"...mas,
se não perdoardes aos homens quando vos tenham
ofendido,
vosso Pai Celestial também não vos perdoará
os pecados."
S. Mateus, cap. XVIII, vv.
15, 21 e 22.
Inúmeras vezes, Jesus nas suas parábolas fez referência
ao perdão, para que ficasse bem nítida a sua importância
no nosso relacionamento com o nosso próximo e pudéssemos
dimensionar a bondade, a misericórdia e a justiça divina,
que irão balizar o caminho de nossa evolução.
"(...) - Então, aproximando-se
dele, disse-lhe Pedro: 'Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão,
quando houver pecado contra mim? Até sete vezes ?' Respondeu-lhe
Jesus: 'Não vos digo que perdoareis até sete vezes,
mas até setenta vezes sete vezes." (S.
Mateus, cap. XVIII, vv. 15, 21, 22.)
Jesus deixa bem claro que não há limite
para o perdão, que não pode ser contado, porque sendo
ele o esquecimento da ofensa, como é apagado, nada sobra para
se contar. Perdoar até setenta vezes sete vezes eqüivale
a dizer que temos que perdoar sempre, sendo o perdão, pois,
incondicional; é o perdão do coração.
Mas, às vezes concedemos somente o perdão dos lábios,
o falso perdão:
"Eu o perdôo, mas
não esquecerei jamais o que me fez."
Mais além afirmamos:
"- Entrego à Deus e à sua justiça",
quando na realidade, estamos desejando a sua condenação;
não temos nenhuma procuração divina para assim
nos referirmos, mesmo porque, desde que Deus nos criou, já
a Ele estamos entregues.
Freqüentemente também dizemos ou ouvimos
dizer:
"- Se ele vier se desculpar,
eu o perdôo."
Esta é uma atitude orgulhosa, estática
e condicional, se contrapondo aos ensinamentos de Jesus, que nos mostrou
de quem deve ser a iniciativa e em que momento deve-se perdoar nestas
três passagens evangélicas:
" Se contra vos pecou
vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular,
a sós com ele; se vos atender tereis ganho o vosso irmão."
(Mateus; XVIII, 15)
"Reconciliai-vos o mais depressa possível
com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho,
para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não
vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido
em prisão. - Digo-vos, em verdade, que daí não
saireis, enquanto não tiveres pago o último ceitil."
(Mateus: V, 25 e 26)
"Se, portanto, quando
depor vossa oferenda, vos lembrardes que o vosso irmão tem
qualquer coisa contra vos, deixai a vossa dádiva junto do
altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso irmão; depois
então voltai a oferecê-la."
(Mateus, cap. V, vv. 23, 24)
Fica bastante evidente que a iniciativa da reconciliação
deve ser nossa, quer sejamos os ofendidos ou os ofensores, isto é,
sempre. Igualmente depreende-se que a atitude é extremamente
dinâmica, urgente; temos que ir de encontro ao nosso irmão
e isto, não deve ser deixado para amanhã, para a outra
reencarnação; é para hoje, enquanto ele está
no nosso caminho.
Quando nós não perdoamos, sintonizamos
com o adversário. A ele, nos vinculamos agora pelo ressentimento,
mágoa, raiva, ódio, despertando o desejo de vingança,
para encontra-lo mais além como obsessor, podendo, às
vezes, chegar até ao grau de subjugação ou possessão.
Nos estabecemos no círculo do endividamento, perante ao inimigo
e a nós mesmos e, em última análise, perante
à lei divina.
No entanto, ao termos misericórdia e agirmos
com amor, nós perdoamos e nos libertamos para a nosso progresso
espiritual, cumprimos a lei, estamos com ela, porque " (...)
quem assim procede, põe de seu lado o bom direito e Deus não
consente que, aquele que perdoou, sofra qualquer vingança."
(1)
"Perdoar os inimigos é pedir perdão
para si próprio; perdoar os amigos é dar uma prova
de amizade.; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que
era.(...)" (1)
Jesus assim se pronunciou a respeito dos nossos desafetos:
"Amai vossos inimigos,
fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos
perseguem e caluniam, para serdes filhos do vosso Pai ". (Mateus,
5: 43-47)
Amar os inimigos é dar a outra face, isto
é, ante à face do mal, mostrar a face do bem.
"Feliz, pois, daquele
que pode todas as noites adormecer dizendo: Nada tenho contra o
meu próximo." (1).
Quem assim procede, pode orar, falar com Deus: "Perdoai as
nossas ofensas, assim como perdoamos aos que nos hão ofendido."
(Mateus, 6:9-13)
Às vezes, o que nos leva a não
administrarmos o perdão é o sentimento de que o outro
é que está errado, porque os faróis dos outros
automóveis sempre nos parecem mais ofuscantes do que os nossos;
é o egoísmo e o orgulho que fazem o homem dissimular
seus defeitos. Julgamos os outros com a nossa justiça falha
e deformada, olvidando os ensinamentos evangélicos.
"Não julgueis para não
seres julgados; - porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado
os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos
tenhais servido para com os outros." (Mateus,
cap. VII, vv. 1,2.)
De igual teor é a "Parábola da
mulher adúltera" (João, cap.
VIII, vv. 3 a 11)
"Aquele dentre vos que
estiver sem pecado, atire a primeira pedra."
Noutra ocasião, na "Parábola
do credor incompassivo", Jesus compara o Reino dos Céus
a um rei, que resolveu ajustar contas com um servo que lhe devia dez
mil talentos; como este, não lhe pudesse pagar, ordenou que
fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos e seus bens. Após
dramáticos apelos, o rei compadeceu-se dele e perdoou suas
dívidas. Ele, porém, ao libertar-se, encontrou-se com
um companheiro que lhe devia cem denários, quantia infinitamente
inferior. Como também, este não teria como lhe pagar,
fez-lhe idênticos e dramáticos apelos mas ele, ao contrário,
não o atendeu, deixando-o preso. Ao saber disso, o rei se indignou,
entregando seu devedor aos verdugos até que ele lhe pagasse
tudo o que devia, indagando: - Tu não devias ter tido compaixão
do teu companheiro como eu tive de ti?
Completa então, Jesus:
"Assim também meu
Pai Celestial vos fará, se cada um de vos do íntimo
do coração não perdoar a seu irmão."
(Mateus, XVIII 21- 35)
Portanto, não perdoar as ofensas é
uma das formas de ir contra a lei e assim fazer recair sobre si a
justiça divina; é ingressar no terreno da ofensa à
lei e "daí não sairá enquanto não
tiver pago o último ceitil."
Só será possível
retirar-se deste terreno, fazendo esse ressarcimento entrando-se na
CASA DO PERDÃO, e escolhendo-se entre duas opções;
primeira, o caminho do arrependimento, que é o prelúdio,
a ante-sala do perdão. É o primeiro passo, mas não
o único, porque a "graça", com que acenam
outras doutrinas em que basta arrepender-se para daí sair não
faz parte da justiça divina que não anistia, mas anula,
após a quitação da dívida. Essa anistia,
essa "graça", "de graça", seria
uma injustiça para o ofensor, uma desgraça, um perdão
sem reforma, pois assim lhe roubaria a oportunidade de se educar e
evoluir, e para o ofendido, que também não poderia se
ressarcir das perdas sofridas. O segundo cômodo desta opção
é a reforma íntima. "A persistência do indivíduo
no descobrimento dos próprios defeitos ampliará consideravelmente
o âmbito de possibilidade de êxito. Somente quem sabe
os males que possui, pode cura-los."(2) A reforma íntima
"deixa de ser algo constrangedor ou como exigência de conquista
do dia para a noite, para ser entendida como algo que conquistaremos
gradativamente, através do esforço pessoal que a Doutrina
vai aos poucos interiorizando nos corações." (3)
Admitindo sua culpa e arrependendo-se,
promovendo-se a conscientização do erro, a avaliação
da dívida, impõe-se a passagem ao terceiro cômodo,
a reparação, que é um ato de amor, uma doação
nesta encarnação ou uma prova noutra existência.
"Quem perdoa (de coração),
ama, e quem ama, não se endivida, não contrai débitos,
prevenindo-se de períodos expiatórios (...). Harmoniza-se
com as leis do Criador." (4)
"Quem não repara
pelo amor", permanecendo na inércia e no endurecimento,
recai na segunda opção da CASA DO PERDÃO, "resgata
pela dor, e resgates são expiações." (4)
Este cômodo é o mais sombrio e dorido da CASA DO PERDÃO,
representando o caminho mais difícil para se deixá-la
, mas por qualquer das duas opções alcançamos
a saída da CASA DO PERDÃO, o perdão divino e
a nossa evolução.
A CASA DO PERDÃO é
a construção do nosso Pai Eterno, bálsamo da
sua justiça e que infinitamente sábio, bom e misericordioso,
não iria exigir de nós que perdoássemos sempre,
se Ele também assim não procedesse (5).
Portanto, como nos ensina a Doutrina Espírita, calcada no Evangelho
de Jesus, nós nunca seremos deserdados, porque o Criador, nosso
Pai amoroso, não nos condena à penas eternas, nos perdoando
sempre, mas, como bom educador, nos remete a um novo ensino, dando-nos
uma nova oportunidade, um novo renascimento na carne, para que alcancemos
fatalmente nossa meta, a perfeição.
Isto fica bem evidente na parábola do "Filho
pródigo e do irmão egoísta". (6)
Um homem tinha dois filhos e o mais
moço requisitou sua herança e atendido, partiu para
um país longínquo, onde dissipou toda a fortuna, vivendo
dissolutamente. Em conseqüência disso, tornou-se pobre,
passando fome e vivendo entre os porcos.
Arrependido, resolve voltar a seu pai e lhe diz: - Pai, pequei contra
o céu e diante de ti; já não sou digno de ser
chamado seu filho.
O pai, no entretanto, teve compaixão dele e correndo o abraçou
e o beijou. Mandou que seus servos o vestissem com a melhor roupa,
lhe colocassem sandálias nos pés e anel no dedo e matassem
um novilho, promovendo uma festa com música e dança.
O filho egoísta indignou-se com o tratamento dado a seu irmão,
pela bondade e misericórdia do pai, mas este retrucou: - Filho,
tu sempre estais comigo e tudo o que tenho é teu, entretanto
cumpre regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão,
era morto e reviveu, estava perdido e se achou. (Lucas
15:11-32)
Vamos, enquanto nos encontramos a
caminho, amar ao próximo como a nos mesmos, perdoando nossos
inimigos, nos perdoando e promovendo a nossa reforma íntima,
único roteiro para conquistarmos, ressarcidos nossos débitos,
o perdão divino e alcançarmos a nossa evolução.
Para isso peçamos a inspiração
do nosso Mestre amado, que na cruz, na intercorrência de seus
algozes, pediu ao Pai:
"- Perdoai-lhes, eles não sabem
o que fazem."
BIBLIOGRAFIA