Em mais de uma ocasião, quando escrevíamos em listas
espíritas, aparecia uma irmã ou um irmão reclamando
que pessoas andavam escrevendo à lista para
pedir auxílio espiritual e que o objetivo da lista era o
estudo da Doutrina, devendo o atendimento fraterno ser feito apenas
nas casas espíritas.
Sempre discordamos da opinião de tais irmãos e irmãs
e várias vezes dissemos que o único motivo que nos
levava a escrever em tais listas era tentar ajudar a quem necessitasse,
no limite de nossas possibilidades. Infelizmente, cada vez menos
necessitados passaram a procurar as listas que freqüentávamos,
talvez melindrados por tais comentários, o que nos acabou
levando a abandoná-las.
Neste pequeno artigo tentaremos dizer o que pensamos sobre atendimento
fraterno em listas e foros espíritas na Internet.
Uma pessoa passando por sérios problemas físicos ou
emocionais e que ainda esteja em estágio evolutivo pouco
avançado não vai pegar O Livro dos Espíritos
ou O Evangelho Segundo o Espiritismo para estudar e discutir com
os outros seu entendimento, em meio às suas aflições
e angústias. O Senhor Jesus repreendia os eruditos fariseus
por não estudarem convenientemente a Lei e os Profetas e
por não colocarem em prática os ensinamentos contidos
em tais obras, mas jamais disse aos homens do povo, doentes e miseráveis,
que O procuravam aflitos, que fossem estudar as Escrituras, nem
que procurassem ajuda nas sinagogas ou em outra parte.
Quando chega um enfartado no Pronto Socorro do hospital, o médico
de plantão não o manda voltar para casa para cuidar
da sua saúde, aprender a se alimentar com equilíbrio
e fazer exercícios regulares. Não, primeiro ele cuida
do enfartado para evitar o agravamento do quadro doentio e, somente
após o doente estar fora de perigo, é que ele dá
as orientações preventivas.
Pessoas que não vão a uma casa espírita por
vergonha ou preguiça valem-se do anonimato da Internet para
nos revelar suas mazelas e pedir conselhos. Repreendê-las,
dizendo estarem elas no local inadequado, encaminhando-as, a seguir,
a uma casa espírita, não só se constitui em
falta de caridade cristã, como vimos, mas até na falta
de um bom senso que a medicina humana possui e põe em prática.
Tal atitude, ao invés de lograr o encaminhamento do necessitado
a um centro espírita, como o conselho dado procura orientar,
fará, no mais das vezes, que o mesmo procure auxílio
alhures na Internet, o que, talvez, se dê em listas de outras
crenças onde ele seja bem recebido e amparado, mas onde não
terá o esclarecimento que a Doutrina Espírita possibilita.
Quando respondemos a um questionamento de uma pessoa que se encontra
em situação difícil, devemos, como Cristãos
e como Espíritas, socorrê-la com o melhor que temos
dentro de nós, mesmo que isso não seja mais que umas
pobres palavras ou uma manifestação de carinho. Se
o necessitado demorar a se equilibrar, sejamos pacientes com ele.
Nossos guias espirituais estão conosco há séculos,
talvez milênios, e nunca desistiram de nós.
Saibamos ser, nós, os guias daqueles que nos procuram pedindo
ajuda, não importa se isso nos tomar horas, dias, meses ou
seja lá o tempo que for. Somente ao vermos restabelecido
um mínimo de equilíbrio emocional no necessitado é
que poderemos encaminhá-lo a uma casa espírita. Caso
ele vá e queira nos contar suas experiências e impressões,
saibamos escutá-lo com a mesma calma e atenção
com que um pai deve escutar o filho pequeno contando o que fez na
escola. Um momento chegará quando nosso protegido se sentirá
bem, seguro consigo mesmo, e, quando isso ocorrer, ele não
mais nos procurará. Teremos feito, então, o que era
esperado de nós pela espiritualidade maior.
A Internet é uma tecnologia maravilhosa que aproxima de nós
pessoas fisicamente distantes, ampliando enormemente nossas oportunidades
de servir. Saibamos fazer bom uso dessa tecnologia e façamos
de nosso endereço de email, das listas e dos foros que freqüentamos
uma extensão do atendimento fraterno da casa espírita.
Dizem alguns que nada iguala o olho no olho, o contato pessoal.
É verdade, não há dúvida. No entanto,
muitos perturbados sequer conseguem relatar a alguém os problemas
cruéis que os atormentam, sentindo tamanha vergonha de si
mesmos que preferem se esconder sob apelidos no anonimato das listas
e foros virtuais. Aproveitemos essa oportunidade e sejamos cristãos.
Como nos ensinou o Mestre, de nada vale a lâmpada escondida
debaixo da mesa. Uma lista de estudos onde não há
lugar para os necessitados é uma lâmpada debaixo da
mesa. Coloquemos nossa lâmpada no ponto mais alto da sala
para que ela espalhe claridade em todo o ambiente.
Que a nossa lista ou foro na Internet seja como a casa espírita,
de porta sempre aberta para todos que a ela venham, seja por qual
motivo for.