Orson Peter Carrara

>    Utilidade de uma sociedade espírita

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Orson Peter Carrara
>    Utilidade de uma sociedade espírita

 


Objetivo não é convencer, mas viver o ideal.

O ideal espírita inspirou, desde o surgimento de O Livro dos Espíritos, a fundação e funcionamento de incontáveis sociedades espíritas. Pequenas, de porte médio ou maiores, em grupos familiares e até mesmo associações reunindo profissionais de diversas áreas surgem e funcionam com o objetivo de conhecer e divulgar o conhecimento espírita. Inclusive, com as facilidades da comunicação virtual, o intercâmbio internacional entre os adeptos tem permitido também a multiplicação de grupos e eventos de estudo e divulgação da Doutrina Espírita. Afinal, seu caráter racional e consolador atinge todas as classes sociais e é acessível a todos os níveis culturais.

O mesmo ideal favoreceu também a criação da prestação de serviços de amparo aos necessitados, física e espiritualmente, e é comum que praticamente toda instituição espírita mantenha um ou mais departamentos de assistência ou promoção humana, com o socorro imediato e/ou continuado às dificuldades humanas.

Breve pesquisa aos estatutos da maioria das instituições espíritas indicará que o objetivo é o estudo e divulgação da Doutrina Espírita e a fundação/manutenção de obras de caráter educativo, assistencial e filantrópico, bem de acordo com a própria índole do Espiritismo, que em síntese objetiva orientar e amparar a criatura humana.

Porém, a utilidade maior de nossas sociedades espíritas está acima das letras frias de um estatuto, inspirado sim pelo idealismo e comprometimento com a causa espírita, na vivência plena do ideal. A realidade espiritual de sobrevivência do ser, o permanente intercâmbio entre os dois planos de vida e as conseqüências morais dessas verdades é que devem nortear e onde se encontra a verdadeira utilidade das sociedades espíritas. Por isto, sua principal razão de ser é o compromisso de transmitir ou ensinar Espiritismo.

Na Revista Espírita
(1), de julho de 1858, Allan Kardec publicou seu Discurso de Encerramento do ano social 1858-1859, proferido na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em magistral texto que recomendamos aos leitores. E destaca admiráveis palavras do Espírito São Luís (2): "Zombou-se das mesas girantes, não se zombará jamais da filosofia, da sabedoria e da caridade que brilham nas comunicações sérias. Que alhures se veja, que em outro lugar se ouça, que entre vós se compreenda e se ame."

Ora, aí está a utilidade das sociedades espíritas. Elas existem para o exercício do amor, da fraternidade, nunca para busca de fenômenos. Estes são secundários. Continua o Codificador: "(...) o raciocínio é o facho que nos guia. Mas o raciocínio de um só pode se extraviar, por isso quisemos nos reunir em sociedade, a fim de nos esclarecermos mutuamente pelo concurso recíproco de nossas idéias e de nossas observações (...)".

Este critério da observação, da análise raciocinada, da prioridade do estudo sobre o fenômeno em si é que afasta o misticismo, a fantasia. E muito mais que a busca desenfreada por fenômenos, a recomendação de São Luís é clara: poderá haver manifestações dessa ou daquela ordem, aqui ou acolá, mas que entre os adeptos ou integrantes de uma sociedade se compreenda e se ame. Este é o espírito do Espiritismo: a fraternidade vivida.

Se ficarmos apenas na ordem dos fenômenos, procurando convencer pessoas, atrair adeptos, estamos desviando objetivos. A Doutrina não pretende convencer ninguém. Sua finalidade é orientar e esclarecer.

E para que cumpra esse papel, é extremamente necessário que os integrantes de qualquer sociedade espírita estejam amparados pelo selo da compreensão e do amor mútuos, sob pena de comprometimento da própria utilidade.

De que valem casas cheias, com sentimentos vazios? De que utilidade se revestem reuniões ou sociedades distantes do amor?

Para bem cumprirem seu papel de transmissoras e multiplicadoras do pensamento espírita, as sociedades devem utilizar-se sim do amor, amparado pelo raciocínio. Esses dois pilares são inseparáveis, quando se trata de falar ou pensar sobre Doutrina Espírita.
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(1) Publicação fundada por Allan Kardec, em circulação até os dias atuais.
(2) Canonizado pela Igreja Católica em 1297. Filho de Branca de Castela, foi coroado rei de França, em Reims, em novembro de 1226, com apenas 12 anos de idade, tendo assumido o poder somente em 1242, tomando o nome de Luís IX. Homem piedoso e altruísta, era admirado pela imparcialidade nas questões de justiça. Era chamado de "o bom rei Luís". Integra a equipe dos Espíritos Codificadores da Doutrina Espírita.


Orson Peter Carrara, 44 anos. (Agosto/2004)
Expositor, Escritor, articulista da imprensa, assessor de imprensa da Casa Editora O Clarim.
De família espírita, envolveu-se com a Doutrina desde criança no Centro Espírita "Francisco Xavier dos Santos" de Mineiros do Tietê. Frequentou a Mocidade Espírita, foi expositor da Casa, dirigente de grupos de estudos, de reuniões mediúnicas e chegou por duas vezes à Presidência da Casa.
Presidente da USE JAÚ por vários anos, também percorreu grande parte do Estado de São Paulo e outros Estados como expositor, e publicou o livro CAUSA E CASA ESPÍRITA, com direitos doados à Casa Editora O Clarim, de Matão.Atualmente está em Matão, como Assessor de Imprensa da Casa Editora O Clarim. Continua colaborando como articulista em diversos jornais e sites espíritas.

 

 


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