Entendemos, de nossa despretensiosa
posição de permanente aprendiz, é bom deixar
logo claro, que não existe religião melhor do que
a outra, nem crença mais próxima da verdade do que
outra qualquer. Cada religião, para nós, é
a mais adequada para um determinado contingente de Espíritos,
conforme seu estágio evolutivo e a sua bagagem cultural.
A Doutrina Espírita, para nós, é, sem dúvida
alguma, a mais adequada que existe. No entanto, é nosso entendimento
que devemos aceitar, sem hesitar, que qualquer crente de outra religião
pense o mesmo sobre aquela que professa. Faremos, a seguir, uma
analogia para tentar explicar nossa posição.
Imaginemos a evolução como um imenso parque que se
estende à nossa frente, tendo como coordenadas, ao invés
de latitude e longitude, os indicadores de conhecimento e bondade.
Suponhamos que somos turistas que chegam à entrada do parque.
Entramos todos pelo mesmo portão de acesso, portão
esse que é localizado nas coordenadas 0 de bondade e 0 de
conhecimento (começamos simples e ignorantes), e nossa meta
é sair em um outro portão que está situado
nas coordenadas 100 de bondade e 100 de conhecimento (Espíritos
Puros). Como o nosso parque se situa no mundo que conhecemos, a
altitude também deve representar alguma coisa. Pois bem,
suponhamos que ela represente desperdício de esforço
e tempo. Se um de nós tem que percorrer, digamos, um metro
de conhecimento, e sobe dez metros no eixo vertical para somente
andar um metro numa paralela ao eixo do conhecimento, teve um desperdício
grande, de esforço e de tempo, em relação a
outro que tivesse avançado o mesmo um metro de conhecimento
pela planície, diretamente por uma paralela ao eixo do conhecimento.
Esse desperdício pode ter sido, por exemplo, as repetidas
vidas que um Espírito teve que retornar para aprender uma
única lição.
O dono do parque, Deus, não nos dá prazo para atingir
a saída e não a fecha até que todos o façamos.
Cada religião ou sistema de crenças se apresenta como
uma espécie de manual, mapa ou guia turístico, que
usamos para percorrer o parque da entrada até a saída,
havendo quiosques vários espalhados pelo parque permitindo
que troquemos nosso manual por outro que, no momento, nos pareça
mais adequado (troca de sistema de crenças). Alguns manuais
indicarão caminhos cheios de sensações prazerosas,
emocionantes, para os que não têm pressa de atingir
a meta (o materialismo). Outros indicarão caminhos árduos,
passando por montanhas e desfiladeiros (a mídia e seus apelos
aos nossos sentidos, trazendo-nos mais angústias que sensações
prazerosas), outros, ainda, indicarão labirintos e caminhos
tortuosos (religiões dogmáticas e salvacionistas).
Haverá, também, aqueles que apontarão, preferencialmente,
as planícies e os vales (religiões espiritualistas
que pregam a reforma íntima). Poderíamos prosseguir
nessas hipóteses à exaustão, mas não
é este nosso objetivo.
Nem todos os turistas que pegam o mesmo manual em dado momento irão
progredir de modo igual. Não, um seguirá o manual
com atenção, conferindo cada passo que dá para
ver se está de acordo com o indicado. Outro olhará
o manual só de vez em quando, acreditando mais na sua “intuição”.
Um terceiro, deixará o manual na mochila, sem sequer tirá-lo
do pacote em que veio embrulhado. São as pessoas das mais
diversas naturezas que seguem uma religião, desde o que só
se liga a uma crença por conveniência social, sem nenhuma
preocupação em seguí-la, até o que a
segue fielmente, nela pautando sua conduta ao longo do dia.
A visualização de nossa imagem fornece interpretações
interessantes. Vejamos algumas delas:
Um observador situado a grande altura, voando de helicóptero
sobre o parque, por exemplo, poderá, ao observá-lo,
ter a impressão de que alguns turistas estarão praticamente
parados, quando, na verdade, eles estarão subindo ou descendo
picos quase verticais, isto é, aprendendo de maneira extremamente
árdua algo que outros aprendem rapidamente e com pouco esforço
(aqueles que seguem pelas planícies). Esse tipo de observador
corresponde aos irmãos que julgam poder haver estagnação
na evolução espiritual. Assim julgam por estarem observando
a humanidade de um ponto de vista que lhes distorce a visão.
Dois turistas que tiverem entrado ao mesmo tempo no parque podem
seguir caminhos totalmente diversos e chegar no portão de
saída praticamente ao mesmo tempo. Esse fato corresponde
à existência de inúmeros caminhos evolutivos,
sendo que a fidelidade com que cada um segue os preceitos morais
da Doutrina ou Crença que professa é mais importante
do que a escolha da Doutrina ou da Crença em si. Todas as
tradições religiosas da Humanidade produziram homens
santos, homens normais e homens perversos.
A taxa de progresso de cada turista em relação à
saída é variável. Se, em determinado instante,
parece que um está mais perto, no instante seguinte, ele
pode escolher um mau caminho e perder tempo recuperando seu progresso,
ao passo que outro, que parecia mais distante, pode fazer uma escolha
feliz e ultrapassá-lo. Esta possibilidade é interpretada
com facilidade, pois são nossas escolhas, felizes ou infelizes,
que determinam o esforço, menor ou maior, que fazemos para
evoluir.
Se o irmão leitor conseguiu captar a analogia, esperamos
que conclua conosco que o ecumenismo e a tolerância mútua
entre as religiões é o que se espera de um mundo mais
evoluído que o nosso, onde todos saibam que o que se pensa,
se fala e se faz é o que define o quanto alguém avançou
em direção à perfeição e não
a crença que se professa.
Fonte:
Artigo publicado originalmente na Tribuna Espírita –
Ano XXVI, no 137 – maio/junho - 2007.