PASSES COLETIVOS OU
INDIVIDUAIS? O QUE OS ESTUDOS MAIS RECENTES SUGEREM SOBRE ISSO?
QUAIS SÃO OS FATOS OU MITOS QUE CERCAM ESSA INCÓGNITA
SOBRE ESTE TEMA?
Uma conversa num grupo fechado
sobre o espiritismo me levou a buscar algumas respostas frente a um
tema muito interessante que envolve a pra´tica atual do passe
nos Centros Espiritas: Passe coletivo funciona?
Depois de algumas trocas de mensagens e análise de argumentos,
prós e contras, ficou nítida a necessidade de, primeiramente,
se definir o que é o passe.
Em termos históricos, envolvendo sua origem no meio espirita,
ela vem da prática e estudos de Franz Anton Mesmer (1777),
um médico que dedicou boa parte de sua vida ao estudo
da possibilidade de existir uma “energia magnética”
capaz de sair de uma pessoa (agente) e nutrir um doente (receptor).
Tal hipótese veio ser aceita posteriormente por Kardec e devido
a isso o termo “passe magnético” vem sendo usado
até os dias de hoje no espiritismo. Uma grande contribuição
para o meio espirita científico se deu através das experiências
do pesquisador Albert De Rochas (1899), onde ficou evidente que algum
tipo de energia (sutil) surgia das mãos de certas pessoas.
De Rochas pode verificar isso com o uso de médiuns videntes,
onde esses declaravam inclusive perceberem variações
de cores.
Com base nesses fatos históricos, fica evidente que o passe
se trata de alguma forma de energia emanada pelas mãos de um
médium ou agente possuidor de tais poderes.
Estudos recentes sobre esse tema, abordados em nossa primeira edição
da Revista Ciência Espírita (link)
demonstram que tal energia está relacionada com a emissão
de fótons e atua diretamente no sistema imunológico
dos receptores (JOINES, 2013 e OLIVEIRA
MONEZI, 2003).
Num estudo posterior de Monezi (2013), um efeito notório veio
a ser percebido em pacientes sob a condição de estresse,
evidenciando mais uma vez que a imposição das mãos
surtia algum efeito sobre o ser humano. Vale ressaltar que Monezi,
para manter um rigor científico, usou grupo de controle placebo,
onde pessoas não possuidoras da energia do passe, aplicaram
dentro do mesmo rito (Reiki), as mãos sobre pacientes idosos
e o mesmo resultado não veio a ocorrer.
Com esses três estudos recentes, somados aos estudos do passado
parece ficar evidente que existe uma energia que emana das mãos
de certas pessoas, e estas não precisam ser médiuns
efetivamente, uma vez que o nome “passe magnético”
é apenas um termo usado dentro do espiritismo para descrever
uma energia de conhecimento antiga da parte oriental de nosso planeta,
tambe´m chamado de energia Ki (Japa~o) ou Chi (China).
Em um estudo mais recente, publicado em nossa revista (edição
6 - DEZ/2015), Moreira Freire & Silva, analisando essa
mesma energização (ki), porém na água,
com o auxílio de uma médium, puderam replicar alguns
dos experimentos de De Rochas, evidenciando que a água se fluidifica
e que dependendo do receptor, essa energia muda de cor. Os pesquisadores
sugerem mais estudos para tentarmos descobrir qual cor se relaciona
a algum tratamento em específico.
PASSE, PRECISA SER MÉDIUM OU NÃO?
Pelos resultados obtidos, e a grande
abordagem cultural e religiosa dos envolvidos, parece ficar claro
que a transmissão do passe não precisa de alguma mediunidade
em específico, ou seja, a fonte geradora da energia “magnética”
ou “Ki”, independe da necessidade da ação
de espíritos para que ela ocorra. Por outro lado a reciproca
também é verdadeira, onde, essa energia sutil sendo
produzida por um agente requer um estado de concentração,
nada impede que exista um controle por parte do mundo espiritual,
onde este atuaria de forma complementar e auxiliar. Isso parece ficar
bem demonstrado com o uso da mediunidade de vidência na verificação
da variação de cores, demonstrando que a energia não
é transmitida de uma única forma.
Vale comentar que os experimentos de JOINES (2013)
usaram 100 pessoas e dentre os emissores haviam meditadores, curandeiros
e pessoas normais. Houve um caso de pessoa dita normal (sem crença
ou aptidão) que veio a demonstrar a mesma emissão de
fótons bem acima do normal.
O PASSE COLETIVO FUNCIONA?
A resposta para essa pergunta não é simples e nem definitiva,
mas nos cabe aqui dar um parecer frente aos dados coletados por estudos
dentro dos padrões científicos que possuímos.
Na conversa com colegas espiritas sobre o tema, veio a surgir uma
das inúmeras fontes de estudos (ou opinião) que defende
a ideia de que o passe coletivo funciona de fato. Isso nos obrigou
a eleger um desses trabalhos e tecer uma análise mais detalhada
nos argumentos para tal hipótese.
Selecionamos um artigo publicado no site Correio Espirita [1],
onde o autor, Jacob Melo, defende a hipo´ tese de que o efeito
do passe coletivo possui mesmo efeito que um passe individual. Salientamos
que nossa breve análise apenas confronta ideias e entendimentos
e, de forma alguma o autor, até por não sabermos se
o mesmo ainda possui a mesma opinião sobre a temática.
Em um primeiro momento, não encontramos argumentos, de Melo,
oriundos de experimentos ou testes, nem mesmo de alguma bibliografia
sobre o tema, ao exemplo do livro de De Rochas, onde efetuou muitos
testes e expôs os resultados.
No inicio do artigo, Melo expõe bem suas definições,
onde ele diz:
Para o entendimento acerca do que
proponho tratar neste artigo gostaria de deixar claro o que defino
como passe coletivo: trata-se daquela aplicação de
fluidos em que um ou mais passistas se posicionam de frente ou lateralmente
a várias pessoas, num ambiente único, e direcionam
ou emitem fluidos para, com o auxílio da Espiritualidade,
envolver a todos num mesmo “clima fluídico”,
de uma só vez. Por outro lado, o passe individual é
aquele em que um passista assiste diretamente a um paciente por
vez, ainda que numa cabine coletiva.
Encontramos um problema aqui no que
se refere a “clima fluídico”, isto porque, embora
saibamos que alguns experimentos demonstraram que isso é possível,
ficou muito evidente que essa “força” seria extremamente
“fraca” (Schwartz, 2011 - Radin,
XXXX), me refiro a isso pois não temos conhecimento
adequado e suficiente para garantirmos que esse “clima”
poderia conter a mesma eficácia que um passe ou “atingir”
efetivamente todas as pessoas num mesmo ambiente físico. Em
outro trecho, Melo cita a questão da fé:
Todos sabemos que a fé é
um elemento valioso num processo terapêutico qualquer; no
passe não seria diferente. Portanto, considerando-se que
o paciente já parte do princípio da desconfiança
e do descrédito ao passe em análise, essa insegurança
gerará um grande potencial de bloqueios, contrário
ao que se esperaria de uma atitude de crédito e confiança.
Nessa questão há, a
nosso entender, uma grande falha científica, pois para se ter
certeza de um elemento energético, precisamos eliminar o sentimento
de fé. Quando o autor se refere a fé "ser um
elemento valioso no processo terapêutico” é
porque ele vai mais além do que a questão envolvida,
ou seja, nas pesquisas de medicina sabe-se que a fé está
ligada diretamente ao efeito placebo, onde este pode alterar resultados,
mas não pela ação do agente envolvido, no caso
uma medicação. É de amplo conhecimento que a
fé está ligada também a auto-sugestão,
e isso num contexto espirita, estaria mais vinculado à “sintonia"
ou mentalização de algo do que propriamente dito a uma
resposta à existência ou não de algum fluídico.
No entanto concordamos com o autor que o receptor necessita estar
predisposto a receber tal energia, porém a reciproca não
garante que por se ter fé irá receber algo que não
está no ambiente. Isso seria mais facilmente explicado pelo
fato da “sintonia mental”, ou seja, um meditador pode
melhorar seu estado físico meditando apenas, “sintonizando”
um ambiente mais propicio onde seu próprio organismo se adequaria
melhor e com isso teria a sensação ou percepção
de melhoria.
Imagem retirada de http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu2/foto/0,,42673444,00.jpg
Em outro momento Melo afirma:
Ao contrário
de só vir a ser acionado quando “impedimentos”
nos passes individuais se impuserem, os passes coletivos deveriam
ser mais largamente empregados e seus alcances melhor explicados
e explicitados.
Não podemos concordar com tal
afirmação pois não vemos embasamento cientifico
para tal. Não há evidência alguma de que o fluido
do passe venha a ficar no ambiente (gerando algo eficaz), caso assim
o fosse, nos experimentos de JOINES (2013),
os sensores captariam os residuais, fato que não ocorreu e,
pelo contrário, veio a ser detectado somente quando o agente
(ou médium) se concentrava na imposição das mãos,
nem antes e nem depois. Fosse assim também, nos estudos de
MONEZI (2003), todos os camundongos demonstrariam
alteração do sistema imunológico, pois se encontravam
em mesmo ambiente. Por outro lado, tal fato parece não ter
mesmo efeito na água, onde essa demonstra reter essa energia,
mas ainda precisamos saber por quanto tempo isso permanece, fato ainda
a ser investigado.
Em outro momento, Melo relata:
No passe coletivo, os fluidos em
operação não precisam passar necessariamente
pelos braços e mãos dos passistas, já que,
nesse caso, o mais comum é a circulação dos
fluidos partir diretamente dos centros vitais dos doares, além
dos fluidos dos espíritos aí envolvidos.
De onde parte o pressuposto de não
haver a necessidade da imposição das mãos uma
vez que “o mais comum” seria a circulação
dos fluidos pelos centros vitais? E de onde viriam os fluidos dos
espíritos?
Não podemos concordar com tal afirmativa pois ela não
parece ter embasamento teórico nem cientifico. Sabidamente
os espíritos manipulam os fluidos no mundo encarnado, tanto
é verdade que precisam dos médiuns. Há evidências
de que residuais de fluidos permaneçam em determinados locais,
podendo serem manipulados, mas ainda há que se estudar muito
sobre isso. Na primeira afirmativa, desta citação, não
vemos razão alguma para se defender a ideia da não imposição
das mãos, haja visto que nos experimentos de Monezi com camundongos,
estes que receberam a imposição das mãos e demonstraram
tal efeito (na análise sanguínea), o mesmo não
veio a ocorrer com o grupo placebo e o grupo controle que estavam
no mesmo ambiente. Vale salientar ainda que há relatos de médiuns
videntes que percebem a emanação das energias sendo
transmitidas pelas mãos dos médiuns e não por
centros vitais.
Outra citação:
A grande importância a ser
destacada no passe coletivo é a posição mental,
tanto do passista como do paciente. Esperança, fé,
oração, confiança e humildade são ideais
para uma boa sintonia nos passes em geral, sendo nos coletivos,
entretanto, de indispensável efetivação para
que os benefícios sejam alcançados em sua maior força.
Reforçamos que a “posição
mental”, embora valiosa por definir uma receptividade, não
pode garantir a recepção dos referidos “fluidos”.
Toda essa “sintonização” pode gerar uma
sensação de bem estar por si só, como um placebo
ou sintonia com um “estado mais elevado”, mas não
garante receber uma energia que não estaria presente, onde
o resultado aparentemente seria o mesmo.
Melo traz em seu artigo mais detalhes, que deixamos aos leitores mais
interessados em se aprofundar no tema, busquem por mais
informações.
Para nós, no presente momento e com os dados obtidos por experiências,
não poderíamos “certificar” o passe coletivo
como algo realmente eficiente, nem mesmo certos de algum beneficio
em especifico.
Sugerimos aos leitores que ponderem com um senso critico todas as
informações que veiculam no meio espirita, tanto em
livros como pela internet. O espiritismo se fez por Kardec para buscar
a fé racional, embasada em muitos testes para que se possa
realmente concluir com mais exatidão sobre algum tema.