“–– Irmã Clara - informou o Ministro,
igualmente enlevado - já atingiu o total equilíbrio
dos centros de força que irradiam ondulações
luminosas e distintas.”
André Luiz / F.C.Xavier,
Entre a Terra e o Céu, cap. XXIII - FEB
Antes de relatarmos
um fato seria oportuno relembrar a importância da obra Kardequiana
e acessória, riquíssimas de informações
a respeito do intercâmbio com os espíritos e as conseqüências
morais advindas deste relacionamento, de forma a atender aos anseios
da razão e dos sentimentos.
A Doutrina Espírita, na qualidade de revelação
consoladora, preenche as lacunas do intelecto ávido de cultura,
amplia os horizontes da razão amadurecida e contribui definitivamente
para o desenvolvimento da fé raciocinada, livre de dogmas e
temores infundados. A principal característica do Espiritismo
implica no fato de ter sido codificado por Allan Kardec com o concurso
direto dos bons espíritos, aí residindo o diferencial
com as demais doutrinas e religiões conhecidas.
O testemunho autêntico daqueles que nos antecederam
na grande viagem, sem dúvida, é o grande trunfo do Espiritismo,
já que as informações mediúnicas continuam
acontecendo e motivando-nos ao exercício das responsabilidades
assumidas no sentido de concretizar os ideais evolutivos. Pois bem,
vamos ao fato. Certa feita, durante o intervalo de interessante seminário
espírita, conversávamos animadamente sobre os temas
ali desenvolvidos, quando um dos interlocutores, aproveitando uma
deixa, revelou-se conhecedor do hinduísmo e dos preceitos védicos.
Citou inúmeras pérolas do acervo religioso oriental
e defendeu ardentemente o desenvolvimento dos chacras, mormente o
"genésico", por meio de práticas externas,
como necessidade de se atingir a plenitude espiritual ainda no transcurso
da existência terrena.
Lembrei-me no decorrer da conversa que, vez por outra,
encontramos na imprensa, propagandas de cursos e vivências voltados
para a "abertura dos chacras" por meio de práticas
exaustivas e complexas, pelo menos, para o modelo de vida ocidental.
No que pese a desenvoltura demonstrada pelo companheiro afinizado
com a cultura oriental, notamos da parte dele um certo desinteresse
pelo cultivo do aprendizado espírita no seu todo, especialmente,
o relacionado com as informações educativas contidas
no "Evangelho Segundo o Espiritismo".
Tal detalhe, em princípio, não nos impressionou,
pois já estamos acostumados a lidar com os cultores do intelectualismo
científico e, que de antemão, consideram a doutrina
ultrapassada, desvalorizando os seus aspectos filosóficos e
religiosos. Habitualmente definem posturas insensatas a favor do laicismo,
ou seja, de um Espiritismo sem o Cristo. Ao nosso ver, essa opção
radical é completamente equivocada, pois rompe as ligações
entre os pilares de sustentação do Espiritismo, atrofiando
o seu conceito amplo de modo a torná-lo enfraquecido pela ausência
do estímulo auto-transformador. Aliás, a questão
da reforma íntima tem sido refutada por tais indivíduos,
pelo fato de constituir-se um objetivo bem mais difícil de
ser alcançado, vez que implica no esforço de crescimento
vertical do ser, resolução nem sempre fácil de
ser efetivada. É sabidamente mais cômodo para os que
se julgam acima dos postulados codificadores, dar asas ao intelectualismo
vazio e sem objetivo dignificante.
A esperança de evoluir espiritualmente por
meio de práticas exteriores, a exemplo do uso de determinados
cristais, exercícios de "abertura" dos chacras e
repetição de palavras cabalísticas, a bem da
verdade, não resultam em progresso moral para o ser, haja vista,
o alerta do Mestre Nazareno, ressaltando a necessidade inadiável
de nos submetermos aos preceitos evangélicos do amor incondicional
e do perdão aos semelhantes.
Reconhecemos, no entanto, que praticar a solidariedade,
o respeito ao próximo, a compreensão entre familiares
e a simplicidade de atitudes são detalhes por demais elaborados
para as nossas almas ainda pouco afinadas com o bem. O esforço
pessoal no sentido de melhorar procedimentos comportamentais, para
uns, torna-se uma iniciativa bem mais desafiadora do que recitar mecanicamente
versículos em sânscrito, praticar rituais purificadores,
bem como, forçar por antecipação a "abertura"
dos vórtices energéticos.
As práticas orientalistas servem aos anseios
evolutivos daqueles que se encontram reencarnados no Oriente, pois
admitimos que tudo esteja subordinado ao Poder Maior e, que, portanto,
obedeça a determinada gradação de valores e de
experiências a serem colhidas no decorrer das vidas sucessivas.
A civilização ocidental, em princípio,
é oriunda do velho Oriente, logo trás na sua memória
espiritual a cultura mística adquirida em vivências pretéritas.
É preciso que se entenda existir motivos espirituais suficientes
para que estejamos situados, no momento, em um país ocidental,
da mesma maneira que se deve compreender a sutil atração
que sentimos pelos preceitos da boa-nova, como conseqüência
natural de nossa iniciação religiosa anterior.
O acervo orientalista adquirido outrora teve importância
inquestionável num determinado instante da nossa romagem evolutiva,
pois nos permitiu definir posições espiritualistas,
tornando-nos mais receptivos, por exemplo, à aceitação
das verdades espíritas no momento presente. No passado, lá
no Oriente, desenvolvemos qualidades mentais e certas percepções
extrasensoriais; porém, nos dias de hoje, aqui no Ocidente,
carecemos melhor trabalhar as possibilidades latentes da mediunidade-tarefa
e de nos afinizarmos com a prática do bem, de modo a permitir
que o circuito evolutivo se complete e defina o esforço da
reforma íntima.
Relembrar os avatares que abrilhantaram a existência
terrena com ensinamentos eternos, tem um sentido especial para as
nossas almas, pois reflete a gratidão pelo muito que aprendemos
com eles no passado. Em verdade, foram aquisições básicas
para o contato posterior com a moral evangélica exposta de
modo claro na codificação espírita.
Agora, enfrentamos a época da separação
do joio e do trigo e nos colocamos diante de desafios bem mais expressivos,
a exemplo daqueles voltados para o desabrochar das qualidades morais.
Só através da vivência amorável concretizaremos
na crosta a paz tão sonhada por todos.
Por isso, antes de cogitar do desenvolvimento aleatório
dos "centros de força", que o discípulo se
decida pelo urgente desabrochar dos sentimentos afetivos, pois a auto-iluminação
verdadeira brota na intimidade do ser, ou seja, mobiliza-se de dentro
para fora à medida que ele se desvencilha do egoísmo,
da vaidade e da inveja.
A melhor maneira de se desenvolver espontaneamente
os chacras é buscar com todas as forças da alma o amadurecimento
do senso de moralidade pela vivência do bem, caso contrário,
a tentativa apressada poderá resultar em decepção
e desequilíbrio energético, por conta da ausência
do suporte moral.