(trecho inicial)
Nas páginas da sua Revista Espírita, Allan
Kardec chamou a atenção para um fenômeno que
pôde observar quando o processo do seu trabalho de sistematização
da doutrina espírita já estava adiantado. Trata-se
da apropriação das artes da temática de cunho
nitidamente espiritista para a elaboração de suas
produções. Menciona Kardec, citando exemplos diversos
de seu tempo, a produção de escritores, dramaturgos,
pintores, cujas produções abordavam a temática
da sobrevivência do espírito à morte corporal,
a reencarnação e outros postulados doutrinários
que se referiam de maneira clara aos princípios do espiritismo,
chegando mesmo algumas a citá-lo nominalmente.
Naquele já distante período da implantação
das ideias espíritas, algum leitor superficial da nova filosofia
poderia pensar que se tratasse de algum entusiasmo ingênuo
por parte de Kardec. E que tais apropriações por parte
do mundo artístico fossem um fenômeno passageiro. Contudo,
ao que parece, o teórico do espiritismo teve uma notável
apreensão dos desdobramentos que aguardavam a relação
arte/espiritismo. Já no final do século XIX, os irmãos
Lumière desenvolviam o embrião daquela que viria ser
a mais pujante indústria do entretenimento: o cinema. A chamada
Sétima Arte agregou em sua produção elementos
de outras instâncias artísticas, como a literatura,
a fotografia e o teatro numa composição que surgiu
para ficar em definitivo.