domingo, 29 de janeiro de 2012
1. A Doutrina Espírita “apoiando-se em fatos, tem que
ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva,
como todas as ciências de observação” (Ge;
item 55). Destacamos de início o caráter não
estático do Espiritismo que, justamente por essa característica
peculiar que constitui toda ciência de observação,
jamais estará ultrapassado.
2. Sabemos que as revelações
espirituais devem passar pelo rigoroso método do controle
universal do ensino dos Espíritos (CUEE), que encontra
suas bases delimitadas na introdução de O Evangelho
segundo o Espiritismo. Por isso, todo e qualquer ensinamento/revelação
que não preencha esse pré-requisito de admissibilidade,
não poderá ser considerado parte integrante do Espiritismo.
Resta-nos saber se a revelação das colônias espirituais
passou por tão rigoroso controle. Antes mesmo das obras psicografadas
por Francisco Candido Xavier, já existiam outras relatando
a existência das cidades espirituais, destacam-se: Além
do véu (G. Vale Owen); Raymond: uma prova de sobrevivência
da alma (Oliver Lodge); A vida no outro mundo (Caibar Shutel); A crise
da Morte (Ernesto Bozzano), entre outras. Após André
Luiz, milhares de outros Espíritos, por meio de grupos e médiuns
distintos, surgiram para confirmar essa revelação. Yvonne
A. Pereira recorda que, nos estudos científicos levados a efeito
por Enersto Bozzano, vários médiuns eram desconhecidos
uns dos outros, alguns até completamente alheios ao Espiritismo.
Em verdade, a obra de Ernesto Bozzano é aplicação
clássica e categórica do método CUEE. Portanto,
ao nosso entender, esses relatos (das colônias espirituais)
fazem parte da universalidade do ensino dos Espíritos.
3. Oportuno destacar que o critério
da simultaneidade das comunicações nunca foi absoluto,
nem poderia ser. Allan Kardec deixou isso claro inúmeras vezes.
Note-se, por exemplo, as críticas que ele fez aos quatro evangelhos
de Roustaing. Deixou-se que o tempo se encarregasse de dar a palavra
final. Se o critério da simultaneidade fosse absoluto, o próprio
codificador não iria esperar o pronunciamento futuro de outros
Espíritos. Ademais, o que dizer das inúmeras outras
hipóteses lançadas na Revista espírita que tiveram
que aguardar o pronunciamento coletivo do plano espiritual? Algumas
foram inseridas posteriormente na Codificação. É
infantil a crença de que uma verdade deva ser condenada eternamente
só porque não foi dita simultaneamente. O próprio
codificador sabia disso. Ora, a tese de Roustaing, referente ao corpo
fluídico de Jesus, morreu sem nunca receber o apoio da universalidade
do ensino dos Espíritos. Isso também demonstra que só
a verdade é capaz de receber o aval generalizado do mundo extrafísico.
Os relatos das sociedades organizadas do plano invisível, contudo,
nunca foram desmentidos.
4. Questionamos os críticos:
Onde estão as obras negando a existência das cidades
espirituais? Afirmam que a Codificação já fez
o papel de negá-las. Contudo, discordamos desse entendimento
que é fruto de uma interpretação gramatical dos
textos doutrinários. Havendo tal divergência, quem poderia
solucioná-la senão os próprios Espíritos?
Ora, eles confirmam essa revelação a todo instante,
aos milhares, por intermédio de diversos médiuns e grupos
distintos. Entendemos que, se tais comunicações fossem
apócrifas, o tempo se encarregaria de desmenti-las. Afinal,
“de que nos serviria dar prematuramente uma doutrina
como verdade absoluta se, mais tarde, devesse ser combatida pela generalidade
dos Espíritos?” (Revista
espírita - Jun/1866).

5. A teoria do animismo costuma ser proclamada na argumentação
contra as cidades espirituais. Eis a saída rápida e
fácil para “explicar” tudo aquilo que não
se entende ou mesmo não concorda. Afirma-se que, após
o lançamento da obra Nosso Lar, todas as outras que
trazem relatos semelhantes são frutos de animismo, isto é,
meras reproduções inconscientes das idéias de
Andre Luiz. Desculpem os defensores dessa opinião, mas esse
argumento não resiste ao crivo da razão e do bom senso.
Salientamos, mais uma vez, que as revelações das cidades
espirituais já existiam antes das psicografias de Francisco
Cândido Xavier. Reconhecemos a existência do puro animismo
(a própria alma do médium é quem se comunica)
e da interferência anímica (existe em qualquer comunicação
mediúnica, com maior ou menor grau de intensidade; ver em O
Livro dos Médiuns, Cap. XIX), no entanto, alegar que todas
as comunicações que trazem relatos das colônias
espirituais são produtos do inconsciente é, no mínimo,
beirar à negação da existência da própria
mediunidade! Ora, qual a dificuldade existente para que apareçam
Espíritos negando todos esses relatos? Isso os contraditores
não explicam.
6. Há, contudo, uma pequena
minoria que defende a tese da mistificação coletiva
dos médiuns. Parece-nos uma tentativa desesperada, mas frustrada,
de negar a existência daquilo que é o óbvio: a
realidade das colônias espirituais. Como explicar que todos
os médiuns, mesmo os moralmente idôneos, sejam alvos
exclusivos de Espíritos mentirosos? Sabemos que não
existem médiuns perfeitos, mas também sabemos que “o
poder que tem o médium de atrair bons Espíritos e repelir
os maus está na razão direta de sua superioridade moral
e da posse de maior número de qualidades que constituem o homem
de bem” (O que é o Espiritismo).
É notória, por exemplo, a idoneidade moral do médium
Chico Xavier. Podemos ter uma idéia da elevação
dos Espíritos que ele sintonizava quando encarnado. “Ora,
os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, de
onde se conclui que as qualidades morais do médium exercem
influencia muito importante sobre a natureza dos Espíritos
que por eles se comunicam” (LM;
Cap. XX; item 227).
7. Afinal, o que é uma colônia
espiritual? Seria uma região circunscrita qual o céu
teológico? Não. O Além, afirma Emmanuel, “não
é uma região, e sim um estado imperceptível para
a vossa potencialidade sensorial!”
Se não existem locais determinados
e circunscritos no plano espiritual, não podemos, todavia,
negar que os Espíritos se reúnem por simpatia, isto
é, que os desencarnados se agrupam no plano espiritual por
afinidade. Logicamente que essa reunião poderá moldar
um ambiente de harmonia ou de perturbação, de acordo
com psiquismo dos seus habitantes. Pode-se afirmar com segurança
que no “mundo dos Espíritos também há
uma sociedade boa e uma sociedade má; dignem-se, os
que daquele modo se pronunciam, de estudar o que se passa entre os
Espíritos de escol e se convencerão de que a cidade
celeste não contém apenas a escória
popular” (L.E; Intr. Item X).
Uma Colônia espiritual nada
mais é do que uma cidade fluídica, criada pelo próprio
psiquismo dos Espíritos, que se reúnem em grupos, por
afinidade, constituindo “um mundo do qual o vosso
dá uma vaga idéia” (LE,
Q. 278), ou, nas palavras do ilustre Leon Denis: “Espíritos
similares se agrupam e constituem verdadeiras sociedades do invisível."
Neste sentido, elucida o psicólogo
Adenáuer Novaes: “É através da manipulação
dos fluidos que os espíritos constroem suas moradas e se organizam
de acordo com sua evolução espiritual. Cidades, colônias,
organizações diversas são construída pela
utilização e manipulação do Fluido Cósmico
Universal. Quanto mais evoluído o espírito, mais capacidade
o tem de utilizar-se dos diferentes tipos de fluidos. É
pelos fluidos e suas modificações que se estruturam
as cidades astrais" (Adenáuer
Novaes. Conhecendo o Espiritismo).
8. O Fluido cósmico universal
(FCU) é “a matéria elementar primitiva, cujas
modificações e transformações constituem
a inumerável variedade dos corpos da Natureza” (GE;
Cap. XIV, Item. 2).
O FCU constitui a chave para a explicação
de inúmeros fenômenos, inclusive o da criação
das colônias espirituais. Assim esclarece a codificação,
observe-se:
Dentro da relatividade de tudo,
esses fluidos têm para os Espíritos, que também
são fluídicos, uma aparência tão
material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados
e são, para eles, o que são para nós as substâncias
do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem
determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais,
ainda que por processos diferentes (GE;
Cap. XIV, Item. 3).
Os fluidos são uma espécie de matéria prima,
do qual os Espíritos manipulam para criar determinados efeitos.
Obviamente que, quanto mais evoluído for o Espírito,
maior será sua capacidade de manipular os fluidos conscientemente.
Em A Gênese, encontramos maiores explicações
desse verdadeiro laboratório da vida espiritual:
Os Espíritos atuam sobre
os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens
manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade.
Para os espíritos, o pensamento e a vontade são
o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles
imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção,
os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos
que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração
determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico
muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas
leis. É a grande oficina ou laboratório da vida
espiritual. Algumas vezes, essas transformações
resultam de uma intenção; doutras, são produto
de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito
pense uma coisa, para que esta se produza, Como basta que modele
uma ária, para que esta repercuta na atmosfera (GE;
Cap. XIV, Item 14).
A Codificação não
poderia ser mais clara. Os Espíritos podem, através
do pensamento, “concentrar à sua vontade
esses elementos e dar-lhes a forma aparente que corresponda à
dos Objetos materiais” (LM; Cap.VIII), ou seja,
nada impede que nos locais onde se reúnam os Espíritos
sejam criadas formas e ambientes que constituam verdadeiras sociedades
do invisível.
Elucida Yvonne A. Pereira que: "O
certo é que tais essências, tais fluidos, são
tão reais, tão concretos para os desencarnados como
os elementos do mundo em que vivemos o são para nós.
Unicamente, os desencarnados construirão, no mundo espiritual,
de maneira bem diversa daquela que empregamos na terra. (...) A
força motora dos seus pensamentos poderosamente associados
e disciplinados, irradiando energias cuja natureza o homem ainda poderá
conhecer, agirá sobre os fluidos e essências e edificará
o que antes fora delineado e desejado" (Yvonne
A. Pereira. Devassando o Invisível).
“Algumas vezes, essas transformações
resultam de uma intenção;
doutras, são produto de um pensamento inconsciente”
(GE; Cap. XIV, Item 14). As criações
podem ser subdivididas, portanto, em duas categorias: conscientes
e inconscientes.
Ernesto Bozzano [A Crise da Morte]
afirma que a paisagem astral se compõe de duas
séries de objetivações do pensamento. A primeira
é permanente e imutável, por ser objetivação
do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas,
prepostas os governo das esferas espirituais. A outra
é, ao contrário, transitória e muito mutável;
seria a objetivação do pensamento de cada entidade
desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato. Examinando
o pensamento deste autor, podemos aceitar que as construções
das colônias espirituais enquadram-se na primeira série,
enquanto a paisagem das regiões umbralinas pertencem a
segunda (amarluz.net).
Portanto, temos:
a) Criações conscientes:
Quando os Espíritos, através do pensamento, imprimem
aos fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam
ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência,
uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as
propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros
corpos, combinando-os segundo certas leis, não estão
eles exercendo uma vontade consciente? A resposta só pode ser
positiva. As cidades espirituais são, pois, criações
intencionais. Por óbvio, não podem ser tão instáveis
como as criações inconscientes.
b) Criações inconscientes:
os Espíritos podem, inconscientemente, criar imagens fluídicas
como se fossem fotografias do pensamento. É assim que eles
se apresentam portando determinado objeto ou exibindo certa característica
física. Pelo fato de não ser o produto de uma intenção,
essas criações são tão fugitivas quanto
sua causa de origem, ou seja, desaparecendo o condicionamento mental
inconsciente (causa) também desaparece o seu efeito.
Não podemos confundir as criações
intencionais, elaboradas por psiquismos elevados, com aqueloutras
que são meros efeitos de uma causa volúvel e involuntária.
Os Espíritos de baixo escalão são incapazes de
criações complexas, que são resultado de uma
força intencional elevada. Portanto, as sociedades
do invisível são forjadas por Espíritos de escol
para atender as necessidades evolutivas dos desencarnados que ainda
se encontram condicionados ao ambiente material.
9. Ainda assim questionam quanto a
existência de muros, hospitais e coisas semelhantes no plano
espiritual. Destacamos as palavras de Fausto Fabiano: "Ainda
na mesma questão 279 (L.E) a palavra 'interditada' nos dá
a ideia de limites, não absolutos, é claro [...] e como
essas regiões seriam interditadas? Embora a questão
279 não responda a esta particularidade, podemos muito bem
imaginar uma barreira energética, ou coisa semelhante, envolvendo
aquela estrutura organizacional, que impediria os espíritos
inferiores de entrar. Se o leitor quiser denominar essa barreira energética
simples mente de MURO também fique à vontade" (Revista
RIE, Ano LXXXVI, nº 7). Com relação aos
hospitais: "Ora, se não quisermos falar a palavra hospital,
para não ferir os ouvidos dos que não conseguem perceber
os desdobramentos lógicos que o estudo do Espiritismo nos dá,
então podemos dizer outra coisa mais complicada como: centro
de apoio aos espíritos arrependidos, ou sociedade de ajuda
aos espíritos necessitados, mas sinceramente, fica mais prático
falar hospital" (Idem).
10. Ressaltamos que todas as descrições
que recebemos do campo espiritual são referentes aos agrupamentos
de Espíritos condicionados a vida material, pois “seria
extremamente infantil a crença de que o simples ‘baixar
do pano’ resolvesse transcendentes questões do infinito”
(Chico Xavier. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz).
Falta-nos a percepção para compreender o que se passa
nas esferas mais elevadas da qual pertence a mãe de Andre Luiz.
Nosso Lar, por exemplo, “não é estância
de espíritos propriamente vitoriosos” (Chico
Xavier. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz). O mesmo
pode ser dito para as demais colônias espirituais de transição.
Assim, de acordo com Ernesto Bozzano, tudo está organizado
com o fim de tornar mais fácil, aos recém-desencarnados,
o período de transição da existência terrestre
para a existência espiritual propriamente dita. Sim, estamos
falando de Espíritos condicionados psiquicamente ao ambiente
material. A natureza não dá saltos. "Desse modo,
[o Espírito] dispõe de menor critério de julgamento
de suas manifestações, dentro de uma atmosfera muito
nova aos seus hábitos de uma vida inteira de várias
décadas" (Waldo Vieria. Nossa Evolução).
11. A temática é polêmica
e requer maiores explicações, contudo, para o objetivo
perseguido nestas breves linhas, estamos satisfeitos. Resta evidente
que não há incompatibilidade entre a Codificação
e as revelações das colônias espirituais. O erro
encontra-se entre aqueles que interpretam os textos doutrinários
gramaticalmente (principalmente as questões 1012 e seguintes
de O Livro dos Espíritos). Diz-nos o bom senso que,
para compreender a essência da codificação espírita,
a sua interpretação deve ser mais abrangente: Teleológica,
sistêmica, histórica e lógica.
Pelo exposto, concluímos pela
total coerência doutrinária das revelações
que trazem em seu bojo os relatos de sociedades organizadas no campo
extrafísico.