidade da vida, mas também nos dá
a conhecer os fatores que condicionam nossa felicidade ou infelicidade
a longo prazo, e não apenas durante o breve período da
vida corporal. Tais fatores, como Kardec mostrou, são aqueles
ligados à incorporação, em nossa conduta, de valores
morais superiores, como aqueles propostos por Jesus e corroborados pela
análise espírita dos fatos relativos à sobrevivência
do ser e à sua condição futura.
3.1. “Caracteres da revelação
espírita”, Revue Spirite, setembro de 1867
Como se não bastasse esse rico
e instrutivo texto, Kardec publicou, no ano seguinte, no mês de
setembro, um segundo artigo sobre revelação, agora com
o título mais específico de “Caractères de
la révélation spirite”. Uma tradução
menos literal do que a que adotamos no subtítulo acima seria
“Características da revelação espírita”.
Tal texto ocupa nada menos do que 22 páginas da Revista.
Numa nota inicial, Kardec explica essa dimensão incomum do artigo
(mesmo para seu padrão, de textos longos): na verdade, ele é
a antecipação de parte de uma obra nova, então
já na gráfica, e que deveria ser publicada no fim daquele
ano. Como sabemos, tratava-se de La Genèse, les Miracles
et les Prédictions selon le Spiritisme, que acabaria
saindo apenas no início de 1868. Nela, o texto agora em análise
viria a integrar seu primeiro e mais importante capítulo. Atenhamo-nos,
por ora, ao texto publicado na Revista.
O texto é didaticamente dividido em parágrafos: 55 no
total. Também visando a motivar e facilitar sua leitura, Kardec
começa com a enumeração de 11 instigantes perguntas,
que serão todas respondidas ao longo do artigo. Seu conteúdo
segue, até certo ponto, o do artigo de 1866. Vários dos
temas principais daquele são agora retomados e ampliados: os
diversos sentidos do termo revelação; os exemplos
de revelação no sentido original do termo; as advertências
contra as distorções que a noção de revelação
sofreu no âmbito religioso; o Espiritismo como revelação
natural da realidade espiritual; etc. Este último item é
o que mais extensões recebeu. Kardec explica agora com bastante
detalhe como o Espiritismo foi elaborado, à semelhança
das ciências ordinárias, e não como um corpo de
conhecimento trazido pronto aos homens. Esse ponto é de crucial
importância para a correta compreensão da natureza do Espiritismo
e, infelizmente, um dos menos compreendidos pelos espíritas de
todas as épocas e lugares. Só por isso, o segundo texto
de Kardec já mereceria o melhor de nossas atenções.
Depois, o tema das três revelações, de que trata
o capítulo 1 do Imitação do Evangelho segundo
o Espiritismo e do Evangelho segundo o Espiritismo, é reintroduzido,
sem grandes variações, porém num contexto muito
mais adequado do que o daqueles dois livros. Agora, o leitor terá
menos desculpas se incorrer nas distorções da análise
kardequiana, de que já tratamos na seção 2.1. Ademais,
Kardec aprofunda o estudo das relações entre o Cristianismo
e o Espiritismo, outro tema de grande relevância em sua obra como
um todo. Encerrando o artigo, Kardec expõe sua compreensão
e suas expectativas quanto ao progresso e disseminação
do Espiritismo, e explica, entre outros pontos pouco compreendidos pelos
espíritas, a dinâmica de seu trabalho na constituição
do Espiritismo, em colaboração com Espíritos e
homens, em relações maduras e respeitosas, mas sem nenhum
traço de subserviência de parte a parte.
4. O primeiro capítulo de La Genèse, les Miracles
et les Prédictions selon le Spiritisme
4.1. Primeira edição:
“Caractères de la révélation spirite”
Em 6 de janeiro de 1868 saiu a primeira
edição de La Genèse, conforme anuncia
Kardec no final do número da Revue Spirite desse mesmo
mês, p. 31. O título de seu primeiro capítulo é,
como já dissemos, o mesmo do artigo do ano anterior, ou seja,
“Caractères de la révélation spirite”.
O exame preliminar desse capítulo mostra que ele incorpora integralmente
o referido artigo, sendo mantida, inclusive, a numeração
dos parágrafos, de 1 a 55. Uma inspeção mais detalhada,
no entanto, evidencia que Kardec introduziu pequenas alterações,
tendo em vista o texto integrar agora um livro, e não uma revista.
Assim, por exemplo, os dois períodos
finais do parágrafo 44 (cerca de quatro linhas) foram suprimidos.
Tratava-se, simplesmente, de uma comparação didática,
que não faz falta para o conteúdo principal do parágrafo.
Com esse trecho, sai também a nota a ele anexada, que discute,
em mais de uma página, a questão da “natureza”
do Cristo, quanto a certos pontos discutidos pelas diversas vertentes
do Cristianismo. A posição de Kardec, expressa na nota,
é a de que “o Espiritismo é neutro nessa questão”,
e que ela “é uma questão de dogma alheia ao objetivo
da doutrina”, cabendo aos espíritas reconhecer a excelência
do código moral proposto pelo Cristo e “praticar as virtudes
recomendadas” por ele. Embora a nota tenha sido suprimida, essas
judiciosas ponderações voltam a ser feitas por Kardec,
em sua essência, no cap. 15 de La Genèse, sobre
os milagres do Evangelho [4].
Logo depois, outra nota, anexada ao
parágrafo 45, tem seu parágrafo final suprimido. Tal nota
é sobre o papel pessoal de Kardec na elaboração
do Espiritismo. Como se sabe, Kardec era extremamente comedido ao falar
de si, de forma que é bem natural que, ao transpor o artigo para
o livro, ele tenha deixado de lado uma parte de seus comentários,
mantendo apenas o trecho mais importante.
Mais adiante, encontramos, no parágrafo 53, uma alteração
diferente: o acréscimo de um pequeno parágrafo, de cerca
de 6 linhas. Com esse trecho vem uma nota nova. Tanto o trecho do texto
como a nota são bastante importantes, pois dizem respeito aos
critérios rigorosos e impessoais com que Kardec selecionava os
materiais a serem inseridos em suas publicações –
um assunto, portanto, digno da atenção de todos os espíritas,
até nossos dias.
No final do parágrafo 54, algumas referências bibliográficas
que vinham entre parênteses são agora convenientemente
deslocadas para uma nota de rodapé.
Embora relevantes para o ajuste mais fino de seu texto, tais alterações
não representam nenhuma ruptura ou modificação
essencial do texto do artigo de 1867. A modificação mais
substancial viria a título de complementação: aos
55 parágrafos iniciais Kardec acrescenta agora, na Gênese,
mais 17 parágrafos numerados. O leitor atento do primeiro artigo
de Kardec sobre a revelação, que comentamos acima, logo
se dá conta de que esses parágrafos de números
56 a 62 provieram justamente, em versão adaptada, do texto daquele
artigo de 1866. O diagrama abaixo sintetiza a composição
do capítulo 1 de La Genèse:
Explicando mais esse esquema, a primeira
seta, ascendente, significa que, do artigo de 1866, Kardec já
havia aproveitado uma parte para compor os parágrafos 1 a 11
do segundo artigo, que depois vão também para o capítulo
de A Gênese, junto com os parágrafos seguintes,
novos, de 12 a 55 (segunda seta, descendente). A seta horizontal mostra
que os parágrafos 56 a 62 do capítulo, novos relativamente
ao artigo de 1867, na verdade provieram do artigo de 1866.
A forma pela qual o artigo de 1866 é aproveitado, primeiro,
no artigo do ano seguinte e, depois, no livro, não é,
porém, tão simples como o esquema pode sugerir, pois,
como já notamos, aquele primeiro artigo não é
dividido em parágrafos; e, além disso, o seu material
sofre, em ambos os casos, modificações formais expressivas.
Não as vamos comentar aqui, deixando ao leitor a instrutiva
e prazerosa tarefa de comparar os textos diretamente, constatando
por si próprio a meticulosidade e o cuidado com que Kardec
empreendia seu trabalho.
4.2. A brochura “Caractères
de la révélation spirite”
Figura SEQ Figure \* ARABIC 6: Folha de rosto da
brochura Caractères de la révélation spirite, 1868.
No final do número da Revue Spirite
de fevereiro de 1868, Kardec dá a notícia do lançamento,
em breve, da publicação na forma de brochura, a ser vendida
separadamente, do primeiro capítulo de La Genèse,
livro que havia sido publicado no início do mês precedente.
Diz que a iniciativa lhe havia sido sugerida por leitores, que julgaram
que, dessa maneira, o importante capítulo poderia ser mais divulgado,
mesmo entre pessoas que não assinavam a Revue. A comparação
dessa brochura com o capítulo mostra que os textos são
idênticos, até mesmo quanto à composição
das linhas, o que indica que os tipos gráficos foram aproveitados
da impressão de La Genèse [5].
Apenas, tendo um formato mais alongado do que o do livro, as páginas
da brochura contêm um número maior de linhas. Dois detalhes
significativos: a brochura estava à venda no “bureau”
da Revista, na Passage Sant-Anne, que, como sabemos, também
servia de residência a Kardec, o que mostra que, mesmo nessa época
avançada, ele continuava se empenhando pessoalmente na divulgação
das obras espíritas, não obstante aborrecimentos que tal
expediente lhe causasse. Depois, na página de rosto da brochura
há os dizeres “Traduction facultative”, ou seja,
Kardec permitia a tradução do livreto, sem cobrar nada
por isso, e sem quaisquer entraves formais. A brochura está disponível,
em versão eletrônica, no site da Biblioteca Nacional da
França (http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k840146j)
ou no site da Kardecpedia (www.kardecpedia.com).
4.3. Edições 2 a 4: “Caractères
de la révélation spirite”
Na mesma página da Revue
Spirite de fevereiro de 1868 em que saiu a referida notícia
do lançamento da brochura sobre a natureza da revelação
espírita, Kardec anuncia o lançamento, em breve, da segunda
edição do livro, que ele informa já estar “quase
esgotado”. Na verdade, essa edição é uma
“tiragem”, ou seja, uma reimpressão, “na qual
não se fez nenhuma mudança”. Além dessa declaração
explícita do próprio Kardec, que por si não deixaria
dúvida sobre a identidade das duas primeiras edições,
temos hoje, felizmente, acesso a digitalizações em imagem
de ambas edições, cuja inspeção confirma
esse ponto [6]. Vemos também que
a edição é, ao que tudo indica, do mês de
fevereiro.
À página 95 da Revue do mês de março
de 1868, novamente Kardec dá notícias sobre o livro, dizendo
que, naquele momento, a segunda edição estava “quase
esgotada” e que já se procedia à tiragem da terceira
edição. Embora desta vez ele não se pronuncie
sobre o texto dessa nova tiragem, sua inspeção direta
mostra que, mais uma vez, não houve nenhuma alteração
de conteúdo ou de forma, relativamente às edições
precedentes.
A página de rosto da quarta edição de
La Genèse indica o ano de 1868 como o de sua publicação.
Entretanto, estudos posteriores mostram que, de fato, ela só
saiu no primeiro semestre do ano seguinte, após a morte de Kardec
[7]. Temos, na segunda edição,
de agosto de 1869, do Catalogue Raisoné des Ouvrages Pouvant
Servir à Fonder une Bibliothèque Spirite, na seção
inicial sobre as obras fundamentais, uma confirmação de
que a quarta edição continuava disponível meses
depois da morte de Kardec, em março de 1869. Sabemos, também,
que em data tão distante quanto março de 1872 a edição
ainda estava à venda [8]. Quanto
ao seu texto, mais uma vez, temos o recurso da comparação
direta com as edições de 1 a 3, que leva à conclusão
de sua identidade de conteúdo e forma, nos mínimos detalhes.
Trata-se de nova impressão, simplesmente.
4.4. A quinta edição:
“Caractères de la révélation spirite”
Como antecipamos no Resumo deste artigo,
a quinta edição de La Genèse é
póstuma, de 1872. Editada agora pela Librairie Spirite, situada
no n. 7 da Rue de Lille, sua folha de rosto anuncia que a edição
foi “revisada, corrigida e aumentada”. O exame da obra confirma
esse anúncio. E, embora leitura rápida possa eventualmente
dar a impressão de que nada mudou, muitas modificações
podem ser detectadas, sem que, no entanto, tenham alterado substancialmente
o conteúdo e a forma do texto. Ao estudioso das obras de Kardec
esse fato não surpreende, pois ele sabe que o autor nunca deixou,
havendo oportunidade, de revisar suas obras, até mesmo de forma
muito mais substancial do que no presente caso, como aconteceu, por
exemplo, com o Le Livre des Esprits e com o Imitation de
l’Evangile selon le Spiritisme.
Como, porém, a edição
veio a público depois da desencarnação de Kardec,
abriu-se espaço para algumas suspeitas, no meio espírita,
de que as alterações introduzidas não seriam da
autoria de Kardec. A quinta edição seria, na visão
de alguns, “adulterada”. Em nossos dias (2017-2018), a discussão
desse ponto, que se iniciou ainda no século XIX, parece ter-se
renovado, especialmente pela publicação, em país
vizinho, de uma obra que defende essa tese [9]. Há duas formas
de tornar o debate proveitoso e esclarecedor, mantendo-o distante de
questões pessoais e institucionais. Uma é examinar a validade
formal de tais argumentos, e a natureza das supostas evidências
documentais evocadas [10]; a outra é examinar diretamente as
principais alterações de conteúdo introduzidas
na quinta edição do livro. Nenhuma dessas tarefas pode
aqui ser empreendidas, evidentemente. Em publicação futura
apresentaremos os resultados de um levantamento minucioso que fizemos
das alterações referentes ao primeiro capítulo
do livro. Adiantamos que todas essas alterações pareceram-nos
muito sensatas, sendo compatíveis com o a hipótese de
que, de fato, foram introduzidas pelo próprio Kardec, que tão
exemplarmente, como vimos neste artigo, dedicou-se ao aperfeiçoamento
constante de seus textos.
5. Considerações
finais
Há, no movimento espírita,
pouca compreensão efetiva acerca do modo como Kardec trabalhava
e de seu papel na elaboração do Espiritismo. Neste artigo
vimos em razoável detalhe a história de seus textos sobre
a natureza da assim chamada “revelação espírita”.
Quanto a esta há, igualmente, pouca clareza ou mesmo confusões
mais ou menos sérias, disseminadas entre os espíritas.
Nosso trabalho oferece uma contribuição modesta para a
correção dessas falhas de interpretação.
Primeiro, o caso mostra que Kardec era, de fato, o grande intelecto
responsável pelo estabelecimento dos fundamentos teóricos
do Espiritismo e não, como por vezes se chegou a dizer, que era
um mero “secretário” dos Espíritos. Depois,
constatamos, na evolução dos textos de Kardec, desde o
Imitation de l’Évangile selon le Spiritisme até
o exemplar primeiro capítulo de La Genèse, les Miracles
et les Prédictions selon le Spiritisme, passando por diversos
artigos na Revue Spirite, que o significado essencial da expressão
“revelação espírita” é o de
um processo de pesquisa que não extrapola de nenhum modo o funcionamento
normal da cognição humana, ou seja, da observação
dos fatos e sua elaboração racional. O que há de
novo na revelação espírita é que o conjunto
de fatos passou a incluir, de forma pioneira, aqueles referentes à
sobrevivência do espírito; e que o próprio processo
de pesquisa e elaboração intelectual foi empreendido com
o auxílio dos Espíritos. O resultado final foi a abertura
e consolidação de uma nova perspectiva para a compreensão
do ser humano, com todas as consequências filosóficas que
acarreta, especialmente no campo da moral, como o próprio Kardec
nunca deixou de enfatizar [11].
Notas
[1] Veja-se, em especial, o artigo “Refutation
d’un article de l’Univers”, Revue Spirite, maio 1859,
pp.129-138 e “Le Spiritisme est-il une religion?”, Revue
Spirite, dezembro 1868, pp. 353-362. Outras considerações
sobre essa polêmica desencadeada pelo artigo de l’Univers
estão em: “Réponse à la replique de M. l’abbé
Chesnel, dans l’Univers”, Revue, julho de 1859, p. 91, e
no comentário final de um segundo artigo sobre outro caso que
mereceu a atenção de Kardec, o do Sr. Deschanel, que no
Journal des Débats acusou o Espiritismo de ser materialista,
Revue, abril de 1861, p. 99 (ver março de 1861, pp. 65-75, para
o artigo inicial sobre esse caso).
[2] Lembrando rapidamente, a obra fundadora do Espiritismo,
Le Livre des Esprits, sofreu ampla e profunda revisão,
da primeira edição, de 1857, para a segunda e definitiva,
de 1860. Também o Le Livre des Médiums passou
por revisão, no mesmo ano em que saiu a primeira edição,
1861.
[3] “O Espiritismo é uma ciência
que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como
de suas relações com o mundo corporal.” Qu’est
ce que le Spiritime, Preâmbulo; grifo nosso.
[4] Veja-se, em especial, este trecho da seção
introdutória, “Observações preliminares”
(4a ed.), item 2: “Sem prejulgar, de modo algum, a questão
da natureza do Cristo, cujo exame não entra no escopo desta
obra, e considerando-o, como hipótese, apenas como um Espírito
superior, não podemos deixar de reconhecer nele um dos que pertencem
à ordem mais elevada, e que ocupa, por suas virtudes, um lugar
muito acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que sua
encarnação produziu neste mundo, ela só pode ter
sido uma dessas missões que a Divindade não confia senão
aos seus mensageiros diretos, para o cumprimento de seus desígnios.”
(Grifos nossos.) Nas duas últimas seções do capítulo,
itens 56 a 68, Kardec analisa diversas teses sobre a natureza de Jesus,
recomendando uma atitude de prudente reserva quanto àquelas para
as quais faltem elementos de comprovação.
[5] Há, no entanto, algumas linhas em finais
de parágrafos que, no livro, tinham as palavras muito espaçadas,
e que foram agora aproximadas, permitindo-se acomodar na mesma linha
a palavra final, que havia ocupado uma linha extra. Isso mostra o cuidado
minucioso de Kardec ou de seus editores e gráficos até
mesmo com pequenos detalhes estéticos.
[6] Todas as cinco edições de La Genèse
que estamos analisando neste artigo estão, lembremos, convenientemente
reproduzidas, em imagem, no site da Kardecpedia, www.kardecpedia.com,
seção “Obras de Kardec”.
[7] Veja-se a nota da Federação Espírita
Brasileira sobre as edições de La Genèse: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Edi%C3%A7%C3%A3o-definitiva-de-A-G%C3%AAnese.pdf
(visitado em 20/9/2019).
[8] Journal Général de l’Imprimerie
de la Librairie, de 30 de março de 1872, página 389.
Disponível na BNF http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k86732m/f405.item.
Ver também o texto da FEB sobre La Genèse indicado
na nota de rodapé precedente.
[9] Privato Goidanich, Simoni, El Legado de Allan
Kardec, Confederación Espiritista Argentina, 2017. Vejam-se
ainda estes vídeo da autora, em que apresenta sua tese principal:
https://www.youtube.com/watch?v=7xEgZYqqlNQ
; https://youtu.be/HIMzAYeOWMY.
[10] Veja-se, neste sentido, a extensa crítica
feita por Cosme D. B. Massi, em entrevista publicada em: https://www.youtube.com/watch?v=DNX4gxqJLVQ
[11] Gostaria de agradecer aos dirigentes do Centro
Espírita Caminho da Esperança, do Rio de Janeiro, o convite
para ministrar um seminário sobre o caráter da revelação
espírita, em 2011, propiciando-me a ocasião de realizar
estudos mais detalhados sobre o tema. Agradeço também
a Alexandre Caroli Rocha, Cosme D. B. Massi, Raphael Fernandes Casseb
e Alexandre Fontes da Fonseca pelas valiosas correções
e sugestões feitas sobre versões preliminares deste texto,
que fiz circular no final de 2017.
Referências bibliográficas:
Federação Espírita Brasileira.
Nota sobre as edições de A Gênese. https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Edi%C3%A7%C3%A3o-definitiva-de-A-G%C3%AAnese.pdf
(visitado em 20/9/2019).
Journal Général de l’Imprimerie
de la Librairie, Paris, 30 de março de 1872, p. 389. Disponível
na BNF: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k86732m/f405.item.
Kardec, A. Imitation de l’Évangile
selon le Spiritisme. Paris, Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri,
1864. Reprodução fotográfica: Rio de Janeiro, Federeção
Espírita Brasileira, prefácio de Francisco Thiesen e notas
introdutórias de Hermínio C. Miranda, 1979.
____. L’Évangile selon le Spiritisme.
3eme éd., revue, corrigée et modifiée. Paris, Dentu,
Fréd. Henri, 1866. Reprodução fotográfica:
Rio de Janeiro, Federeção Espírita Brasileira,
prefácio de Francisco Thiesen, 1979.
____. Revue Spirite. Paris, Editada pelo Autor,
volumes de 1866, 1867, 1868.
____. Les Caractères de la Révélation
Spirite. Paris, brochura editada pelo Autor, 1868. Disponível
no site da Biblioteca Nacional da França, www.gallica.bnf.fr
.
____. La Genèse, les Miracles et les Prédictions
selon le Spiritisme. 1ère éd., Paris, A. Lacroix,
Verboekhoven et Ce, Éditeurs, 1868.
____. La Genèse, les Miracles et les Prédictions
selon le Spiritisme. 2ème éd., Paris, A. Lacroix,
Verboekhoven et Ce, Éditeurs,1868.
____. La Genèse, les Miracles et les Prédictions
selon le Spiritisme. 3ème éd., A. Lacroix, Verboekhoven
et Ce, Éditeurs, Paris, 1868.
____. La Genèse, les Miracles et les Prédictions
selon le Spiritisme. 4ème éd., A. Lacroix, Verboekhoven
et Ce, Éditeurs, Paris, 1868.
____. Catalogue Raisoné des Ouvrages Pouvant
Servir à Fonder une Bibliothèque Spirite, 2ème
éd., Librairie Spirite, Paris, 1869.
____. La Genèse, les Miracles et les Prédictions
selon le Spiritisme. 5ème éd., revue, corrigée
et augmentée, Paris, La Librairie Spirite, s.d.
Kardecpedia: http://www.kardecpedia.com (contém
todas as obras de A. Kardec desta lista de referências).
Massi, C. D. B. Entrevista disponível no
YouTube: : http://www.youtube.com/watch?v=DNX4gxqJLVQ
Privato Goidanich, S. El Legado de Allan Kardec, Buenos
Aires, Confederación Espiritista Argentina, 2017.
____. Vídeo disponível no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=7xEgZYqqlNQ
_____. Vídeo disponível no YouTube: https://youtu.be/HIMzAYeOWMY
Fonte: https://kardec.blog.br/allan-kardec-sobre-o-carater-da-revelacao-espirita-silvio-s-chibeni/
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