O que podemos entender por Educação
Espírita?
Essa expressão pode ser entendida em dois sentidos:
1º) como uma espécie de formação sectária
das crianças e dos jovens, uma forma de transmissão
dos princípios espíritas às novas gerações,
e portanto um assunto doméstico, restrito ao lar e às
escolinhas que funcionam nas Federações e nos Centros
Espíritas, à semelhança do que se faz nos catecismos
das igrejas;
2º) como um processo de formação universal das
novas gerações para o mundo novo que o Espiritismo está
fazendo surgir na Terra.
(Herculano Pires em “Pedagogia Espírita”, Ed.Edicel.)
A Educação Espírita
tem como objetivo desenvolver o Ser humano integral, possibilitando
o desabrochar de todos os potenciais do espírito, sejam intelectuais,
afetivos ou morais. Não podemos encarar a Educação
Espírita de maneira bitolada e fanática, como se apenas
visássemos transmitir um conjunto de princípios dogmáticos
e interpretações de textos.
Não se pretende, com ela, aumentar
o grupo das pessoas que comungam nas mesmas crenças, nem encher
os Centros de espíritas, mas abrir as portas do autoconhecimento
e do conhecimento das leis da vida, para que daí resultem atitudes
mais coerentes com as finalidades evolutivas da existência,
em todos os sentidos.
Por isso, uma prática no estilo de catequese não
se coaduna com os seus propósitos.
O ensino do Espiritismo para crianças,
jovens e adultos não poderá se revestir das características
do ensino religioso, nem com este ser confundido, mas tem muito pontos
em comum com o ensino filosófico:
- por partir de questionamentos e hipóteses
com os quais trabalhamos, buscando raciocínios e argumentos
científicos que ajudem a chegar a conclusões;
- por pedir reflexão, estudo, aprofundamento
e imparcialidade na análise dos assuntos;
- por não excluir possibilidades, nem limitar
a liberdade de pensamento devido a concepções religiosas
quaisquer.
Isto tem influência em toda a estrutura do trabalho educacional,
desde a metodologia adotada aos recursos didáticos,
à dinâmica das aulas, ao relacionamento do grupo e à
própria maneira do educador encarar e realizar a sua tarefa.
Não se passam informações simplesmente assumidas
como verdadeiras e ponto-final, mas estimula-se o diálogo.
Promove-se a interação, forma-se um grupo de investigação
e busca da verdade, em que o aprendizado e o prazer da descoberta
são simultâneos. Não se teme dúvida ou
contestação, aproveitando as controvérsias para
retomar os argumentos e reforçar nossa fé no que acreditamos.
Torna-se o aluno agente do seu aprendizado, permitindo que construa
sua visão de mundo e expresse seus conteúdos e opiniões
com segurança e sinceridade.
A Educação Espírita
não tem cunho religioso, mas filosófico – assim
como a própria Doutrina Espírita – mesmo possuindo
inevitáveis conotações morais que tocam em temas
quase sempre pertencentes ao âmbito da Religião, como
as consequências destes estudos no campo moral, nas nossas atitudes
perante Deus, perante nós mesmos e perante o próximo.
Herculano Pires afirma que as duas
definições acima são corretas, e que o que não
podemos é nos contentar com a primeira, esquecendo-nos da segunda.
Se nos detivermos na primeira, faremos somente “catecismo espírita”.
Mas se entendermos a proposta do Espiritismo na sua verdadeira abrangência,realizaremos
muito mais em prol destas gerações que aí vêm.