Aceitar cada criatura como ela é
- conseguimos dizer e assumir como próprias estas palavras?
Pois uma das constatações
mais comuns, ouvindo conversas do dia-a-dia, é a da exigência
de que o outro se adapte a certas regras de um comportamento dito
normal: "Achei um absurdo a atitude que ela tomou!" "Não
sei como ele pode continuar agindo assim!" "Se eu fosse
ele, ou ela..."
O pressuposto, no caso, é de
que conhecemos, e muito bem, as regras e a normalidade, para podermos
nos pronunciar. Um pressuposto que, analisando melhor, não
tem fundamento porque, por mais que usemos defender uma certa moral
ou certas atitudes, sempre teremos uma percepção pessoal
e, não, universal. Quer dizer que não temos o direito
de dizer o que é certo ou errado para o outro.
"Bem, podemos dizer o que é
certo ou errado perante a Lei de Deus!" - alguém irá
objetar. Claro que podemos... em abstrato e no limite do que sabemos
sobre a Lei de Deus.
Podemos dizer que a vingança
é contrária à Lei de Amor. Mas não podemos
emitir veredictos sobre o que uma pessoa em particular fez por vingança,
porque não sabemos suas condições psicológicas,
nem o que a levou a isso, nem em qual medida a lei divina considerará
esse ato concreto.
As críticas são o rumo
que essas conversas costumam tomar. Críticas geralmente calcadas
em uma certa noção do que é moral ou ético,
ou do que é justo ou injusto, e que levam a um debate sobre
aspectos da vida do outro aos quais não se tem realmente acesso,
como os motivos, as implicações, os sentimentos, as
emoções, a história que levou até ali.
Mas pergunto-me qual seria a atitude
mais próxima dos ensinos do Cristo.
O Cristo ensinou o amor, e não
é possível amar sem aceitar. Ninguém chega a
amar, se não passou pela fase da aceitação.
A intolerância para com o que
consideramos vícios ou falhas de caráter, embora seja
um sentimento plenamente humano e compreensível, mesmo assim,
não nos autoriza a impor nossa visão das coisas. Desconhecemos
a trajetória espiritual do outro ser, não sabemos o
quanto ele já evoluiu para ser o que é hoje, e nem quanto
lhe custou. Isso, somente Deus pode conhecer.
Além disso, em geral, não
nos recordamos daquilo que fomos e do que já fizemos no passado
reencarnatório, que pode ter sido muito mais condenável,
perante nossa perspectiva atual de moral e justiça, que a ação
do outro que ora criticamos.
Aceitar cada criatura como ela
é seria a escolha mais conforme o amor que desejamos ver brotar
em nossos corações e a mais condizente com nossa ignorância
de aspectos essenciais do funcionamento da lei divina ou natural.