Resumo:
Partindo do relato mítico do
orixá do trovão na história dos povos iorubás,
o texto trata da importância do culto africano de Xangô
na formação de ritos e cargos do candomblé instituído
no Brasil. Apresenta principais variações rituais inscritas
nos avatares do orixá e nos arquétipos de personalidade
de seus filhos. Mostra também como muitos postos e títulos
usados no candomblé correspondem a adaptações
feitas a partir da estrutura administrativa da cidade de Oió,
da qual Xangô teria sido um dos primeiros governantes e da qual
é o grande patrono.
I: O obá Xangô
Obá é palavra da língua iorubá
que designa rei. Obá é também um dos epítetos
do orixá Xangô (não confundir Obá, rei,
soberano ( oba ), com o orixá Obá ( Òbà
), que é uma das esposas de Xangô). Segundo a mitologia,
Xangô teria sido o quarto rei da cidade de Oió, que foi
o mais poderoso dos impérios iorubás. Depois de sua
morte, Xangô foi divinizado, como era comum acontecer com os
grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou
a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oió,
a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote.
Não existem registros históricos da
vida de Xangô na Terra, pois os povos africanos tradicionais
não conheciam a escrita, mas o conhecimento do passado pode
ser buscado nos mitos, transmitidos oralmente de geração
a geração. Assim, a mitologia nos conta a história
de Xangô, que começa com o surgimento dos povos iorubás
e sua primeira capital, Ilê-Ifé, fala da fundação
de Oió e narra os momentos cruciais da vida de Xangô:
“Num tempo muito antigo, na África, houve
um guerreiro chamado Odudua, que vinha de uma cidade do Leste, e que
invadiu com seu exército a capital de um povo então
chamado ifé. Quando Odudua se tornou seu governante, essa cidade
foi chamada Ilê-Ifé. Odudua teve um filho chamado Acambi,
e Acambi teve sete filhos, e seus filhos ou netos foram reis de cidades
importantes. A primeira filha deu-lhe um neto que governou Egbá,
a segunda foi mãe do Alaqueto, o rei de Queto, o terceiro filho
foi coroado rei da cidade de Benim, o quarto foi Orungã, que
veio a ser rei de Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes,
o sexto, rei de Popôs, e o sétimo foi Oraniã,
que foi rei da cidade Oió, mais tarde governada por Xangô.
“Esses príncipes governavam as cidades
que mais tarde foram conhecidas como os reinos que formam a terra
dos iorubás, e todos pagavam tributos e homenagens a Odudua.
Quando Odudua morreu, os príncipes fizeram a partilha dos seus
domínios, e Acambi ficou como regente do reino de Odudua até
sua morte, embora nunca tenha sido coroado rei. Com a morte de Acambi,
foi feito rei Oraniã, o mais jovem dos príncipes do
império, que tinha se tornado um homem rico e poderoso. O obá
Oraniã foi um grande conquistador e consolidou o poderio de
sua cidade.
“Um dia Oraniã levou seus exércitos
para combater um povo que habitava uma região a leste do império.
Era uma guerra muito difícil, e o oráculo o aconselhou
a ficar acampado com os seus guerreiros num determinado sítio
por um certo tempo antes de continuar a guerra, pois ali ele haveria
de muito prosperar. Assim foi feito e aquele acampamento a leste de
Ifé tornou-se uma cidade poderosa. Essa próspera povoação
foi chamada cidade de Oió e veio a ser a grande capital do
império fundado por Odudua. O rei de Oió tinha por título
Alafim, termo que quer dizer o Senhor do Palácio de Oió.
“Com a morte de Oraniã, seu filho Ajacá
foi coroado terceiro Alafim de Oió. Ajacá, que tinha
o apelido de Dadá, por ter nascido com o cabelo comprido e
encaracolado, era um homem pacato e sensível, com pouca habilidade
para a guerra e nenhum tino para governar. Dadá-Ajacá
tinha um irmão que fora criado na terra dos nupes, também
chamados tapas, um povo vizinho dos iorubás. Era filho de Oraniã
com a princesa Iamassê, embora haja quem diga que a mãe
dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupes. Esse filho
de Oraniã tinha o nome Xangô, e era o grande guerreiro
que governava Cossô, pequena cidade localizada nas cercanias
da capital Oió.
“Xangô um dia destronou o irmão
Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena e distante
cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa
de Baiani.
“Xangô foi assim coroado o quarto Alafim
de Oió, o obá da capital de todas as grandes cidades
iorubás.
“Xangô procurava a melhor forma de governar
e de aumentar seu prestígio junto ao seu povo. Conta-se que,
para fortalecer seu poder, Xangô mandou trazer da terra dos
baribas um composto mágico, que acabaria, contudo, sendo sua
perdição. O rei Xangô, que depois seria conhecido
pelo cognome de o Trovão, sempre procurava descobrir novas
armas para com elas conquistar novos territórios. Quando não
fazia a guerra, cuidava de seu povo. No palácio recebia a todos
e julgava suas pendências, resolvendo disputas, fazendo justiça.
Nunca se quietava. Pois um dia mandou sua esposa Iansã ir ao
reino vizinho dos baribas e de lá trazer para ele a tal poção
mágica, a respeito da qual ouvira contar maravilhas. Iansã
foi e encontrou a mistura mágica, que tratou de transportar
numa cabacinha.
“A viagem de volta era longa, e a curiosidade
de Iansã sem medida. Num certo momento, ela provou da poção
e achou o gosto ruim. Quando cuspiu o gole que tomara, entendeu o
poder do poderoso líquido: Iansã cuspiu fogo!
“Xangô ficou entusiasmadíssimo
com a nova descoberta. Se ele já era o mais poderoso dos homens,
imaginem agora, que tinha a capacidade de botar fogo pela boca. Que
inimigo resistiria? Que povo não se submeteria? Xangô
então passou a testar diferentes maneiras de usar melhor a
nova arte, que certamente exigia perícia e precisão.
“Num desses dias, o obá de Oió
subiu a uma elevação, levando a cabacinha mágica,
e lá do alto começou a lançar seus assombrosos
jatos de fogo. Os disparos incandescentes atingiam a terra chamuscando
árvores, incendiando pastagens, fulminando animais. O povo,
amedrontado, chamou aquilo de raio. Da fornalha da boca de Xangô,
o fogo que jorrava provocava as mais impressionantes explosões.
De longe, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam
as labaredas expelidas por Xangô. Aquele barulho intenso, aquele
estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo
chamou de trovão.
“Mas, pobre Xangô, a sorte foi-lhe ingrata.
Num daqueles exercícios com a nova arma, o obá errou
a pontaria e incendiou seu próprio palácio. Do palácio,
o fogo se propagou de telhado em telhado, queimando todas as casas
da cidade. Em minutos, a orgulhosa cidade de Oió virou cinzas.
“Passado o incêndio, os conselheiros do
reino se reuniram, e eviaram o ministro Gbaca, um dos mais valentes
generais do reino, para destituir Xangô.
“Gbaca chamou Xangô à luta e o
venceu, humilhou Xangô e o expulsou da cidade. Para manter-se
digno, Xangô foi obrigado a cometer suicídio. Era esse
o costume antigo. Se uma desgraça se abatia sobre o reino,
o rei era sempre considerado o culpado. Os ministros lhe tiravam a
coroa e o obrigavam a tirar a própria vida.
“Cumprindo a sentença imposta pela tradição,
Xangô se retirou para a floresta e numa árvore se enforcou.
"Oba so!", "Oba so!"
"O rei se enforcou!", correu a notícia.
“Mas ninguém encontrou seu corpo e e
logo correu a notícia, alimentada com fervor pelos seus partidários,
que Xangô tinha sido transformado num orixá. O rei tinha
ido para o Orum, o céu dos orixás. Por todas as partes
do império os seguidores de Xangô proclamavam:
"Oba ko so!", que quer dizer "O rei
não se enforcou!"
"Oba ko so!", "Oba ko so!".
“Desde então, quando troa o trovão
e o relâmpago risca o céu, os sacerdotes de Xangô
entoam: "O rei não se enforcou!" "Oba ko so!
Obá Kossô!" "O rei não se enforcou".”
(Cf. Prandi, Mitologia dos orixás.)
Assim narram os mitos, e a morte de Xangô nada
mais é do que a afirmação dos antigos costumes
africanos. Sua morte teria sido injusta e por isso o Orum o acolheu
como imortal. A expressão “Obá Ko so” é
evidentemente dúbia. Tanto pode significar “Rei da cidade
de Cossô”, o que de fato Xangô também era,
como “O rei não se enforcou”, frase que poderia
ser também traduzida por “O Rei vive”, ou “Viva
o Rei”, forma que é mais comum na nossa tradição
ocidental. A versão verdadeira não importa: divinizado,
transformado em orixá, o obá Xangô, o Alafim de
Oió, alcançou a imortalidade, deixou de ser humano,
virou deus. “Obá Kossô”, “Viva o Rei”
é a fórmula pela qual, até hoje, em todos os
templos dos orixás, é glorificado o nome de Xangô,
o rei de Oió, o orixá do trovão, senhor da justiça.
De todos os orixás que marcam a saga da cidade
de Oió, nenhum foi mais reverenciado que Xangô, mesmo
quando Oió passou a ser apenas um símbolo esfumaçado
na memória dos atuais seguidores das religiões dos orixás
espalhados nos mais distantes países da diáspora africana
do lado de cá e do lado de lá do oceano. E há
muitos elementos para estribar essa afirmação.
II: Xangô no Novo Mundo
No seu auge, o império de Oió englobava
as mais importantes cidades do mundo iorubá, tendo assim o
culto a Xangô, que era o orixá do rei ou obá de
Oió, portanto o orixá do império, sido difundido
por todo o território iorubano, o que não era muito
comum, pois cada cidade ou região tinha os seus próprios
orixás tutelares e poucos eram os que recebiam culto nas mais
diversas cidades, como Exu, Ossaim e Orunmilá. O fato é
que o apogeu da dominação da cidade de Oió sobre
as outras resultou numa grande difusão do culto a Xangô.
Durante muito tempo a força militar de Oió protegeu
os iorubás de invasões inimigas e impediu que seu povo
fosse caçado e vendido por outros africanos ao tráfico
de escravos destinado ao Novo Mundo, como acontecia com outros povos
da África.
Quando o poderio de Oió foi destruído
no final do século XVIII por seus inimigos, tanto a capital
Oió como as demais cidades do império desmantelado ficaram
totalmente desprotegidas, e os povos iorubás se transformaram
em caça fácil para o mercado de escravos. Foi nessa
época que o Brasil, assim como outros países americanos,
passou a receber escravos iorubás em grande quantidade. Vinham
de diferentes cidades, traziam diferentes deuses, falavam dialetos
distintos, mas tinham todos algo em comum: o culto ao deus do trovão,
o obá de Oió, o orixá Xangô.
Isso explica a enorme importância que Xangô
ocupa nas religiões africanas nas Américas, pois foi
exatamente nesse momento histórico da chegada dos iorubás
que as religiões africanas se constituíram nas Américas,
isto é, no século XIX. Particularmente no Brasil, os
escravos recém-chegados eram trazidos não mais para
o trabalho nas plantações e nas minas do interior, onde
ficavam dispersos, mas sim nas cidades, onde eram encarregados de
fazer todo o tipo de serviço urbano, morando longe de seus
proprietários, vivendo em bairros com grande concentração
de negros escravos e libertos, e tendo assim maior liberdade de movimento
e organização, podendo se reunir nas irmandades católicas,
com novas e amplas oportunidades para recriarem aqui a sua religião
africana.
Nascido da iniciativa de negros iorubás que
se reuniam numa irmandade religiosa na igreja da Barroquinha, em Salvador,
o primeiro templo iorubá da Bahia foi, emblematicamente, dedicado
a Xangô. Seus ritos, que em grande parte reproduziam a prática
ritualística de Oió, acabaram por moldar a religião
que viria a se constituir no candomblé, e cuja estruturação
hierárquica sacerdotal em grande parte reconstituía
simbolicamente a organização da corte de Oió,
isto é, a corte de Xangô, como veremos adiante. Emblemas
que na África eram exclusivos do culto a Xangô foram
generalizados entre nós para o culto de todos os orixás,
como o uso do colar ritual de iniciação chamado quelê.
Por estranha ironia, a nação de Xangô
na Bahia acabou recebendo o nome de Queto, que é a cidade de
Oxóssi, e não o nome de Oió, cidade de Xangô,
como era de se esperar. Mas essa denominação deve ter
ocorrido muito tempo depois da fundação da Casa Branca
do Engenho Velho, o primeiro terreiro de Xangô, de cujo chão
Oxóssi é o dono, e que serviu de modelo a todo o candomblé.
A denominação nação queto deve ter se
dado já no século XX, quando angariavam grande prestígio
e visibilidade dois terreiros que também fazem parte do núcleo
de templos fundantes do candomblé: o terreiro do Gantois, dissidente
da Casa Branca, e dedicado a Oxóssi, que era o orixá
da cidade do Queto, e o terreiro do Alaketu, cuja fundação
é atribuída a duas princesas originárias da cidade
do Queto, e que também eram do grupo da Barroquinha. A expressão
“nação queto” para designar o ramo do candomblé
de origem iorubá que se constituiu a partir da linhagem da
Casa Branca do Engenho Velho é recente e não era usada
antes de 1950. O nome mais comum era nação nagô,
ou jeje-nagô. A própria Mãe Aninha, que fundou
outro templo dissidente da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá,
e que, como o próprio nome indica, também é dedicado
a Xangô, costumava dizer nos anos 1930: “Minha casa é
nagô puro”.
Mas no Rio Grande do Sul, até hoje a expressão
“nação Oió”, ou “Oió-ijexá”
designa os terreiros de batuque de origem iorubá. A marca de
Xangô continua ali muito presente.
Em Pernambuco, a primazia de Xangô acabou por
dar nome a toda a religião dos orixás, que naquele e
em outros estados do Nordeste é conhecida como xangô.
No Maranhão, dois templos de tradições
diferentes disputam o posto de casa fundante do tambor-de-mina: a
Casa das Minas, de culto exclusivo aos voduns dos povos fons ou jejes,
e a Casa de Nagô, que, como o próprio nome aponta, dedica-se
ao culto dos orixás, os deuses nagôs ou iorubás,
além de cultuar também voduns e encantados. Ao contrário
da Casa das Minas, que não teve terreiros descendentes e hoje
se encontra em franco processo de extinção, a Casa de
Nagô é a origem de vasta linhagem de terreiros, que se
espalharam pelo Maranhão e Pará e chegaram até
o Rio de Janeiro e São Paulo, ou mais além. A Casa das
Minas de Tóia Jarina, de Diadema, é originária
dessa matriz. Pois o patrono da Casa de Nagô não é
outro senão Badé, nome pelo qual Xangô é
reverenciado nos templos do tambor-de-mina.
Longe daqui, no Caribe, a palavra xangô também
dá nome à religião dos orixás praticada
em Trinidad-Tobago, nome que também pode ser observado entre
populações americanas de origem caribenha na costa Atlântica
do sul dos Estados Unidos.
Em Cuba, onde a santeria é tão viva
e diversificada como o candomblé brasileiro, são muitos
os indícios da supremacia ritual de Xangô. Talvez o mais
emblemático seja o fato de que, durante a iniciação
ritual, apenas os sacerdotes dedicados a Xangô, segundo a tradição
cubana, têm o privilégio sobre todos os demais de receber
na cabeça o sangue sacrificial, o que indicaria que o orixá
do trovão tem precedência protocolar, e seu tambor é
o mais sagrado instrumento musical da santeria.
Onde quer que tenha se formado alguma manifestação
americana da religião dos orixás, seja o candomblé,
o xangô, o batuque, o tambor-de-mina, a santeria cubana, ou
o xangô caribenho, a memória do orixá Xangô,
o obá de Oió, manteve o realce que o orixá do
império detinha na África. Como obá, Xangô
também era o mais alto magistrado de seu povo, o juiz supremo.
Sua relação com o ministério da justiça
fez dele, entre os seguidores das religiões dos orixás,
o senhor da justiça. Num mundo de tantas injustiças,
desigualdades sociais, marginalização, abandono e falta
de oportunidades sociais de todo tipo, como este em que vivemos, o
orixá da justiça ganhou cada vez maior importância.
Seu prestígio foi consolidado. Reiterou-se a posição
de Xangô como o grande patrono do candomblé e grande
protetor de todo aquele que se sente de algum modo injustiçado.
III: A corte do rei
A importância de Xangô na constituição
do candomblé, que é brasileiro, pode ser identificada
também quando examinamos as estruturas hierárquicas
e a organização dos papéis sacerdotais do candomblé
em comparação com o ordenamento dos cargos da própria
corte de Oió, a cidade de Xangô. Não há
dúvida que as sacerdotisas e sacerdotes que fundaram os primeiros
templos de orixá no Brasil tinham grande intimidade com as
estruturas de poder que governavam a cidade do Alafim. O candomblé
é, de fato, uma espécie de memória em miniatura
da cidade africana que o negro perdeu ao ser arrancado de seu solo
para ser escravizado no Brasil.
Vejamos alguns dos cargos mais importantes da corte
de Oió e sua correspondência com a hierarquia do candomblé
de nação nagô.
Basorun – primeiro ministro e presidente do
conselho real, que tinha mais poder que o próprio rei, exercendo
também a função de regente quando da morte do
rei até a ascensão do sucessor. No candomblé
é título dado a homem que ajuda na administração
do terreiro, um dos membros do corpo de ministros em terreiros dedicados
a Xangô.
Alààpínní – chefe
do culto de egungum. No Brasil, igualmente alto sacerdote do culto
dos ancestrais.
Balògún – chefe militar. No candomblé,
cargo masculino de chefia da casa de Ogum. O falecido oluô Agenor
Miranda Rocha, foi, por mais de 70 anos, o balogum da Casa Branca
do Engenho Velho.
Lágùnnòn – embaixador do
rei que tinha como encargo o culto ao orixá Ocô, divindade
da agricultura. No candomblé, espécie de ajudante do
pai-de-santo na provisão do terreiro.
Akinikú – chefe dos rituais fúnebres.
No Brasil, oficial do axexê, que pode ser um babalorixá
ou ialorixá ou algum ebômi ou ogã especializado
nos ritos mortuários.
Asípa – representante dos governadores
das aldeias na corte de Oió e encarregado do culto ao orixá
Ogum. No Brasil, dignidade masculina.
Isugbin – corpo de tocadores e musicistas do
palácio. No candomblé são chamados alabês,
nome que na África era dado aos escarificadores, os que faziam
os aberês, as marcas faciais identificadoras da origem.
Ìlàrí – corpo de guardas
da corte e de mulheres. Adoradores de Oxóssi e Ossaim, eram
também uma espécie de mensageiros e provedores reais.
No candomblé, sacerdotes que cuidam da casa de Ossaim.
Èkejì òrìsà –
literalmente, a segunda pessoa do orixá, cargo sacerdotal da
corte do Alafim, sacerdotisa que não incorpora o orixá,
mas que cuida de seus objetos sagrados. No candomblé, equede,
todas mulher não-rodante confirmada para cuidar do orixá
em transe e de seus pertences rituais. O cargo, elevado na África,
deu às equedes posição de relevo também
no candomblé, onde têem o grau de senioridade.
Ìyá-nàsó – mãe
do culto do Xangô do rei (divindade pessoal). No Brasil, nome
de uma das fundadoras do candomblé e título feminino.
Ìyáalémonlé – encarregada
de cuidar do assentamento pessoal do rei. Entre nós, quem cuida
do assentamento principal do pai-de-santo.
Ìyá-lé-òrí –
mãe dos ritos de oferecimento a cabeça do rei, mantém
a representação material da cabeça do rei em
sua casa. No candomblé preside o bori.
Ìyá mondè ou bàbá
– Mulher que cultua os espíritos dos reis mortos. Chamam-na
também de Bàbá. O alafim dirige-se a ela como
“pai”, pois elas detêm a autoridade do “pai”,
como as dirigentes da umbanda brasileira, também chamadas de
babá.
Ìyá-le-agbò – prepara os
banhos rituais do rei. No candomblé, mulher que cuida dos potes
de amassi.
Ìyá-kèré – chefe
das mulheres ilaris; é ela quem coroa o rei no ato de sua entronização.
A atribuição, mantida, é hoje no candomblé
da competência de pais e mães-de-santo que colocam no
trono o novo chefe do terreiro nas ocasiões de sucessão.
Muitos outros títulos do candomblé foram
tomados de outras cidades e instituições que não
a corte de Oió, mas é inescondível a importância
da cidade de Xangô na estruturação dos terreiros
brasileiros de origem iorubá. De toda sorte, são variadas
as adaptações, muitas vezes esvaziando-se o cargo de
suas funções originais.
Com o sentido de reforçar a idéia do
terreiro de candomblé como sucedâneo da África
distante, para legitimar suas estruturas de mando e valorizar sua
origem, cargos de tradição africana são recuperados
e adaptados com certa liberdade pelos dirigentes brasileiros. Assim
surgiram os obás ou mogbás de Xangô, conselho
de doze ministros do culto de Xangô, instituído inicialmente
no terreiro Axé Opô Afonjá na década de
1930 por sua fundadora Mãe Aninha Obabií, assessorada
pelo babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, e depois reinstalado
nos mais diferentes terreiros que têm Xangô como patrono.
Os obás brasileiros de Xangô têm funções
diversas daquelas africanas, mas os nomes dos cargos são referência
constante à vida político-administrativa dos iorubás
antigos. Eles são divididos em ministros da direita, com direito
a voto, e ministros da esquerda, sem direito a voto. Cada um deles
conta com dois substitutos, o otum e o ossi.
O conjunto dos obás da direita criados por
mãe Aninha é constituído dos seguintes cargos:
Abíódún (nome que designa aquele nascido no dia
da festa); Àre (título que se dá a uma pessoa
proeminente da corte); Àrólu (o eleito da cidade); Tèla
(nome masculino da realeza de Oió); Odofun (cargo da sociedade
Ogboni); Kakanfò (título do general do exército).
Os da esquerda são: Onansòkun (pai oficial do obá
de Oió); Aressá (título do obá de Aresá);
Eleryin (título do obá de Erin); Oni Koyí (título
do obá de Ikoyi); Olugbòn (título do obá
de Igbon); e Sòrun (chefe do conselho do rei de Oió).
Estes nomes designam hoje postos sacerdotais, dignidades religiosas;
na África designavam cargos de homens poderosos que controlavam
a sociedade ioruba e suas cidades.
Um rei africano era, antes de mais nada, um guerreiro.
Guerras, conquistas, povoamento de novas terras, escravidão,
descoberta e renascimento, tudo isso faz parte da história
de Xangô, rei e guerreiro, como faz parte das memórias
de nossa própria civilização de brasileiros.
Mas Xangô é mais que história da África
e mais que história do Brasil. Seu duplo machado visa a justiça
para cada um dos dois lados que se opõem na contenda, suas
pedras-de-raio são o santuário guardião das esperanças
de tanta gente que padece em conseqüência das mazelas de
nossa sociedade: desemprego, falta de oportunidades, incompreensão
e dificuldade no trabalho, escassez de meios de sobrevivência,
perseguição e disputas insanas, inveja, complicações
legais de toda sorte, e tantas outras coisas ruins. Apelar a Xangô,
para o devoto, é buscar alento, realimentar esperanças,
prover-se de forças para a difícil aventura da vida.
Mas no terreiro em festa, sob o roncar frenético
dos tambores, a dança de Xangô não é tão
somente demonstração de energia e de força marcial,
de cadência e de vitalidade, mas igualmente harmonia, graça
e sensualidade. Xangô é duro, mas também se compraz
com o bom da vida. O paladar de Xangô lembra as qualidades do
bom glutão que não dispensa jamais o prazer da boa mesa,
tanto que até nos faz pensar nele como um rei gordo e guloso.
Tanto é assim que suas oferendas votivas devem ser sempre servidas
em grande quantidade, pois Xangô aprecia que seus súditos
comam muito e bem.
Seu prato predileto é o amalá, comida
feita à base de quiabo, camarão, pimentas de várias
qualidades, e tantos outros condimentos que são verdadeiras
iguarias, utilizados pelas filhas-de-santo que muito apreciam e disputam
a preparação da comida para os deuses. A comida servida
no terreiro serve também para “reunir gente”, e
Xangô é o orixá que mais as acolhe, pois toda
corte é repleta de súditos e não seria diferente
no terreiro, onde há sempre muita gente, muita dança
e muita comida.
Além de orixá comilão, Xangô
também é o grande amante e teve muitas mulheres como
contam seus mitos. Um deles relata que Xangô era um rei poderoso,
um dia apareceu em seu reino um grande animal que devorava a todos,
homens, mulheres e crianças. Xangô, acompanhado de suas
três mulheres resolveu enfrentar o animal monstruoso. Xangô
amava suas esposas, mas amava também todos os homens e mulheres
que o acercavam, e nada mais natural do que defendê-los de tal
criatura. O ser monstruoso rugia e toda a terra tremia. Xangô
não quis soldados para vencer o animal. Xangô lançou
chamas de sua boca e derrubou o animal matando-o depois num só
golpe com seu oxé. Vitorioso, Xangô cantou e dançou,
estava feliz. Dali em diante foi ainda mais amado pelos homens e mulheres
de seu povo e por todos aqueles que ouviram falar de seu feito.
No Brasil, o aspecto erótico da representação
de Xangô foi muito atenuado em comparação a Cuba,
onde seus gestos de dança insinuam relações sexuais
e seus objetos de forma fálica enfatizam seu gosto pelo sexo.
Mas mesmo entre nós é o orixá de muitas esposas.
Tantas mulheres e tantas paixões carnais não reforçam
e são a confirmação de que a vida pode ser plena
das doçuras e gozos do amor? O que queremos dizer é
que Xangô não nos remete tão somente aos aspectos
sérios, circunspectos e duros dos compromissos do dia-a-dia,
mas nos faz lembrar, sim, o tempo todo, que a vida é muito
boa para ser vivida, e por isso mesmo temos que lutar por ela sem
descanso. É por essa razão que o fiel sempre pede passagem
para o rei, gritando para o povo reunido em festa: “Deixai passar,
deixar passar Sua Majestade”, “Kaô, kaô Kabiessi”.
IV: As qualidades ou avatares de Xangô
Qualidade é o termo usado no candomblé
para designar as múltiplas invocações ou avatares
dos orixás, assim como no cristianismo, no caso de Nossa Senhora
e Jesus Cristo, as qualidades referem-se a cultos específicos
do orixá, em que são invocados aspectos diversos da
sua biografia mítica, o que inclui as diferentes idades, as
suas lutas e aventuras, sua glorificação e deificação
etc.
No candomblé, os orixás dividem-se em
vários orixás-qualidade, e se se acredita que cada ser
humano, que é considerado filho ou descendente mítico
do orixá, origina-se de um dos orixás-qualidade. Essas
qualidades procuram dar conta do arquétipo de cada orixá,
uma vez que se baseiam em mitos, e é por meio do oráculo
do jogo de búzios que o pai ou mãe-de-santo determina
de qual delas o filho-de-santo se origina.
Vejamos uma descrição de algumas qualidades
que são objeto de diferenciação no culto de Xangô
na liturgia de alguns terreiros afro-brasileiros.
Agodô
Sincretizado com São Jerônimo em terreiros
onde o sincretismo ainda é observado; é aquele que,
ao lançar raios e fogo sobre seu próprio reino, o destrói,
como contado no mito apresentado neste trabalho. Gente de Agodô
é do tipo guerreira, violenta, brutal, imperiosa, aventureira,
amante da ordem e da justiça, mesmo que isso implique numa
justiça pautada em seu próprio benefício.
Obacossô
Em sua passagem pela cidade de Cossô, Xangô
recebe o nome de Obacossô, ou seja, o rei de Cossô. Conta
o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, Xangô refugiou-se
na cidade de Cossô, mas a dor de haver destruído seu
povo, levou o rei a suicidar-se. No momento da morte de Xangô,
Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um
egum, pediu a Olodumare que o transforme num orixá. Assim Xangô
foi feito orixá pelo pedido de sua mulher Iansã. Os
filhos de Obacossô são serenos, tiranos, cruéis,
agressivos, severos, amorosos, moralistas.
Jacutá
É o senhor do edun-ará, a pedra de raio.
Conta o mito que o reino de Jacutá foi atacado por guerreiros
de povos distantes, num dia em que seus súditos descansavam
e dançam ao som dos tambores. Houve muita correria, muita morte,
muitos saques. Jacutá escapou para a montanha seguido de seus
conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo. Irado, o rei
chamou sua mulher Iansã, que, chegando com o vento, levou consigo
a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram
como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram
em debandada. Mais uma vez, Jacutá fora acudido por Iansã,
e mais, sua eterna amante deu-lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras
de raio, o edun-ará. Gente de Jacutá tem espírito
de um velho pensador, justiceiro, incansável, brutal, colérico,
impiedoso, preocupado com a causa dos outros.
Afonjá
Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos
da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô
da casa real de Oió. Nesse avatar Xangô Afonjá
é aquele que está sempre em disputa com Ogum. Um dos
mitos que relata tal passagem nos conta que Afonjá e Ogum sempre
lutaram entre si, ora disputando o amor da mãe, Iemanjá,
ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oiá, Oxum e
Oba. Lutaram desde o começo de tudo e ainda lutam hoje em dia.
No entanto, naquele tempo, ninguém vencia Ogum. Ele era ardiloso,
desconfiado, jamais dava as costas a um inimigo. Um dia, Afonjá
cansado de tanto perder as batalhas para Ogum, convidou-o para ter
com ele nas montanhas. Afonjá sempre apelava para a magia quando
se sentia ameaçado e não seria diferente daquela vez.
Ao chegar no pé da montanha de pedra, Afonjá lançou
seu machado oxé de fazer raio e um grande estrondo se ouviu.
Ogum não teve tempo de fugir, foi soterrado pelas pedras de
Afonjá. Xangô Afonjá venceu Ogum naquele dia e
somente naquele dia. Por essas características que o mito mostra,
filhos de Afonjá tem um espírito jovem e sábio,
são feiticeiros, libertinos, tirânicos, obstinados, galantes,
autoritários, orgulhosos, e adoram uma peleja.
Baru
Conta o mito em que Xangô recebe de Oxalá
um cavalo branco como presente. Com o passar do tempo, Oxalá
voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado, passando
sete anos num calabouço. Calado no seu sofrimento, Oxalá
provocou a infertilidade da terra e das mulheres do reino de Baru.
Mas Xangô Baru, com a ajuda dos babalaôs, descobriu seu
pai Oxalá preso no calabouço de seu palácio.
Naquele dia, ele mesmo e seu povo vestiram-se de branco e pediram
perdão ao grande orixá da criação, terminando
o ato com muita festa e com o retorno de Oxalá a seu reino.
Assim seus descendentes míticos agirão sempre como um
jovem desconfiado, ambicioso, elegante, teimoso, hospitaleiro, galante;
neste avatar, e somente neste, Xangô surge como um rei humilde
e solidário com a causa de seu povo.
Airá
Em alguns terreiros de candomblé cultua-se
um grupo de qualidades de Xangô que recebe o nome de Airá.
Também se acredita que Airá seja um orixá diferente
de Xangô e que participa de alguns de seus mitos. O mais comum
é considerar-se Airá como um Xangô branco. Vejamos
algumas das subdivisões de Airá.
Airá Intilé
É o filho rebelde de Obatalá. Airá
Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores
a Obatalá. Um dia, Obatalá juntou-se a Odudua e ambos
decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé
na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à
porta e levaram seu cavalo branco. Airá Intilé percebeu
o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto,
saiu no encalço. Na perseguição encontrou Obatalá
e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado,
gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e
pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá Intilé
havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço
colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez
os colares de Airá Intilé e alternou as contas encarnadas
com as contas brancas de seus próprios colares. Obatalá
entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele
dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar
o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse
de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas.
Nesta qualidade, Airá Intilé dá a seu devoto
um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual,
severo, moralista, decidido.
Airá Ibonã
É considerado o pai do fogo, tanto que
na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece
a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança acompanhado
de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que
Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que
podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá
não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã
brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam
nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá
estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã,
dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.
Nessa qualidade, os seguidores de Airá têm
espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são
brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.
Airá Osi
É o eterno companheiro de Oxaguiã. Um
dia, passando Oxaguiã pelas terras onde vivia Airá Osi,
despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e
vencedor de batalhas. Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá
trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã,
misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram
inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de
uma grande pedra. Oxaguiã observava a disputa do alto de um
monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa,
percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido
atrás da pedra. Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu
soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava
de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande
guerreiro branco. Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se
de Airá Osi. No entanto, como punição pela mentira
de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à
sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate,
devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas
eternas batalhas.
Os filhos de Airá Osi são considerados
jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar
pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos
intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.
São muitas as invocações ou qualidades
de Xangô, que, como vimos, se juntam às outras tantas
de Airá. Em diferentes países e regiões da diáspora
africana em que a religião dos orixás sobreviveu e prosperou,
há diferentes variantes das qualidades dos orixás, pois
cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por
selecionar esta ou aquela passagem mítica do orixá.
Muitas foram esquecidas, outras ganharam novos significados. Cada
qualidade é representada por diferentes cores e outros atributos,
de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e danças,
é possível identificar a qualidade que está sendo
festejada, principalmente no barracão de festas dos terreiros.
Não só por esses aspectos, mas também pelas oferendas
votivas e pelos animais que são sacrificados em favor da divindade.
O culto se multiplica, o poder de Xangô se expande.
Faces diferentes para outras faces. Diz um oriki:
Òlò áwá la wulú
Olodó òlò odó
Oyá walé ni ilè Irá
Sangò walé ni Kosó.
Senhor do som do trovão
Senhor do pilão
Oiá desaparece na terra de Irá
Xangô desaparece na terra de Cossô
Xangô de Oió, Xangô de Cossô.
Da África e das América. Xangô é um e é
muitos, mas, como indica o sentimento dos devotos, essa multiplicidade
pode ser reunida numa só pessoa: Xangô. É o mesmo
que dizer, nas palavras de pai Pércio de Xangô, babalorixá
do Ilê Alaketu Axé Airá: É tudo Xangô.
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