Dia 13 de Novembro de 2008 publiquei o texto
UMBANDA: MATRIZ RELIGIOSA BRASILEIRA, no Jornal
de Umbanda Sagrada, e por incrível que pareça
até esta data não encontrei nenhuma publicação
umbandista que aborda-se o tema. Também não recebi,
até a data citada, nenhum e-mail que se refere desta forma
à Umbanda, ou seja nenhum documento chegou à minhas
mãos que apresenta-se outro irmão umbandista abordando
ou defendendo esta questão impar para a religião de
Umbanda.
Afinal o uso do termo Matriz Religiosa Brasileira é
novo e faz parte do contexto de Sociologia da Religião, mais
precisamente um termo cunhado pelo sociólogo José Bittencourt
Filho, que aparece como tese no livro Matriz Religiosa Brasileira,
Ed. Vozes, 2003.
Por ser um estudo especifico da área de Sociologia
da Religião ou de Ciências da Religião
é compreensivo que poucos tivessem tido acesso ao mesmo, afinal
sempre que se fala de Umbanda costuma-se defini-la como religião
de Matriz Afro-Brasileira, um termo que se aplica corretamente ao
Candomblé.
Por ter uma raiz afro é que se costuma colocar a Umbanda entre
as religiões de Matriz Afro-Brasileiras, mas a Umbanda não
tem também uma raiz indígena e outra européia
(na influencia católica e “kardecista”)? Então
também seria de Matriz Indígena e Européia?
Segundo BITTENCOURT, citando a fonte correta, existe uma Matriz Brasileira
no que diz respeito à cultura brasileira que é, esta
sim, formada pelas diversas culturas que aqui chegaram com a colonização
e a Matriz Religiosa Brasileira está inserida dentro da Matriz
Cultural Brasileira.
Esta é uma abordagem nova, digna e muito importante para quem
segue uma religião brasileira, pois é partindo deste
ponto que alcançaremos um entendimento maior do que também
é chamado de “caldo cultural brasileiro”.
A Matriz Religiosa Brasileira, ao contrário do que pode parecer
não é um simples sincretismo do branco-negro-indio,
ela se formou de forma tardia pois além destas três culturas
seu ultimo elemento formador aportou no Brasil apenas no século
XIX, que é o “kardecismo” (Espiritismo).
Graças ao irmão Cássio Ribeiro e Sandra Santos,
chegamos à Câmara dos Deputados em Brasilia, no dia 10
de Novembro, onde fui convidado para apresentar o texto, que foi lido
pelo Deputado Vicentinho.
Por meio da irmã Sandra Santos enviei três textos: Matriz
Religiosa Brasileira ; XV de Novembro ; Cem Anos de Umbanda
Foi escolhido o texto Cem Anos de Umbanda, que junto do texto Matriz
Religiosa Brasileira, fazem parte do livro UMBANDA: TRAGETÓRIA
DE UMA RELIGIÃO, que será lançado em
2009, em parceria com a Editora Madras.
Um dos objetivos deste livro é apresentar esta Matriz
Religiosa Brasileira e os caminhos que conduzem a este raciocínio
ou seja quais foram os estudos que antecederam a este e como uma tese
é defendida em cima das idéias propostas por outro autor
que a antecede.
Sempre ouvimos falar que Umbanda é sincretismo e todos nós
defendemos esta idéia, no entanto há agora uma mudança
de paradigma (ponto de partida ou ponto de vista), que também
é nova, no entanto foi defendida por Renato Ortiz em 1975 (Tese
de Doutorado em Paris, orientada por Roger Bastide) e publicada no
Brasil com o titulo de A Morte Branca do Feiticeiro Negro (São
Paulo: Ed. Brasiliense).
Este novo paradigma, defendido por Renato Ortiz, diz que a Umbanda
é muito mais que sincretismo, Umbanda é a síntese
do povo brasileiro, juntando ORITIZ com BITENCOURTT temos então
a faca e o queijo na mão para entender e defender a Umbanda
como Religião Brasileira.
Igualmente ao termo Matriz Religiosa Brasileira ainda não é
costume do umbandista entender a Umbanda como “síntese
do povo brasileiro”, pois até nossos dias o que mais
ouvimos é “sincretismo de culturas” como definição
para a Umbanda.
No dia 18 de Novembro de 2008 tive a oportunidade de palestrar na
Câmara Municipal de São Paulo, a convite do Pai Guimarães
e neste dia, graças aos Orixás com casa cheia, pude
então apresentar as teses de que “Umbanda é mais
do que sincretismo é a síntese do povo brasileiro”
(tese de Renato Ortiz, devidamente citado no dia) e que “Umbanda
é religião de Matriz Religiosa Brasileira” (tese
de José Bittencourt Filho, também citado devidamente
no dia), passando por Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Roger Bastide,
Câmara Cascudo, Renato Ortiz e José Bittencourt.
Agora mais surpreso ainda fiquei eu ao saber que o irmão Roger
Tausing irá apresentar o tema “Matriz Religiosa Brasileira:
Passado, Presente e Futuro da Umbanda” no dia 9 de Dezembro
em um seminário com o tema “Centenário da Umbanda:
Matriz Religiosa Brasileira”, deve ser uma feliz coincidência.
Aproveito esta oportunidade para dar os parabéns aos irmãos
que conquistaram esta data na Câmara dos Deputados, todas as
comemorações em homenagem ao centenário engrandecem
a religião de Umbanda, e marcam definitivamente no inconsciente
coletivo e também no consciente desta nação que
Umbanda tem história e é uma religião brasileira.
Ofereço como colaboração o texto que foi publicado
dia 13 de Novembro de 2008 no Jornal de Umbanda Sagrada (Umbanda:
Matriz Religiosa Brasileira), já que nenhum umbandista, que
eu saiba, tenha abordado o tema até aqui, creio que toda colaboração
é valida, segue o texto:
UMBANDA: Matriz Religiosa Brasileira
Por Alexandre Cumino
Eduardo Refkalefsky, Doutor em Comunicação e Cultura
e professor da Escola de Comunicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ao lado da aluna de graduação
(ECO/UFRG) Cyntia R. J. Lima, apresentaram o tema POSICIONAMENTO
E MAKETING RELIGIOSO IURDIANO: UMA LITURGIA SEMI-IMPORTADA
DA UMBANDA, onde faz considerações importantes
para este nosso estudo:
(...) a Umbanda representa melhor do que qualquer outra religião,
culto ou doutrina os elementos da “Matriz Religiosa Brasileira”,
termo criado pelo sociólogo José Bittencourt Filho (2003).
A Matriz Religiosa é parte da Matriz Cultural Brasileira, fruto
do processo de colonização. No processo de formação
da nacionalidade brasileira, o que em demografia representa a miscigenação
, se traduz no campo religioso como sincretismo.
Do ponto de vista conceitual, a Matriz compreende:
(...) formas, condutas religiosas, estilos de espiritualidade, e condutas
religiosas uniformes evidenciam a presença influente de um
substrato religioso-cultural que denominamos Matriz Religiosa Brasileira.
Esta expressão deve ser apreendida em seu sentido lato, isto
é, como algo que busca traduzir uma complexa interação
de idéias e símbolos religiosos que se amalgamaram num
decurso multissecular, portanto, não se trata stricto sensu
de uma categoria de definição, mas de um objeto de estudo.
Esse processo multissecular teve, como desdobramento principal, a
gestão de uma mentalidade religiosa média dos brasileiros,
uma representação coletiva que ultrapassa mesmo a situação
de classe em que se encontrem. (...) essa mentalidade expandiu sua
base social por meio de injunções incontroláveis
(...) para num determinado momento histórico, ser incorporada
definitivamente ao inconsciente coletivo nacional, uma vez que
já se incorporara, através de séculos, à
prática religiosa [BITENCOURT, 2003, p. 42s].
As características principais da Matriz Religiosa Brasileira
e da Umbanda, em especial, são:
a) o contato direto com o sagrado (através das incorporações
de “espíritos”);
b) o uso intensivo de elementos sincréticos, provenientes de
várias origens religiosas;
c) o caráter de magia prática para solução
de problemas cotidianos;
d) a relação de trocas (“eu te ajudo para que
você me ajude”) com estas entidades e o Sagrado, de modo
geral;
e) a prática de uma religiosidade individual, à margem
das instituições eclesiásticas; e
f) uma moral “franciscana” (LIMA FILHO, 2005), que privilegia
atitudes e comportamentos “simples”, “líricos”,
quase animistas em relação à natureza, avessos
à cultura letrada, ao intelectualismo, mercantilismo (a modernidade
de Weber) e defensores dos “fracos e oprimidos”.
Estas são conclusões inevitáveis a quem estuda
religião de forma séria, mesmo que não conhecêssemos
a história de Zélio de Moraes ainda assim Umbanda seria
uma religião brasileira, pois em lugar nenhum, no tempo e no
espaço se reuniu os elementos que são presentes na Umbanda
da forma como a conhecemos. Pois a Umbanda não prescinde de
cada um dos elementos das diversas culturas presentes nesta matriz.
A História do Zélio faz confirmar a nacionalidade de
Umbanda.
Não encontraríamos a integridade de todos elementos
apenas em uma ou outra cultura, portanto o nascimento se dá
do encontro ou síntese de todas elas. O que temos são
raízes ou “origens” diversas que se combinam. Quanto
a uma suposta origem na Lemuria, Atântida ou Índia a
resposta é simples, não há umbanda sem o Preto-velho
(negro que foi escravo no Brasil, batizado com nome português
como João, José, Benedito...) e quem é este preto-velho
nestas supostas origens? A Umbanda não antecede quem a formou
O Caboclo e o Pretp-velho. Assim podemos entender esta suposta origem
e a teoria do AUMBANDHÃ como um “Mito Fundante”
criado ou “forjado” para colocar a Umbanda em posição
privilegiada. Eu particularmente não creio neste mito, respeito
quem acredita, mas devo como sempre fundamentar porquê não
creio... Por fim a teoria de “religião primordial”
e “religião verdadeira” (“religio-vera”?)
foram teorias católicas adaptadas para a Umbanda, também
é uma teoria que se inspira na Teosofia como origem de todas
as religiões.
Hoje sabemos que o que sempre houve na humanidade foi experiência
religiosa e não esta ou aquela religião, não
há uma religião superior à outra.
A Umbanda é apenas a nossa firma de praticar religião,
uma forma brasileira...
AXÉ a todos que batem cabeça no congá de Oxalá
e que o Caboclo das Sete Encruzilhadas nos inspire palavras e pensamentos
que dignifiquem a religião fundamentada por ele um século
atrás.
Alexandre Cumino