Depois de séculos de opressão,
humilhações em todos os setores da vida pública,
o gigante acordou. E, pelo jeito, parece não querer mais dormir.
Diante desse contexto, uma questão surge, merecendo atenta análise.
Trata-se da proibição de pessoas levarem bandeiras de
partidos políticos ou mesmo de movimentos sociais históricos.
Muitos não tardam de chamar tais proibições de
fascistas. Além de demonstrar desconhecimento de teoria política,
tais posicionamentos em nada ajudam na compreensão desse fenômeno,
até porque oriundo de um movimento sem líderes, articulado
nas redes sociais pelos mais variados atores da sociedade brasileira,
sem um rosto ou uma ideologia definida.
Em verdade, essas proibições são o ponto alto de
um fen??meno há bastante identificado na sociedade brasileira:
a perda de legitimidade dos partidos políticos. Isso é
grave. A Constituição desta nação foi construída
a partir da ideia de que os partidos são a caixa de ressonância
dos diversos segmentos integrantes da sociedade brasileira, a própria
base da democracia brasileira.
Todavia, a práxis dos partidos políticos brasileiros não
tem sido no sentido de refletir as ideologias latentes na sociedade
brasileira, a compor o salutar dialética que deve vigorar no
processo político de um Estado Democrático Brasileiro.
Tem sido, sim, no sentido de satisfazer os interesses imediatistas dos
ocupantes dos cargos públicos eletivos.
Independentemente da bandeira, da sigla, o político brasileiro
é visto como corrupto, sem qualquer compromisso com o seu discurso,
destituído de qualquer senso ético e moral. É eleito
porque o voto é obrigatório. É eleito porque a
legislação brasileira permite o voto de legenda, que muitas
das vezes permite o ingresso no parlamento de pessoas que, muitas das
vezes, recebem um número ínfimo de votos.
Com isso, há bastante tempo construiu-se a ideia de que a corrupção
é inerente à política, de que os políticos
nada valem. Em um primeiro momento, tal postura ideológica fomentou
uma inércia popular, uma falta completa de vontade de lutar para
mudar a realidade deste País. Contudo, como se pode perceber,
gerou um sentimento calado de desprezo pelo político, pelo discurso
partidário, pela existência de partidos políticos.
E, como consequência, hoje as pessoas se sentem ofendidas ao ver
alguém, em um movimento que luta pela ética, levantar
uma bandeira de partido político.
O povo não mais vê os partidos políticos como caixas
de ressonância da democracia. O povo vê os partidos políticos
como organizações criminosas autorizadas por lei. E, como
consequência, os partidos políticos estão recebendo
o tratamento de organizações criminosas.
E, de fato, esse tratamento é uma conquista da classe política
brasileira, independentemente de bandeira partidária, porque
muito lutou por isso.
É claro que esse cenário possui um viés tenebroso
porquanto pode dar azo a uma série de eventos nocivos à
manutenção da democracia. No entanto, é bom destacar
que esse viés tenobroso se transformará em uma realidade
se os partidos políticos forem incapazes de se reformularem a
partir de uma autocrítica.
Não há dúvida. Os partidos políticos brasileiros
trabalharam ardorosamente para perderem a sua legitimidade social. E
sem legitimidade, qualquer estrutura social tende a ser suplantada pelos
ventos da História. É o que se verificou, por exemplo,
com a estrutura monárquica que vigorava na França e na
Rússia.
Não se pode olvidar que a França revolucionária
experimentou momentos tenebrosos com a queda da monarquia. Excessos
foram cometidos. Contudo, foram cruciais para a construção
da sólida república francesa. Talvez precisemos de momentos
tenebrosos para construir uma estrutura política melhor do que
vigente neste País. E eles virão se a classe política
não se reformular. A questão posta perante à realidade
brasileira não mais se refere à manutenção
do "status quo" da classe política. Refere-se, sim,
à sua sobrevivência.
Neste momento não sei o que a deslegitimação dos
partidos políticos brasileiros poderá gerar. Porém,
algo acontecerá, ainda que não imaginado pelo gênio
humano. Mas certo é que a atual práxis da política
brasileira não mais pode subsistir.
De qualquer forma, não há espaço lógico
ou mesmo moral para argumentações contrárias à
proibição de bandeiras partidárias nos movimentos
pátrios que lutam por ética, já que, conforme já
dito, os partidos políticos brasileiros, há muito tempo,
perderam o viés de caixa de ressonância democrática
para se transformarem em quadrilhas institucionalizadas.
O movimento é antipartidário. E assim deve se manter.
Rio de Janeiro, 24 de junho de 2013.
Roberto Valadão Fortes
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