Dom, 07 de
Fevereiro de 2010
Como em tudo na vida, existem duas formas de
implantar espiritualidade na empresa: a adequada e a não
adequada. A não adequada é confundir “espiritualidade
na empresa” com a implantação de “religião
na empresa”. E este crucial ato pode matar, no nascedouro,
a mais eficaz das ferramentas de gestão empresarial de
todos os tempos.
Implantar “religião na empresa” significa adotar
dogmas, regras e rituais, que pela sua essência geram no
ambiente empresarial mais divergências do que convergências.
Por outro lado, implantar “espiritualidade na empresa”
é adotar princípios e valores, no campo do inter-relacionamento
pessoal, que sejam comuns à todas as crenças, o
que, em síntese, significa a aplicação do
necessário respeito e valorização do próximo
e da natureza, que é – esse respeito e valorização
- o mais importante pilar da produtividade empresarial.
Espiritualidade na empresa significa ações da empresa
e do seu quadro de funcionários que permitam estabelecer
um clima de cooperação mútua e de respeito
ao próximo e à natureza. Essas benfazejas ações
vão propiciar o desenvolvimento pessoal que, além
de melhorar substancialmente a produtividade, tende a culminar
na espiritualização do indivíduo. Em vez
de regras religiosas, devemos adotar procedimentos e atitudes
que significarão a aplicação da religiosidade
e, assim, surgirão caminhos para o estabelecimento de novos
e fortes valores que implicarão no surgimento da responsabilidade
social da empresa e dos seus funcionários. Fato este que
tenderá a gerar, como natural conseqüência,
a tão comentada e ainda não plenamente vivenciada
ética empresarial.
Peter Drucker já dizia que “Ganhar a vida já
não é suficiente; o trabalho tem de nos permitir
vivê-la também”. Aplicando espiritualidade
na empresa como se deve, o trabalho passará a ser prazeroso
e produtivo, proporcionando ao trabalhador sentido e significado.
Cabe a todos nós unirmos esforços no meio empresarial
para melhor aproveitar essa inesgotável fonte de saber
que é a essência ou a centelha divina presente no
ser humano. Não obstante esta realidade, visar o crescimento
do pessoal no campo espiritual implica em também enxergarmos
a empresa em três fundamentais aspectos, instituição
geradora de atitudes proativas de valorização do
individuo (funcionário, cliente e acionista), instituição
responsável social e comunitariamente e fundamentalmente
fonte criadora de riqueza e novas tecnologias, haja vista que
nenhuma empresa que valoriza o aspecto espiritual do seu pessoal,
pode se esquecer da manutenção e do crescimento
do seu foco que é a razão de sua existência:
gerar lucro.
Conforme palavras de William Greider, em seu livro O mundo na
corda bamba, Geração Editorial: “Estamos vivendo
uma revolução que administra a si mesma”.
Não há um líder mundial, encarnado em um
corpo físico, fazendo as coisas acontecerem; simplesmente
elas estão acontecendo. Por isto a razão dos tópicos
a seguir.
a) A importância da empresa para a evolução
espiritual nesse mundo.
Não há como esquecer que o desenvolvimento
espiritual é, obviamente, uma decisão individual
e particular, mas a empresa pode difundir o ambiente apropriado
para os funcionários serem estimulados a seguir esse caminho.
É preciso, no entanto, o trabalho árduo de alterar
os seus valores.
A empresa que quiser antecipar-se no tempo, isto
é, a empresa que quiser caminhar para a cultura e os valores
que serão padrões comuns a todas as instituições
e empresas, bastará começar a inserir em seu meio
o amor (o respeito às pessoas), a integridade, a boa ética,
a preocupação com a ecologia e função
social. E então naturalmente criará o ambiente necessário
para o funcionário se espiritualizar. Em outras palavras,
estará implantada a espiritualidade na empresa.
Espiritualidade na empresa deve ser vista como
ação da religiosidade, ou seja, o fato de o funcionário
pôr em prática – em favor do próximo
– o que sua religião ensina.
b) Ser hominal e ser espiritual:
Precisamos passar de seres hominais para seres
cósmicos ou espirituais.
O ser hominal reage, o ser espiritual age.
O ser hominal tolera, o ser espiritual resigna-se.
O ser hominal perdoa, o ser espiritual não
perdoa, pois, por não se magoar, por não se ofender,
não há o que perdoar.
c) A valorização do
invisível:
Há mais de cem anos Leon Denis Leon já
dizia: “Não se transforma a sociedade por meio de
leis. As leis nada são sem os costumes e as crenças
elevadas. Só a compreensão do visível e invisível
educará o homem”. Deduzimos, pelas palavras de Denis,
que somente a educação plena, que valoriza o invisível,
é que despertará o ser consciente. Corroborando
com essa tese há a opinião de Gilberto Velloso,
diretor do Instituto Chiorlin Velloso: “Espiritualidade
é a consciência de estar neste mundo de um modo muito
especial, ou seja, de um modo responsável. Portanto, espiritualidade
é a consciência da responsabilidade de cada indivíduo
pela ampliação da sua própria consciência.
É a responsabilidade dele frente a si mesmo, ao outro,
à natureza, ao universo e, conseqüentemente, frente
à organização”.
d) A importância do autoconhecimento:
Dizem os textos religiosos que em determinada
época o mar se abriu, num outro momento o alimento caiu
do céu e certa vez a água transformou-se em vinho.
Hoje não é comum a ocorrência de tais acontecimentos
ou milagres. Hoje temos que, com esforço, abrir nosso grande
mar interior à procura daquele brilhante encoberto pelas
areias de suas profundezas. Depois desse intenso esforço
não esperemos que cairá do céu o nosso alimento
espiritual. A necessidade do contínuo e infindável
esforço continuará a se fazer presente e, então,
como fruto de nossa persistência (em desbravar o nosso mar
interior), conseguiremos transformar a água do nosso mar
interior no doce vinho do autoconhecimento, no doce vinho da descoberta
da espiritualidade.
E, na busca do autoconhecimento, é importante enxergamos
a prevalência do espírito sobre a matéria.
Sobre esse tema há um texto de Lao Tsé, mestre taoísta,
que, dos que já li, é um dos mais belos e sugestivos:
“Trinta raios convergentes no centro fazem uma roda de moinho,
mas somente os vazios entre os raios lhe facultam o movimento.
Com a argila, o oleiro faz o vaso, mas este só ganha significado
pelo seu vazio interior. A casa tem paredes, portas e janelas,
mas é somente seu vazio interior que lhe dá utilidade.
Assim são as coisas físicas, parecem principais,
mas o valor está na metafísica”.
e) Deus em nossa vida:
Em maio de 1998 a consultoria CPM, orientada pela
psicóloga Oriana White, em pesquisa com jovens, chegou
à conclusão que 98,2 por cento dos jovens acreditam
em Deus. Determinada pesquisa divulgada pela revista Veja dizia
que a maioria quase absoluta dos brasileiros acredita em Deus.
E sobre esse Ser maior, causa primária de todas as coisas,
disse certa vez Ayrton Senna (após ter sofrido um acidente):
“Acho que passei por um período de adaptação.
Descobri algumas coisas importantes na vida. Esse caso em particular
contribuiu muito para me estimular, para ponderar, me fez pensar
muito no que mais importa em nossa vida, que é Deus".
Sobre Deus e amor, complementa Miguel Reale, ex-reitor da USP,
jurista, filósofo, membro da Academia Brasileira de Letras:
“Em minha já longa experiência, estou convencido
de que o amor (amor como inclinação afetiva a outra
pessoa, ou até mesmo como dedicação desinteressada
a algo que nos transcende) é a via de mais fácil
acesso à compreensão do sentido da vida, porque
amar já é por si mesmo um modo de nos transcendermos,
de nos elevarmos ao mundo dos valores ideais, chegando à
conclusão final de que sem Deus a vida não tem sentido”.
f) Deus nas empresas:
A empresa que tem Deus em seu ambiente:
a) Transcende o sentido de identidade do funcionário,
isto é, respeita e valoriza-o independentemente do seu
sexo, profissão, cor, raça, crença, ideologia;
b) Crê que cada ser humano é portador
de uma essência superior, ou de uma centelha divina;
c) Respeita a condição evolutiva
de cada funcionário;
d) Procura resolver, sem paternalismo, as dificuldades
sociais e culturais do funcionário.
Sabemos que estamos longe – muito longe
– da plenitude espiritual. Mas certamente esse caminho será
mais curto e mais prazeroso se as empresas estimularem em seu
interior, a prevalência de um ambiente espiritualizado,
em que Deus seja o Comandante Supremo. E no caminhar para alcançar
a plenitude, seremos pessoas mais felizes, mais realizadas e mais
produtivas, pois dar passos em direção a um objetivo
maior, a um objetivo transcendental, é munirmos de uma
força interior intensa que propiciará a energia
necessária para o bem viver, para encontrar um sentido
para a vida, independentemente da distância que estejamos
do ser pleno, do ser espiritual, do ser integral, que um dia seremos.
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