Em 1865, saiu a 13a edição
francesa de Le Livre des Esprits. Segundo registra
a “Nota explicativa” da reprodução
da 2a edição publicada pela FEB em 1998
(ver resenha em Mundo Espírita, fevereiro de 2002, p. 5),
Kardec introduziu no texto diversos “acréscimos e modificações”.
Ao contrário do que
aconteceu com a Errata da 5a edição (ver Mundo Espírita,
... de 2002, p....), essas alterações se incorporaram
definitivamente à obra. Estão presentes nas edições
correntes em francês, português, inglês e esperanto
que pudemos consultar, o que evidencia que elas se basearam em alguma
edição posterior à 12a. (Aliás,
quase nenhuma tradução de textos espíritas
indica precisamente o original utilizado – um indício,
dentre muitos outros, da falta de rigor editorial.)
O objetivo deste artigo é traduzir e comentar o trecho da
“Note explicative” referente aos acréscimos
e modificações. Na Nota, esse trecho forma um único
parágrafo; as alterações são numeradas
por letras. Para clareza de exposição, apresentaremos
os itens em parágrafos separados, mantendo porém a
numeração original. Como as referências são
feitas pelas páginas e linhas da edição francesa,
forneceremos entre colchetes e em itálicos informações
que facilitem a localização em outras edições.
A) página 20: modificação
da redação das linhas 5, 6 e 7 [período final
do comentário de Kardec à questão 51];
B) página 59: indicação do Livro dos Médiuns
na nota que segue a resposta à questão 137;
C) página 60: indicação do parágrafo
II na nota de rodapé [no final do comentário de Kardec
à questão 139];
D) página 107: modificação da redação
e acréscimos a partir da linha 4 [item 222, sexto parágrafo
do fim para o começo (essa contagem varia de tradução
para tradução), a partir da expressão “Outro,
no entanto, ela apresenta ...” (na tradução
de Guillon Ribeiro, FEB)];
E) página 252: supressão, conforme a “Errata”
mencionada acima [final da resposta à questão 586];
F) páginas 263/264: acréscimo no comentário
de Allan Kardec a partir do 2o parágrafo (O ponto inicial
...) [questão 613; note-se que na tradução
de Guillon Ribeiro este ficou sendo o 3o parágrafo do comentário
de Kardec];
G) página 377: modificação do 1o sub-título,
de “Questões morais diversas” para “As
virtudes e os vícios” [título da primeira seção
do último capítulo da 3a parte];
H) página 384: correção na redação
da resposta à questão 911, de “eles” para
“elas” [note-se que na elegante e correta tradução
de Guillon o pronome ficou elíptico; refere-se às
formas verbais “Querem” e “ficam”].
Conforme fizemos notar em nossa
resenha da edição histórica de Le Livre des
Esprits publicada pela FEB, o admirável esforço empreendido
pela Union Spirite Française et Francophone, que se responsabilizou
pelas pesquisas bibliográficas nas edições
guardadas na Biblioteca Nacional da França, ficou parcialmente
comprometido, no que tange ao tópico que estamos analisando
no presente artigo, pela falta de precisão em alguns dos
itens dessa lista de “acréscimos e modificações”.
Examinemos a lista:
Itens B, G e H: estão inteiramente
claros.
Item E: dada a reprodução da Errata no final da edição,
a alteração feita aqui também pode ser determinada
com precisão (ver artigo em Mundo Espírita, ... de
2002, p. ...).
Item C: há aqui uma pequena ambigüidade: Kardec terá
acrescentado a nota de rodapé inteira ou apenas, em seu final,
o símbolo “§ II” ?
Item F: também aqui há alguma margem para dúvida:
o “acréscimo” refere-se a todo o texto do comentário,
a partir do ponto indicado, ou houve um acréscimo dentro
dele? (A frase francesa “ajout dans le commentaire d’Allan
Kardec à partir...” não deixa isso totalmente
claro.)
Item A: aqui a falta de informação é grave:
o que precisamente foi modificado?
Item D: novamente, ficamos sem saber o que foi modificado e acrescentado
no texto de quase uma página, a partir do ponto indicado.
Evidentemente, quem realizou
as pesquisas nas edições francesas tinha todas as
informações necessárias para sanar as ambigüidades
e pontos obscuros que apontamos. É lamentável que
elas não tenham sido fornecidas na Nota explicativa aposta
no início da edição da FEB. Mas a falha poderá
ser facilmente reparada em futura reedição.
Como também já sugerimos na resenha, o rigor editorial
recomendaria que todas as alterações feitas na 13a
edição (ou em qualquer outra) não fossem incorporadas
ao texto histórico que a FEB, o CEI, a USFF e o IDE em boa
hora deram a público. Este deveria ser a reprodução
exata do texto da 2a edição francesa, tal qual saiu
em Paris em 1860, e de que a FEB guarda precioso exemplar. Todas
as alterações ulteriores feitas por Kardec deveriam
estar registradas, de forma precisa e completa, em notas ou apêndices
preparados pelos editores. Aguardamos, pois, que num futuro breve
isso seja feito, em benefício das pesquisas espíritas,
e no sentido da implantação no meio espírita
de uma tradição de tratamento cuidadoso de textos
como a que existe na área acadêmica.