O antropólogo Arthur Ramos (O Negro Brasileiro:
Etnografia Religiosa, 1934) dando seqüência aos estudos
de Nina Rodrigues (O Animismo Fetichista dos Negros na Bahia, 1900
e Os Africanos no Brasil, escrito entre 1890 e 1905, publicado pela
primeira vez em 1932 e que acaba de ser reeditado pela Ed. Madras)
na década de 30 afirmou:
- “Umbanda é Religião Afro-indo-católico-espírita-ocultista”,
- “o grão-sacerdote dos angola-congoleses,
o Quimbanda (Kimbanda) passou ao Brasil com os nomes de Quimbanda
e seus derivados umbanda, embanda e banda”,
- “no Brasil, o Embanda perdeu muito do seu
prestigio... tem apenas função de chefe de macumba...
é também chamado pai de terreiro, ou de santo, e os
iniciados, filhos e filhas de santo”.
Edson Carneiro (Candomblés da Bahia, 1948)
agora continuando a obra de Arthur Ramos, diria que:
- “Ainda ao tempo das reportagens de João do Rio, os
cultos de origem africana do Rio de Janeiro chamavam-se coletivamente,
candomblés, como na Bahia... Mais tarde, o termo genérico
passou a ser macumba, substituído, recentemente por Umbanda.”
- “há inúmeros folhetos, muito
lidos, que veiculam as mais diversas explicações para
os fenômenos da Umbanda, relacionando-os, ora aos aborígines
brasileiros, ora à magia do Oriente, ora aos druidas de Kardec.”
Roger Bastide (As Religiões Africanas no Brasil
e O Candomblé da Bahia) o primeiro sociólogo das religiões
no Brasil a estudar os cultos afros e o Candomblé em especial
diz:
- ‘Umbanda é uma valorização da macumba
através do espiritismo’ (Oliveira Magno, Ritual Prático
de Umbanda, p.11.). E o ingresso de brancos em seu seio, trazendo
com eles restos de leituras mal digeridas, de filósofos, de
teósofos, de ocultistas, não podia senão
ajudar esta valorização.
Cândido Procópio Ferreira de Camargo
(Kardecismo e Umbanda) também sociólogo das religiões
estuda Umbanda à partir do Kardecismo, unindo as duas em um
“continuum mediúnico”, como “religiões
mediúnicas”, com estas palavras:
- “Se o Espiritismo é crença à procura
de uma instituição, a Umbanda é aspiração
religiosa em busca de uma forma. Realmente, o que se vê em São
Paulo, são cambiantes variados de organizações
religiosas, sem unidade doutrinária e ritualística.
Todo “terreiro” tem seu sistema e cada Dirigente pensa
monopolizar a mais acabada verdade...”
Renato Ortiz (A Morte Branca do Feiticeiro
Negro) por fim e por meio de sua tese (Paris - 1975) coloca os pingos
nos “is” da sociologia da religião de Umbanda com
estas palavras:
- “Não nos encontramos mais na presença de um
sincretismo afro-brasileiro, mas diante de uma síntese brasileira,
de uma religião endógena... Neste sentido divergimos
da análise feita por Roger Bastide em seu livro As Religiões
Africanas no Brasil, onde ele considera a Umbanda como uma religião
negra, resultante da integração do homem de cor na sociedade
brasileira. É necessário porém assinalar que
o pensamento de Roger Bastide havia consideravelmente evoluído
nestes últimos anos. Já em 1972 ele insiste sobre o
caráter nacional da Umbanda...”
Quanto a José Bittencourt Filho (Matriz Religiosa
Brasileira - Petrópolis: Editora Vozes, 2003) vem somar conceitos
para melhor entendermos a Umbanda como fruto desta sociedade brasileira,
vejamos suas considerações:
- “Certamente, a primeira impressão
inspirada pela observação da Umbanda é de que
esta religião resulta de uma mescla algo confusa de elementos
religiosos de diferentes procedências. “Existe até
um termo para designar essa unção, num mesmo culto,
de fragmentos de procedências tão diversas: sincretismo”
(MAGNANI: 1991, 13).
- De fato, como se sabe, a invenção e a sistematização
da Umbanda, consistiu num processo de acomodação deliberada
entre as tradições religiosas européias, africanas
e indígenas, como substrato de uma reivindicação
cultural: ser reconhecida como a primeira religião genuinamente
nacional. Para os propósitos desta tese, este desiderato reveste-se
de alta relevância, posto que a concebemos como a tradução
religiosa mais bem acabada da Matriz Religiosa Brasileira”.