Estudo originalmente apresentado no Centro Espírita
Titino Pires, Leopoldina, MG, em 8/9/2000
PARTE 1
INTRODUÇÃO
Liberdade, liberdade! Sofrida invocação
que, ao longo dos milênios, saiu da boca de tantos perseguidos,
escravizados e dominados por forças que lhes eram estranhas
ou por aquelas que deles mesmos provinham em decorrência de
sua insânia ou insensatez. Invocada que foi por pobres e ricos,
fracos e poderosos, seres de raças claras ou escuras, pronunciada
pela boca do homem, da mulher e da criança, ainda assim,
tão poucas vezes foi-lhe captada a verdadeira expressão.
O que é essa liberdade tão decantada
em prosa e verso, estandarte das mais diversas lutas e inesgotável
combustível de paixões que se cristalizam por vidas
sem fim no coração dos homens?
A Liberdade é Lei Divina que se expressa
em cada estágio de nossa evolução sob um aspecto
diferente.
As condições a que o Espírito
é submetido ao encarnar e ao longo de uma vida, seja a saúde
física, seja a família e a sociedade onde nasce, seja
sua cor, sua raça ou seu sexo, são todas decorrentes
do sábio critério da Justiça Divina que lhe
oferece sempre as condições mais adequadas à
sua evolução espiritual e ao resgate das dívidas
por ele contraídas com a harmonia cósmica. Cada uma
dessas condições se irá expressar, desde o
nascimento, como um maior ou menor grau de limitação
à liberdade do indivíduo.
O Capítulo X da Parte 3a de O Livro dos Espíritos
contém, nas questões 825 a 872, as diversas indagações
que o espírito humano se tem colocado ao longo do tempo com
respeito à Lei da Liberdade, as respostas que os nobres Espíritos
da falange do Espírito da Verdade, nosso Mestre Jesus, deram
a essas questões e os comentários inspirados que dedicou
a esse tema o Codificador.
Por enfoque didático, achamos por bem abordar
os aspectos da Lei da Liberdade, classificando-os de acordo com
aquele componente do Espírito encarnado com que ele mais
se identifica no estágio de evolução no qual
se encontra. Assim sendo, passaremos a comentar, em seqüência,
a Liberdade Física, a Liberdade Mental e a Liberdade Espiritual.
PARTE 2
A LIBERDADE FÍSICA
A Liberdade de Movimento
A mais primitiva de todas as formas de liberdade
é a liberdade de movimento físico. A Liberdade de
Movimento a que pode o ser humano aspirar é aquela que lhe
permite a constituição física e os meios de
locomoção dos quais se possa utilizar.
Ao ser humano primitivo era dada a liberdade de
se deslocar no plano em todas as direções e de elevar-se
ou aprofundar-se em relação ao solo, desde que tivesse
um solo firme sob seus pés. Observando a natureza, logrou
cedo expandir sua liberdade de movimento, aprendendo a nadar. Desde
então, encantado com a liberdade que lhe acenava o vôo
das aves, sonhou por vários milênios em poder deslocar-se
pelos ares, passando pelos mais diversos inventos que lhe possibilitaram
experimentar em crescente intensidade a sensação máxima
de liberdade de movimento a que um ser vivo pode almejar nas dimensões
físicas do chamado mundo “objetivo”.
No entanto, sempre que galgado a um grau maior de
liberdade de movimento, jamais se apercebeu da preciosa jóia
que se lhe havia sido depositada nas mãos. Pelo contrário,
como ocorre com tudo mais que a natureza dá, sem cobrar seu
preço, o ser humano somente se dava conta da liberdade em
seu poder quando, por uma ou outra razão, a mesma lhe era
constrangida.
Estão submetidos ao constrangimento da liberdade
física aqueles que infringiram as regras de convívio
social, aqueles que ofenderam com atos ou idéias às
leis ou aos fortes de uma sociedade ou, ainda, aqueles que a doença
ou os defeitos congênitos privaram de locomoção.
Há que se considerar, finalmente, o constrangimento
parcial da Liberdade de Movimento a que o ser humano possa estar
submetido em função da classe social à qual
pertence e ao poder aquisitivo que possui, fatores que lhe limitarão
o acesso a determinados locais de lazer ou instrução
e o uso de tal ou qual meio de transporte capaz de levá-lo
aonde seus próprios meios de locomoção não
conseguem transportar.
O ser humano pode ser privado plena ou parcialmente
de sua liberdade física em qualquer estágio de sua
evolução. O estágio em que ele se achar, no
entanto, irá determinar os efeitos físicos e morais
que tal provação lhe irá acarretar.
Ninguém é capaz de menosprezar o horror
que deve ser estar anos a fio enjaulado em sórdida, escura
e úmida prisão, acorrentado a uma parede ou preso
pela imobilidade biológica em uma cama ou cadeira. No entanto,
se há quem saia de tal confinamento encharcado de ódio
e desejo de vingança, há, também, os que dali
saem aniquilados, verdadeiros trapos humanos, com a vontade destruída
e desprovidos da vontade de viver. Outros, finalmente, em estágio
mais avançado de evolução, produzem exemplos
admiráveis, transformando-se em ícones de coragem,
dignidade e força de vontade.
Para mostrarmos que a perda da liberdade física
pouco afeta o Espírito evoluído que a ela é
submetido, traremos apenas dois testemunhos deste século,
vivos e ativos: Nelson Mandela, o respeitado presidente da África
do Sul, a provar que os muitos anos em que esteve preso não
incutiram nele qualquer desejo de vingança ou revanche contra
aqueles que o prenderam ou motivaram sua prisão. E o genial
Stephen Hawking, um dos mais brilhantes físicos teóricos
do século XX, que, apesar de acometido da mais cruel doença
degenerativa, que poderia tê-lo levado cedo ao desencanto
e à rejeição à vida, logrou tornar-se
um cientista brilhante, respeitado por toda a comunidade científica
e um pensador de calibre, profundamente espiritualizado, como se
vê pela sua maneira de enfrentar a doença e de se relacionar
com as pessoas, apesar de assumir uma postura agnóstica declarada.
A Liberdade de Ação
Satisfeita sua condição primária
de liberdade ao nível físico, enseja o homem vê-la
atendida no nível imediatamente superior, qual seja, o da
Liberdade de Ação.
Dado que o ser humano possa se movimentar, é
esperado que ele passe a agir em relação ao ambiente
que o rodeia. Suas ações, em cada instante, serão
testemunho inequívoco do bom ou do mau uso que fizer do livre
arbítrio ainda incipiente que possui, comprometendo-lhe o
Espírito com a inevitável colheita do que houver plantado.
A Liberdade de Ação é aquela
pela qual o ser humano mais se debate, é aquela que ele mais
discute. No entanto, dentre todas, é ela a mais tolhida.
São três os tolhimentos da liberdade
de ação a que pode estar submetido o ser humano. Dois
são explícitos, evidentes: a escravidão e a
submissão de um povo por um outro. O maior de todos, entretanto,
e o único, a um tempo universal e que sempre existirá,
é aquele que existe como decorrência natural do convívio
social.
A Escravidão:
Os Espíritos foram bem enfáticos,
nas respostas às questões 829 a 832, quanto à
escravidão, afirmando ser “contrária à
lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro
homem”. A escravidão é aberração
contrária às leis naturais e não tem atenuante
que a justifique.
Perguntados os Espíritos, na questão
832 do L.E., quanto aos homens que tratam bem os seus escravos,
disseram os sábios instrutores de Kardec:
“Digo que esses compreendem melhor os seus
interesses. Igual cuidado dispensam aos seus bois e cavalos, para
que obtenham bom preço no mercado. Não são
tão culpados como os que maltratam os escravos, mas, nem
por isso deixam de dispor deles como uma mercadoria, privando-os
do direito de se pertencerem a si mesmos”.
Como disseram os Espíritos na resposta à
questão 829, a escravidão “desaparece com o
progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos”.
É triste, no entanto, constatarmos a sobrevivência
de tantos focos de escravidão, apesar de hoje restritos ao
trabalho forçado em troca de comida e moradia, como ocorre
na agricultura, na indústria e na exploração
sexual.
A Submissão de um Povo:
De forma semelhante ao escravo, o ser humano pertencente
a um povo que se encontra sob o domínio de outro também
se acha desprovido da plena liberdade de ação de que
julgaria gozar se seu povo fosse “livre”. Geralmente,
são-lhe barrados o acesso a locais de lazer reservados aos
dominadores e aos caminhos de ascensão social. Mesmo não
sendo a regra, como no caso do escravo, o dominado pode ainda ser
forçado a trabalhar para o proveito do dominador.
Toda forma de dominação entre povos
ou raças é insensata e injustificada. Mais cruel,
no entanto, parece ser aquela que sujeita a raça mais evoluída
a outra que lhe sucede o passo, como vemos, com profundo pesar,
ocorrendo com a milenar e espiritualizada cultura Tibetana.
O Convívio Social:
Existe, finalmente, o tolhimento da liberdade de
ação que decorre de forma natural do convívio
social, conforme vemos na pergunta 826 do L.E.:
“Em que condições poderia
o homem gozar de absoluta liberdade?”
Respondem os Espíritos:
“Nas do eremita no
deserto. Desde que juntos dois homens, há entre eles direitos
recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais,
portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta”.
Em conformidade com as regras de cada sociedade,
o indivíduo fruirá de maior ou menor liberdade de
ação conforme a posição que ocupa na
escala social. Aos poderosos tudo lhes parecerá possível,
ao passo que os mais fracos se acharão restritos a um maior
ou menor leque de opções, conforme maior ou menor
seja o avanço moral da organização social à
qual pertencem.
Ao longo dos séculos, as diferenças
de oportunidades no meio social foram um dos grandes motores das
emigrações dos centros de poder para as periferias,
beneficiando o desenvolvimento global do planeta, em diferentes
tempos, com a latinização da Europa no apogeu do Império
Romano e, nos séculos mais próximos, com a colonização
européia das Américas.
Ainda com respeito às diferenças de
oportunidades existentes no meio social, não há como
deixarmos de comentar que elas jamais foram entrave aos Espíritos
dotados de força de vontade e determinação.
Tanto dentre aqueles voltados para o bem quanto entre aqueles voltados
para o mal, a história está repleta de exemplos de
seres nascidos em lares humildes que, com sua liberdade de ação
aparentemente tolhida, lograram deixar seu nome inscrito com destaque
na memória dos povos pelas grandes transformações
políticas ou morais que lograram engendrar.
A inexorável marcha para frente que executa
a Humanidade nos faz prever com segurança uma sociedade do
futuro, moralmente evoluída, onde as poucas diferenças
de poder serão aquelas conseqüentes do adiantamento
moral e intelectual de cada um. Da mesma forma, os constrangimentos
sociais passarão a ser mínimos, pautados unicamente
pela regra de respeito mútuo que a milenar sabedoria espiritual
preconiza: “Não faças aos outros o que não
queres que te façam a ti”.
PARTE 3
A LIBERDADE MENTAL
A Liberdade de Pensar
Ao contrário do que ocorre com a liberdade
física, não há quem possa tolher a outrem a
liberdade de pensar. Reportemo-nos à questão 833 de
O Livro dos Espíritos:
“Haverá no homem alguma coisa que
escape a todo constrangimento e pela qual goze de absoluta liberdade?”
“No pensamento goza o homem de ilimitada
liberdade, pois não há como pôr-lhe peias.
Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo”.
A ilimitada liberdade de pensamento de que goza
o Espírito é uma formidável ferramenta com
que ele forjará a qualidade de sua vida tanto no mundo material
quanto de volta à pátria espiritual.
Longe de ser para todos, no entanto, bálsamo
seguro a lhes minorar os sofrimentos e conduzir à inalterável
harmonia, essa ilimitada liberdade de pensamento constitui para
muitos, ainda atrasados no caminho evolutivo, força terrível
a lhes causar as maiores atribulações.
Pensamentos levianos e viciosos geram doenças
psíquicas de maior ou menor gravidade, podendo, até
mesmo, apresentar graves reflexos no organismo físico. Entre
as doenças puramente psíquicas, arrolam-se as mais
diversas formas de loucura e alienação mental, contando
geralmente com o concurso catalisador de entidades infelizes em
busca de vingança. Entre aquelas que se constituem reflexos
psíquicos sobre o organismo físico, temos as úlceras,
as cardiopatias, os acidentes vasculares cerebrais e as diversas
formas de tumores malignos que tanto atormentam a Humanidade.
Além dos males que o livre pensamento possa
causar ao próprio indivíduo inconseqüente, há,
ainda, todos aqueles que ele poderá fazer a outrem. As projeções
mentais que o indivíduo atira contra seus semelhantes, tanto
as que se limitam à emanação energética
negativa como aquelas que se traduzem em ações físicas
subseqüentes, são arma temível a distribuir sofrimentos
e a construir ligações cármicas negativas que
só os séculos lograrão anular.
Ilimitada em seu campo de ação, a
mente é qual cavalo bravio a disparar pensamentos em qualquer
direção e, como tal, deve ser conduzida com maestria
pelo Espírito, para que engendre, tão somente, pensamentos
salutares. Controlados dessa forma os pensamentos, serão
eles os responsáveis pela evolução do Espírito
e não pelo seu maior endividamento com a Lei.
A Liberdade de Expressão da Consciência
A consciência do ser humano é o conjunto
de princípios éticos que acumulou ao longo de suas
vidas, sendo particularmente enfatizados aqueles decorrentes de
sua formação na vida em curso. Influem, portanto,
na formação da consciência, os fatores família,
escola, sociedade e meios de comunicação, que irão
alterar, em maior ou menor grau, para melhor ou para pior, os princípios
que o Espírito houver trazido de suas vidas pregressas.
Todas as ações que o ser humano desempenha
ou deseja fazê-lo em uma vida são, portanto, aquelas
que sua consciência lhe permite fazer. É a consciência
que dirige o livre-arbítrio. Enquanto este lhe aponta o que
ele pode fazer, aquela lhe indica o que lhe convém.
Se, como já vimos, impossível é
tolher a liberdade do pensamento, o mesmo não se dá
com a liberdade de expressão da consciência.
Ao longo da evolução do Planeta, tem
a Humanidade testemunhado as mais diversas formas de tolhimento
da liberdade de expressão da consciência.
No contexto cultural, é negada a palavra
à mulher e o direito de voto ao humilde ou de raça
outra que a dominante. No contexto religioso, os que pensam de forma
diversa daquela como pensa a hierarquia religiosa encastelada no
poder são perseguidos e torturados, a não ser que
abjurem suas idéias. No campo político, ideológico,
tantos são perseguidos, torturados e mortos por não
compartilharem das idéias das classes dirigentes.
Os constrangimentos à liberdade de expressão
da consciência acima relatados não estão todos,
infelizmente, enterrados na História como seria de esperar,
sobrevivendo em algumas sociedades em pleno limiar do século
XXI, quer como produto de interpretações equivocadas
de sagradas escrituras quanto como conseqüência de instituições
políticas arcaicas e totalitárias que permanecem em
países socialmente atrasados como resultado de uma geopolítica
global nefasta exercida pelos governantes das nações
poderosas do planeta.
Acompanhando o decorrer dos séculos, foi
o tolhimento à liberdade de expressão da consciência,
junto com o tolhimento à liberdade de ação,
os dois grandes responsáveis pelas correntes migratórias
que em tempos idos expandiram a latinidade e que, mais tarde, colonizaram
a América, fazendo dos Estados Unidos, em particular, a grande
superpotência que hoje é.
Quando falamos em liberdade de expressão
da consciência, não dá para ignorarmos nossos
irmãos do norte. Em uma nação a cujo povo tantos
defeitos e virtudes se costuma atribuir, uma virtude sobressai,
altaneira e bela: é um povo que ama a liberdade de expressão,
ao ponto de ter entre seus símbolos máximos a estátua
que lhe leva o nome, a Estátua da Liberdade.
Com o advento da Internet e, mais particularmente,
da Internet grátis, pode-se dizer, sem medo de errar, que
a Liberdade de Expressão da Consciência veio alcançar
patamar nunca imaginado nesse limiar do século XXI.
Qualquer cidadão pode colocar suas idéias
diante de um público universal, a um custo irrisório,
sem qualquer espécie de censura. Se, por um lado, tal Liberdade
de Expressão da Consciência permitiu a divulgação
de pornografia, de idéias racistas e de muita banalidade,
por outro, é inegável o quanto tem ajudado na difusão
da cultura, da ciência e da espiritualidade.
Efeito da Mente Sobre o Corpo
Há de se observar neste instante que se,
por um lado, o constrangimento à liberdade física,
por si só, não logra afetar a liberdade mental, o
recíproco não é verdadeiro.
O tolhimento à liberdade mental, seja por
motivo de saúde, seja por motivo de censura à livre
expressão da consciência, tem efeito imediato na liberdade
física, uma vez que, sendo a mente quem determina as ações
do corpo, também lhe determina os movimentos.
A Liberdade de Pensamento na Dimensão
Espiritual
Os amigos espirituais têm trazido até
nós o testemunho da existência das mais diversas formas
de criações mentais na dimensão espiritual,
indo desde as mais belas construções que jamais pôde
conceber o espírito humano até os mais deprimentes
e sórdidos guetos e campos de tortura que se possa imaginar.
Nas dimensões espirituais, não havendo matéria,
não tem o Espírito a necessidade de usar mãos
nem ferramentas, bastando projetar seu pensamento, consciente ou
inconscientemente, para que a forma comece a ser percebida por ele
e por aqueles que lhe compartilham a faixa vibratória com
as características plásticas que lhe imprime. É
dessa forma, aliás, que os Espíritos mais desenvolvidos,
conhecedores das propriedades plásticas esperadas das construções
mentais das faixas vibratórias inferiores, conseguem construir
“perigosas” armas para manter afastados Espíritos
perturbadores, sempre que necessário. E é dessa forma
que cada Espírito ao desencarnar constrói para si
o céu ou o inferno de acordo com a faixa vibracional do pensamento
que emite.
PARTE 4
A LIBERDADE ESPIRITUAL
O Livre Arbítrio
Após passar pelos diversos estágios
na longa caminhada que empreende para chegar de átomo a arcanjo,
a criatura chega ao reino hominal, dotada de consciência e
armada com a poderosa ferramenta do livre arbítrio. Essa
ferramenta poderosa, que lhe é dada, permitir-lhe-á
interferir em sua caminhada, tornando o percurso mais rápido
e seguro ou mais tortuoso e demorado, em conformidade com as ações
que empreender, sempre sujeitas à lei da causalidade.
O livre arbítrio de que goza o ser humano,
portanto, não é total. Se, por um lado, ele pode escolher
a cada tempo qual ação irá fazer, por outro,
não lhe é permitido escolher qual a conseqüência
que a ação empreendida irá ter em sua caminhada.
Ao contrário do que ocorre com os demais
graus de liberdade, portanto, não são apenas fatores
externos que tolhem a liberdade espiritual do ser humano, senão
também seu próprio grau de evolução.
O Constrangimento Espiritual
É farta a boa literatura espírita
sobre o constrangimento espiritual, mais conhecido sob o nome de
Obsessão.
Esta forma de constrangimento espiritual é
das mais sérias, sobretudo tendo em vista o estágio
ainda predominantemente materialista das ciências médicas.
Devemos ter em mente que, da mesma forma que o constrangimento
mental pode levar ao constrangimento físico, o constrangimento
espiritual pode levar não só ao mental como, também,
ao físico.
O evangelista Mateus relata como Jesus restitui
a saúde física a dois endemoninhados.
“Logo que se foram, apresentaram-lhe
um mudo, possuído do demônio. O demônio foi
expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração:
‘Jamais se viu algo semelhante em Israel.’”
(Mt 9: 32-33)
“Apresentaram-lhe, depois, um possesso
cego e mudo. Jesus o curou de tal modo que este falava e via.”
(Mt. 12:22)
Como Atingir a Liberdade Espiritual
Como atingiremos, pois, a Liberdade Espiritual,
aquela que nos irá permitir a evolução do livre
arbítrio?
Em determinada ocasião, estando nosso Mestre
Jesus a ensinar no templo e, após muitos ali presentes terem
crido Nele, Ele ensinou:
“Se permanecerdes na minha palavra,
sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade,
e a verdade vos livrará” (ô:8-31-32).
E quem é discípulo de um Mestre senão
aquele que se esforça por fazer tudo o que seu Mestre lhe
ensinou com suas palavras e seu exemplo?
Para entendermos o que significa ser um discípulo
de Jesus, socorramo-nos da sabedoria de Emmanuel, na psicografia
abençoada de Chico Xavier em
“Palavras de Vida Eterna”:
“Glorificarás o Senhor Supremo
e serás discípulo do Grande Mestre...
Contudo, não apenas porque te mostres entendido nas Divinas
Escrituras...
Não somente por guardares de cor as tradições
dos antepassados...
Não somente por te sustentares assíduo no culto
externo...
Não apenas pelo reconforto recebido de mensageiros da Vida
Superior...
Não somente por escreveres páginas brilhantes...
Não apenas porque possuas dons espirituais...
Não somente porque demonstres alevantadas aspirações...
A palavra do Evangelho é insofismável.
Glorifiquemos a Deus e converter-nos-emos em discípulos
do Cristo, produzindo frutos de paz e aperfeiçoamento,
regeneração e progresso, luz e misericórdia.
A semente infecunda, por mais nobre, é esperança
cadaverizada no seio da terra
Assim também, por mais ardente, a fé que não
se exprime em obras de educação e de amor, redenção
e bondade, é talento morto.
Se te fazes seguidor de Jesus, segue-lhe os passos.
Ajuda, ampara, consola, instrui, edifica e serve sempre”.
Livre, Afinal
Elevando-se à condição de
discípulo do Cristo, o ser humano não mais se deixa
dominar pelas paixões inferiores, não mais se apega
ao transitório, não mais magoa a vida, nem desrespeita
as leis da natureza. Tendo galgado à perfeição
máxima possível em nosso orbe planetário, não
mais precisará encarnar na Terra, fazendo-o somente na condição
de mensageiro do Divino Mestre.
Ao contrário do que até então
lhe acontecia, não mais é submetido à lei da
causalidade, podendo utilizar todo mérito que acumular pelas
suas ações sempre positivas em benefício de
seus semelhantes. Constitui tal feito a evolução do
livre arbítrio, não mais limitado às ações,
mas aplicável, também, às suas conseqüências.
PARTE 5
CONCLUSÃO
Enquanto o ser humano permanecer apegado às
sensações físicas e preso à matéria
procurará ele, inutilmente, encontrar a Liberdade no seu
exterior: na indulgência do juiz, na tolerância do poderoso
que a sua temeridade fez desafiar, na expressão do pensamento
que lhe outorga a democracia, na igualdade de direitos prometida
pelo socialismo, na cura da doença que o oprime.
No entanto, somente quando despertar para a Verdade,
tornando-se discípulo de Jesus, logrará ele obter
a verdadeira liberdade, a Liberdade Espiritual. E uma vez alcançada,
essa Liberdade ninguém, jamais, dele conseguirá retirar.