03/10/2024
Por Janayna Barros
Chico
Xavier: ciência investiga as provas da vida após a morte
Investigação
científica sobre a mente após a morte: dualismo, materialismo
e as psicografias de Chico Xavier.
Chico Xavier, com sua vasta e impressionante
produção psicográfica, trouxe à tona um
antigo dilema existencial: a mente sobrevive à morte?
René Descartes, ao afirmar “Penso,
logo existo”, iniciou uma profunda reflexão sobre a natureza
da consciência e sua relação com o corpo.
As revelações de Chico
Xavier, no entanto, desafiam o pensamento materialista predominante,
reacendendo o debate sobre a possibilidade da existência da mente
além do corpo físico.
Descartes defendia que, para chegarmos
à verdade absoluta, deveríamos duvidar de tudo, inclusive
da própria existência.
No entanto, algo que não se pode
duvidar é da própria dúvida: se tenho uma dúvida,
estou pensando; se penso, logo existo.
Se penso e existo, então possuo uma mente, onde reside minha
consciência. É a mente que nos torna únicos, que
nos define como indivíduos.
Fisicamente, podemos ser muito parecidos com outra pessoa,
mas nunca teremos a mesma mente. Cada um carrega experiências
únicas, acumula conhecimentos, crenças e processos mentais
distintos.
Paradigmas da natureza da mente: materialismo x
dualismo
Há uma extensa e complexa discussão
sobre a natureza da mente. Grosseiramente, podemos reduzir a duas visões:
a materialista e a dualista.
Atualmente, o entendimento materialista ou fisicalista
é o predominante no meio acadêmico. Segundo essa visão,
nossa consciência, sentimentos e pensamentos são resultado
de sinapses químicas e elétricas que ocorrem no cérebro
e se estendem pelo corpo inteiro. Ou seja, para os materialistas, a
mente é um produto do cérebro. Se o cérebro morre,
a mente se acaba.
Porém, alguns pensadores defendem que mente e
cérebro, apesar de estarem relacionados, são entidades
completamente independentes.
Para os dualistas, a mente é uma entidade imaterial
e fonte primária de todos os pensamentos. O cérebro é
material, sendo o meio pelo qual a mente interage com o ambiente, estendendo
toda sua ação pelo corpo e transmitindo estímulos
através dos órgãos sensoriais.
Pela visão dualista, a mente, sendo imaterial,
sobreviveria mesmo após a morte cerebral. Logo, se de alguma
forma fosse possível acessar a mente de uma pessoa falecida,
certamente os dualistas teriam uma evidência muito difícil
de questionar.
Mas como se comunicar com a mente de uma pessoa que
já morreu? Como provar que a mente acessada se trata mesmo da
referida pessoa?
Francisco Cândido Xavier, um Corvo Branco
Robert T. Bigelow, empresário
americano do setor aeroespacial, criou o Bigelow Institute for Consciousness
Studies (BICS), instituto dedicado a financiar pesquisas sobre a sobrevivência
da consciência humana.
Em 2021, o BICS lançou um concurso
desafiando a comunidade científica a provar, além de qualquer
dúvida razoável, que a mente continua a existir mesmo
depois da morte.
O concurso
(clique para ler) contou com aproximadamente 1300 inscritos
de vários países, resultando em 204 trabalhos que disputaram
um prêmio de 1,8 milhão de dólares (mais de R$ 10
milhões na cotação atual).
No final, foram 29 trabalhos premiados,
entre eles, um ensaio científico feito por pesquisadores brasileiros.
No trabalho intitulado ‘A
mediunidade como melhor evidência para a vida após a morte:
Francisco Cândido Xavier, um Corvo Branco’
(clique para ler), os pesquisadores
Alexandre Caroli, doutor em teoria literária, e os doutores em
neurociências, Marina Weiler e Raphael Casseb investigaram parte
da vasta produção psicográfica do médium
Chico Xavier e concluíram que todo esse material fornece uma
base robusta, sólida e verificável que confirma a continuidade
da existência após a morte.
O ‘corvo branco’ é
uma referência a uma fala de Willian James, professor de Harvard,
considerado um dos maiores expoentes da filosofia e psicologia moderna,
quando estudava a mediunidade de Leonora Piper.
Para se provar que nem todos os corvos
são pretos, basta que se mostre pelo menos um branco. Da mesma
maneira, mesmo que existam muitos médiuns farsantes, se pelo
menos um for provado genuíno, então a mediunidade é
um fenômeno real.
Cientistas concluíram que todo o material
psicografado de Chico Xavier fornece uma base robusta,
sólida e verificável que confirma a continuidade da existência
após a morte – Imagem: Reprodução
A psicografia de Chico Xavier
Nascido em 1910, no município
de Pedro Leopoldo (MG), Chico Xavier teve suas primeiras experiências
com a mediunidade na tenra idade de 4 anos.
No colégio, ele se destacava
por escrever textos brilhantes, com vocabulário e articulação
próprios dos melhores escritores, chegando a ganhar um concurso
estadual com menção honrosa por uma redação
sobre a Independência do Brasil.
Nessa ocasião, falou ao seu professor
que a redação havia sido ditada por um ‘homem do
outro mundo’. Teve que largar os estudos, tendo completado apenas
o 4º ano do primário.
Conheceu o espiritismo aos 17 anos e
viu na doutrina explicação para a sua, até então,
estranha condição. Já nessa época, dedicava
o pouco tempo disponível que tinha para escrever poemas, que
ele afirmava não serem de sua autoria, mas de diversos poetas
falecidos notáveis, como Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Machado
de Assis e Casimiro de Abreu.
Rapidamente alcançou notoriedade
com seu elevado dom na psicografia (capacidade de transcrever mensagens
supostamente recebidas de espíritos) e, aos 22 anos, publicou
seu primeiro livro ,’Parnaso de Além-Túmulo’.
Em sua 6ª edição,
publicada em 1955, a obra contava com 259 poemas de 56 escritores brasileiros
e portugueses.
Chico Xavier seguiu em ritmo intenso,
chegando a publicar em média 14 livros por ano no seu auge, psicografando
textos de diversos estilos e gêneros literários.
Entre os anos 70 e 90, passou a se dedicar
mais à psicografia de cartas destinadas a familiares desolados
pela perda de seus entes queridos. Eram sessões públicas
realizadas todas as sextas e sábados em Uberaba (MG). Estima-se
que ele tenha produzido mais de 10 mil cartas consoladoras.
Após 75 anos atuando como médium,
Chico Xavier publicou mais de 400 livros e vendeu aproximadamente 50
milhões de exemplares.
Toda a renda das vendas foi revertida
para caridade, visto que o médium nunca tomou para si a autoria
dos textos, a qual dizia ser de seus diversos autores espirituais.
assista
no Youtube - clique aqui
Pode a ciência provar o fenômeno da
mediunidade?
A ciência é um conjunto de conhecimentos
obtidos por meio de um processo rigoroso e sistemático que visa
explicar os fenômenos que observamos na natureza.
Uma vez que um fenômeno é observado, formulam-se
hipóteses que possam explicá-lo e, então, busca-se
a verificação da validade ou não de tais hipóteses.
Na medida em que evidências suficientes que suportem
uma teoria se acumulam, então, podemos assumir que se trata de
um conhecimento científico.
A ciência é um processo, não a verdade
absoluta. Se novos fatos surgem e a teoria até então aceita
não consegue explicar, então uma nova teoria precisa acomodar
esses fatos, e não o contrário.
O objetivo do ensaio premiado foi justamente mostrar
que nenhuma das hipóteses materialistas sobre a relação
entre mente e cérebro é capaz de acomodar muitos dos fatos
verificados na produção psicográfica de Chico Xavier.
Na conclusão dos pesquisadores, sob a ótica
das quatro hipóteses apresentadas, a única que é
capaz de abarcar o fenômeno de maneira completa é a visão
dualista da sobrevivência da mente; portanto, um fenômeno
genuíno.
Verificação das hipóteses
Os pesquisadores se apoiaram em elementos verificáveis
das psicografias. Para esse fim, dividiram os documentos em 3 grupos,
segundo a natureza dos textos e suas autorias.
Grupo 1
Em relação ao Grupo 1, o estudo destacou
alguns fatos históricos e conhecimentos científicos nos
textos inalcançáveis para a época e os recursos
disponíveis.
Por exemplo, no livro ‘Há dois mil anos’,
cuja autoria seria do mentor espiritual de Chico, Emmanuel, são
narrados detalhes bem específicos sobre como os romanos classificavam
e identificavam seus escravos (procedência, cultura, sexo, idade
e até traços de personalidade), a maneira como eram humilhados,
torturados e expostos para negociação.
Em 1939, ano em que o livro foi publicado, a pouca documentação
disponível sobre o assunto na época estava em latim ou
em fontes indiretas em inglês, sendo pouquíssimo provável
que o médium tenha tido acesso a esse material.
O ensaio também citou um artigo científico
publicado em 2013, no qual os pesquisadores compararam as descrições
da glândula pineal e da epífise em treze livros escritos
por André Luiz na década de 1940 com o conhecimento científico
disponível apenas 60 anos depois.
Eles concluíram que vários dados altamente
complexos estavam de acordo com a atual literatura.
Grupo 2
Para a validação dos elementos do Grupo
2, foram utilizados como fonte os estudos do Dr. Alexandre Caroli, coautor
do ensaio científico.
Em um de seus estudos, ele comparou os textos psicografados
no ‘Parnaso de além-túmulo’ de 5 escritores
com base na documentação fornecida por respeitados críticos
de literatura.
O cientista confirmou que tanto elementos formais (frequência
de palavras, métrica dos versos, rima) quanto temáticos
dos autores vivos, estavam presentes nos textos escritos pelo médium.
O argumento materialista de que Chico Xavier realizava
‘pastiche’ dos autores mortos soa absurdo, não só
pelas dezenas de autores que ele teria que imitar, mas pela forma como
o fazia.
Em publicação no Diário da Tarde
(Belo Horizonte – 28 de julho 1944), o professor de psiquiatria
Dr. Melo Teixeira relatou o seguinte:
Grupo 3
Por fim, nos textos do Grupo 3, o estudo mostrou a impossibilidade
de argumentos como leitura fria e quente ou mesmo rede de informantes
para coletar informações sobre o falecido no seu grupo
familiar ou ambiente social e de trabalho nas sessões públicas
de atendimento consolador.
Além do fato de que, naquela época, não
tínhamos acesso à internet e velocidade de informação
que se tem hoje.
Mais do que apenas informações, datas
e circunstâncias dos acidentes, que poderiam ser coletadas eventualmente
em alguns jornais, muitas das cartas continham informações
estritamente particulares, que diziam respeito somente à intimidade
de um ou outro membro do grupo familiar, nunca divulgadas.
Em alguns casos, muitas informações contidas
nas cartas eram tão pessoais do próprio falecido, que
a família só pôde confirmar posteriormente. Ainda,
algumas assinaturas tiveram autenticidade confirmada por exame grafotécnico.
Fenelon Almeida, repórter do jornal O Povo, assim
relatou sua experiência em uma dessas sessões:
Logo, qualquer hipótese de que o fenômeno
mediúnico de Chico Xavier poderia ser apenas um transtorno psiquiátrico
ou fruto de uma habilidade super-psi (ex: telepatia) fica derrubada,
pois somente a mente do falecido teria acesso àquela informação.
Um dos maiores gênios da história
ou um médium genuíno?
Para os autores do ensaio científico,
a psicografia de Chico Xavier é evidência robusta de que
a mente é uma entidade imaterial, que sobrevive até mesmo
após a morte do corpo.
Qualquer farsa intencional, com tamanho
volume de documentação, não sobreviveria ao teste
do tempo. Até mesmo análises mais recentes, utilizando
inteligência artificial, certificam a consistência narrativa
de diferentes autorias nos textos.
Acreditar que ele tinha uma capacidade
de memória espetacular, a ponto de ser capaz de escrever sem
parar por horas e horas, textos de diferentes autores e diferentes estilos
literários, carregados de dados e conhecimentos de diversas áreas,
não parece ser razoável.
Seria muito mais fácil acreditar
que uma pessoa com essa capacidade tomasse vantagem desse dom para tirar
proveito próprio; afinal, poderia fazer fortunas e ter o nome
marcado na história como um dos maiores gênios de todos
os tempos. Mas Chico Xavier viveu uma vida humilde, repassando toda
a renda dos livros para a caridade.
Como disse Monteiro Lobato: “Se
Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então
ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de
Letras”.
Fonte: https://escolaeducacao.com.br/chico-xavier-ciencia-investiga-as-provas-da-vida-apos-a-morte/#google_vignette
> *Com informações de BBC, SuperInteressante, Research
Gate, G1, Portal Luz Espírita e FEESP.