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Em 16 de fevereiro de 2016 falecia
Umberto Eco, um dos grandes intelectuais da segunda metade do século
20 e início do 21. Mais conhecio do grande público
através da filmografia de seu romance “O nome da
rosa” (1983), cujo enredo romanesco faz referência
elidida ao personagem Sherlock Holmes, criação do
escritor espírita conhecido em nível mundial, Arthur
Conan Doyle, Umberto Eco é objeto de estudo em diversas disciplinas
acadêmicas.
Dono de extraordinária cultura, o escritor italiano era filólogo,
filósofo, semiólogo e linguista emérito, além
de profundo conhecedor da cultura da Idade Média. Em seu
importante ensaio sobre estética, intitulado “Obra
aberta” (1991), o autor nascido em Alexandria, norte
da Itália, apresenta importante notícia sobre o alegorismo
nestes termos: “No medievo desenvolveu-se uma teoria do alegorismo
que prevê a possibilidade de se ler a Sagrada Escritura (e
mais tarde também a poesia e as artes figurativas) não
só em seu sentido literal mas em três outros sentidos:
o alegórico, o moral e o anagógico (1991, p.42)”.
A alegoria, segundo o dicionário on line luso-brasileiro
Priberam (2017), é conceituada como sendo o “modo indireto
de representar uma coisa ou uma ideia sob a aparência de outra”.
O texto evangélico apresenta alegorias instigantes em diversos
momentos de sua composição. Uma passagem específica
representa de forma extraordinária uma alegoria que está
em profunda consonância com as notícias do espírito
Emmanuel, na obra “A Caminho da Luz” (1996),
sobre a gigantesca missão de Allan Kardec.
No evangelho escrito por Lucas, ou atribuído a ele, está
narrado no décimo terceiro capítulo:
6 E dizia esta parábola:
Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi
procurar nela fruto, não o achando;
7 E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho
procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por
que ocupa ainda a terra inutilmente?
8 E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até
que eu a escave e a esterque;
9 E, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás
cortar.
(LUCAS, 13:6-9)
Essa pequena parábola contada por Jesus pode ser vista como
uma perfeita alegoria evangélica da missão de Allan
Kardec na sistematização da doutrina dos espíritos.
São proverbiais no movimento espiritista as palavras de Jesus
sobre o Consolador, que estão inseridas no evangelho de João,
no capítulo 14, versículos de 15 a 17 e 25.
Acerca do missionário responsável pela implantação
do Consolador na Terra, o texto de Lucas alegoriza, ainda, a propalada
frutificação da mensagem evangélica no terceiro
milênio. O senhor da vinha, Jesus Cristo, busca na figueira,
representativa da mensagem cristã, os frutos semeados. Não
os encontrando, delibera cortar a árvore. Mas o vinhateiro,
o notável espírito de Allan Kardec, percebendo as
potencialidades da árvore solicita ao senhor da vinha a oportunidade
de adubá-la, ou seja, revigorá-la, para que venha
a dar os seus saborosos frutos.
A voz unânime dos espíritos que têm se comunicado
desde Kardec até o presente, no âmbito cultural do
espiritismo, afirma que a doutrina representa a revitalização
da mensagem cristã. Em Cristianismo e Espiritismo,
Leon Denis (1971) apresenta um panorama histórico da decadência
milenar da mensagem do cristianismo e como a doutrina dos espíritos
veio trabalhar pela restauração em espírito
e verdade das palavras de Jesus, que foram desnaturadas pela inferioridade
do espírito humano ao longo dos milênios de cristandade.
Assim, ao que parece, a brevíssima parábola de Jesus
Cristo sobre a figueira improdutiva e o zeloso vinhateiro que se
dispõe a restaurá-la pode ser vista como uma alegoria
que se refere de forma bastante pertinente à missão
de Kardec na elaboração do espiritismo no contexto
da história cristã.