Fernando
A. Moreira
> A Fé, as Obras e a Bíblia
“Tu tens a fé
e eu tenho as obras; mostre-me a tua fé sem as tuas obras,
que eu com as minhas obras mostrar-te-ei a minha fé.”
(Tiago 2, 24)
O Espiritismo nos destina a fé
raciocinada, lastreada, portanto, pela razão, sendo ela extremamente
dinâmica, nos fazendo obreiros do nosso progresso moral; esta
é a verdadeira fé; a fé com obras; a fé
que nos leva ao merecimento, pois “revela o seu objetivo,
que consiste em conduzir a criatura ao Criador, mediante a lei incoercível
da evolução”. (1)
É a fé que, como mola propulsora, nos impulsiona à
reforma íntima e a nossa ascensão espiritual; nos irmana
ao nosso próximo, luarizando a nossa evolução,
por remeter-nos à reparação de nossas faltas
e nos dando, por isso, força espiritual. “A fé
é o emblema da perfeição e a insígnia
do poder”, (2)
por isso carrega nela, “uma verdadeira força atrativa,
de sorte que aquele que não a possui opõe a corrente
fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força
de inércia, que paralisa a ação...”
(3)
A fé exerce assim o seu poder de cura, pois é a chave
que abre a porta da casa construída pelo nosso merecimento,
para que possamos ser beneficiados pelos fluidos da justiça
divina; (ver figura) a fé nos eleva a Deus e O traz até
nós, deixando-nos usufruir a Sua bondade infinita. Esta “graça”,
no entanto, só acontece, quando existe este anelamento entre
a nossa fé e o nosso merecimento.
“A
fé é força que irradia como energia operante
e, por isso, consegue remover as montanhas das dificuldades, aplainar
as arestas do conflito, minar as resistências que se opõem
à marcha do progresso.” (4)
A fé cega, ao contrário, é estática e
acaba estagnada no fanatismo; é a fé sem obras e “(...)
que aproveitará, irmãos meus, a um que diz que tem
fé se não tem obras? Acaso podê-lo-á salvar
a fé? (...) a fé se não tiver obras é
morta em si mesma.” (Tiago
2, 17)
Obra, segundo a conotação bíblica, é o
cumprimento dos nossos deveres morais e as boas obras têm mérito
e serão recompensadas, porque, “a cada um será
dado, segundo as suas obras.” (Mateus
16, 27)
No Evangelho, no episódio da cura do servo do centurião
romano (Lucas: 7, 1-10),
este tendo ouvido falar de Jesus, mandou suplicar por alguns anciãos
judeus, que viesse curar o seu servo e eles se dirigindo a Jesus,
imploraram seu concurso, dizendo: “É um homem que
merece lhe faças esta graça, pois que ama o nosso povo
e nos edificou uma sinagoga.” Supõe-se que eles
sabiam que Jesus valorizava o merecimento e por isso, invocaram o
argumento, e Ele o curou, e só o faria nestas primeiras circunstâncias.
Na parábola da mulher hemorroíssa,
que padecia de hemorragia há doze anos, (Marcos,
5, 21-43) esta veio-lhe da multidão
e tocou-lhe a capa, na certeza inquebrantável de que ficaria
sã e Jesus dirigindo-se a ela, assim se expressou: “Filha,
a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica curada do teu mal.”
Ainda no Evangelho, na parábola da cura dos dez
leprosos, (Lucas 17, 11-19)
Jesus se dirigiu ao samaritano, único dos dez que havia retornado
para, prostrado aos seus pés, render-lhe graças, pronunciando
as seguintes palavras: “Levanta-te, vai, tua fé te
salvou.”
Os outros nove haviam sido curados, mas só o samaritano estava,
assim como a mulher hemorroíssa, salvo pela fé; “salvo
sim porque ela fez desabrochar na alma do samaritano o valor, a alegria
sã, a gratidão.” (5)
Ao paralítico na piscina, depois de curado,
Jesus disse: “Olha, já estás são; não
peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior.”
(João 5, 1-14)
Havia aí, pois, um condicionamento para a perpetuação
daquela cura, que era o de não pecar mais, mantendo-se na prática
das boas obras, para que não lhe sucedesse a recidiva, ou coisa
pior.
Nós espíritas temos que ser, os obreiros do amor, em
relação ao nosso próximo, amando-o como a nós
mesmos e, portanto, também nos amando, como a ele mesmo; acreditar
em Deus, acreditando em si mesmo, sendo “filhos legítimos
da fé que pensa, da fé que desvenda a imortalidade,
da fé que conduz a Deus.” (6)
A fé é, assim, a luz da esperança; a esperança
a dinamizadora da caridade, e a caridade a fonte da reforma íntima,
só conseguida pela ação, espelhada na vivência
dentro dos preceitos evangélicos. “A vida de Jesus
constitui a obra programada pela fé.” (7)
Não se pode questionar esta sincronização entre
o amor, a fé e as obras, contra os argumentos na interpretação
errônea dos textos bíblicos, muita vez com dolo, de que
“só a fé salva e obras nada valem”.
Citaremos, na bibliografia, algumas referências de alguns destes
mesmos textos, inclusive os selecionados no nosso trabalho, (8)
para que não paire qualquer dúvida, sobre o que neles
foi dito.
“Infelizes daqueles que usam a fé para crescer no
materialismo”, (9)
porque, “Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor!, entrarão
no reino dos céus; aquele, porém, que fizer a vontade
de meu Pai que está nos céus, esse entrará no
reino dos céus.” (Mateus
7, 21)
BIBLIOGRAFIA
(1) VINÍCIUS. Na Seara do Mestre; 5ª
ed.: FEB, 1985, pg 57.
(2) SCHUTEL, Caibar . Parábolas e Ensinos de Jesus: 13ª
ed., SP: Casa Ed. “O Clarim”, 1993, pg. 261.
(3) SANTANNA, Ernani. Notações a um Aprendiz, RJ: FEB,
1991, pg. 39.
(4) FRANCO, Divaldo. Jesus e o Evangelho_ À Luz da Psicologia
Profunda. Pelo Espírito Joanna de Angelis. 1ª ed., RJ: Liv.
Esp. Alvorada. Ed., 2000, pg. 165.
(5) VINÍCIUS. Nas Pegadas do Mestre: 7ª ed., FEB, 1989,
pg. 50.
(6) SCHUTEL, Caibar. “O C|LARIM”, Casa Ed. O Clarim, SP,
maio, 2000, pg. 5.
(7) MAIA, João Nunes. Pelo Espírito MIRAMEZ. Cristos,
1ª ed., 1989, pg. 163.
(8) Gênesis (4, 7); Salmos (27, 4-5); Provérbios (11, 18);
Eclesiástico (36, 18); Mateus (5, 12; 7,15-20; 10, 40-42; 16,
27; 25, 31-40; Lucas (7, 1-10; 17); João (3, 20); Romanos (2,
5-11); Coríntios (I; 13,3; II: 5, 10); Hebreus (6, 10); Tiago
(2, 14-18; 2 ,24); Apocalipse (22, 12).
(9) GLASSER, Abel, pelo Espírito SCHUTEL, Caibar. Fundamentos
da Reforma Íntima: 4ª ed., Casa Ed. O Clarim, 2000, pg.
84.
Fonte: http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/fernandomoreira/fernando-0006.htm
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs/A_FE_AS_OBRAS_E_A_BLI.html
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