Renato
Costa
> Inteligência e Instinto: as Causas do Instinto:
terá chegado a hora de sabê-las?
Novos Elementos de Observação
Disponíveis nos permitem dar um Passo Adiante em uma
Linha de Raciocínio do Codificador
Ao longo dos Itens 12 a 16 do Capítulo
III de A Gênese, Allan Kardec desenvolve uma linha de raciocínio
sobre as causas do instinto, terminando, no item 17, com a seguinte
afirmação: “Todas essas maneiras de considerar
o instinto são forçosamente hipotéticas e nenhuma
apresenta caráter seguro de autenticidade, para ser tida
como solução definitiva. A questão,
sem dúvida, será resolvida um dia, quando se houverem
reunido os elementos de observação que ainda faltam.
Até lá, temos que limitar-nos a submeter as diversas
opiniões ao cadinho da razão e da lógica e
esperar que a luz se faça. A solução que mais
se aproxima da verdade será decerto a que melhor condiga
com os atributos de Deus, isto é, com a bondade suprema e
a suprema justiça”.
Nosso objetivo neste trabalho é mostrar evidências
sugerindo já haverem sido acumulados os elementos que faltavam
para resolver a questão. Não nos sentimos à
vontade, entretanto, para continuar, sem primeiro louvarmos Allan
Kardec pela observação final, fruto de sua sabedoria
altamente inspirada pelo Alto, isto é, seja qual for a Verdade,
ela sempre será a que melhor condiga “com os
atributos de Deus, isto é, com a bondade suprema e a suprema
justiça”.
Vimos, em nosso artigo do mês passado (link)
que, entre a inteligência e o instinto, existe uma
tênue fronteira. No entanto, não chamamos na ocasião
a atenção do leitor para um fato que ficou patente
naquele estudo, qual seja, que a ação inteligente
é, em qualquer circunstância, realizada por um indivíduo
para, a partir daí, se bem sucedida, ser aprendida e repetida
pelos demais membros do mesmo grupo. Antes, portanto, de um comportamento
aprendido se cristalizar na comunidade e, após isso, em uma
espécie como um padrão fixo de ação
– outro nome do instinto, conforme aprendemos – é
mister que o mesmo tenha sido espalhado por todos seus membros.
No item 12, Capítulo III, de A Gênese,
falando da inteligência, Kardec diz ser ela “incontestavelmente
um atributo exclusivo da alma”. Agora que acabamos
de verificar ser o ato inteligente realizado pelo indivíduo,
falta-nos uma chave que nos permita relacionar os conceitos de alma
e de indivíduo para, a partir da compreensão de como
se dá tal relação, podermos integrar o que
nos diz a ciência e o que nos ensina a Codificação
em um único entendimento. Para realizarmos nosso intento,
lançaremos mão, mais uma vez, da tese, proposta por
André Luiz e desenvolvida por Jorge Andréa, quanto
ao desenvolvimento da individualidade.
Pouco além da metade do Capítulo II de sua excelente
obra intitulada Impulsos Criativos da Evolução,
Jorge Andréa define o conceito de alma-grupo. Tentaremos
explicar, com citações, o conceito, para melhor podermos
ver em que ele nos irá elucidar.
“Nas espécies mais simples,
a energética-espiritual estaria mais presa aos seus afins;
por isso, podemos referir-nos à alma-grupo-da-espécie
– um vórtice dinâmico atuante da dimensão
superior, portanto, fora do tempo e do espaço, influenciando
todo um conjunto de seres. Por outros termos, um único
campo vibratório controlando a espécie a que se
destina”.
“À medida que as espécies vão perdendo
o contato de colônia, próprio das formas mais simples,
vão adquirindo relativa Individualidade e, com isso, o
vórtice dinâmico, que dirige seus destinos, já
consegue lapidar, na massa energética da alma-grupo-da-espécie,
um verdadeiro núcleo (pequeno EU). Desse modo, a alma-grupo,
dinamismo conjunto que dirige colônias minerais, vegetais
e primeiros animais, iria apresentando em seu seio, por maturação
evolutiva, pequenos fulcros vorticosos, início de afirmações
individuais, porém, que ainda não ousam nem podem
viver fora da colônia dinâmica que lhes deu a origem
e donde se nutrem”.
“Num determinado momento, quando a maturação
desses vórtices-dinâmicos da alma-grupo atingem um
grau bem maior de afirmação e vivência, tendem
a romper seus laços dinâmicos com a energia que lhes
deu origem e a se tornarem independentes, absorvendo o de que
necessitam da “energia-mãe”. Fica, assim, a
alma-grupo dispersa em núcleos próprios, afirmação
de seus pequenos EUS – individualidades – e passando
a ter maior libertação”.
“Esta fase liberatória das energias espirituais deve
despontar nas espécies animais que tenham possibilidade
do nascimento de novos aspectos psicológicos, isto é,
dos primeiros vagidos emocionais e onde o mecanismo sexual se
apresenta com outras tonalidades. Com certa lógica podemos
incluir esta assertiva nos animais que evidenciam, na massa nervosa,
as primeiras células da futura glândula pineal e
que, por seus aspectos iniciais, são conhecidos e denominados
de olho pineal. ... A partir desses animais a alma-grupo, praticamente
vai desaparecendo e dá margem ao nascimento das individualidades”.
Podemos parar por aqui no exame do modelo proposto, para os fins
que desejamos.
Sendo a inteligência, como disse Kardec, um atributo exclusivo
da alma e os atos inteligentes, como se depreende dos estudos da
ciência, perpretados por indivíduos, fica claro que
algo escapa ao escrutínio da ciência, o que sugere
que esse algo ocorra nas dimensões espirituais.
Utilizando a explicação de Jorge Andréa, podemos
depreender que, na aquisição das características
comportamentais mais apropriadas para a evolução das
espécies mais simples, a alma-grupo-da-espécie correspondente
a cada uma trabalha nas dimensões espirituais sob a orientação
dos Espíritos que lhe dirigem as ações, sendo
o resultado de tal trabalho incorporado ao conhecimento da espécie
como um todo. Este entendimento explicaria o porque de certos instintos
de espécies primitivas, como as danças com que as
abelhas transmitem umas às outras a localização
das flores de onde irão sugar o néctar, parecem dirigidos
por uma inteligência superior, ao passo que imutáveis,
tanto entre seus membros, como de geração para geração.
À medida que os vórtices individuais da alma-grupo-da-espécie
vão se definindo e as individualidades se formando, a inteligência
vai passando a ser um atributo cada vez mais observável pela
ciência nos membros da correspondente espécie.
No atual estágio de entendimento espírita e científico,
portanto, acreditamos já poder dar um passo adiante na linha
de raciocínio deixada inconclusiva por Kardec em A
Gênese, no tocante à causa do instinto.
Utilizando o modelo proposto por Jorge Andréa, podemos ver
os seres mais primitivos sendo dirigidos e auxiliados em grupo,
sendo tão mais gerais tal direção e tais auxílios
quanto mais simples forem as necessidades de tais seres e mais rudimentares
suas capacidades. À medida que o princípio inteligente
vai evoluindo, com a definição dos vórtices
que irão desembocar no surgimento das individualidades, mais
específicos deverão ser a direção e
o auxílio prestados a cada ser, com uma correspondente diminuição
de importância da influência genérica. A evolução,
do mesmo modo, cada vez mais se processará nas dimensões
materiais e menos nas espirituais.
Sabemos que todos os povos, que nada mais são que agregados
de Espíritos de cultura semelhante, possuem seu protetor.
Assim, sabemos, por exemplo, que Ismael, Bezerra de Menezes, Emmanuel
e Joanna de Ângelis, para só citar alguns, são
Espíritos responsáveis pelo povo brasileiro. Sabemos
da responsabilidade de nosso amado mestre e modelo Jesus para com
a raça humana e para com as demais espécies do planeta
assim como da responsabilidade de outros Espíritos de alta
envergadura pelas comunidades de outras tradições
religiosas, das quais são eles mestres, profetas ou modelos,
como Buda, Krishna, Lao Tsu , Maomé e Moisés, entre
outros. No entanto, apesar de não nos faltar a orientação
geral de que necessitamos enquanto criaturas, espécie, comunidade
religiosa e povo, cada um de nós ainda conta com um guia
espiritual especifico, que nos segue por muitas e muitas vidas,
sempre paciente e sábio.
Uma analogia com nossas instituições de ensino nos
parece apropriada, uma vez que as nobres organizações
do plano físico nada mais são que cópias imperfeitas
das que existem nas dimensões espirituais. Na educação
infantil uma educadora e poucas atendentes ficam cuidando de todas
as crianças. No ensino fundamental começa havendo
uma educadora principal e algumas outras em atividades de apoio.
Como o avanço dos anos passa a haver um professor para cada
disciplina, sendo as turmas separadas por algum critério.
Na universidade, ocorre a especialização por área
acadêmica e intensifica-se a diversidade de instrutores ao
mesmo tempo em que entram em cena monitores e palestrantes de apoio.
Finalmente, na pós-graduação, além dos
instrutores em cada disciplina e dos demais profissionais acadêmicos,
o aluno passa a contar com um orientador que o atende pessoalmente.
À medida que ocorre a focalização do apoio,
entretanto, a rede que apóia toda a comunidade não
deixa de existir, pois, tanto no ensino fundamental quanto na universidade,
existem diretores, vice-diretores e responsáveis por este
ou aquele aspecto da vida acadêmica.
Mais atrás em nosso modesto trabalho dizíamos acreditar
que o atual estágio de entendimento espírita e cientifico
já nos permitia dar um passo adiante na linha de raciocínio
deixada inconclusiva por Kardec em A Gênese,
com respeito à causa do instinto. Esperamos ter sido bem
sucedidos em nosso intento.
Bibliografia
Andréa dos Santos, Jorge. Impulsos Criativos
da Evolução. 3.ed. Rio de Janeiro: Societo Lorenz, 1995.
Costa, Renato. A Tênue Fronteira. In Revista Internacional do
Espiritismo, Agosto de 2003.
Kardec, Allan. A Gênese. FEB, 36 ed, 1995.
Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Evolução
em Dois Mundos. Ditado pelo Espírito André Luiz. 13.ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1993.
O autor é engenheiro e expositor espírita
no Rio de Janeiro
Fonte:
http://www.ieja.org/portugues/p_ascausasdoinstinto.doc
Artigo publicado originalmente na Edição
de Março de 2004 da Revista Internacional de Espiritismo
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