Fernando
A. Moreira
> A fatalidade na interpretação
Espírita
A fatalidade vem sendo a vilã
nas doutrinas não reencarnacionistas, para explicar as ocorrências
que representam para elas, uma predeterminação e infalibilidade
completa dos acontecimentos, qualquer que seja sua natureza, boa ou
má; o infalível, o inevitável, o irrevogável,
o funesto, o decisivo, o inadiável, o nefasto, o pré-estabelecido.
Seria assim, representativa da vontade de Deus, sem no entanto explicarem
o porquê dessa vontade optativa para uns e não para outros,
e das suas relações com a justiça divina; estaríamos
assim, vulneráveis ao fatalismo, ao destino, à sorte
e ao azar. Haveria um determinismo e tudo o que acontecesse estaria
pré-estabelecido, nada se podendo fazer contra ele, ou vinculado
a casualidade.
Para nós espíritas, no entanto, nada acontece por acaso
e a fatalidade não é um acontecimento pré-determinado
ou ocasional, é uma construção; quando escolhemos
as nossas provas nós somos os artífices delas, os “construtores
do nosso destino e cada pessoa encontra-se num contexto parcialmente
determinado pelo conjunto de suas ações desta vida,
das vidas anteriores e dos períodos na erraticidade,”
(01) e portanto a fatalidade, vem depois
do livre arbítrio do Espírito; a matéria não
tem livre arbítrio, esta sim, está sujeita a fatalidade,
porque é dependente de leis biológicas e físico-químicas,
numa relação de causa e efeito.
“A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito
fez, ao encarnar, desta ou daquela forma para sofrer. Escolhendo-a,
institui para si uma espécie de destino, que é a conseqüência
mesma da posição em que vem achar-se colocado.”
(02)
Na figura (no final deste texto) vemos a programação
reencarnatória estabelecida pela espiritualidade superior,
adaptando o gênero das provas, escolhida pelo Espírito
e as expiações por eles imposta, de acordo com as necessidades
deste mesmo Espírito. Este pode, no entanto, ignorar ou rebelar-se
contra o protocolo pré-estabelecido e agindo por seu livre
arbítrio, trilhar outro caminho, tentando burlar a lei, com
graves conseqüências para o seu Espírito, repercussões
no seu perispírito e às vezes até, imediatamente
imprimidas no seu corpo físico.
O câncer de pulmão, por exemplo, pode não ter
sido nem prova, nem expiação, mas se o homem fuma desbragadamente,
o cigarro pode agir desencadeando a doença, quando existirem
causas predisponentes, ou em caso contrário, determinando-a,
sem que tivesse havido nenhuma eleição anterior dele
ou da espiritualidade; a conseqüência fatal, a morte prematura,
também não correspondia a nenhum processo estabelecido
no planejamento da recorporificação do Espírito.
O mau uso de seu livre arbítrio e que o levou aquela fatalidade,
ao infortúnio.
“Na realidade nós somos o que fomos, encontrando-se gravadas
no nosso perispírito, todas as nossas vivências e experiências
pregressas, a se transmitir através do modelo organizador biológico
ao novo corpo físico, não como uma fatalidade, mas como
um ponto de partida, podendo ser modificada, na decorrência
do que realizarmos de positivo ou negativo, na edificação
de nossa proposta reencarnatória.” (03)
Quando nós persistimos no erro, no endurecimento, sujeitamo-nos
às reencarnações compulsórias e portanto
às expiações; a Lei do Progresso é fatal
para o Espírito, que inexoravelmente seguirá o caminho
da evolução e da felicidade. Quando Jesus nos convocou
usando as palavras, “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial
o é” (Mateus, 5:48),
colocou o verbo no imperativo, que determina assim que a perfeição
terá que ser atingida, evidenciando o caminho na busca eterna
por ela, que é o destino de todos nós, único
compatível com a bondade, a misericórdia e a justiça
infinitas de Deus. A Doutrina Espírita nos mostra que, graças
esta essência do nosso Pai Celestial, nós nunca seremos
deserdados, pois é inconciliável com ela, a nossa condenação
a penas eternas, e alcançaremos através de reencarnações
sucessivas, o que foi determinado, pois seremos todos não o
que queremos, mas o que devemos ser; a lei do progresso, da reencarnação
e de causa e efeito, estão também aneladas ao amor,
a misericórdia e a justiça, no rosário iluminado
da infinita grandeza divina.
Acreditamos numa programação reencarnatória,
um protocolo pré-estabelecido no Ministério da Regeneração,
feita pela Espiritualidade Superior, sob a égide de Deus, que
seriam então, completamente incompetentes, se houvesse fatalidade
para acontecimentos espirituais. Se o Espírito está
cumprindo, no uso de seu livre arbítrio, a sua programação
reencarnatória, não há como, pois, ser visitado
pela fatalidade; outro Espírito não poderá se
intrometer e quebrar os elos, estabelecidos neste programa.
“O determinismo, representado pelas leis de Deus, ou
pela ação de Seus emissários, atuam no sentido
de que terceiros não sejam atingidos pelo mau uso do seu livre-arbítrio,
quando não o merecem.” (04)
O merecimento preserva o Espírito da fatalidade, de acordo
com o que foi estabelecido pela lei de Deus, que não pode ser
transgredida ou anulada.
“Nem livre arbítrio, nem determinismo absolutos,
na encarnação, mas liberdade condicionada”
(Bozzano, Ernesto, 1930) (05)
O livre arbítrio existe dentro da lei de liberdade e esta última,
termina no limite entre a nossa e a do nosso semelhante; o entrelaçamento
e os acontecimentos aparentemente fatais, nada mais são do
que processos cármicos, consentidos pela espiritualidade.
“É o escândalo que há de vir; e
que irá expiar, e daí - ai daquele por quem vier.”(...)
A vítima sofre as conseqüências por seus atos anteriores;
foi por ela que viera anteriormente o escândalo. Ai dela agora.”
Aproveitou-se, apenas, o momento ruim para o resgate da pena do outro,
que ocorreria mesmo sem a sua anuência..” (06)
Ninguém nasce para ser assassino ou estuprador, mas colocado
na posição de carrasco, cede a sua má inclinação
e executa a ação, pelo mau uso de seu livre arbítrio;
poderia ter resistido e não tê-la praticado, pois a opção
foi sua.
“Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre
do próprio homem que, por conseguinte tem sempre a liberdade
de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.”
(02)
A vítima, por sua sintonia, colocou-se em posição
de submeter-se à ação do criminoso, que se tivesse
se negado a praticá-la, dar-se-ia da mesma forma, seria do
mesmo gênero, embora fosse outro o veículo que iria executá-la,
pois “cada um terá que carpir seus próprios
erros.” (07)
A fatalidade física, o momento da morte virá naturalmente,
no tempo e maneira pré-estabelecida, a não ser que o
precipitemos, pelo uso de nosso livre arbítrio (v.g. suicídio).
Instante é um momento, um espaço de tempo indefinido,
mais ou menos elástico, diferente de hora, minuto e segundo
da morte.
“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só
o instante da morte o é” (02)
É evidente que Deus a tudo prevê, mas os acontecimentos
não estão a isso condicionados; Deus previu as nossas
ações, mas nós não agimos porque Deus
previu, mas porque utilizamos o nosso livre arbítrio, desta
ou daquela maneira e Ele, tinha ciência dessa nossa maneira
de agir.
“(...) os eventos previstos já existiam na memória
de Deus. Isso não quer dizer que cada um de nós tenha
que passar por ali obrigatoriamente, mas que Deus, na majestade de
sua postura intemporal, já nos viu, no futuro passando por
ali.” (05)
Isto contradiz o conceito de que já aconteceu o futuro e que
nada podemos fazer para mudá-lo .
Agora se usamos tóxicos, guiamos nosso carro a 200 km/h ou
atravessamos uma avenida, de intenso movimento de automóveis,
de olhos cerrados, por exemplo, estamos no expondo e nos sujeitando
a “fatalidade”, mas antes do nosso procedimento
errôneo, utilizamos o nosso livre-arbítrio.
Nós moldamos nosso futuro, balizados na evolução
do nosso Espírito e organizada nossa programação
reencarnatória, inclusive o instante pré-fixado do nosso
nascimento, que também não é fatal, cabe-nos
cumpri-la, mas de acordo com nossas ações caridosas,
por nossa vivência no amor, poderemos minimizar nossos débitos
e nosso sofrimento, conseguindo moratória para a nossa dívida,
pois “a caridade cobrirá uma multidão
de pecados” (I Pedro,
4: 08)
Deus, por ser infinitamente bom, justo e misericordioso nos criou
Espíritos simples e ignorantes, para que sejamos Espíritos
glorificados; só há glória quando há mérito
e Ele quer que a atinjamos por nossos próprios méritos,
no sábio uso do nosso livre arbítrio.
A espiritualidade superior não tem qualquer compromisso com
a fatalidade, podendo alterar nosso programa de acordo com o nosso
merecimento; para ela, sobre o prisma espiritual, a fatalidade não
é fatal, podendo ser modificada, já que “é
possível renovar nosso destino todos os dias.”
(07)
Jesus, nosso mestre, modelo amigo e estrela-guia nos legou o cintilo
de suas parábolas, a nos iluminar o caminho; cabe a nós
caminharmos na sua direção, calcando o Evangelho, porque
“a cada um será dado segundo as suas obras.”
(Mateus,16:27)
BIBLIOGRAFIA:
01-CHIBENI, Sílvio e Sílvia; A Concepção
Espírita da Fatalidade; “Reformador”, junho/1997,
pg.21.
02-KARDEC, Allan; “O Livro dos Espíritos”; FEB,1944,
perg.: 851, 853 e 861; pg. 390, 391 e 394.
03-MOREIRA, Fernando A.; Reencarnação e Genética;
“Revista Internacional de Espiritismo”, mar/2000, pg.56.
04-EDITORIAL; Existência e Vida, “O Clarim”, novembro/2001,
pg. 02.
05-MIRANDA, Hermínio; “Diversidade dos Carismas”,
Publicações Lachâtre, 2ª ed., 1994, vol. I,
pg. 299 e 300.
06-EDITORIAL; Livre Arbítrio e Morte Prematura, “Mundo
Espírita”, agosto/1997, pg.2.
07-SOUZA, Juvanir Borges; “O que dizem os Espíritos sobre
o aborto”, FEB, 1ª ed., 2001, pg. 167 e 215.
BIBLIOGRAFIA:
01-CHIBENI, Sílvio e Sílvia; A Concepção
Espírita da Fatalidade; “Reformador”, junho/1997,
pg.21.
02-KARDEC, Allan; “O Livro dos Espíritos”; FEB,1944,
perg.: 851, 853 e 861; pg. 390, 391 e 394.
03-MOREIRA, Fernando A.; Reencarnação e Genética;
“Revista Internacional de Espiritismo”, mar/2000, pg.56.
04-EDITORIAL; Existência e Vida, “O Clarim”, novembro/2001,
pg. 02.
05-MIRANDA, Hermínio; “Diversidade dos Carismas”,
Publicações Lachâtre, 2ª ed., 1994, vol. I,
pg. 299 e 300.
06-EDITORIAL; Livre Arbítrio e Morte Prematura, “Mundo
Espírita”, agosto/1997, pg.2.
07-SOUZA, Juvanir Borges; “O que dizem os Espíritos sobre
o aborto”, FEB, 1ª ed., 2001, pg. 167 e 215.
Fonte:
http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/fernandomoreira/
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs/A_FAT_NA_INT_ESPIRITA_FM.html
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