Franklin Santana Santos

>   A Espada de Dâmocles : uma estória da Mitologia Grega sob a óptica moral dos ensinamentos do Cristo

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Franklin Santana Santos
>   A Espada de Dâmocles: uma estória da Mitologia Grega sob a óptica moral dos ensinamentos do Cristo

 


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Dâmocles conselheiro da corte de Dionísio, o Velho, tirano de Siracusa, século IV a.C, célebre ao longo da história, pelo lendário episódio da Espada de Dâmocles, que se tornou uma expressão que significa perigo iminente ou os riscos inerentes a posição de mando. Relatado por Marcus Tullius Cicero (106 a.C. - 43 a.C.) , em Tusculanae disputationum
 (1), libri III, 45 a.C, e por outros clássicos, o acontecimento é resumido assim:

Era uma vez, um rei tirano chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num palácio cheio de requintes e de coisas bonitas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe às vontades. Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe freqüentemente.

- Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo!
Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa.
- Ora essa! Você acha mesmo que eu sou mais feliz do que todo mundo?
O amigo respondeu:
- Mas é claro! Olhe só o seu tesouro e todo o seu poder! Você não tem absolutamente nada com que se preocupar. Poderia sua vida ser melhor do que isso?
- Talvez você queira trocar de lugar comigo - disse Dionísio.
- Ora, eu nem sonharia com uma coisa dessas! Mas se eu pudesse ter sua riqueza e desfrutar de todos esses prazeres e da posicäo de comando por um dia apenas, não desejaria felicidade maior.
- Pois bem! Troque de lugar comigo por um dia apenas e desfrute disso tudo.


E então, no dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e todos os criados reais lhe puseram na cabeça as coroas de ouro. Ele sentou-se à mesa na sala de banquetes e foi-lhe servida lauta refeição. Nada lhe faltou ao seu bel-prazer. Havia vinhos requintados, raros perfumes, lindas flores e música maravilhosa. Recostou-se em almofadas macias. Sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

- Ah, isso é que é vida! - confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade. - Nunca me diverti tanto.

De repente Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só quis saber de ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse. Pois havia observado que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ele foi se levantando, pronto para sair correndo, mas deteve-se tremendo que um movimento brusco pudesse arrebentar aquele fiozinho fino e fizesse com que a espada lhe caísse em cima. Ficou paralisado, preso ao assento.

- O que foi, meu amigo? - perguntou Dionísio - Parece que você perdeu o apetite.
- Essa espada! Essa espada! - disse o outro, num sussurro - Você não está vendo?
- É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser tirano, ocupar as primeira posições e controlar a ferro e fogo tudo e todos precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe?
- É claro que percebo! - disse Dâmocles - Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas no que pensar além de sua riqueza, fama e posição. Por favor, assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha modesta casa.

Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei tirano, nem por um momento sequer.

Essa lenda grega é muito singular e se encaixa como uma luva em algumas passagens do Evangelho quando o Mestre Jesus disse:

´´Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes as tratam com império. - Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos.``
S. Mateus, capítulo XX, vv. 20 a 28.(2)

E nesta outra também:

´´Quando fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de, quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa; - porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado e todo o que se abaixa será elevado.``
S. Lucas, cap XIV, vv. 1 e 7 a 11(3)
.

O Cristo coloca, portanto, a humildade como princípio incondicional da felicidade. Pois esta se encontra no servir e não no ser servido, nem tão pouco em se sentir o todo poderoso apenas por ocupar momentaneamente uma posição de destaque. Pois o verbo ocupar, na esfera carnal, não significa maior saber intelectual muito menos moral e sim mais obrigações e deveres e muito amiúde ´débitos` perante a Lei, pois muitas vezes aqueles que apesar de estarem em uma posição dita de ´subalterno` ou ´inferior` costuma suplantar mais frequentemente senão em inteligência pelo menos em moral, aqueles os quais devem obedecer. A história está repleta de personagens exemplificando isto em ambos os sentidos.

Saibamos usar os nossos cargos de chefia, se estivermos investidos deles, com equilíbrio e serenidade. Delegando funções, repartindo o poder, solicitando colaboração e assistência, oferecendo liberdade de ação e respeitando o livre arbítrio de todos. Sem nunca impor os nossos pontos de vistas e acreditando que somos os donos da verdade. E pensando sempre que entre aqueles os quais dirigimos pode haver algum ou alguns que nos são mais desenvolvidos na escala evolutiva. Os que são ´subordinados` também não ficam isentos, por sua vez, de cumprirem a risca com os deveres que lhes competem. Desenvolvendo cada vez mais a arte do respeito e da obediência para com os seus ´superiores`.

Nós espíritas que temos a chave, no dizer do iluminado espírito Bezerra de Menezes, para compreender as palavras de Jesus com mais profundidade e entendimento, por isso mesmo mais responsáveis seremos perante a Lei caso queiramos agir como Dâmocles e tentar obter o poder a todo preço, pois chegará um dia em que o finíssimo fio da crina de cavalo se partirá e ai de nós se estivermos embaixo da espada. O interesse com que muitos adeptos e médiuns que atuam na doutrina se lançam na busca por posições de destaque e notoriedade em presidências de centros, instituições, organismos e federações se constitui em verdadeira cegueira espiritual quando tem como raiz a ambição, o orgulho, a vaidade e os complexos de inferioridade de que são portadores. Querem fazer da doutrina um trampolim para sua ascenção social. Como a compensar a mediocridade da vida que levam., acreditando na ilusão de que o nosso valor como pessoa é medido pelo posto que ocupamos.

Equivocam-se, pois aqueles que assim procedem, pois a Doutrina Espírita não se presta a isso e o combate com veemência. Os grupos espíritas também não são uma empresa de direito privado com fins lucrativos ou reinado onde passamos o ´negócio` para a parentela consanguínea e os apadrinhados e nem tão pouco existem cargos vitalícios. Deveria haver um revezamento de tempos em tempos nas posições e nos postos afim de evitar o despotismo e também para que outros possam opinar e mostrar a sua capacidade de trabalho, desenvolver e/ou aprimorar qualidades. Allan Kardec, o bom senso encarnado na feliz frase de Camille Flammarion(4) é de uma precisão sem par com relacão a isso no Livro Obras Póstumas(5). É de se estranhar que uma pessoa permaneça na presidência de uma instituição por um período de tempo superior a 5 anos. Pois ao permanecer longos períodos em um determinado posto se cria uma vacuidade de liderança, pois quando esse líder desaparecer, o que certamente acontecerá uma vez que todos somos desencarnaveis, quem o subistituirá? E se existe uma pessoa ou pessoas capazes de substituí-lo é de se perguntar porque não há o compartilhamento dessa liderança desde já? Razão porque o mestre Kardec(5) propôs as regras para o estabelecimento do comitê central que serve perfeitamente para qualquer tamanho de organização. Pois como diz o ditado popular duas ou mais cabeças sempre pensam melhor do que uma.

André Luiz na obra Nosso Lar(6) nos relata que em um período de 10 anos passaram 4 espíritos pela direção do Ministério da União Divina, sendo este a mais alta estância daquela colônia espiritual. O que equilave 2,5 anos na função. E observem que estamos falando de espíritos que foram delegados pelo Alto por suas inumeráveis qualidades intelectuais e morais. E é ainda o nosso querido André Luiz no mesmo livro(6) que nos relata que a direção dos ministérios, departamentos e das colônias espirituais estão a cargo dos mais capacitados não só em saber, mas sobretudo em moral.

As instituições espíritas deveriam, pois, escolher seus dirigentes não só pelos seus conhecimentos doutrinários e administrativos, mais mas também de acordo com ensinamentos kardecianos, e acima de tudo entre aqueles que mais amam o seu irmão, que mais secam lágrimas e que mais balsamizam as dores do corpo e da alma. E isto tudo pelo simples fato de que a Doutrina Espírita tem como estandarte e pedra angular dos seus postulados as bandeiras da Liberdade e da Faternidade, e mais ainda da Caridade e da Humildade.

Não percamos, pois, o nosso já escasso e precioso tempo na disputa por posições de mando, poderes temporais, chefias, governos e suas correspondências. Dizendo aqui mando e sou obedecido e poderia dizer, muito frequentemente, e sou detestado parafraseando o espírito Lázaro em uma mensagem psicografada contida no Evangelho Segundo o Espiritismo(7). Temos muito por trabalhar no burilamento do nosso próprio Eu. Busquemos os últimos lugares como servos humildes fazendo com que a nossa mão esquerda não saiba o que faz a mão direita, pois o Pai saberá nos dar um lugar mais elevado no Plano Espiritual se o merecermos. E Jesus nos adverte nesta frase: Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?
S.Mateus Cap XVI vv 26 .

Sejamos, portanto, sábios e sigamos os conselhos do Mestre de Amor e Humildade ao invés de Dâmocles, pois, Ele, Jesus Cristo, que por ter-se feito o menor foi, é e continuará a ser o Maior de todos, guiando-nos com seu imenso Amor em direção a Luz do Pai.

Um abraço fraterno a todos.

 

 

Bibliografia

1-Marcus Tullius Cicero (106 a.C. - 43 a.C.) , Tusculanae disputationum,Libri III- 45 a.C .

2- Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.117.ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001.Cap VII- Bem-Aventurados os Pobres de Espírito.Itens 3 a 6.p 135-136.

3-Idem, ibidem,p 136

4-Kardec, Allan. Obras Póstumas.8a ed, Araras: IDE, 1993-Discurso pronunciado sobre o túmulo de Allan Kardec por Camille Flammarion, p 18-28.

5- Kardec, Allan. Obras Póstumas.8a ed, Araras: IDE, 1993- Cap Projeto.- 1868 p 328-354.

6-Xavier, Francisco C . Lar, pelo Espírito André Luiz. 25 ed, Rio de Janeiro: FEB,Cap XI Aprendendo sobre a Cidade Astral.p 53

7-Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo- 117.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.Cap IX. A afabilidade e a docura. Item 6. p. 163.

 

Fonte: http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae489.html#Espada

 


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