Frequentemente, a classe homeopática
tem sido surpreendida por críticas ao seu modelo terapêutico,
na maioria das vezes por indivíduos que desconhecem os preceitos
básicos da Homeopatia. O jargão mais utilizado por
estas pessoas é que a Homeopatia "não apresenta
comprovação científica" dentro do modelo
epistemológico atual.
Com as recentes resoluções do Conselho
Federal de Medicina (nº 1.499 e nº 1.500), que proíbem
aos médicos a utilização de "práticas
alternativas", urge diferenciarmos a Homeopatia, como especialidade
médica, destes outros métodos e evidenciarmos o caráter
científico do tratamento homeopático.
Lembremos que os pilares fundamentais da Homeopatia
são o princípio da semelhança e a experimentação
no indivíduo humano e sadio. Neste artigo, concentramos nossas
pesquisas no estudo da Lei dos Semelhantes — que ao ser confirmada
pela metodologia científica atual aproxima a Homeopatia à
episteme moderna.
Importa salientarmos que o modelo homeopático
é fundamentalmente experimental, fruto da observação
cuidadosa do efeito das drogas no organismo humano. Apoiado nestas
evidências, Samuel Hahnemann desenvolveu o tratamento pela
similitude. Nos parágrafos 63 e 64 de sua obra máxima,
Organon da Arte de Curar, Hahnemann estipula o mecanismo de ação
das drogas, sistematizando-o: "toda droga causa uma certa alteração
no estado de saúde humano pela sua ação primária;
a esta ação primária do medicamento o organismo
opõe sua força de conservação, chamada
ação secundária ou reação, no
sentido de neutralizar o distúrbio inicial".
Observando que esta "ação secundária"
poderia ser empregada como reação curativa, desde
que direcionada no sentido correto, Hahnemann propôs um modelo
terapêutico no qual seriam utilizados medicamentos que produzissem,
em sua ação primária no organismo, sintomas
semelhantes à doença natural, visando despertar uma
reação orgânica para anular esta doença
artificial e, conseqüentemente à semelhança de
sintomas com a doença original, neutralizar também
esta última. Daí surgiu o princípio terapêutico
pela similitude: "todo medicamento capaz de despertar determinados
sintomas no indivíduo sadio é capaz de curar estes
mesmos sintomas no indivíduo doente".
Assim fundamentado, Hahnemann passou a experimentar
uma série de substâncias em indivíduos considerados
"sadios", anotando todos os sintomas (primários)
que neles surgissem, confeccionando com isto a Matéria Médica
Homeopática. À medida que defrontava pacientes com
sintomas semelhantes às drogas experimentadas, aplicava-as
a estes enfermos, visando despertar a reação secundária
e curativa do organismo, obtendo, assim, a cura dos mesmos.
Desse modo, a aplicação do princípio
terapêutico homeopático implica no estimular uma reação
homeostática e curativa, direcionada pela ação
primária da droga que causou no experimentador "sadio"
sintomas muito semelhantes aos sintomas da doença original.
Realizando a ponte com o cientificismo atual, utilizando-nos
da Farmacologia Moderna, encontramos uma infinidade de relatos,
tanto em compêndios farmacológicos como em publicações
científicas, que descrevem uma reação secundária
do organismo a um estímulo primário drogal, confirmando
o citado por Hahnemann. Esta ação secundária
do organismo, no sentido de manter a homeostase orgânica,
é denominada de efeito rebote ou reação paradoxal,
segundo a racionalidade científica atual.
Ilustrando o acima exposto, drogas utilizadas classicamente
para o tratamento da angina de peito, promovendo, inicialmente,
melhora da dor como efeito primário, despertam, como ação
secundária ou efeito rebote, após a suspensão
da medicação ou tratamento irregular, exacerbação
da dor torácica tanto na freqüência como na intensidade,
em alguns casos não respondendo a qualquer terapêutica.
Drogas utilizadas no controle da hipertensão
arterial podem provocar uma hipertensão arterial de rebote,
como reação secundária ao estímulo primário.
Agentes cardiotônicos empregados no tratamento da insuficiência
cardíaca promoveram, após a interrupção
da administração, rebote hemodinâmico, com riscos
de desencadear severos problemas cardíacos. Fármacos
empregados para diminuir o colesterol despertaram um aumento rebote
e significante do colesterol sangüíneo.
No emprego de drogas psiquiátricas (ansiolíticas,
sedantes ou hipnóticas, antidepressivas, antipsicóticas,
etc.) observou-se uma reação do organismo para manter
a homeostase orgânica, promovendo sintomas opostos aos esperados
em sua utilização terapêutica primária.
Medicamentos neurológicos, utilizados em sua ação
primária para evitar convulsões, movimentos discinéticos
ou contrações musculares, apresentam como reação
secundária ou efeito rebote, após a suspensão
da medicação, exacerbação destes mesmos
sintomas. Drogas antiinflamatórias, utilizadas primariamente
para suprimir a inflamação, desencadeiam respostas
secundárias no organismo aumentando a concentração
sangüínea dos mediadores da inflamação.
Drogas anticoagulantes, empregadas por seu efeito primário
na profilaxia da trombose sangüínea, promovem complicações
trombóticas como efeito secundário ou rebote. Diuréticos,
utilizados primariamente para diminuir a volemia (edema, hipertensão
arterial, ICC, etc.), causam, como efeito rebote, aumento da retenção
de sódio e potássio, com conseqüente aumento
da volemia. Medicamentos empregados para a dispepsia (gastrites,
úlceras gastroduodenais), como antiácidos e antagonistas
do receptor H2, promovem, após o efeito primário de
diminuição da acidez, aumento rebote ácido
e piora das úlceras gastroduodenais. Fármacos empregados
na asma brônquica, como os broncodilatadores e corticosteróides
inalatórios, desencadeiam piora da broncoconstrição,
como resposta secundária do organismo à suspensão
ou descontinuidade do tratamento.
Trazendo algumas das muitas evidências encontradas
no cientificismo moderno sobre os principais fundamentos da Homeopatia,
completemos o relato com o emprego de drogas convencionais segundo
o método homeopático. Utilizando-se da reação
secundária do organismo como forma de tratamento (princípio
homeopático), administrou-se um contraceptivo bifásico
(anovulatório) para pacientes que apresentavam esterilidade
funcional, incapazes de ovular e engravidar. Após a suspensão
da droga, observou-se a ovulação em aproximadamente
25% das pacientes e, destas, 10% engravidaram. Outras drogas modernas
poderiam ser utilizadas segundo o método homeopático
de tratamento, desde que provocassem no indivíduo "sadio"
os mesmos sintomas que se deseja tratar no indivíduo doente,
apesar do emprego de uma "similitude parcial", diferente
da similitude totalizante e individualizadora empregada pela Homeopatia.
Neste breve relato, citei algumas evidências
da racionalidade científica moderna, que acredito sirvam
de base para estudos homeopáticos futuros dentro do meio
acadêmico e científico, visando nos aproximarmos e
efetivamente contribuirmos para o desenvolvimento da Medicina.