Espiritualidade e Sociedade




Ricardo Malta

>    Sociedade Extrafísica: Uma perspectiva doutrinária das revelações transcendentais


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Ricardo Malta
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domingo, 29 de janeiro de 2012


1. A Doutrina Espírita “apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação” (Ge; item 55). Destacamos de início o caráter não estático do Espiritismo que, justamente por essa característica peculiar que constitui toda ciência de observação, jamais estará ultrapassado.

2. Sabemos que as revelações espirituais devem passar pelo rigoroso método do controle universal do ensino dos Espíritos (CUEE), que encontra suas bases delimitadas na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo. Por isso, todo e qualquer ensinamento/revelação que não preencha esse pré-requisito de admissibilidade, não poderá ser considerado parte integrante do Espiritismo. Resta-nos saber se a revelação das colônias espirituais passou por tão rigoroso controle. Antes mesmo das obras psicografadas por Francisco Candido Xavier, já existiam outras relatando a existência das cidades espirituais, destacam-se: Além do véu (G. Vale Owen); Raymond: uma prova de sobrevivência da alma (Oliver Lodge); A vida no outro mundo (Caibar Shutel); A crise da Morte (Ernesto Bozzano), entre outras. Após André Luiz, milhares de outros Espíritos, por meio de grupos e médiuns distintos, surgiram para confirmar essa revelação. Yvonne A. Pereira recorda que, nos estudos científicos levados a efeito por Enersto Bozzano, vários médiuns eram desconhecidos uns dos outros, alguns até completamente alheios ao Espiritismo. Em verdade, a obra de Ernesto Bozzano é aplicação clássica e categórica do método CUEE. Portanto, ao nosso entender, esses relatos (das colônias espirituais) fazem parte da universalidade do ensino dos Espíritos.

3. Oportuno destacar que o critério da simultaneidade das comunicações nunca foi absoluto, nem poderia ser. Allan Kardec deixou isso claro inúmeras vezes. Note-se, por exemplo, as críticas que ele fez aos quatro evangelhos de Roustaing. Deixou-se que o tempo se encarregasse de dar a palavra final. Se o critério da simultaneidade fosse absoluto, o próprio codificador não iria esperar o pronunciamento futuro de outros Espíritos. Ademais, o que dizer das inúmeras outras hipóteses lançadas na Revista espírita que tiveram que aguardar o pronunciamento coletivo do plano espiritual? Algumas foram inseridas posteriormente na Codificação. É infantil a crença de que uma verdade deva ser condenada eternamente só porque não foi dita simultaneamente. O próprio codificador sabia disso. Ora, a tese de Roustaing, referente ao corpo fluídico de Jesus, morreu sem nunca receber o apoio da universalidade do ensino dos Espíritos. Isso também demonstra que só a verdade é capaz de receber o aval generalizado do mundo extrafísico. Os relatos das sociedades organizadas do plano invisível, contudo, nunca foram desmentidos.

4. Questionamos os críticos: Onde estão as obras negando a existência das cidades espirituais? Afirmam que a Codificação já fez o papel de negá-las. Contudo, discordamos desse entendimento que é fruto de uma interpretação gramatical dos textos doutrinários. Havendo tal divergência, quem poderia solucioná-la senão os próprios Espíritos? Ora, eles confirmam essa revelação a todo instante, aos milhares, por intermédio de diversos médiuns e grupos distintos. Entendemos que, se tais comunicações fossem apócrifas, o tempo se encarregaria de desmenti-las. Afinal, “de que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como verdade absoluta se, mais tarde, devesse ser combatida pela generalidade dos Espíritos?” (Revista espírita - Jun/1866).


5. A teoria do animismo costuma ser proclamada na argumentação contra as cidades espirituais. Eis a saída rápida e fácil para “explicar” tudo aquilo que não se entende ou mesmo não concorda. Afirma-se que, após o lançamento da obra Nosso Lar, todas as outras que trazem relatos semelhantes são frutos de animismo, isto é, meras reproduções inconscientes das idéias de Andre Luiz. Desculpem os defensores dessa opinião, mas esse argumento não resiste ao crivo da razão e do bom senso. Salientamos, mais uma vez, que as revelações das cidades espirituais já existiam antes das psicografias de Francisco Cândido Xavier. Reconhecemos a existência do puro animismo (a própria alma do médium é quem se comunica) e da interferência anímica (existe em qualquer comunicação mediúnica, com maior ou menor grau de intensidade; ver em O Livro dos Médiuns, Cap. XIX), no entanto, alegar que todas as comunicações que trazem relatos das colônias espirituais são produtos do inconsciente é, no mínimo, beirar à negação da existência da própria mediunidade! Ora, qual a dificuldade existente para que apareçam Espíritos negando todos esses relatos? Isso os contraditores não explicam.

6. Há, contudo, uma pequena minoria que defende a tese da mistificação coletiva dos médiuns. Parece-nos uma tentativa desesperada, mas frustrada, de negar a existência daquilo que é o óbvio: a realidade das colônias espirituais. Como explicar que todos os médiuns, mesmo os moralmente idôneos, sejam alvos exclusivos de Espíritos mentirosos? Sabemos que não existem médiuns perfeitos, mas também sabemos que “o poder que tem o médium de atrair bons Espíritos e repelir os maus está na razão direta de sua superioridade moral e da posse de maior número de qualidades que constituem o homem de bem(O que é o Espiritismo). É notória, por exemplo, a idoneidade moral do médium Chico Xavier. Podemos ter uma idéia da elevação dos Espíritos que ele sintonizava quando encarnado. “Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, de onde se conclui que as qualidades morais do médium exercem influencia muito importante sobre a natureza dos Espíritos que por eles se comunicam” (LM; Cap. XX; item 227).

7. Afinal, o que é uma colônia espiritual? Seria uma região circunscrita qual o céu teológico? Não. O Além, afirma Emmanuel, “não é uma região, e sim um estado imperceptível para a vossa potencialidade sensorial!”

Se não existem locais determinados e circunscritos no plano espiritual, não podemos, todavia, negar que os Espíritos se reúnem por simpatia, isto é, que os desencarnados se agrupam no plano espiritual por afinidade. Logicamente que essa reunião poderá moldar um ambiente de harmonia ou de perturbação, de acordo com psiquismo dos seus habitantes. Pode-se afirmar com segurança que no “mundo dos Espíritos também há uma sociedade boa e uma sociedade má; dignem-se, os que daquele modo se pronunciam, de estudar o que se passa entre os Espíritos de escol e se convencerão de que a cidade celeste não contém apenas a escória popular” (L.E; Intr. Item X).

Uma Colônia espiritual nada mais é do que uma cidade fluídica, criada pelo próprio psiquismo dos Espíritos, que se reúnem em grupos, por afinidade, constituindo “um mundo do qual o vosso dá uma vaga idéia(LE, Q. 278), ou, nas palavras do ilustre Leon Denis: “Espíritos similares se agrupam e constituem verdadeiras sociedades do invisível."

Neste sentido, elucida o psicólogo Adenáuer Novaes: “É através da manipulação dos fluidos que os espíritos constroem suas moradas e se organizam de acordo com sua evolução espiritual. Cidades, colônias, organizações diversas são construída pela utilização e manipulação do Fluido Cósmico Universal. Quanto mais evoluído o espírito, mais capacidade o tem de utilizar-se dos diferentes tipos de fluidos. É pelos fluidos e suas modificações que se estruturam as cidades astrais" (Adenáuer Novaes. Conhecendo o Espiritismo).

8. O Fluido cósmico universal (FCU) é “a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza” (GE; Cap. XIV, Item. 2).

O FCU constitui a chave para a explicação de inúmeros fenômenos, inclusive o da criação das colônias espirituais. Assim esclarece a codificação, observe-se:

Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes (GE; Cap. XIV, Item. 3).


Os fluidos são uma espécie de matéria prima, do qual os Espíritos manipulam para criar determinados efeitos. Obviamente que, quanto mais evoluído for o Espírito, maior será sua capacidade de manipular os fluidos conscientemente. Em A Gênese, encontramos maiores explicações desse verdadeiro laboratório da vida espiritual:

Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, Como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera (GE; Cap. XIV, Item 14).

A Codificação não poderia ser mais clara. Os Espíritos podem, através do pensamento, “concentrar à sua vontade esses elementos e dar-lhes a forma aparente que corresponda à dos Objetos materiais” (LM; Cap.VIII), ou seja, nada impede que nos locais onde se reúnam os Espíritos sejam criadas formas e ambientes que constituam verdadeiras sociedades do invisível.

Elucida Yvonne A. Pereira que: "O certo é que tais essências, tais fluidos, são tão reais, tão concretos para os desencarnados como os elementos do mundo em que vivemos o são para nós. Unicamente, os desencarnados construirão, no mundo espiritual, de maneira bem diversa daquela que empregamos na terra. (...) A força motora dos seus pensamentos poderosamente associados e disciplinados, irradiando energias cuja natureza o homem ainda poderá conhecer, agirá sobre os fluidos e essências e edificará o que antes fora delineado e desejado" (Yvonne A. Pereira. Devassando o Invisível).

“Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente(GE; Cap. XIV, Item 14). As criações podem ser subdivididas, portanto, em duas categorias: conscientes e inconscientes.

Ernesto Bozzano [A Crise da Morte] afirma que a paisagem astral se compõe de duas séries de objetivações do pensamento. A primeira é permanente e imutável, por ser objetivação do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas os governo das esferas espirituais. A outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objetivação do pensamento de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato. Examinando o pensamento deste autor, podemos aceitar que as construções das colônias espirituais enquadram-se na primeira série, enquanto a paisagem das regiões umbralinas pertencem a segunda (amarluz.net).

Portanto, temos:

a) Criações conscientes: Quando os Espíritos, através do pensamento, imprimem aos fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis, não estão eles exercendo uma vontade consciente? A resposta só pode ser positiva. As cidades espirituais são, pois, criações intencionais. Por óbvio, não podem ser tão instáveis como as criações inconscientes.

b) Criações inconscientes: os Espíritos podem, inconscientemente, criar imagens fluídicas como se fossem fotografias do pensamento. É assim que eles se apresentam portando determinado objeto ou exibindo certa característica física. Pelo fato de não ser o produto de uma intenção, essas criações são tão fugitivas quanto sua causa de origem, ou seja, desaparecendo o condicionamento mental inconsciente (causa) também desaparece o seu efeito.

Não podemos confundir as criações intencionais, elaboradas por psiquismos elevados, com aqueloutras que são meros efeitos de uma causa volúvel e involuntária. Os Espíritos de baixo escalão são incapazes de criações complexas, que são resultado de uma força intencional elevada. Portanto, as sociedades do invisível são forjadas por Espíritos de escol para atender as necessidades evolutivas dos desencarnados que ainda se encontram condicionados ao ambiente material.

9. Ainda assim questionam quanto a existência de muros, hospitais e coisas semelhantes no plano espiritual. Destacamos as palavras de Fausto Fabiano: "Ainda na mesma questão 279 (L.E) a palavra 'interditada' nos dá a ideia de limites, não absolutos, é claro [...] e como essas regiões seriam interditadas? Embora a questão 279 não responda a esta particularidade, podemos muito bem imaginar uma barreira energética, ou coisa semelhante, envolvendo aquela estrutura organizacional, que impediria os espíritos inferiores de entrar. Se o leitor quiser denominar essa barreira energética simples mente de MURO também fique à vontade" (Revista RIE, Ano LXXXVI, nº 7). Com relação aos hospitais: "Ora, se não quisermos falar a palavra hospital, para não ferir os ouvidos dos que não conseguem perceber os desdobramentos lógicos que o estudo do Espiritismo nos dá, então podemos dizer outra coisa mais complicada como: centro de apoio aos espíritos arrependidos, ou sociedade de ajuda aos espíritos necessitados, mas sinceramente, fica mais prático falar hospital" (Idem).

10. Ressaltamos que todas as descrições que recebemos do campo espiritual são referentes aos agrupamentos de Espíritos condicionados a vida material, pois “seria extremamente infantil a crença de que o simples ‘baixar do pano’ resolvesse transcendentes questões do infinito” (Chico Xavier. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz). Falta-nos a percepção para compreender o que se passa nas esferas mais elevadas da qual pertence a mãe de Andre Luiz. Nosso Lar, por exemplo, “não é estância de espíritos propriamente vitoriosos” (Chico Xavier. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz). O mesmo pode ser dito para as demais colônias espirituais de transição. Assim, de acordo com Ernesto Bozzano, tudo está organizado com o fim de tornar mais fácil, aos recém-desencarnados, o período de transição da existência terrestre para a existência espiritual propriamente dita. Sim, estamos falando de Espíritos condicionados psiquicamente ao ambiente material. A natureza não dá saltos. "Desse modo, [o Espírito] dispõe de menor critério de julgamento de suas manifestações, dentro de uma atmosfera muito nova aos seus hábitos de uma vida inteira de várias décadas" (Waldo Vieria. Nossa Evolução).

11. A temática é polêmica e requer maiores explicações, contudo, para o objetivo perseguido nestas breves linhas, estamos satisfeitos. Resta evidente que não há incompatibilidade entre a Codificação e as revelações das colônias espirituais. O erro encontra-se entre aqueles que interpretam os textos doutrinários gramaticalmente (principalmente as questões 1012 e seguintes de O Livro dos Espíritos). Diz-nos o bom senso que, para compreender a essência da codificação espírita, a sua interpretação deve ser mais abrangente: Teleológica, sistêmica, histórica e lógica.

Pelo exposto, concluímos pela total coerência doutrinária das revelações que trazem em seu bojo os relatos de sociedades organizadas no campo extrafísico.

 

 

Fonte:
http://estudofilosoficoespirita.blogspot.com.br/2012/01/sociedade-extrafisica-1.html?m=0

 

 


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