(trecho inicial)
Em artigo nosso, denominado Adão e Eva, publicado na edição
de outubro de 2004 da Revista Internacional de Espiritismo,
procuramos mostrar que o mito do casal primevo pode ser visto como
uma alegoria onde o experimentar do fruto da árvore da ciência
do bem e do mal e a conseqüente expulsão do paraíso
representam o ingresso da alma no reino hominal, com a conquista
da consciência plena, ao passo que o degredo de Caim para
uma terra distante, onde se casa e constrói uma cidade, significa
o alvorecer da civilização, possível com a
chegada ao nosso orbe dos Espíritos que Kardec denominou
em conjunto de raça Adâmica. No presente artigo, nos
deteremos na história de Caim e Abel.
O mais curioso no relato bíblico é que ele não
dá nenhuma pista sobre o porque de Deus ter aceitado a oferta
de Abel, fruto das “primícias do ... rebanho”
e “da gordura deste” e ter recusado a oferenda de Caim,
proveniente “do fruto da terra”. Alguns estudiosos especulam
que Caim não teria oferecido o melhor da sua colheita ou
que teria feito sua oferta de má vontade, só por obrigação,
sendo tal a causa da preferência de Deus. Daí partem
para explicar que Caim teria matado Abel por ciúme e despeito.
É importante, entretanto, enfatizar que nada disso consta
do relato bíblico. Necessitamos, pois, de uma chave especial
para decodificar o significado oculto. Usemos, pois, a chave que
nos fornece a Doutrina Espírita.
A Doutrina Espírita nos ensina
que a Justiça Divina é perfeita, não havendo
nela, portanto, espaço para privilégios ou preferências.
Por mais simples que seja a oferenda de alguém aos olhos
dos homens, Deus sabe que esse alguém está oferecendo
aquilo que sua condição e seu estado evolutivo lhe
permitem. Que outra coisa poderia Caim oferecer que não o
fruto da terra, o produto de seu trabalho? O que é avaliado
por Deus é a nossa intenção e não o
lado material da oferenda que temos a dar. Ora, se Deus não
pode ter externado qualquer preferência a Abel sobre Caim,
não resta qualquer razão para este ter matado aquele.
Como poderemos, então, interpretar a história de Caim
e Abel?