A revelação mosaica (Velho Testamento)
está separada da Boa Nova (Novo Testamento), esculpida por
Jesus, por um período de várias décadas, e
sem infringi-la, Ele a amplia e lhe concede novos prismas, depurando-a,
porque declarou:
“Não pensais
que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruí-los,
mas dar-lhes cumprimento”
(Mateus; 5:17).
“As traduções
vulgares trazem ‘cumprir’, o que não seria nada
de extraordinário, já que todos nós viemos
cumprir a lei (...). Todavia o verbo plêrôsai (do grego)
significa “completar”. (01)
Deu Jesus, perante Pilatos, testemunha da verdade,
apanágio de qualquer revelação divina, ao declarar:
“Todo aquele que é da verdade ouve a minha
voz.” Retruca Pilatos então: “Mas
o que é a verdade?”
(João; 18: 37, 38)
Revelar é descobrir, retirar os véus, e os que impediam-no
de ver a verdade, que estava bem ali à sua frente, não
se encontravam, entretanto, próximas ao olhar do nazareno,
mas colados a seus próprios olhos. São os mesmos que,
às vezes, se grudam nos nossos e como diz o adágio
popular, “o pior cego é o que não quer ver”.
O evangelho de Jesus é um legado para a humanidade, um jardim
de flores inesgotáveis e quanto mais nele penetrarmos, mais
iremos perceber os seus aromas, os seus viços e os seus matizes.
Jesus é a nossa centelha divina, a “Luz do Mundo”,
estrela-guia cujo esplendor nos alumbrou com o cintilo de suas parábolas,
para irradiar as letras do Velho Pergaminho a se refletirem nos
jardins de nossas vidas, e nós, espíritas, conhecedores
destas palavras do Mestre, temos especial responsabilidade na interpretação
e no cumprimento de seus ensinamentos, porque “a quem muito
foi dado, muito será exigido.”
(Lucas; 12: 47 e 48)
A primeira revelação, mosaica, foi apropriada para
a época e para o povo, ao qual se destinou, desvelou, como
profeta, a existência de um Deus único, promulgou a
lei do Sinai e nos deu as bases da verdadeira fé.
(02)
Na Boa Nova, a Segunda Revelação, efetuou Jesus o
burilamento da primeira, dando-lhe “o verdadeiro sentido e
adaptando-a ao grau de adiantamento dos homens.” (03)
Separa o que é divino, os Mandamentos, do que é de
Moisés, sua legislação.
A expressão ‘a
lei e os profetas’ exprime o Antigo Testamento, que é
o símbolo da personagem terrena; o Novo Testamento é
o Reino de Deus, que é o campo da Individualidade. Moisés
legislou para a personalidade terrena; Jesus para a individualidade
espiritual. O reino da personalidade durou até João,
que foi o maior ‘entre os filhos de mulher’, ao passo
que Jesus é o ‘Filho do Homem’. (...) Até
João ainda vigoravam os preceitos para a personalidade,
que perderam sua razão de ser nesse nível, porque
foram completados e aperfeiçoados pela vinda de Jesus,
que os elevou, para aplica-los e adapta-los à individualidade.
(...) A lei mosaica foi escrita para a personagem transitória,
e portanto transitória ela mesma.” (04)
Recapitulemos assim, no Novo
Testamento:
“Ouviste o que foi dito: olho por olho,
dente por dente. Eu, porém vos digo (...) a qualquer um
que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”
(...) “amarás o teu próximo e odiarás
o teu inimigo. Eu, porém vos digo: amai os vossos inimigos
e orai pelo que vos perseguem.” (Mateus;
5: 38, 39, 43 e 44)
Materializemos isto, no episódio do apedrejamento da adúltera:
“Então os escribas
e fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério
e, pondo-a de pé diante do povo, - disseram: ‘Mestre,
esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; ora
- Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras.
Qual sobre isto a tua opinião?’ (João; 8:
3-11) A parábola é por deveras conhecida e quando
Jesus pergunta: "Mulher onde estão aqueles teus acusadores?
Ninguém te condenou? Responde ela: Ninguém Senhor.
Então lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai
e não peques mais" (João;8:
3-11).
Fica bastante claro que Ele,
nestas últimas citações, contrariou a lei mosaica
e expandindo o amor, lhes deu os desfechos pertinentes à
Boa Nova.
Confere, assim Jesus, novos prismas à Divindade. Descortina
o Deus da Paz e nos mostra que “o Pai demonstra o desejo incondicional
do bem, que é o amor, para toda a criação.
Fomos criados para a felicidade, a glória e a luz; esse é
o determinismo divino!” (06)
Não um Deus cruel, terrível, ciumento, vingativo e
implacável, “que rega a terra com o sangue humano,
que ordena o massacre e o extermínio dos povos, sem excetuar
as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga aqueles
que poupam as vítimas; já não é um Deus
injusto, que pune um povo inteiro pela falta de seu chefe, que se
vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pela
falta dos pais; mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom,
cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa o pecador
arrependido e dá a cada um segundo as suas obras”.
(...) Já não é o Deus que quer ser temido,
mas que quer ser amado”. (02)
Para o “nosso” Deus, que é “um só
Deus, e Pai de todos” (Efésios;
4: 6), não há faltas irremissíveis,
e Jesus não iria proclamar que perdoemos setenta vezes sete,
isto é, sempre, se Deus, infinitamente bom e misericordioso
não fizesse o mesmo.
A Boa Nova está toda esculpida no amor e para amplia-lo,
Jesus sintetiza os dez mandamentos, em apenas dois: Amar a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e acrescenta:
“Destes dois mandamentos depende toda lei e os profetas.”
(Mateus; 22: 37-40)
Amar a Deus, se amar e amar ao próximo, eis os objetivos
da segunda revelação, porque quem não se ama,
não pode amar ao próximo como a si mesmo,
consistindo, esta última afirmação, destacada
em negrito, a regra áurea do Cristianismo.
Jesus, na escultura de seu Evangelho, também nos deu testemunho
da imortalidade, da comunicabilidade e da evocação
dos Espíritos, evidentes na seguinte passagem:
“(...) tomou Jesus
consigo a Pedro, a Tiago e a João, e os levou em particular
a um alto monte. E foi transfigurado diante deles. (...) E lhes
apareceu Elias com Moisés, e estes falavam com Jesus.(...)
E veio uma nuvem que os envolveu; e delas saiu uma voz dizendo:
Este é meu filho dileto; ouvi-o”.
(Marcos; 9: 2-8)
Este episódio no Tabor,
Jesus desvelou-se; “foi o monte da comunhão espiritual
no seu sentido mais elevado” (07)
desenvolvendo Ele uma reunião mediúnica histórica.
“João representou
os profetas; Jesus é a Graça e a Verdade, que recebeu
no Tabor os testemunhos da Lei, pelo Espírito de Moisés,
e da profecia, pelo Espírito de Elias”.
(08)
Asseverou-nos Jesus, Governador
deste planeta:
“Eu sou o caminho,
a verdade e a vida; ninguém pode ir ao Pai, senão
por mim”. (João 14;
6)
Ele nos apontou o caminho,
o amor; a verdade - o seu Evangelho; e, a vida;
que é a conseqüência de nossa reforma íntima,
a evolução moral de nosso Espírito imortal,
na busca incessante da felicidade, que só será conseguida
calcando-se nas premissas anteriores, e para a qual nos criou nosso
Pai Amoroso.
Reafirmamos assim, que não pode haver justiça divina
sem reencarnação, sendo este, um processo não
punitivo, mas educativo, concedido por Deus, que nos criou simples
e ignorantes, na certeza de que pela nossa evolução
espiritual, através de reencarnações sucessivas
neste nosso mundo e na pluralidade dos mundos habitados, todos
alcançaremos a perfeição e a felicidade. Todos,
porque Ele mesmo ensinou que: “das ovelhas que meu Pai me
confiou, nenhuma se perderá”. (Mateus:
18:14)
Jesus refere-se à reencarnação em várias
passagens de seu evangelho. Pincemos apenas duas.
“Não existe um modo mais contundente
e categórico para afirmar que João Batista tem a
mesma identidade espiritual de Elias. (...) Elas foram proferidas
pelo próprio Jesus em duas ocasiões diferentes,
e de duas maneiras também diferentes.” (09)
Falando de Elias, dizia Jesus:
“Eu, porém,
vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram,
antes fizeram com ele tudo quanto quiseram. (..) Então
os discípulos entenderam que lhes falara de João
Batista”. (Mateus;17:10-13).
E em outra passagem, referindo-se
agora a João Batista:
“E se o quereis reconhecer,
Ele mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos
(para ouvir) ouça” (Mateus;
11: 7, 11-14)
No colóquio com Nicodemos
Jesus testifica sobre a vida material e espiritual:
“Ninguém pode
ver o Reino de Deus, senão nascer de Novo. Perguntou-lhe
aquele: ‘Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura
pode entrar no ventre de sua mãe e nascer?’ Respondeu
Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar
no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne,
o que é nascido do Espírito é Espírito.
É vos necessário nascer de novo”. (João;
3: 1-15)
Referindo-se à Casa
do Pai, qualquer pessoa pode alcançar que, Deus não
seria pródigo a criar esta imensidão de astros inutilmente
e, por isso, não o fez. Afinal, só na nossa Via Láctea,
existem mais de cem bilhões de estrelas, e no universo visível
mais de um septilhão delas, trilhões de planetas,
cada um com suas características de habitabilidade, conforme
a evolução dos Espíritos, que variam ao infinito
e, evoluindo sempre, eles jamais serão contemplativos ou
preguiçosos (10). As moradas são a pluralidade dos
mundos habitados, como afirmou Jesus:
“Não se turbe
o vosso coração. Credes em Deus, crede também
em mim. Há muitas moradas na casa do Pai; se assim não
fosse, eu vos teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar”.
(João; 14:1-3)
Jesus não só
luariza a primeira revelação, mosaica, mas anuncia
o que seria a terceira revelação, o Espiritismo, porque
Moisés iniciou o caminho, Jesus depurou a obra, e a Doutrina
Espírita lhe dá continuidade perene.
“Se me amais guardai
os meus mandamentos; e eu rogarei ao Pai e ele vos enviará
outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco; O Espírito
da Verdade, que o mundo não pode receber porque o não
vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós,
conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará
em vós. Porém O Consolador, que é o Santo
Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará
todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho
dito.” (João; 14: 15
a 17 e 26)
Jesus nos legou a Carta
Magna no Cristianismo, no “Sermão da Montanha”
e como foi dito e exemplificado no seu divino evangelho, como no
Gólgota, Ele vivenciou todos os ensinamentos que enunciou.
Plantando nos nossos corações as sementes do amor,
nos ensinou também a semear, e recordemos ainda que, como
igualmente nos instrui a doutrina espírita, “a semeadura
é livre, mas a colheita é obrigatória”.
BIBLIOGRAFIA
(01) PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria
do Evangelho, Grupo Editorial SPIRITVS, Rio de Janeiro,1966,
vol. 2, pg. 137.
(02) KARDEC, Allan, A Gênese, Ed. FEB, Rio
de Janeiro, 1980, 24ª ed., pg. 24, Rio de Janeiro.
(03) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1955,111ª ed., pg.55).
(04) PASTORINO, Carlos Torres: Sabedoria do Evangelho,
Grupo Editorial SPIRITVS, Rio de Janeiro,1966,
vol. 6, pg. 32-33..
(05) FONSECA, Mauro Paiva, Amar a Deus sobre todas as coisas,
Reformador, maio/2003, pg.25(183), Rio de
Janeiro.
(06) HOFFMANN, Ricardo Ronzani, Mundo Espírita, Os
Três Montes. maio/2003, pg 02. Curitiba, Paraná.
(07) SCHUTEL, Caibar, Parábolas e Ensinos de Jesus,
Casa Ed. “O Clarim”, Matão, SP, 13ª ed.,
1993, pg. 170.
(08) CHAVES, José Reis, A Reencarnação
Segundo a Bíblia e a Ciência, Ed. Martin Claret
Ltda., 2ª ed., 1998,
pg.82-83.
(09) MOREIRA, Fernando Augusto, Kardec e a Fidelidade Doutrinária,
Reformador, abril/2004, pg.8 (126)