RESUMO DOS
OBJETIVOS E MEIOS
1. O que é Filosofia Espírita para Crianças?
A Filosofia Espírita, às vezes, é encarada como
o conjunto das crenças espíritas a respeito do Universo
e do ser humano. Porém, fazer filosofia na prática ,
ou seja, praticar um ensino filosófico, não é
simplesmente transmitir princípios da crença espírita.
É analisar estes princípios, questioná-los, buscar
compreender melhor o seu significado e as suas conseqüências,
especialmente as de ordem moral e ética.
Não se aceitam idéias como verdadeiras por imposição,
mas sabendo porque as aceitamos. Esta é a essência da
atitude filosófica: compreender o sentido e as conseqüências
da realidade.
As crianças são filósofas
espontâneas. Não precisamos lhes impingir um olhar admirado
e curioso perante a vida, porque querem, com entusiasmo, saber o que
são as coisas e porque elas são assim e não de
outro jeito.
Filosofia Espírita para Crianças
é uma proposta pedagógica que pretende ajudar crianças
e jovens nesta sua busca natural, agregando um método de trabalho
que, sem tirar a naturalidade e espontaneidade do processo investigativo,
resulte na produção de conhecimento com significado
e em bases racionais.
2. Para que serve a Filosofia Espírita para Crianças?
O objetivo desta proposta pedagógica é auxiliar crianças
e jovens a encontrar, ao filosofar, a explicação racional
que sustente suas ações morais e resulte em melhoria
e manutenção de uma atitude mais positiva e construtiva
perante a vida.
A explicação racional
se obtém ampliando o conhecimento e raciocinando sobre os princípios
do Espiritismo, compreendendo seu significado e os desdobramentos
práticos de cada um em nossa vida espiritual, pessoal e social.
Princípios do Espiritismo
(1)
Os princípios do Espiritismo
são conceitos que formam a estrutura básica do pensamento
espírita. São eles:
1. Deus,
2. espírito e matéria (os elementos da criação),
3. imortalidade,
4. reencarnação,
5. progressão dos Espíritos (evolução),
6. livre-arbítrio,
7. causa e efeito,
8. fluidos,
9. perispírito,
10. mediunidade,
11. pluralidade dos mundos habitados,
12. Espíritos em erraticidade,
13. influência dos Espíritos na nossa vida e
14. influência dos Espíritos na Natureza.
São idéias que, uma vez modificadas ou descaracterizadas,
descaracterizam a própria Doutrina, o que nos leva a relacioná-las
à própria identidade do Espiritismo, enquanto filosofia.
Os princípios do Espiritismo
formam uma rede de inter-relações que compõem,
para aquele que os conhece, uma sólida base filosófica
e ética.
Para quem é espírita
ou não, o conhecimento dos princípios torna possível
raciocinar e entender a vida através de uma visão racional,
gerando resultados práticos nas mais diferentes situações.
A sua compreensão aprofundada melhora nossa capacidade de reflexão,
ajuda no exercício do diálogo interior e na manutenção
de maior segurança e harmonia.
É imprescindível que
o educador espírita se torne um estudioso da Doutrina, a fim
de conseguir percebe-los na dinâmica da existência, de
poder falar sobre eles com desenvoltura e participar da construção
de raciocínios pertinentes a seu respeito.
Valores
A manutenção de atitudes
positivas e construtivas perante a vida só é possível
quando nossas escolhas são norteadas por valores verdadeiros
e perenes.
Os valores considerados fundamentais
para uma vida digna e feliz, voltada à evolução
do Ser espiritual, levando em conta sua participação
na vida social e planetária, são, segundo a Filosofia
Espírita para Crianças:
Autoconhecimento
- Os temas serão sempre estudados de a partir da perspectiva
do educando e de acordo com a sua necessidade e observação.
Os questionamentos o encaminharão para dentro de si mesmo,
conhecendo seu pensar e o seu sentir a respeito deles.
Autenticidade - Ao contrário da educação
repressiva que conduz à hipocrisia, o diálogo prezará
a autenticidade, incentivando à legítima expressão
por parte de todos os envolvidos, daquilo que pensam e sentem. A autenticidade
será também valorizada diante de todas as demais situações
da vida.
Auto-responsabilidade - O estudo buscará possibilitar
a compreensão clara da nossa responsabilidade exclusiva pela
nossa própria felicidade e infelicidade, assim como da responsabilidade
de cada um como agente modificador do meio em que se encontra.
Fé - Todos os temas levarão em conta
a ordem superior representada pelas leis naturais que governam o Universo
e os atributos de Deus, perfeito, soberanamente justo e bom.
Amor - Em todas as oportunidades serão incentivados
os sentimentos de amizade e amor no grupo, através do respeito
e da aceitação, do desejo do bem em relação
a todos. Por extensão, exercitaremos o amor ao próximo
e à Natureza.
O importante é impregnar nossa conduta e nossa prática
nestes valores, de modo que eles se tornem o próprio jeito
do educador ser e se comportar.
Apenas compartilhando e vivenciando estes ideais, podemos compreender
seu sentido e suas conseqüências.
3. Como funciona a Filosofia Espírita para Crianças?
Basicamente, a Filosofia Espírita para Crianças cria
um espaço para a aprendizagem significativa, para o aprofundamento
nos conceitos espíritas básicos e a percepção
de suas relações com a vida prática.
As características da investigação filosófica
que realizamos são as seguintes:
Cultivo das habilidades do pensamento
Busca de sentidos da realidade e percepção das conseqüências
Liberdade de questionamento
Comunicação fluente e participação ativa
Relação teoria/prática
Respeito a todos os pensamentos e opiniões
Além delas, é importante compreender os processos presentes
nessa investigação:
Experimentar / Vivenciar
A prática do ensino filosófico
está vinculada a um grau possível de experiência
dos temas estudados, a fim de gerar reflexões e ensejar transformações
interiores.
Parte-se então de um exemplo
prático do cotidiano do educando, ou da Natureza, ou de uma
atividade vivencial. Essa atividade não apenas fará
pensar, mas olhar para si mesmo, avaliar as próprias escolhas
e modos de pensar e sentir, enfim, interagir com o tema em estudo.
Ao educador cabe encontrar estratégias
que levem os educandos a experimentar os conceitos abordados em profundidade.
Dialogar / Interagir
Em lugar do monólogo, onde
um apenas ensina e os demais aprendem, pratica-se o diálogo.
E o que é o diálogo?
É uma relação horizontal de A com B. Nasce de
uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se de
amor, de humanidade, de esperança, de fé, de confiança.
Por isso, somente o diálogo comunica. E quando dois pólos
do diálogo seligam assim, com amor, com esperança, com
fé no próximo, se fazem críticos na procura de
algo e se produz uma relação de "empatia"
entre ambos. Só ali há comunicação.
(...) É no diálogo que
nos opomos ao antidiálogo tão entranhado em nossa formação
histórico-cultural, tão presente e, ao mesmo tempo,
tão antagônico ao clima da transição. O
antidiálogo, que implica numa relação de A sobre
B, é o oposto a tudo isso. É desamoroso. Não
é humilde. Não é esperançoso; arrogante,
auto-suficiente. Quebra-se aquela relação de "empatia"
entre seus pólos, que caracteriza o diálogo. Por tudo
isso, o antidiálogo não comunica. Faz comunicados.
Precisávamos de uma pedagogia
da comunicação com a qual pudéssemos vencer o
desamor do antidiálogo.(2)
O método dialógico leva
os alunos a pensar sobre o significado de suas palavras e sobre as
conseqüências de seus pensamentos, vivenciando os conceitos
na prática em lugar de apenas aprender a "falar sobre"
eles.
Pensentir
Pensar é um ato. Sentir é
um fato. Clarice Lispector.
"Pensentir" é uma
destas palavras que surgem para significar uma idéia que ainda
não se conseguia expressar.
Ela nasceu nos diálogos do
Grupo de Filosofia Espírita para Crianças, como uma
necessidade para falar do que buscávamos no ensino filosófico
que nos propúnhamos a desenvolver: pensentir os conceitos.
Não só pensar e raciocinar,
não só sentir e vivenciar, mas fazer tudo ao mesmo tempo!
Em nossa sociedade, ciência
e intelectualidade são altamente valorizadas. Nossas escolas
(e mesmo alguns ambientes espíritas) estão lotadas deste
saber "científico, intelectual" que, embora tenha
seu valor num contexto mais amplo, quando está sozinho, não
ajuda a pessoa a conhecer a si mesma e a se transformar.
Quase não se vê esforço
consciente de aprender sobre o sentir. Fala-se da necessidade de ser
caridoso, mas pouco se fala de sentimentos presentes e emoções
reais.
As pessoas agem motivadas por emoções
e sentimentos. Por isso, ao analisar questões e situações
morais usando apenas a razão, teremos apenas uma visão
parcial das mesmas. Não dá para conversar sobre transformação
interior sem falar no pensar/sentir/PENSENTIR.