COMO CONSEGUIR A UNIÃO NO MEIO ESPÍRITA
E COMO CONSEGUIR A PRÁTICA DO ECUMENISMO
(**) “Une-te aos outros, sem exigir
que os outros se unam a ti.” Emmanuel.
(**) “A união fraternal é
o sonho sublime da alma humana, entretanto, não se realizará
sem que nos respeitemos uns aos outros, cultivando a harmonia,
à face do ambiente que fomos chamados a servir”.
Emmanuel
(**) livro Fonte Viva, Chico Xavier,
espírito Emmanuel, sobre “União Fraternal”,
pág. 113.
Neste novo milênio, mais
especificamente na segunda metade de sua primeira década,
nós espíritas podemos auspiciosamente sorrir. Explico:
a união entre os espíritas começa a caminhar.
É fato que ainda timidamente, mas o processo iniciou-se
em várias regiões do nosso país.
Dentre várias cidades que
caminham nessa bendita direção, tive a feliz oportunidade
de conhecer uma delas que é um caso exemplar de união
entre espíritas. Um modelo a ser seguido. O objetivo principal
deste texto é aproveitar a experiência desse grupo
de Casas Espíritas que se uniu, para passar ao leitor os
procedimentos que foram adotados para que tal evento ocorresse.
Mas antes de falar sobre esses procedimentos, vejamos algumas
considerações.
Por que a união entre as Casas Espíritas é
necessária?
Sem nunca nos esquecermos de que,
n’O livro dos médiuns (cap. XXVI, item 292, questão
22), Kardec esclarece-nos que o objetivo essencial e exclusivo
do Espiritismo é nosso particular desenvolvimento espiritual,
por outro lado o próprio mestre de Lion reforça
que o Espiritismo tem como um dos seus mais importantes objetivos
cooperar na formação de uma nova sociedade terrena.
Em sintonia com essa abrangente proposta, é vital que façamos
um questionamento a nós mesmos: Como ajudar na formação
de uma nova sociedade, se uma de nossas marcantes e inadequadas
características é falarmos para nós mesmos?
Reflitamos:
Fora do nosso meio, somos atuantes
na divulgação espírita?
Temos programas de TV nos principais canais abertos do país?
Temos programas de Rádio nas principais emissoras comerciais?
Vê-se hoje colunas espíritas nos jornais de maior
divulgação do país?
Sabemos que as respostas às
questões acima não são alentadoras. No entanto,
as reflexões que delas brotam levam-nos a encontrar a resposta
à pergunta: “Por que a união entre as Casas
Espíritas é necessária?” Podemos deduzir
que, além do exercício da fraternidade que a união
enseja, que é o seu efeito mais importante, ela –
a união – propiciará as condições
materiais, isto é, os recursos financeiros para investirmos
na divulgação do Espiritismo ao grande público
não-espírita, contribuindo, então, para a
formação de uma nova sociedade. Daí a importância
da união.
Uma importante observação:
Para que nós espíritas
não nos coloquemos como os únicos artífices
do embasamento de uma futura sociedade justa e mais espiritualizada,
transcrevo lúcida opinião do confrade Cezar Braga
Said (Reformador, novembro/2006, FEB, pág. 18). Em seu
comentário, transcrito a seguir, o citado articulista tem
como foco nossa mudança interior, que é o primeiro
e fundamental passo para a formação de uma nova
sociedade, haja vista que não há como chegarmos
a uma sociedade onde todos convivam em paz, se esta – a
paz – não reinar em nosso interior.
Diz Cezar Said:
“Admitir o Espiritismo
como caminho único para conquista da paz interior é
assumir uma postura nitidamente fundamentalista e contrária
à opinião dos Espíritos Superiores.”
Nosso companheiro Cezar Said expõe
em seu artigo a fonte que avaliza seu comentário, Allan
Kardec, conforme afirmação do insigne Codificador
na nota à questão 982 d’O livro dos Espíritos:
“(…) O Espiritismo
ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação,
afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas
ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.”
Portanto, para que cada vez mais
tenhamos consciência de que, além do Espiritismo,
outras religiões e filosofias irão formar pares
para atingirmos a almejada chegada do Mundo de Regeneração,
trabalhemos a união entre nós espíritas…
com humildade.
O que retarda a união?
O que ainda retarda o avanço
desse processo de União – que felizmente começou
– são duas essenciais atitudes ainda vigentes em
expressiva parcela de nossas Casas Espíritas: o personalismo
e o dogmatismo.
No livro Unidos pelo amor, psicografia
de Wanderley Soares de Oliveira (Dufaux), o eminente irmão
maior Bezerra de Menezes alerta-nos e orienta-nos: “Criatividade
e desapego são credenciais de luz ante as lufadas do dogmatismo
e do personalismo”. De forma clara e inequívoca,
o benfeitor Bezerra de Menezes diz que se formos criativos e desapegados,
a tendência natural será o fim do personalismo e
do dogmatismo ainda reinante em nosso meio, e que, repetindo e
reforçando, tanto retarda nossa união.
Um modelo a ser seguido
No ano de 2006, visitando uma
das cidades do querido estado de Minas Gerais, deparei-me com
um grupo de espíritas que conseguiu unir acima de 95% das
Casas e da liderança espírita daquela região
(100% seria a perfeição!). Interessei-me em estudar
o porquê daquela cidade ter conseguido esse intento tão
almejado por todos nós. E descobri uma feliz “coincidência”.
Seus líderes exerceram o desapego e a criatividade, procedimentos
esses citados por Bezerra de Menezes como os instrumentos para
abolir o personalismo e o dogmatismo.
Friso que, na cidade a que me
refiro, não só a união entre os espíritas
faz-se presente, mas também o ecumenismo. Sobre o ecumenismo,
ocorre até de oradores espíritas serem convidados
por líderes de outras religiões a proferirem palestras
em suas comunidades. Religiosos esses adeptos de religiões
que, em muitas outras cidades, seus líderes são
fortes e agressivos combatentes do Espiritismo.
Perdoe-me, caro leitor, em não
lhe satisfazer sua natural curiosidade: “que cidade é
esta?”. Creio que mais importante do que citar o nome da
cidade é passar as lições a serem aprendidas
por todos nós. Mas para efeito de facilitar a leitura deste
texto, irei batizá-la de cidade visitada.
Desapego e Criatividade, eis os instrumentos
da União e do Ecumenismo
Aprendamos como a união
ocorreu na cidade visitada: seus líderes espíritas
observaram que cada Centro Espírita tinha diversas atividades,
no entanto cada um deles destacava-se principalmente em uma dessas
atividades. Explicando melhor, o Centro Espírita “A”
ofertava Evangelização Infantil, Campanha do Quilo,
Atendimento aos Idosos etc., mas a eficácia e os bons resultados
estavam mais presentes na Evangelização Infantil;
por outro lado, o Centro Espírita “B” oferecia
todas as atividades citadas, mas a eficácia e os bons resultados
estavam mais presentes na Campanha do Quilo. E assim sucessivamente.
Em face da realidade descrita,
que fizeram os líderes espíritas da cidade visitada?
Eles chegaram a um acordo, que relato a seguir. Quando o Centro
Espírita “B”, que melhor trabalha a Campanha
do Quilo, fosse angariar alimentos para essa atividade, todos
os demais Centros Espíritas se uniriam para cooperar com
o Centro Espírita “B”; quando o Centro Espírita
“A”, que melhor trabalha a Evangelização
Infantil, ofertasse essa atividade, todos os demais Centros Espíritas
se uniriam para levar as crianças ao Centro Espírita
“A”.
Caro leitor, pergunto-lhe: que
nome melhor define esse procedimento dos Centros Espíritas?
Pense um pouco e chegará a conclusão que a palavra
certa é desapego.
Em vez dos diversos Centros Espíritas
ofertarem “tudo” à comunidade, exerceram a
criatividade e o desapego. Passaram várias atividades para
os outros Centros Espíritas, e ficaram apenas com aquela
atividade em que fossem os melhores. Simples, não? Simples,
sim, mas muito difícil de praticar, se não exercermos
o desapego.
Caro leitor, aparentemente saindo
do nosso tema, você sabia que o motor de um carro Ford (por
exemplo) tem componentes de mais de 100 fornecedores diferentes?
Mas, por que essa atitude da Ford? Bem, se a Ford quisesse construir
um motor com componentes fabricados por ela mesma, certamente
o motor não teria a imprescindível alta qualidade,
pois é impossível ser especialista em tudo.
O que faz então a Ford?
Ela adquire o carburador da empresa que melhor o fabrica; as velas
da empresa que melhor as fabricam; os pistões da empresa
que melhor os fabricam etc. E, por meio da união harmônica
de diversos especialistas, chega a expressivo resultado final.
Percebeu, caro leitor, que, em
relação à união das Casas Espíritas,
o exemplo citado da Ford (ou de qualquer outra empresa) foi o
procedimento que a cidade visitada adotou em relação
à união espírita? Por que não adotarmos
essa estratégia? Isto é:
a. Por que não nos desapegarmos
de tantas atividades que ofertamos?
b. Por que não nos reunirmos
inicialmente com dois ou três líderes espíritas
de nossa região e propormos a estratégia adotada
pela cidade visitada?
Atenção: Não nos iludamos.
Não pensemos que num primeiro momento seja possível
adotar essa estratégia entre todos os Centros Espíritas
de nossa região. Se conversarmos fraternalmente com dez
Centros Espíritas de nossa região divulgando a proposta,
e apenas três aderirem ao projeto, ótimo. O importante
é começar. As adesões de outros Centros Espíritas
tenderão a vir com o tempo.
União no meio espírita
é “conseqüência”
Propagar que nós espíritas
“precisamos nos unir” é a forma mais inadequada
de conseguirmos efetivamente a união. E, infelizmente,
isso é o que mais fazemos.
Ao contrário do que pode
parecer, deixo claro que não podemos ser contrários
aos discursos que propagam a importância da união,
pois tudo começa no discurso. Tanto é que nosso
amado Bezerra de Menezes tem-nos brindado com belíssimos
e diversos discursos sobre esse tema.
Certamente, o discurso é
o importante primeiro passo na concretização da
união. Quando no parágrafo anterior afirmei que
a forma mais inadequada de conseguirmos efetivamente a união
é propagar que nós espíritas “precisamos
nos unir”, quis dizer que esse tipo de discurso perde o
sentido quando chega aquele momento em que efetivamente dispomo-nos
a sair da idealização, a sairmos do “sonho”,
isto é, quando chega aquele momento em que realmente queremos
“fazer acontecer” a união. Quando esse sagrado
momento chegar, é preciso que mudemos nosso discruso, conforme
a sugestão que segue:
De: Precisamos vivenciar
a união no meio espírita.
Para: Precisamos
praticar duas principais atitudes em relação à
nossa convivência com as outras Casas Espíritas:
a. exercitar a tolerância
entre a liderança;
b. termos projetos comuns.
Se formos tolerantes no nosso
meio espírita e tivermos projetos comuns, a tão
almejada união será simples e natural conseqüência!
Portanto, a receita é:
a. exercer a tolerância
entre a liderança espírita;
b. termos projetos comuns entre
diferentes Casas Espíritas.
Através do exercício
da criatividade e do desapego, a cidade visitada é exemplo
de prática e vivência dos dois itens citados logo
acima. E com isso conseguiu a união entre as Casas Espíritas!
Atenção:
Comentei sobre um modelo de união espírita que deu
certo, isso não quer dizer que esse seja único.
Certamente há muitas outras formas de conseguirmos a união
no meio espírita, mas, qualquer que seja o modelo que adotemos,
uma qualidade sempre será necessária: o exercício
da tolerância!
Adendo: Praticando o ecumenismo
O foco de todo o texto acima foi
“como conseguirmos a união das Casas Espíritas”,
mas não podemos deixar de comentar como a cidade visitada
também conseguiu implantar o ecumenismo. Isto é,
como as diversas religiões daquela cidade passaram a conviver
de forma harmônica.
Se a criatividade e o desapego
foram fundamentais para acontecer a união entre os espíritas
da citada referência, a criatividade foi essencial para
a vivência do ecumenismo. Relato a sgeuir como tal intento
concretizou-se.
Tornou-se tradição
na cidade visitada um evento ecumênico anual patrocinado
pelo Movimento Espírita. Os líderes de diversas
religiões, e toda a comunidade, são convidados a
participarem desse evento, onde há deliciosos chás
e biscoitos. Como, além do objetivo ecumênico, esse
evento visa a arrecadar recursos para obras assistenciais, cada
participante contribui com determinado valor monetário.
Além dos chás e biscoitos, são apresentados
conjuntos musicais espíritas que não só energizam
favoravelmente o ambiente como também mostram aos não-espíritas
que as músicas espíritas têm muita sintonia
com os preceitos das demais religiões, falam sobre Jesus,
e não sobre galinha preta; falam sobre amor, e não
sobre como “amarrar” o inimigo para conseguir objetivos
escusos…
Mas vejo que um dos pontos altos
do evento é uma palestra proferida por um orador espírita
convidado. Essa palestra trata de temas pertinentes com o desenvolvimento
espiritual. No entanto, em respeito aos líderes e aos adeptos
de outras religiões presentes no evento, nada se comenta
sobre o Espiritismo. Nessa palestra, os integrantes das demais
religiões sabem que o orador é espírita.
Na apresentação do orador é mencionado o
fato de ele ser espírita. Durante o transcorrer da palestra,
os ouvintes não-espíritas percebem que ele profere
nomes e termos que também estão presentes em sua
igreja ou instituição religiosa como “Jesus”,
“Deus”, “amor”, “afetividade”
e outros. Com essa forma do orador desenvolver o tema da palestra,
acaba o estigma de que Espiritismo é coisa de demônio
ou tem que ver com galinha preta na esquina. Vencido esse preconceito,
o ecumenismo tende a passar a ser realidade, que foi o que ocorreu
na cidade visitada.
Com esse evento anual, a cidade
visitada conseguiu mostrar à comunidade não-espírita
a singeleza, o espírito fraterno, as bases sólidas
e a racionalidade do Espiritismo. E conforme a explicação
de Kardec já citada, a melhor forma de eliminar os críticos
do Espiritismo é por meio de sua divulgação:
“Uma publicidade numa larga escala,
feita nos jornais mais divulgados, levaria ao mundo inteiro,
e até aos lugares mais recuados, o conhecimento das idéias
espíritas, faria nascer o desejo de aprofundá-los,
e, multiplicando os adeptos, imporia silêncio aos detratores
que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião.”
Obras póstumas, “Projeto
1868”
No caso, por meio do seu evento
anual, os líderes espíritas da cidade visitada divulgam
o Espiritismo de forma discreta e eficaz, e com isso, ao mesmo
tempo em que estimulam o desaparecimento dos seus detratores,
incentivam a pratica do ecumenismo.
Finalizando, um outro fator que
facilitou que pessoas de outras religiões aceitassem o
Espiritismo na cidade visitada, foi a forma que muitas dessas
pessoas não-espíritas começaram a raciocinar
depois que passaram a conviver com os espíritas. Diziam:
“se fulano é uma pessoa boa, honesta e é espírita…
se beltrano é honesto e uma boa pessoa e é espírita…
se sicrano é gente boa e é espírita…
esse negócio não pode ser coisa ruim.” Esse
proceder atesta o que Kardec asseverou no livro Obras póstumas,
quando informou-nos que a conduta dos espíritas é
que chamaria a atenção das pessoas. Conclusão:
se formos exemplos de conduta, com mais facilidade o ecumenismo
passará a ser realidade.