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I: Personagens de duvidosa moralidade
O Brasil tem uma larga tradição
católica de devoção aos santos, com os quais
os fiéis estabelecem relações de favor e de troca
que presumem sempre uma certa intimidade com as coisas do mundo sagrado
(Camargo et alii, 1973). Com o espraiamento das tradições
afro-brasileiras no curso deste século, parece que esta intimidade
com personagens do mundo sagrado — agora sobretudo com divindades
afro-brasileiras, com as quais os santos se sincretizam, mais os espíritos
dos mortos — teria se intensificado. De fato, há uma
infindável lista de famílias ou classes de entidades
sobrenaturais com que fiéis brasileiros podem estabelecer relações
religiosas e mágicas e contatos personalizados, especialmente
através de cerimônias em que essas entidades se apresentam
através do transe de incorporação: os caboclos,
pretos-velhos, ciganos, príncipes, marinheiros, guias de luz,
espíritos das trevas, encantados, além dos orixás
e voduns.
Pombagira, cultuada nos candomblés
e umbandas, é um desses personagens muito populares no Brasil.
Sua origem está nos candomblés, em que seu culto se
constituiu a partir de entrecruzamentos de tradições
africanas e européias. Pombagira é considerada um Exu
feminino. Exu, na tradição dos candomblés de
origem predominantemente iorubá (ritos Ketu, Efan, Nagô
pernambucano) é o orixá mensageiro entre os homens e
o mundo de todos os orixás. Os orixás são divindades
identificadas com elementos da natureza (o mar, a água dos
rios, o trovão, o arco-íris, o fogo, as tempestades,
as folhas etc.) e sincretizados com santos católicos, Nossa
Senhora e o próprio Jesus Cristo. Assim, Oxalá, o maior
dos orixás, divindade da criação, é sincretizado
com Jesus, Iemanjá, a Grande Mãe dos orixás e
dos brasileiros, com Nossa Senhora da Conceição. Exu,
o orixá trickster, o que deve ser sempre homenageado em primeiro
lugar, o orixá fálico, que gosta de confundir os homens,
que só trabalha por dinheiro, é aquele sincretizado
com o Diabo.[1][1]
Na língua ritual dos candomblés
angola (de tradição banto), o nome de Exu é Bongbogirá.
Certamente Pombagira (Pomba Gira) é uma corruptela de Bongbogirá,
e esse nome acabou por se restringir à qualidade feminina de
Exu (Augras, 1989). Na umbanda, formada nos anos 30 deste século
do encontro de tradições religiosas afro-brasileiras
com o espiritismo Kardecista francês, Pombagira faz parte do
panteão de entidades que trabalham na "esquerda",
isto é, que podem ser invocadas para "trabalhar para o
mal", em contraste com aquelas entidades da "direita",
que só seriam invocadas em nome do "bem" (Camargo,
1961: Prandi, 1991a).
Dona Pombagira, que tem um lugar muito
especial nas religiões afro-brasileiras, pode também
ser encontrada nos espaços não religiosos da cultura
brasileira: nas novelas de televisão, no cinema, na música
popular, nas conversas do dia-a-dia. Por influência kardecista
na umbanda, Pombagira é o espírito de uma mulher (e
não o orixá) que em vida teria sido uma prostituta ou
cortesã, mulher de baixos princípios morais, capaz de
dominar os homens por suas proezas sexuais, amante do luxo, do dinheiro,
e de toda sorte de prazeres.
No Brasil, sobretudo entre as populações
pobres urbanas, é comum apelar a Pombagira para a solução
de problemas relacionados a fracassos e desejos da vida amorosa e
da sexualidade, além de inúmeros outros que envolvem
situações de aflição. Estudar os cultos
da Pombagira permite-nos entender algo das aspirações
e frustrações de largas parcelas da população
que estão muito distantes de um código de ética
e moralidade embasado em valores da tradição ocidental
cristã. Pois para Dona Pombagira qualquer desejo pode ser atendido:
não há limites para a fantasia humana.
Embora conserve do candomblé
a veneração dos orixás, a umbanda, religião
que desenvolveu e sistematizou o culto a Pombagira como entidade dotada
de identidade própria, é uma religião centrada
no culto dos caboclos e pretos-velhos, além de outras entidades.
Embora o candomblé não faça distinção
entre o bem e o mal, no sentido judaico-cristão, uma vez que
o seu sistema de moralidade baseia-se na relação estrita
entre homem e orixá, relação esta de caráter
propiciatório e sacrificial, e não entre os homens como
uma comunidade em que o bem do indivíduo está inscrito
no bem coletivo (Prandi, 1991a), a umbanda, por sua herança
kardecista, preservou o bem e o mal como dois campos legítimos
de atuação, mas tratou logo de os separar em departamentos
estanques. A umbanda se divide numa linha da direita, voltada para
a prática do bem e que trata com entidades "desenvolvidas",
e numa linha da "esquerda", a parte que pode trabalhar para
o "mal", também chamada quimbanda, e cujas divindades,
"atrasadas" ou demoníacas, sincretizam-se com aquelas
do inferno católico ou delas são tributárias.
Esta divisão, contudo, pode ser meramente formal, como uma
orientação classificatória estritamente ritual
e com frouxa importância ética. Na prática, não
há quimbanda sem umbanda nem quimbandeiro sem umbandista, pois
são duas faces de uma mesma concepção religiosa.
Assim, estão do lado "direito"
os orixás, sincretizados com os santos católicos, e
que ocupam no panteão o posto de chefes de linhas e de falanges,
que são reverenciados, mas que pouco ou nada participam do
"trabalho" da umbanda, isto é, da intervenção
mágica no mundo dos homens para a solução de
todos os seus problemas, que é o objetivo primeiro da umbanda
enquanto religião ritual. Ainda do lado do "bem"
estão o caboclo (que representa a origem brasileira autêntica,
o antepassado indígena) e o preto-velho (símbolo da
raiz africana e marca do passado escravista e de uma vida de sofrimentos
e purgação de pecados). Embora religião surgida
neste século, durante e em função do processo
intenso de urbanização e industrialização,
o panteão da umbanda é constituído sobretudo
de entidades extraídas de um passado histórico que remonta
pelo menos ao século XIX. Ela nunca incorporou, sistematicamente,
os espíritos de homens e mulheres ilustres contemporâneos
que marcam o universo das entidades do espiritismo kardecista.
De todas as classes de entidades da
umbanda, que são muitas, certamente o preto-velho é
o de maior reconhecimento público: impossível não
gostar de um preto-velho, mesmo quando se trata de um não-umbandista.
Ele é sábio, paciente, tolerante, carinhoso. Já
o caboclo é o valente, o selvagem (o índio) antes de
tudo, destemido, intrépido, ameaçador, sério,
e muito competente nas artes das curas. O preto velho consola e sugere,
o caboclo ordena e determina. O preto-velho acalma, o caboclo arrebata.
O preto-velho contempla, reflete, assente, recolhe-se na imobilidade
de sua velhice e de seu passado de trabalho escravo; o caboclo mexe-se,
intriga, canta e dança, e dança e dança como
o guerreiro livre que um dia foi. Os caboclos fumam charuto e os preto-velhos,
cachimbo; todas as entidades da umbanda fumam — a fumaça
e seu uso ritual marcando a herança indígena da umbanda,
aliança constitutiva com o passado do solo brasileiro.
Do panteão da direita também
fazem parte os boiadeiros, os ciganos, as princesas. O boiadeiro é
um caboclo que em vida foi um valente do Sertão. Veste-se como
o sertanejo, com roupas e chapéu de couro, e cumpre um papel
ritual muito semelhante aos caboclos índios, que se cobrem
de vistosos cocares. Igualmente são bons curadores. Ciganos
dizem o futuro mas não sabem curar; como os príncipes,
estão acima das misérias terrenas. Marinheiros sabem
ler e contar, e conhecem dinheiro, o que não acontece com nenhuma
outra entidade, mas carregam muito dos vícios do homem do mar:
gostam muito de mulher da vida, bebem em demasia, são sempre
infiéis no amor, e caminham sempre com pouco equilíbrio.
Uma sua cantiga, imortalizada nas vozes de Clementina de Jesus e Caetano
Veloso, diz:
Oh, marinheiro, marinheiro, marinheiro
só
Quem te ensinou a nadar, marinheiro
só?
Ou foi o tombo do navio
Ou foi o balanço do mar
Lá vem lá vem marinheiro
só
Como ele vem faceiro
Todo de branco, marinheiro só
Com seu bonezinho
O lado da esquerda é povoado
pelos Exus e Pombagiras, basicamente (Arcela, 1980). Ambos são
mal-educados, despudorados, agressivos. Falam palavrão e dão
estrepitosas gargalhadas. Chegam pela meia-noite, os Exus com suas
mãos em garras e seus pés feito cascos de animais satânicos,
as Pombagiras com seus trajes escandalosos nas cores vermelho e preto,
sua rosa vermelha nos longos cabelos negros, seu jeito de prostituta,
ora do bordel mais miserável ora de elegantes salões
de meretrício, jogo e perdição; vez por outra
é a grande dama, fina e requintada, mas sempre dama da noite.
Nas religiões afro-brasileiras, todo o cerimonial é
cantado ao som dos atabaques, e quase todo também dançando.
As cantigas dos candomblés e os pontos-cantados da umbanda
são instrumentos de identidade das entidades. Assim, canta-se
para Pombagira quando ela chega incorporada:
De vermelho e negro
Vestida na noite o mistério
traz
Ela é moça bonita
Oi, girando, girando, girando lá
Se, por vezes, tanto Exus como Pombagiras
podem vir muito elegantes e amigáveis, jamais serão,
entretanto, confiáveis e desinteressados. Todo o mundo tem
medo de Exu e Pombagira, ou pelo menos diz que tem. Desconfia-se deles,
pois, se de fato são entidades diabólicas, não
merecem confiança, mesmo quando deles nos valemos. Eles fazem
questão de demonstrar animosidade. Conheci muito Exu que chama
todas as pessoas de "filho-da-puta", que é a maior
ofensa que se pode fazer a um brasileiro. Exus e Pombagiras fazem
questão de demonstrar o quanto eles desprezam aqueles que os
procuram.
Há ainda um certo território
de difícil demarcação, que, embora formalmente
situado na "direita", dá passagem para muitas entidades
que se comportam como da "esquerda". Ora são Exus
metamorfoseados de caboclos, ora são marinheiros e baianos.
Se com os marinheiros já estamos
em território muito próximo da linha da "esquerda",
com os baianos é quase impossível se saber ao certo.
Baianos e baianas têm a aparência de caboclos e pretos-velhos,
mas se comportam como Exus e Pombagiras. Lembrando que as giras (sessões
rituais de transe com canto e dança) são organizadas
separadamente para entidades da "direita" e da "esquerda",
pode-se imaginar que os baianos — de criação muito
recente, mas com uma popularidade que já quase alcança
a dos caboclos e pretos-velhos — são uma espécie
de disfarce pelo qual Exu e Pombagira podem participar das giras da
"direita" sem serem molestados. Se um dia a umbanda separou
o bem do mal, com a intenção inescondível de
cultuar a ambos, parece que, com o tempo, ela vem procurando apagar
essa diferença. Os baianos representariam esta disposição.
De fato, os baianos são as entidades da "direita"
mais próximas da "esquerda" em termos do comportamento
estereotipado: eles são zombeteiros, relacionam-se com seus
fiéis e clientes não escondendo o seu escárnio
por eles, falam com despudor em relação às questões
de caráter sexual, revelando com destemperança, para
quem quiser ouvir, pormenores da intimidade das pessoas. Um dia, numa
gira, uma baiana de nome Chica me disse que a confundiam com Pombagira,
coisa que ela não era, só porque preferia os homens
sexualmente bem dotados. Ela dizia falar muita besteira porque as
pessoas gostavam de ouvir besteiras, bebia muito porque as pessoas
gostavam de beber, e falava das intimidades porque as pessoas gostavam
de se exibir mas não tinham coragem para isto. "E o Senhor
não acha que isto é muito bom?", me perguntava.
"Então, porque eu gosto mesmo é de ajudar os outros,
eu dou o que eles querem."
II: Pombagira no universo
dos Exus e dos eguns
Antes de mais nada, Pombagira é
um Exu, ou melhor, um Exu-mulher, como ela mesma gosta de ser chamada.
Como Exu, ela compõe um riquíssimo e muito variado panteão
de diabos, em que ela não somente aparece como um dos Exus,
mas é também casada com pelo menos um deles. Na concepção
umbandista, Exu é um espírito do mal, um anjo decaído,
um anjo expulso do céu, um demônio, enfim. De Pombagira
se diz ser mulher de demônios e morar no inferno e nas encruzilhadas,
como esclarecem suas cantigas:
A porta do inferno estremeceu
O povo corre pra ver quem é
Eu vi uma gargalhada na encruza
É Pombagira, a mulher do Lucifer
(pesquisa de campo)
Ela é mulher de sete Exu
Ela é Pomba Gira Rainha
Ela é Rainha das Encruzilhadas
Ela é mulher de sete Exu (Molina,
s/d: 25)
O candomblé tem pouquíssima
preocupação em construir um corpo teórico doutrinário
e uma organização teológica das suas entidades
e o culto da Pombagira segue de perto o culto dos orixás, assentado
em mitos e tradições de origem presumidamente africana,
não existindo praticamente nada escrito sobre Pombagira. A
umbanda, entretanto, dispõe de vasta bibliografia também
sobre Pombagira. Essa literatura desenvolve primariamente a idéia
de um panteão sincrético dos Exus, dos quais Pombagira
é um, e oferece minuciosos preceitos rituais. Discos também
são disponíveis com os pontos-cantados.
Segundo essa literatura, a entidade
suprema da "esquerda" é o Diabo Maioral, ou Exu Sombra,
que só incorpora raramente. Ele tem como generais: Exu Marabô
ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira ou diabo Agalieraps, Exu-Mor
ou diabo Belzebu, Exu Rei das Sete Encruzilhadas ou diabo Astaroth,
Exu Tranca Ruas ou diabo Tarchimache, Exu Veludo ou diabo Sagathana,
Exu Tiriri ou diabo Fleuruty, Exu dos Rios ou diabo Nesbiros e Exu
Calunga ou diabo Syrach. Sob as ordens destes e comandando outros
mais estão: Exu Ventania ou diabo Baechard, Exu Quebra Galho
ou diabo Frismost, Exu das Sete Cruzes ou diabo Merifild, Exu Tronqueira
ou diabo Clistheret, Exu das Sete Poeiras ou diabo Silcharde, Exu
Gira Mundo ou diabo Segal, Exu das Matas ou diabo Hicpacth, Exu das
Pedras ou diabo Humots, Exu dos Cemitérios ou diabo Frucissière,
Exu Morcego ou diabo Guland, Exu das Sete Portas ou diabo Sugat, Exu
da Pedra Negra ou diabo Claunech, Exu da Capa Preta ou diabo Musigin,
Exu Marabá ou diabo Huictogaras, e o nosso Exu-Mulher, Exu
Pombagira, simplesmente Pombagira ou diabo Klepoth. Mas há
também os Exus que trabalham sob as ordens do orixá
Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus ajudantes Exu Caveira
ou diabo Sergulath e Exu da Meia-Noite ou diabo Hael, cujos nomes
mais conhecidos são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu Brasa (Haristum)
Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba (Brulefer) e Exu Pagão ou diabo
Bucons (Fontennelle, s/d; Bittencourt, 1989; Omolubá, 1990).
Cada Exu tem características
próprias, cantigas e pontos-riscados (desenhos feitos a giz
com os elementos simbólicos da entidade). Cada um cuida de
determinadas tarefas, sendo grande e complexa a divisão de
trabalho entre eles. Por exemplo, Exu Veludo oferece proteção
contra os inimigos. Exu Tranca Rua pode gerar todo tipo de obstáculos
na vida de uma pessoa. Exu Pagão tem o poder de instalar o
ódio no coração das pessoas. Exu Mirim é
o guardião das crianças e também faz trabalhos
de amarração de amor. Exu Pemba é o propagador
das doenças venéreas e facilitador dos amores clandestinos.
Exu Morcego tem o poder de transmitir qualquer doença contagiosa.
Exu das Sete Portas facilita a abertura de fechaduras, cofres e outros
compartimentos secretos — materiais e simbólicos! Exu
Tranca Tudo é o regente de festins e orgias. Exu da Pedra Negra
é invocado para o sucesso em transações comerciais.
Exu Tiriti pode enfraquecer a memória e a consciência.
Exu da Capa Preta comanda as arruaças, os desentendimentos
e a discórdia.
Pombagira trata dos casos de amor,
protege as mulheres que a procuram, é capaz de propiciar qualquer
tipo de união amorosa e sexual.
Nos terreiros, os nomes dos demônios
são muito pouco conhecidos e me parece que poucos iniciados
se interessam por eles. As hierarquias e ordens dos Exus também
são pouco consideradas. Na prática dos terreiros, o
Exu mais importante é o Exu do fundador ou do chefe do terreiro,
ao qual se subordinam os Exus dos filhos-de-santo, sendo permitido
a cada iniciado ter mais de um Exu. Nos candomblés da nação
angola (Prandi, 1991a) e na maioria dos terreiros de umbanda, o iniciado
tem um Exu masculino e uma Pombagira, além do orixá
principal, orixá secundário (juntó), caboclo
etc. Nessas modalidades religiosa, o mesmo iniciado pode entrar em
transe de diferentes entidades. Uma gira de umbanda muito se assemelha
a um grande palco do Brasil, povoado por tipos populares das mais
diferentes origens.
Todos os Exus são donos das
encruzilhadas, onde devem ser depositadas as oferendas que lhes são
dadas. Mas, dependendo da forma e da localização da
encruzilhada, ela pode pertencer a este ou àquele Exu. Todas
as encruzilhadas em forma de T pertencem a Pombagira. A Encruza-Maior,
uma encruzilhada em T em que cada uma das ruas que a formam nascem
de encruzilhadas também em T, é onde reina a maior das
Pombagiras, a Rainha, em respeito à qual nenhuma oferenda destinada
a outras Pombagiras pode ser ali depositada, sob o risco de mortal
castigo.
Pombagira é singular mas é
também plural. Elas são muitas, cada qual com nome,
aparência, preferências, símbolos e cantigas particulares.
Entre dezenas, as Pombagiras mais conhecidas são: Pombagira
Rainha, Maria Padilha, Pombagira Sete Saias, Maria Molambo, Pomba
Gira da Calunga, Pombagira Cigana, Pombagira do Cruzeiro, Pombagira
Cigana dos Sete Cruzeiros, Pombagira das Almas, Pombagira Maria Quitéria,
Pombagira Dama da Noite, Pombagira Menina, Pombagira Mirongueira e
Pombagira Menina da Praia.
Os Exus, e mais precisamente muitas
Pombagiras, podem também ser considerados eguns, ou seja, espíritos
de mortos, alguns de biografia mítica bem popular.
Maria Padilha, talvez a mais popular
Pombagira, é considerada espírito de uma mulher muito
bonita, branca, sedutora, e que em vida teria sido prostituta grã-fina
ou influente cortesã. A escritora Marlyse Meyer publicou em
1993 seu interessante livro Maria Padilha e toda sua quadrilha, contando
a história de uma amante de Pedro I (1334-1369), rei de Castela,
a qual se chamava Maria Padilha. Seguindo uma pista da historiadora
Laura Mello e Souza (1986), Meyer vasculha o Romancero General de
romances castellanos anteriores ao siglo XVIII, depois documentos
da Inquisição, construindo a trajetória de aventuras
e feitiçaria de uma tal de Dona Maria Padilha e toda a sua
quadrilha, de Montalvan a Beja, de Beja a Angola, de Angola a Recife
e de Recife para os terreiros de São Paulo e de todo o Brasil.
O livro é uma construção literária baseada
em fatos documentais no que diz respeito à personagem histórica
ibérica e em concepções míticas sobre
a Padilha afro-brasileira. Evidentemente não encontra provas,
e nem pretende encontrá-las, de que uma é a outra. Talvez
um avatar imaginário, isto sim. E que pode, quem sabe, vir
a ser, um dia, incorporado à mitologia umbandista.
Autores umbandistas, muitas vezes,
conforme suas palavras, orientados pelas próprias entidades,
publicam ricas e imaginosas biografias de Pombagira. Assim, Maria
Molambo, uma Pombagira que sempre se veste de trapos, teria sido,
no final do período Colonial no Brasil, a noiva prometida a
um influente herdeiro patriarcal e que, apaixonada por outro homem,
com ele fugiu de Alagoas para Pernambuco. Foram perseguidos incansavelmente
pela família ultrajada e desejosa de vingança e encontrados
três anos e meio depois. O jovem amante foi morto e ela levada
de volta ao pai que cuspiu em seu rosto e a expulsou de casa para
sempre. Como tinha uma filha pequena, a quem devia sustentar, Rosa
Maria, este era seu nome, submeteu-se a trabalhar em casa de parentes
na cidade de Olinda. Com a morte da filha, de novo viu-se na rua,
prostituindo-se para sobreviver. Tuberculosa e abandonada, foi enfim
buscada por parentes para receber a herança deixada pelos pais
mortos. Rica, teria então se dedicado à caridade até
sua morte, quando então, no outro mundo, conheceu Maria Padilha
e entrou para a linha das Pombagiras (Omolubá, 1990).
Embora sejam muitas as versões
sobre a personagem Pombagira, ela sempre aparece relacionada à
prostituição, como sugere esta cantiga:
Disseram que iam me matar
Na porta do cabaré
Passei a noite lá
E ninguém me matou (pesquisa
de campo)
Seu caráter de entidade perigosa
e feiticeira, com a qual se deve tomar muito cuidado, também
é sempre marcado:
Pombagira é a mulher de sete
maridos
Não mexa com ela
Ela é um perigo (pesquisa de
campo)
Pombagira girou
Pombagira girou no congá da
Bahia
Pomba gira vem de longe
pra fazer feitiçaria (pesquisa
de campo)
Pombagira vem sempre para trabalhar
e trabalhar contra aqueles que são seus inimigos e inimigos
de seus devotos. Ela considera seus amigos todos aqueles que a procuram
necessitando seus favores e que sabem como agradecer-lhe e agradá-la.
Deve-se presentear Pombagira com coisas que ela usa no terreiro, quando
incorporada: tecidos sedosos para suas roupas nas cores vermelho e
preto, perfumes, jóias e bijuterias, champanhe e outras bebidas,
cigarro, cigarrilha e piteiras, rosas vermelhas abertas (nunca botões),
além das oferendas de obrigação, os animais sacrificiais
(sobretudo no candomblé) e as de despachos deixados nas encruzilhadas,
cemitérios e outros locais, a depender do trabalho que se faz,
sempre iluminado pelas velas vermelhas, pretas e, às vezes,
brancas.
Para se ser amigo e devoto de Pombagira
é preciso ter uma causa em que ela possa trabalhar, pois é
o feitiço que a fortalece e lhe dá prestígio:
Demandas ela não rejeita
Ela gosta de demandar
Com seu garfo formoso
Seus inimigos gosta de espetar (Omolubá,
1990: 70)
Eu quero filho pra defender
E amigos pra espetar
Eu é Rainha das Sete Encruzilhadas
É lá que eu faço
a minha morada (ibidem: 71)
Não há mãe-de-santo
ou pai-de-santo que admita trabalhar para o mal. O mal, quando acontece,
é sempre uma conseqüência do bem, pois as situações
que envolvem os Exus são sempre situações contraditórias
(Trindade, 1985). Se uma mulher está apaixonada por um homem
comprometido e procura ajuda no terreiro, a única responsabilidade
da mãe-de-santo e da Pombagira é a de atender à
súplica de quem faz o pedido. Se a outra mulher tiver que ser
abandonada, a culpa é dela mesma, que não procurou a
proteção necessária, não tendo assim propiciado
as entidades que a deveriam defender. Quando duas ou mais pessoas
estão engajadas em pólos opostos de uma disputa, declara-se
acirrada demanda (disputa, guerra) entre os litigantes humanos e seus
protetores sobrenaturais. As demandas que envolvem questões
amorosas são um campo específico de atuação
da Pombagira. Questões de bem e de mal são irrelevantes:
Ela é Maria Padilha
De sandalhinha de pau
Ela trabalha para o bem
Mas também trabalha para o
mal (ibidem: 70)
Pombagira, como praticamente todas
as entidades que baixam nos terreiros de umbanda, sempre vêm
para trabalhar, isto é, ajudar através da magia a quem
precisa e busca ajuda. O conceito de "trabalho", isto é,
uma prática mágica que interfere no mundo é central
na umbanda e na construção de suas entidades (Prandi,
1991a; Pordeus Jr., 1993). Há sempre um grande número
de pontos-cantados que se referem a esta "missão",
como este:
É na banda do mar
É, é, é na Umbanda
Vem, vem da Quimbanda
Pombagira vem trabalhar (Molina, s/d:
55)
Pombagira, entretanto, não
vive só de feitiços, ela não vem só para
"trabalhar". Nas grandes festas de Exu e Pombagira, especialmente
nos terreiros de candomblé em que há o costume de se
oferecer apenas uma grande festa anual para essas entidades, Pombagira
vem para se divertir, dançar e ser apreciada e homenageada,
conforme o padrão do culto aos orixás, os quais jamais
dão consultas, conselhos ou receitas de cura durante o transe
de possessão. Um toque de Pombagira sempre tem um tom de festa
e diversão, apesar do clima geralmente sombrio e das expressões
muito estereotipadas do transe (Arcella, 1980). É assim que
Pombagira se expressa nessas ocasiões:
Com meu vestido vermelho
Eu venho pra girar
Com meu colar, brinco e pulseira
Eu venho pra girar
Eu uso os melhores perfumes
Para a todos agradar
Eu sou a Pombagira
Eu venho pra girar
Este é o meu destino
O meu destino é este
É me divertir
Bebo, fumo, pulo e danço
Pra subsistir
Assim cumpro o meu destino
Que é me divertir (pesquisa
de campo)
Sempre se diz que quem é amigo
de Pombagira alcança todos os seus favores, mas quem é
seu inimigo corre sempre sério risco. Daí, é
muito freqüente, entre os adeptos, atitudes de medo e respeito
para com Pombagira, mesmo quando dela não se pretende qualquer
favor:
Quem não me respeitar
Oi, logo se afunda
Eu sou Maria Padilha
Dos sete cruzeiros da calunga
Quem não gosta de Maria Padilha
Tem, tem que se arrebentar
Ela é bonita, ela é
formosa
Oh! bela, vem trabalhar (Ribeiro,
1991: 84)
Não é raro o envolvimento
da Pombagira em casos de polícia e seu aparecimento em reportagens,
novelas e séries de televisão. Num desses notórios
casos, ocorrido no Rio de Janeiro em 1979, e amplamente discutido
na literatura antropológica (Contins, 1983; Contins & Goldman,
1985; Maggie, 1992), um homem foi assassinado a mando da mulher por
causa da sua suposta impotência sexual. Entre os envolvidos
no crime, havia uma mulher que recebia Pombagira, que teria fornecido
pós e trabalhos mágicos para o assassinato, mas como
os pós e trabalhos mágicos não deram certo, a
própria Pombagira teria sugerido, conforme depoimentos dos
implicados, o uso do revólver. O comerciante foi morto a tiro
disparado por outra mulher, depois do fracasso de um jovem faxineiro
na tentativa de assassinato. Durante os trâmites na polícia
e no judiciários, além dos personagens em carne e osso,
compareceu Pombagira, em transe. Acodem, a pedido das autoridades,
um psiquiatra, um pai-de-santo e um pastor evangélico. Os envolvidos
acabam condenados. O caso, além do enorme interesse popular
despertado, ensejou a produção dos mais variados discursos
sobre a Pombagira (ou sua participação no crime): o
mágico-religioso, o jornalístico, o jurídico,
o psiquiátrico e o antropológico. Como o povo que certamente
ela representa e simboliza, dona Pombagira, nesse caso, não
se esgota em nenhuma dessas fontes de explicação, populares
ou eruditas. Mas fica bem claro que, ainda que Pombagira seja uma
entidade espiritual de baixo nível hierárquico de religiões
de baixo prestígio social, sua presença no imaginário
extravasa os limites dos seus seguidores para se fazer representar
no pensamento das mais diversas classes sociais do país.
III: O que Pombagira pode
fazer pelos mortais? Favores e oferendas
Pode-se pedir de tudo a Pombagira,
como a qualquer divindade ou entidade afro-brasileira, mas sua fama
está muito colada às questões de afeto, amor
e sexualidade.
Quando se recorre a Pombagira, busca-se
o conforto de três maneiras: 1) consultando-se com ela durante
uma gira ou toque em que ela está presente pelo transe, em
sessões que ocorrem muito tarde da noite, geralmente às
sextas-feiras; 2) em contato com ela em sessão reservada, geralmente
à tarde, quando o terreiro oferece consultas privadas; 3) tendo
o pai ou mãe-de-santo como intermediador, podendo eles usar
o jogo de búzios, o oráculo dos orixás (ver Capítulo
III), o que acontece quando se trata de terreiro mais próximo
de práticas do candomblé. A um pedido sempre corresponde
algum tipo de oferenda. Vejamos, a título de ilustração,
três fórmulas para se alcançarem favores de Pombagira.
1) Oferenda para Pombagira Cigana
prender um homem ao lado de uma mulher para sempre: Perto da meia-noite,
numa encruzilhada em forma de T, depois de pedir licença ao
dono supremo de todas as encruzilhadas, Exu, recitar ou cantar dois
pontos de Pombagira e depois arriar, sobre uma toalha de cores vermelho
e preto, um batom, um par de tamancos, um par de brincos, sete velas
vermelhas, uma garrafa de cachaça, vinho ou champanhe, sete
fitas vermelhas e sete rosas vermelhas. Fazer o pedido e se afastar
de costas (Alkimin, 1993: 26).
2) Oferenda a Pombagira Sete Saias
para transformar uma inimiga em grande amiga: Preparar uma farofa
de farinha de mandioca crua misturada com mel e arrumar no centro
de um alguidar (prato de barro). Em volta colocar sete velas brancas,
sete fitas de cores diferentes, sete rosas vermelhas, uma garrafa
de champanhe e uma cigarrilha. Arriar numa encruzilhada em T, depois
de pedir licença a Exu, numa noite de sábado ou segunda-feira
(ibidem: 34).
3) Trabalho para Pombagira Calunga
do Mar para despertar o interesse sexual de um homem: Numa meia-noite
de segunda-feira, arriar na praia, depois de pedir licença
a Ogum Beira-Mar e Iemanjá, um prato de barro contendo um limão,
um maço de cigarros, sete contas de porcelana, um pente e um
batom. Entrar na água e entregar, uma a uma, doze rosas amarelas.
Junto ao prato, acender sete velas vermelhas (ibidem: 42).
A umbanda praticamente eliminou o
sacrifício ritual, por isso Pombagira tem sua "dieta"
limitada aos seguintes alimentos: farofa de farinha de mandioca com
azeite de dendê e pimenta, que é o padê, comida
predileta de Exu; farofa de farinha de mandioca com mel; aguardente,
vinho branco ou champanhe (cidra, uma espécie de champanhe
barata feita de maçã); carne crua com azeite de dendê
e pimenta; farofa com carne-seca desfiada e pimenta; coração
de boi assado na brasa, com sal e pimenta. No candomblé, entretanto,
Pombagira recebe sacrifício votivo de galinhas pretas e, quando
se pretende atingir objetivos mais difíceis, de cabras pretas
e novilhas. Na umbanda a oferenda de alimento preferencialmente vai
para um lugar fora do terreiro (encruzilhada, praia etc.), mas no
candomblé as comidas são depositadas ao "pé
da Pombagira", isto é, junto às suas representações
materiais compostas de boneca de ferro (geralmente com chifres e rabo,
como o diabo), tridentes arredondados de ferro, lanças de ferro
e correntes (elementos presentes também nos pontos-riscados),
representações que permanecem guardadas, longe dos olhos
dos não-iniciados, nas dependências reservadas para o
culto de Exu.
Descobrir qual é a oferenda
certa para agradar Pombagira, e assim conseguir o favor almejado,
representa sempre um grande desafio para os pais e mães-de-santo
que presidem os cultos. O prestígio de muitos deles vem da
fama que alcançam por serem considerados, por seguidores e
clientes, bons conhecedores das fórmulas corretas para esse
agrado.
IV: O mundo de Pombagira e
dos Exus e o mundo dos homens
Se tanto os Exus masculinos como os
variadíssimos avatares, formas e invocações de
Pombagira, o Exu-Mulher, estão sincretizados com o demônio
católico, no dia-a-dia dos terreiros este dado tem importância
muito secundária. Esses diabos nem são tão maus
e nem seu culto soa estranho para os fiéis. Penso que ninguém
se imagina fazendo alguma coisa errada ao invocar, receber em transe,
cultuar ou simplesmente interagir com Pombagira. Quando um devoto
invoca Exu e Pombagira, dificilmente ele tem em mente estar tratando
com divindades diabólicas que impliquem qualquer aliança
com o inferno e as forças do mal. Na verdade, o que se observa
é uma grande intimidade com os Exus, a ponto de os fiéis
a eles se referirem carinhosamente e muito intimamente como "os
compadres".
Nos terreiros de umbanda e nos candomblés
que cultuam as formas umbandizadas de Exu, a concepção
mais generalizada de Pombagira, é de que se trata de uma entidade
muito parecida com os seres humanos. Ela teria tido uma vida passada
que espelha certamente uma das mais difíceis condições
humanas: a prostituição. Mas é justamente essa
condição que permitiu a ela um total conhecimento e
domínio de uma das mais difíceis áreas da vida
das pessoas comuns, que é a vida sexual e o relacionamento
humano fora dos padrões sociais de comportamento aceitos e
recomendados. Assim, acredita-se que Pombagira é dotada de
uma experiência de vida real e muito rica que a maioria dos
mortais jamais conheceu, e por isso seus conselhos e socorros vêm
de alguém que é capaz, antes de mais nada, de compreender
os desejos, fantasias, angústias e desespero alheios.
Para Monique Augras, Pombagira representa
uma espécie de recuperação brasileira de forças
e características de divindades africanas que, no Brasil, no
contato com a civilização católica, teriam passado
por um processo de "cristianização". Ela está
se referindo às Grandes Mães, as poderosas e temidas
Iyami Oshorongás dos Ioruba, quase esquecidas no Brasil, e
a Iemanjá, que ao se aclimar no Novo Mundo perdeu muito de
seus traços originais, modelando-se a um sincretismo com Nossa
Senhora que a tornou uma mãe quase assexuada, muito diferente
da figura africana sensual, envolvida em casos de paixões avassaladoras,
infidelidade, incesto e estupro (Augras, 1989).
Com Pombagira, no plano do ritual
que é desenvolvido para se atuar no governo do cotidiano, assegura-se
o acesso às dimensões mais próximas do mundo
da natureza, dos instintos, aspirações e desejos inconfessos,
o que estou chamando aqui de as faces inconfessas do Brasil. O culto
de Pombagira revela, de modo muito explícito esse lado "menos
nobre" da concepção popular de mundo e de agir
no mundo entre nós, o que é muito negador dos estereótipos
de brasileiro cordial, bonzinho, solidário e pacato. Com Pombagira
guerra é guerra, salve-se quem puder.
Devemos no lembrar que as religiões
afro-brasileiras são religiões que aceitam o mundo como
ele é. Este mundo é considerado o lugar onde todas as
realizações pessoais são moralmente desejáveis
e possíveis. O bom seguidor das religiões dos orixás
deve fazer todo o possível para que seus desejos se realizem,
pois é através da realização humana que
os deuses ficam mais fortes, e podem assim mais nos ajudar. Esse empenho
em ser feliz não pode se enfraquecer diante de nenhuma barreira,
mesmo que a felicidade implique o infortúnio do outro. De outro
lado, o código de moralidade dessas religiões, se é
que é possível usar aqui a idéia de moralidade,
estabelece uma relação de lealdade e de reciprocidade
entre o fiel e suas entidades divinas ou espirituais, nunca entre
os homens como comunidade solidária (Prandi, 1991a; Fry, 1975).
Na própria constituição dessas religiões
no Brasil, o culto dos ancestrais (egunguns) como a dimensão
religiosa controladora da moralidade, tal como na África de
então e sobretudo nas regiões de cultura iorubá,
foi em grande parte perdido, primeiro porque a moralidade no mundo
escravista estava sob o controle estrito do mundo do branco, com sua
religião católica, esta sim a grande fonte de orientação
do comportamento; segundo porque a escravidão desagregava a
família e destruía as referências tribais e do
clã, essenciais no culto do ancestral egungun. Vingou, das
religiões negras originárias, o culto dos orixás
(e voduns e inquices, estes diluídos e substituídos
pelos orixás), centrado na pessoa e na idéia já
contemporânea de reforçamento da individualidade através
do sacrifício iniciático, no candomblé, e depois
pela troca clientelística, na umbanda. De fato, as religiões
afro-brasileiras espelham muito as condições históricas
de sua formação: religiões de subalternos (primeiro
os escravos, depois os negros livres marginalizados, mais tarde os
pobres urbanos) que se formam também como religiões
subalternas, isto é, no mínimo, religiões tributárias
do catolicismo, que até hoje, em grande medida, aparece como
a religião que dá identidade aos seguidores dos cultos
afro-brasileiros. Quando as religiões dos orixás e voduns
eram religiões de grupos negros isolados (mais ou menos até
40 ou 50 anos atrás), o catolicismo, além de ser a face
voltada para o mundo branco exterior, dominante e ameaçador,
era ele também o elemento que, tendo o sincretismo como instrumento
operador, rompia com esse isolamento sócio-cultural para fazer
de todos, mais que negros, participantes de uma identidade nacional:
ser brasileiro. Mais tarde, quando as religiões afro-brasileiras
romperam com as barreiras de cor, geografia e origem, produzindo-se
suas novas modalidades de caráter universalizado, agora religiões
para todos, independente de cor e geografia, ainda que estes todos
sejam majoritariamente os pobres, a persistência do sincretismo
católico passou a indicar uma dependência estrutural
dessas religiões para com as fontes axiológicas mais
gerais referidas à sociedade brasileira. Ainda é o catolicismo
que diz o que é certo e o que é errado quando se trata
de se pensar a relação com o outro. Quando se busca,
contudo, romper momentaneamente com o código do que é
certo e errado, as religiões afro-brasileiras não têm
nenhuma objeção a apresentar, desde que se preservem
as prerrogativas das divindades. Mas a ruptura só pode ser
momentânea e em casos particulares, mesmo porque qualquer ruptura
definitiva acarretaria uma separação não somente
no âmbito da religião, mas no domínio mais geral
da vida em sociedade.
Não é de se estranhar,
portanto, que o culto a Pombagira faça parte do lado mais escondido
das religiões afro-brasileiras, que é conhecido sobretudo
pelo nome de quimbanda, pois as motivações básicas
do culto também pertencem a dimensões do indivíduo
muito encobertas pelos padrões de moralidade da sociedade ocidental-cristã.
Nem é de se estranhar que tenha sido a umbanda que melhor desenvolveu
esta entidade, pois foi a umbanda, como movimento de constituição
de uma religião referida aos orixás e aos pactos de
troca entre homem e divindade e ao mesmo tempo preocupada em absorver
a moralidade cristã, que separou o bem do mal, sendo portanto,
obrigada a criar panteões separados para dar conta de cada
um. Mas se, formalmente, a umbanda separou o mundo dos "demônios",
ela nunca pôde dispor deles nem tratá-los como entidades
das quais só nos cabe manter o maior afastamento possível,
sob pena de perdição e danação eterna.
Porque a umbanda nunca se cristianizou, ao contrário do que
pode fazer entender a idéia de sincretismo religioso: ela reconhece
o mal como um elemento constitutivo da natureza humana, e o descaracteriza
como mal, criando todas as possibilidades rituais para sua manipulação
a favor dos homens.
Por tudo isto se diz que as religiões
afro-brasileiras são religiões de liberação
da personalidade, pois não faz parte nem de seu ideário
nem de suas práticas rituais o acobertamento e aniquilamento
das paixões humanas de toda natureza, por mais recônditas
que sejam elas. Isto é exatamente o contrário do que
pregam e exercitam as religiões pentecostais, que são
o grande antagonista do candomblé e da umbanda nos dias de
hoje, a ponto de declararem a estas uma espécie de guerra santa,
que contamina, com intransigência e uso freqüente da violência
física, as periferias mais pobres das grandes cidades brasileiras
(Mariano, 1995).
Mas se as religiões afro-brasileiras
são, neste sentido, liberadoras do indivíduo, o fato
de elas supervalorizarem a relação homem–entidade
e darem pouca importância aos valores de solidariedade e justiça
social faz com que elas dotem seus seguidores de uma especial abordagem
mágica e egoísta do mundo, desinteressando-os da possibilidade
de ações no sentido de transformação do
mundo e de uma conseqüente participação política
importante, num contexto como o brasileiro, para a promoção
de qualquer idéia mais sólida e solidária de
liberdade (Prandi, 1993).
Na luta dos homens e mulheres brasileiros
que procuram o mundo dos Exus para a realização de seus
anseios mais íntimos — homens e mulheres que são
em geral de classes sociais médias-baixas e pobres, quase sempre
de pouca escolaridade e reduzida informação e para quem
as mudanças sociais têm trazido pouca ou nenhuma vantagem
real na qualidade de suas vidas — dona Pombagira representa
sem dúvida uma importante valorização da intimidade
de cada um, pois para Pombagira não existe desejo ilegítimo,
nem aspiração inalcançável, nem fantasia
reprovável. Como se existisse um mundo de felicidade, cujo
acesso ela controla e governa, que fosse exatamente o contrário
do frustrante mundo do nosso cotidiano.
* * *
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[1] Este artigo resulta de um projeto mais amplo de
pesquisa sobre religiões afro-brasileiras que venho realizando
desde 1987 em terreiros de candomblé e umbanda de São
Paulo. Para esse projeto, tenho tido contato também com terreiros
do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Distrito
Federal, Maranhão, Pará, Amazonas, Ceará e Rio
Grande do Sul, o que me permite, penso, poder trabalhar com classes
mais generalizantes de conclusões. Neste artigo, procurei usar
como fontes sobre a identidade de Pombagira as próprias cantigas
de culto que estão registradas por autores umbandistas e que,
de acordo com meu trabalho de campo, acham-se bastante disseminadas
pelo país. Igualmente, procuro não me prender a situações
muito peculiares e particulares deste ou aquele terreiro ou mesmo cidade.
Fonte: Do livro de Reginaldo Prandi,
Herdeiras do Axé.
São Paulo, Hucitec, 1996, Capítulo IV, pp. 139-164.
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Leia de Reginaldo Prandi
>
A dança dos caboclos
>
O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso
>
Deuses africanos no Brasil
>
Nas pegadas do Voduns : um terreiro de tambor-de-mina em São Paulo
>
Pombagira e as faces inconfessas do Brasil
>
Por que Exu é o primeiro?
>
Religiões afro-brasileiras e sua participação na cultura
nacional não religiosa
Leia também de Reginaldo Prandi; Armando Vallado
>
Xangô, Rei de Oió
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