Gabriel
Delanne
> A mediunidade mecânica
Sumário:
– O espiritismo é uma ciência de
observação
– O médium é o instrumento necessário
para estabelecer relações entre os homens e os espíritos
– Influência do organismo nas manifestações
– Influência do espírito do médium
– Automatismo da escrita
– O caso do dr. Cyriax
– As explicações dos sábios:
Taine, dr. Carpenter, Carl du Prel, Hartmann, Aksakof
– Os diferentes tipos de escrita
– Em círculo, em espiral, às avessas
– A escrita em espelho
– Diferentes letras do mesmo médium
– Os casos do reverendo Stainton Moses, de Kate
Fox, da sra. Piper
– Escritas misturadas em línguas estrangeiras
– Deve-se estudar as características
que separam a escrita automática da produzida pelos espíritos,
denominada escrita mecânica.
__________
Introdução
Os espíritas foram frequentemente
acusados de credulidade inveterada, e se, por vezes, em casos particulares,
os críticos tiveram razão, não é justo
englobar todos os adeptos nessa reprovação. A verdade,
ao contrário, é que a maioria dos partidários
do espiritismo só chegaram à convicção
após haver estudado longamente os fenômenos, após
ter vencido seus preconceitos e ter-se persuadido experimentalmente
de que a existência dos espíritos é uma realidade
indiscutível. Acontece com os espíritas, o que ocorre
em todas as coletividades; nelas encontram-se inteligências
em diversos graus de desenvolvimento. Uns, por falta de discernimento
e de educação científica, aceitam, sem verificá-las,
as mais improváveis afirmativas que lhes chegam pelo canal
dos médiuns; outros procuram compreender os fatos, analisando-lhes
o modo de produção, e do ponto de vista da sua capacidade
intelectual. Entre estes últimos podemos incluir as eminentes
inteligências que recentemente foram conquistadas pelo espiritismo,
tanto por uma paciente investigação como pela evidência
irrefutável das manifestações.
O domínio filosófico, por sua vez, foi ampliado em notáveis
proporções pela psicologia experimental, isto é,
por um método que associa ao senso íntimo, à
análise introspectiva, o estudo dos fenômenos da vida
que têm, ao mesmo tempo, um aspecto fisiológico e um
correlativo psíquico. Entre os processos empregados, o sonambulismo
hipnótico forneceu o meio de proceder a experiências;
todas as modalidades da sensibilidade, da memória ou da vontade
puderam ser submetidas, em conjunto ou separadamente, a investigações
variadas, a verdadeiras manipulações, de modo a lançar
uma luz toda nova sobre seu mecanismo e sobre suas relações
recíprocas. O paciente hipnótico foi o instrumento que
tornou essas descobertas possíveis.
Para o estudo do mundo espiritual, precisamos igualmente de um instrumento,
de um intermediário entre a humanidade terrestre e a humanidade
póstuma. Nós, o encontramos: é o médium.
Como possui uma alma e um corpo, pela primeira ele tem acesso à
vida do espaço, e pelo outro liga-se à Terra, podendo
servir de intérprete entre esses dois mundos. Temos, evidentemente,
o maior interesse em conhecer bem esse transmissor, a fim de poder
utilizar-lhe todas as propriedades. É urgente especificar o
que ele é capaz de fazer por si mesmo, a fim de não
confundirmos sua ação com a que é exercida sobre
ele. Nos fenômenos da mediunidade, portanto, devemos definir:
1° A parte que se deve atribuir
ao organismo material do indivíduo;
2° a que é atribuível
ao seu próprio espírito;
3° a que lhe é estranha
e, neste caso, saber se provém dos assistentes ou de uma
intervenção completamente independente.
Desde a origem do espiritismo, essas
distinções foram feitas; vemo-las bem nitidamente indicadas
na obra de Allan Kardec.
Influência do organismo
Quando o espírito, após
a morte, habita o espaço, se quiser mover um objeto físico
ou atuar sobre um encarnado, ele deve pedir emprestada a energia de
que é desprovido a um organismo vivo, capaz de fornecer-lhe:
o médium é esse gerador. Todo ser humano apto a exteriorizar
sua força nervosa poderá servir de médium (7).
A mediunidade não é, pois, uma faculdade sobrenatural,
um dom miraculoso; depende simplesmente de uma propriedade fisiológica
do sistema nervoso, não tem necessariamente qualquer relação
com a moralidade ou com o nível intelectual do médium.
Ao encontrar médiuns indignos, não devemos surpreender-nos
mais do que nos espantamos ao ver uma boa aparência em malfeitores,
finura em gatunos ou eloquência em certos políticos.
Os espíritos enfatizaram com freqüência essa característica
física da mediunidade. À pergunta feita por Allan Kardec,
se o desenvolvimento da mediunidade tem ligação com
o desenvolvimento moral do médium, foi-lhe respondido
(8):
Não, a faculdade propriamente
dita tem a ver com o organismo; independe do moral. O mesmo, porém,
não acontece com seu uso, que pode ser bom, ou não,
conforme as qualidades do médium.
Em outro ponto, o espírito
Erasto diz também:
Já o dissemos: os médiuns,
quando na sua função, têm apenas uma influência
secundária nas comunicações dos espíritos;
seu papel é o de uma máquina elétrica, que
transmite telegramas de um determinado ponto a outro ponto distante
da Terra. Assim, quando queremos ditar uma comunicação,
atuamos sobre o médium como o encarregado do telégrafo
sobre seu aparelho…
Na sequência, veremos que a
emissão da força nervosa está em relação
direta com o estado de saúde do médium, e estudaremos
as variações que resultam dessa causa para a obtenção
das comunicações.
Influência do espírito do médium
Há alguns anos, psicólogos
ingleses e franceses pretenderam explicar a escrita automática
dos médiuns pela ação da subconsciência
do indivíduo, agindo à revelia da personalidade normal.
Existiria assim, nos médiuns e nos histéricos, uma segunda
consciência, desconhecida da primeira, que teria uma característica
particular e conhecimentos ignorados pelo indivíduo quando
no seu estado normal.
Esse eu desagregado seria o único autor da escrita, e o desconhecimento
do escrevente relativamente aos caracteres que sua mão traça,
de modo algum confirmaria a intervenção de uma inteligência
estranha. Estudaremos detalhadamente essas observações,
para delas guardar o que existe de interessante do ponto de vista
do mecanismo automático da escrita, mas mostraremos que o caráter
essencial da mediunidade mecânica não reside no ato involuntário
de escrever, e sim no conteúdo intelectual da mensagem assim
obtida.
Descreveremos o fenômeno da escrita mecânica de um modo
geral, depois passaremos em revista as particularidades especiais
que dizem respeito, quer ao mecanismo da comunicação,
quer ao conteúdo intelectual das mensagens.
Automatismo da escrita
Entre as numerosas manifestações espíritas,
uma das mais convincentes para quem delas é objeto é,
incontestavelmente, a escrita mecânica, também
chamada automática. Sentir seu braço agitado por movimentos
involuntários, ver a própria mão escrever sob
a influência de uma vontade que não é a sua, traçar
sem interrupção páginas inteiras, cujo sentido
se ignora, é um fato bem apropriado para levar a crer que se
está sob a influência de uma força estranha com
a qual se deseja travar o mais amplo conhecimento. Não se chega
a esse resultado instantaneamente; às vezes são necessárias
numerosas tentativas antes de conseguir escrever fluentemente. Eis
um relato instrutivo que descreve fielmente as fases pelas quais geralmente
se passa. Deve-se ao dr. Cyriax, diretor do Spiritualistische
Blaelter (9).
O autor conta que, querendo proteger-se de qualquer fraude, tinha
resolvido estudar em família as mesas girantes. Manteve vinte
sessões sem obter resultados, e estava a ponto de abandonar
sua investigação quando, na vigésima primeira
vez, constatou alguns movimentos. Passemos-lhe a palavra:
Nessa vigésima primeira sessão, inesperadamente
tive uma sensação muito particular, ora de calor,
ora de frio; em seguida percebi uma espécie de corrente de
ar frio passando-me no rosto e nas mãos, depois pareceu-me
que meu braço esquerdo ficava dormente; mas a impressão
era bem diferente da de fadiga que eu havia tido nas outras sessões,
e que podia fazê-la passar, seja mudando o braço de
posição, seja movendo-o, bem como a mão ou
os dedos.
No momento, meu braço estava por assim dizer
paralisado, e minha vontade era incapaz de fazê-lo mexer-se,
assim como os dedos; a seguir tive a sensação de que
alguém punha meu braço em movimento e, fosse qual
fosse a rapidez com que ele se agitava, não conseguia detê-lo.
Como esses movimentos tinham alguma analogia com
os que fazemos para escrever, minha mulher foi procurar papel e
um lápis, que pôs sobre a mesa. De repente minha mão
apanha o lápis e, durante alguns minutos, traço caracteres
no ar com uma rapidez incrível, de modo que meus dois vizinhos
eram obrigados a jogar-se para trás para não serem
atingidos, e após o que minha mão cai bruscamente
sobre o papel, risca-o violentamente e quebra a ponta do lápis.
Agora, minha mão repousava sobre a mesa, eu compreendia perfeitamente
que minha vontade estivera completamente alheia aos movimentos que
eu acabara de executar, assim como estava alheia na fase atual de
repouso. O fato é que eu não tinha conseguido parar
meus gestos e que agora, tampouco, podia movimentar o braço,
que continuava insensível e como se não me pertencesse
mais.
Mas, quando o lápis, novamente apontado,
foi recolocado ao meu alcance, minha mão pegou-o e começou
a estragar várias folhas de papel, cobrindo-as com grandes
traços e rasgões; depois acalmou- se e, para nosso
grande espanto, pôs-se a fazer exercícios de escrita
iguais aos que se manda crianças fazerem: primeiro, traços,
pernas de letras, depois N, M, A, C. etc., finalmente o O, sobre
o qual me demorei até que a força que animava meu
braço conseguiu fazê-lo mover-se em círculo,
sempre o mesmo, com grande rapidez. Depois disso, a força
parecendo esgotada, a agitação do meu braço
cessou. Senti uma nova corrente de ar frio passando outra vez através
da minha mão e sobre ela, e logo todo cansaço e toda
dor haviam desaparecido.
Embora o dr. Cyriax residisse na
América no momento em que fazia suas primeiras tentativas,
sua descrição é bem semelhante à que Allan
Kardec faz a respeito do início da escrita mecânica.
Eis, com efeito, o que diz o grande iniciador (10):
O primeiro indício de uma disposição
para escrever é uma espécie de vibração
no braço e na mão; pouco a pouco a mão é
arrebatada por um impulso que não consegue dominar. Às
vezes, ela só traça inicialmente riscos insignificantes;
depois, as letras se desenham cada vez mais nitidamente, e a escrita
acaba adquirindo a rapidez da escrita corrente. Em todos os casos,
deve-se abandonar a mão ao seu movimento natural, e não
acrescentar-lhe resistência, nem propulsão. Alguns
médiuns escrevem fluentemente e com facilidade desde o início,
às vezes até mesmo desde a primeira sessão,
o que é muito raro; outros ficam durante bastante tempo fazendo
traços e verdadeiros exercícios de caligrafia…
Eugène Nus também conta
como a mediunidade da escrita se desenvolveu no seu amigo Brunier
(11):
Brunier tornou-se mais tarde o que, na linguagem
espírita, se chama médium escrevente. Vimos nascer
e desenvolver-se nele essa faculdade automática; ele pegava
um lápis e deixava correr a mão, que começava
por traçar linhas informes. Pouco a pouco, conseguiu formar
caracteres quase nítidos e, por fim, escrever correntemente…
Quando pegava um lápis para entregar-se a
esses exercícios, sua mão se transformava numa verdadeira
máquina, com movimentos nervosos, espasmódicos, rápidos,
principalmente rápidos.
Lembro-me daquele lápis às vezes fazendo
perguntas a um de nós e, quando a resposta não vinha
rápido como o pensamento, agitando-se com impaciência,
arranhando convulsivamente o papel, que enchia de pontinhos, e escrevendo
com força:
— Ora, Nus, responda… responda Meray,
estou ficando aborrecido… Recentemente encontrei entre velhos
papéis calcados por seu lápis várias páginas
assim escritas, sem que seu espírito tivesse consciência,
e que, após tê-las riscado, lia com tanta curiosidade
quanto nós.
Acabamos de constatar que esse também era o
caso do dr. Cyriax. Passemos-lhe a palavra:
Tendo-se restabelecido a calma, encerramos a sessão,
felizes por termos constatado a manifestação de uma
força independente da nossa própria vontade, a que
nos era impossível resistir; quer fosse magnética
ou espírita, ou proviesse da atividade inconsciente do cérebro,
era uma questão reservada até nova ordem.
Vemos, por essa última frase, que o observador
estava a par das teorias que explicam a escrita automática
pela subconsciência, que chama de atividade inconsciente do
cérebro; veremos agora como adquiriu a convicção
de que a influência que o dirigia era-lhe completamente alheia:
Por mais insignificante que tenha sido o resultado
obtido, não ficamos tranquilos antes de ter tentado outras
experiências. No dia seguinte, à noite voltamos ao
trabalho e dessa vez a espera não foi longa. Mal haviam decorrido
cinco minutos e já sentia o ar frio, e a mesma sensação
era experimentada por meus colegas; depois sobrevieram-me movimentos
bruscos e às vezes muito dolorosos na mão esquerda,
que de quando em quando batia durante vários minutos seguidos
na borda da mesa, com pancadas desferidas com tal violência
que eu achava que devia estar esfolada; para minha surpresa, mais
tarde não descobri o menor ferimento, e todo vestígio
de dor desapareceu como por encanto.
A partir daquele dia, minha mediunidade desenvolveu-se rapidamente.
Comecei a escrever com a mão esquerda, inicialmente como
exercício; depois vieram comunicações de diferentes
espíritos, e uma noite desenhei uma cestinha de flores. Devo
dizer que no estado normal sou muito desajeitado com a mão
esquerda, não conseguindo usá-la para comer, muito
menos para escrever; quanto ao desenho, minha habilidade e pouca,
mesmo com a mão direita.
Agora eu tinha adquirido a mais completa certeza de que a força
que escrevia e desenhava por meu intermédio era independente
de mim, e que devia residir em outra inteligência que não
a minha, porque, durante as manifestações, eu conservava
toda a minha lucidez; não sentia qualquer inconveniente,
salvo no que concerne ao meu braço esquerdo que, durante
toda a sessão, parecia não me pertencer e dava-me
a impressão de estar sendo utilizado por alguém, sem
que eu o soubesse e contra a minha vontade. Meu espírito
tinha tão pouco a ver com isso que, enquanto minha mão
escrevia, eu podia conversar à vontade com as outras pessoas
do círculo. Um colega que um dia assistia à sessão,
querendo deter o movimento da minha mão e tendo, para tanto,
colocado as suas mãos de modo a apoiar sobre a minha todo
o peso do seu corpo, definitivamente nada conseguiu; minha mão
continuou seu trabalho com força e regularidade, ao passo
que eu mal percebia o peso das mãos apoiadas na minha.
Vemos por esse relato que o dr. Cyriax,
segundo suas próprias palavras, havia adquirido a mais completa
certeza de que a força que escrevia e desenhava por seu intermédio
era-lhe absolutamente estranha. O automatismo do braço e da
mão, o desconhecimento da ideia que se inscrevia no papel,
parecem-lhe uma prova irrefutável da intervenção
de outra inteligência que não a sua. Pois bem! Se acreditarmos
em certos psicólogos que estudaram essa questão, essas
duas características não provam de modo algum que esteja
em jogo outro agente que não o próprio doutor, porque
é um personagem oculto nele, uma segunda personalidade, de
cuja existência não se suspeita, a causa que o faz mover
a mão, e a inteligência que se distingue da sua. Eis
algumas reflexões desses observadores céticos.
Os sábios
Segundo Taine, pode perfeitamente
acontecer que em certos indivíduos se produza um desdobramento
mental espontâneo que cria duas personalidades distintas, que
se ignoram, embora existam simultaneamente. Eis como ele expõe
esta curiosa hipótese (12):
As próprias manifestações
espíritas nos mostram a coexistência, ao mesmo tempo,
no mesmo indivíduo, de duas vontades, de duas ações
distintas, uma da qual ele tem consciência, a outra da qual
não tem consciência e que atribui a seres invisíveis.
Vi uma pessoa que, conversando,
cantando, escreveu sem olhar para o papel frases inteiras, sem ter
consciência do que escreveu. A meu ver, sua sinceridade é
perfeita; ora, ela declara que ao terminar a página não
tem a menor ideia do que traçou no papel; quando lê,
fica admirada, as vezes alarmada. A letra é diferente da
sua letra normal. O movimento dos dedos e do lápis é
obstinado e parece automático. O texto sempre termina com
uma assinatura, a de uma pessoa morta, e traz a impressão
de pensamentos íntimos, de conteúdo confidencial,
confidencial, que o autor não gostaria de divulgar. Certamente,
constata-se aqui um desdobramento do eu, a presença simultânea
de duas séries paralelas e independentes de dois centros
de ação, ou, se preferirmos, de duas pessoas morais
justapostas no mesmo cérebro; cada uma delas tem uma tarefa,
e são tarefas diferentes, uma no palco, a outra nos bastidores.
Será fácil mostrarmos
que o escritor formula uma simples hipótese que não
se apóia em nenhuma prova. Ele parece ter considerado que a
crença nos espíritos não merecia sequer uma discussão,
assim apresenta o argumento de uma segunda personalidade, sem dar-se
ao trabalho de justificá-la de outro modo a não ser
por sua afirmação. Se outros fatos extraídos
do estudo do magnetismo e da observação de casos de
personalidades múltiplas não tivessem vindo apoiar essa
maneira de ver, nós o teríamos ignorado, porque existe
uma grande quantidade de casos que sua hipótese não
explica, como veremos a seguir; mas ela assumiu um caráter
sério a partir do momento em que numerosas pesquisas vieram
dar-lhe uma aparência verdade, por isso temos o dever de estudar
atentamente o que chamam de automatismo psicológico, subconsciência,
eu subliminar etc.
Na Inglaterra o dr. Carpenter
(13) formulou uma teoria sobre o que ele chama cerebração
inconsciente, que muitas vezes foi usada para explicar as comunicações
espíritas. Infelizmente, como observa Alfred Russel
Wallace (14), o sábio
doutor não citou nenhum dos fenômenos de clarividência
bem comprovados que estabelecem a precariedade da sua hipótese.
Na Alemanha, Carl du Prel e Hartmann
são partidários do inconsciente, ou seja, de um segundo
eu, diferente da personalidade normal, que permanece desconhecido
durante nossa vida e possui, pela clarividência e pelo desdobramento,
conhecimentos que jamais poderíamos adquirir pelos sentidos.
Com a teoria do segundo eu, fazem-nos supor que essa metade oculta
de nós mesmos, embora tendo faculdades superiores às
nossas, nem sequer percebe que faz parte de nós; ou, se o sabe,
mente com persistência, já que, na imensa maioria dos
casos, ela adota um nome distinto e se faz passar por uma individualidade
que viveu na Terra.
Por sua vez, nosso caro defensor Aksakof, adotando
em parte essas ideias, escreve (15):
1) Existe no homem uma consciência
interior, aparentemente independente da consciência exterior,
e que é dotada de uma inteligência e de uma vontade
que lhe são próprias, bem como de uma faculdade de
percepção extraordinária; essa consciência
interior não é conhecida pela consciência exterior,
nem controlada por ela; não é uma simples manifestação
desta última, pois essas duas consciências nem sempre
agem simultaneamente; segundo o sr. Hartmann, é uma função
das partes medianas do cérebro; segundo a experiência
de outras pessoas, é uma individualidade, um ser transcendental.
Deixaremos de lado essas definições; basta-nos dizer
que a atividade psíquica do homem apresenta-se como dupla:
atividade consciente e atividade inconsciente — externa e
interna — e que as faculdades desta última superam
em muito as da primeira.
2) O organismo humano pode agir à distância,
produzindo um efeito não só intelectual ou físico,
mas até mesmo plástico, dependendo, conforme tudo
leva a crer, de uma função especial da consciência
interior. Essa atividade extracorpórea é independente,
parece, da consciência exterior, que dela não tem conhecimento,
nem a dirige.
Após haver estudado os fatos, veremos que
todas essas hipóteses podem perfeitamente conciliar-se, ao
admitir-se que a alma, desligada do organismo, goza de poderes maiores
— clarividência, desdobramento etc. — do que no
estado normal, e que é ao retornar ao corpo que a lembrança
do que acabou de fazer se perde. Porém, no momento em que
exercia suas faculdades, ela estava consciente, e o esquecimento
do que acontece durante o desligamento é que fez com que
se acreditasse em duas individualidades distintas e independentes.
Nossos sábios franceses não vão
tão longe quanto Carl du Prel e Hartmann.
Limitam-se ao estudo dos fenômenos observados e a histéricos,
quer no estado normal, quer durante hipnose, e negligenciam também,
voluntariamente, tudo que não tenha uma explicação
estritamente materialista, de modo que concluem por uma desagregação
da consciência, que se separaria em personalidades secundárias,
coexistentes com o eu normal, e produzindo todos os fenômenos
que se podem atribuir à consciência comum. Antes de analisar-lhes
os trabalhos é conveniente conhecer as múltiplas formas
da escrita mecânica. Ao observar-lhe todas as singularidades,
compreender-se-á melhor a complexidade do problema.
Os diferentes tipos de escrita
Não podemos ignorar que se pode escrever inconscientemente,
quer segurando uma caneta ou um lápis, como habitualmente,
quer pousando a mão sobre uma prancheta apoiada em três
pés, um dos quais é substituído por um lápis.
Então sem uma intervenção voluntária por
parte do operador, o leve instrumento põe-se em movimento e
traça letras ou desenhos complicados. Esse processo foi muito
usado há uns quarenta anos e ainda é bastante utilizado
na Inglaterra e na América. Eis um relato que descreve bem
o fenômeno (16):
Faço questão de
lembrar que só me decidi a recorrer ao espiritismo em desespero
de causa e cansado de hipóteses razoavelmente ousadas, pareciam-me,
sobre a natureza e a origem dos fenômenos de que falei (movimento
de objetos sem contato). Ao tentar a aventura de experiências
mediúnicas, estava, portanto, disposto a arriscar-me a resultados
equívocos.
A prancheta que deveria servir-nos
estava colocada de modo que fosse quase impossível que a
mão, levemente apoiada na borda inferior, puxasse para trás
o lápis fixado na outra extremidade. Ora, assim que minha
mulher a tocou com o dedo, a prancheta se pôs em movimento,
começando com zigue-zagues e curvas, em todos os sentidos,
como exercícios preparatórios, dir-se-ia; depois,
logo pôs-se a escrever correntemente. Quanto a mim, nunca
obtive sequer a barriga de um a. Particularidade a ser notada: as
respostas solicitadas, na maioria das vezes, eram traçadas
em espirais ou circularmente, às vezes em letras invertidas.
O autor, fosse ele quem fosse, parecia gostar de vencer os obstáculos
e dar provas da sua habilidade gráfica. Mas, suponhamos que
isso nada prove e atribuamos essa exibição de destreza
à eletricidade (ou ao inconsciente) desenvolvendo no médium
um talento de que ele não suspeitava. Se em tais casos a
eletricidade (ou o inconsciente), combinados com o desejo do médium,
desempenham o papel que os incrédulos lhe atribuem, como
explicar, por exemplo, a parada imediata e definitiva da prancheta
após respostas como esta:
— Até amanhã,
até à vista, por hoje chega; preciso deixá-los.
Como explicar a recusa categórica a responder a certas perguntas?
Não há desejo, insistência
ou ressentimento dos interrogadores que adiante; a prancheta não
funciona mais. E, se foi fixada uma hora, somente na hora marcada
ela se decide a pôr-se novamente em movimento. Constatei isso
muitas vezes no decorrer das nossas experiências a dois.
O sr. Aksakof,
cuja experiência nessas matérias é muito grande,
chega às mesmas conclusões (17).
Sendo todas as condições absolutamente as mesmas, frequentemente
acontece que numa determinada sessão, quando tudo o que se
deseja é assistir aos fenômenos obtidos na sessão
precedente, não se obtém qualquer resultado, não
há o mínimo movimento da mesa ou do lápis que
o médium segura. É notório que muitas vezes um
desejo intenso só prejudica as manifestações.
Estas, quando se produzem, não podem continuar ao bel-prazer
dos assistentes. Assim, quando o espírito que se manifesta
por uma comunicação escrita avisa que terminou, o lápis
para — ou cai da mão do médium, se este está
em transe — e repetireis em vão vossas perguntas, a mão
não se mexe mais. O mesmo acontece numa sessão de efeitos
físicos. Tão logo o fim é anunciado (por exemplo,
pela palavra acabou, como era hábito na família Fox
— Missing Link, p. 53), a mesa volta a ficar imóvel,
e é inútil ficardes lá, ou tentar fazê-la
mover-se: não se produz mais nenhum som, nenhum movimento.
O sr. William Howitt, um escritor apreciado na Inglaterra,
numa carta endereçada ao reverendo B. H. Forbes
(18), diz:
Conheço várias pessoas
que escrevem, desenham e pintam sem qualquer esforço da sua
parte, algumas sem jamais ter estudado desenho. Escrevi um volume
inteiro sem ter necessidade de pensar nele e de modo completamente
mecânico; executei uma série de desenhos circulares,
cheios de pequenos objetos, todos diferentes uns dos outros, sendo
os círculos formados tão regularmente quanto um compasso
poderia produzi-los; no entanto, eram simplesmente feitos a lápis.
Artistas aos quais os mostrei declararam que uma nova faculdade
se revelara em mim; mas, infelizmente, a faculdade desapareceu,
como se para provar que não me pertencia. Os desenhos ainda
existem, mas eu não seria capaz de fazer uma única
cópia, mesmo que minha vida dependesse disso.
Um parente nosso desenhou coisas lindas e extraordinárias,
bem como legendas escritas da mesma maneira mecânica e involuntária;
de modo que, em sua maioria, esses desenhos são acompanhados
de notas explicativas, sendo que cada linha tem um sentido profundo.
Vi a maior parte das manifestações produzidas pelos
srs. Home, Squires e outros. Vi mãos de espíritos,
toquei-as em várias ocasiões. Vi escritas traçadas
pelos espíritos em papel posto no chão com um lápis.
Um certo sr. Salgue,
de Angers, também escrevia em 1868 (19):
Temos, num círculo privado,
uma jovem senhora, médium escrevente da maior capacidade,
que gostamos de utilizar a metade do tempo, porque o que ela escreve,
por meio da cestinha, com espantosa rapidez, é incontestavelmente
produto dos espíritos, principalmente quando a escrita se
processa em círculos, em espirais ou começa pela última
letra da última palavra de uma frase, indo da direita para
a esquerda.
Os caracteres da escrita nem sempre
são traçados normalmente, como acabamos de constatar,
e é um fato que se produz com frequência suficiente para
ter atraído a atenção dos observadores. O sr.
F. W. Myers diz a esse respeito (20):
Às vezes, a palavra ou
mensagem que é escrita torna-se ininteligível; pode
então ser abandonada como um contrassenso, mas um minucioso
exame posterior mostrará que há um método nessa
aparente confusão: a palavra foi simplesmente soletrada às
avessas. Por exemplo, etion por noite etc.
Na Revista Espírita (21),
temos um testemunho análogo do sr. cel. Devolluet,
observação que ele fez com sua paciente, Amélie:
Enquanto conversamos com as senhoras,
Amélie continua empunhando o lápis e nos chama a atenção
para uma frase em língua estrangeira que ela acaba de obter.
Nossa surpresa é enorme, mas logo que observamos as palavras
“enq” e “ue”, que se repetiam duas vezes,
achamos a pista: tratava-se de escrita às avessas, de que
Amélie nunca tinha ouvido falar. A tradução
era: — Que desejais que eu faça para agradar-vos? Caros
amigos, como eu vos amo!
Voltemos agora ao sr. Myers:
A par da escrita às avessas
já descrita, o automatista por vezes produzirá uma
forma de escrita invertida, de uma maneira bem mais complexa, ou
seja, para lê-la será necessário olhar através
do papel, diante de uma luz, ou segurá-lo diante de um espelho.
Conheço uma senhora que fazia rústicos desenhos automáticos,
toscas figuras egípcias (interessantes sob outro ponto de
vista, mas a princípio estranhas para mim). Entre essas figuras
havia um ornato arquitetônico, com o que parecia ser uma inscrição
hieroglífica. Essa senhora e seus amigos, levando a coisa
muito a sério, tiveram bastante trabalho tentando decifrar
esses caracteres a partir das analogias egípcias, sem consegui-lo.
Alguns meses depois, uma pessoa bem informada sobre a escrita automática,
pôs o papel diante da janela e leu facilmente o que era um
nome inglês na escrita em espelho.
Um amigo nosso, muito conhecido,
citou-me um caso em que a primeira experiência de escrita
fora desse tipo. Ei-lo: “Uma irmã nossa, casada com
um clérigo, tentava convencer-me de que toda escrita dita
automática, de certa maneira inconsciente era apenas o ato
do médium, por cuja mão era obtida, e, como prova,
disse:
— Se empunhasse um lápis,
minha mão nada escreveria, a menos que eu o desejasse. Pegou
um lápis e papel; logo sua mão começou a mover-se
apesar de todos os seus esforços para detê-la, e depois
de vários rabiscos em círculos e em zigue-zagues,
produziu algo que se parecia com escrita, mas que ninguém
conseguiu decifrar. Ela parou de ocupar-se com isso, mas, ao fim
de algum tempo, um de nós sugeriu que ela podia ter escrito
às avessas e, segurando o papel diante de um espelho viram-se,
bem legíveis, estas palavras:
— Tens razão, meu
nome é Herman.”
Antes que isso fosse escrito,
ela tinha pedido ao suposto espírito que dissesse seu nome
e tinha zombado da sua aparente falta de habilidade para responder.
Nenhum de nós se lembra de ter conhecido um vivo ou um morto
com esse nome: ALGERNON JAY.
O sr. Aksakof,
por sua vez, assinala o mesmo fenômeno (22).
Eis aqui — diz ele —
um fato que recebi em primeira mão do nosso conhecido escritor
Wsevolod Solovioff, que me deu por escrito:
“Estávamos no ano
de 1882. Nessa época, ocupava-me com experiências de
magnetismo e de espiritismo, e já há algum tempo sentia
um estranho impulso que me levava a pegar um lápis com a
mão esquerda e escrever; e, invariavelmente, a escrita se
produzia muito rapidamente e com nitidez, em sentido inverso, da
direita para a esquerda, de modo que só se conseguia lê-Ia
segurando-a contra um espelho ou contra a luz…”
Às vezes a escrita mecânica,
sem apresentar essas singularidades gráficas, varia no médium
de modo a diferenciar-se profundamente da sua própria escrita,
conforme as individualidades que se utilizam desse meio para transmitir-nos
suas ideias. Bons exemplos disso nos são fornecidos pelo reverendo
Stainton Moses no seu livro.
O reverendo Stainton Moses (A. Oxon) (23)
era um dos mais notáveis escritores do espiritismo inglês,
e pode-se dizer que, por sua elevação de pensamento,
pela retidão do seu julgamento, pelos seus conhecimentos científicos
e pela pureza da sua vida, soube inspirar uma simpatia universal.
Na sua obra, vemos a luta que se estabeleceu, desde o início,
entre o médium e as inteligências que se manifestavam
por seu intermédio. Imbuído dos limitados ensinamentos
da teologia protestante, o escritor, a princípio, levanta-se
energicamente contra as ideias novas que lhe chegam. Discute, argumenta,
tenta refutar seus instrutores espirituais; insensivelmente, porém,
é obrigado a admitir que a razão, a lógica não
estão do seu lado, e depois de muitas lutas acaba por adotar
o novo credo, mais em conformidade com a justiça e a bondade
de Deus, que lhe mostram seus correspondentes invisíveis. Entre
o espírito do reverendo Stainton Moses e os seres que se assinam
Doctor, Imperator, Prudens etc., existem diferenças tais que
não se pode cientificamente atribuir essas personalidades distintas
a desdobramentos inconscientes da personalidade do médium.
Aliás, em ocasiões diferentes essas inteligências
lhe revelaram fatos absolutamente desconhecidos por ele e por todos
os assistentes, os quais foram a seguir reconhecidos inteiramente
exatos. Mais tarde voltaremos ao assunto (24).
Cada um dos interlocutores espirituais caracterizava-se por uma escrita
especial, que era sua marca pessoal, sua chancela de individualidade.
As primeiras comunicações
— diz ele — foram todas num estilo uniforme, escritas
em caracteres pequenos e assinadas Doctor (o instrutor). Nos anos
seguintes, a forma das mensagens nunca mudou. Não importava
onde, nem quando escrevia, sua escrita continuava idêntica,
passando por menos mudanças do que a minha na última
década. A maneira de expressar-se era sempre a mesma, concisa,
sentia-se que se estava diante de uma individualidade bem determinada.
Para mim, é alguém com particularidades mentais e
morais tão nitidamente definidas quanto a dos seres humanos
com os quais estou em contato, se não o ofendo comparando-o
a eles.
Após um certo tempo, chegaram
comunicações de outras fontes; distinguiam-se uma
da outra por sua escrita peculiar e por traços pessoais de
estilo e de expressão, que, uma vez assumidos, permaneceram
invariáveis. Consequentemente, cheguei a conseguir dizer
quem as escrevia, bastando ver a caligrafia.
Mas, apesar dessas diferenças
gráficas e intelectuais entre as diversas comunicações,
o reverendo Stainton Moses não era homem que
se contentasse com um exame superficial; seu espírito metódico
levava-o a pesquisar qual poderia ser a participação
da sua inteligência no fenômeno, e anotou suas impressões
da seguinte maneira:
É interessante saber se
minhas próprias ideias não tiveram uma influência
qualquer nos assuntos tratados nas comunicações. Fiz
um esforço extraordinário para prevenir tal eventualidade.
No início, a escrita era lenta e eu precisava acompanhá-la
com os olhos, mas, mesmo nesse caso, as ideias não eram minhas.
Aliás, as mensagens logo assumiram um caráter quanto
ao qual eu não poderia ter dúvidas, uma vez que as
opiniões enunciadas eram contrárias ao meu modo de
pensar. Empenhava-me em ocupar meu espírito enquanto a escrita
se produzia. Cheguei a ler uma obra abstrata, a acompanhar um raciocínio
denso, enquanto minha mão escrevia com uma regularidade constante.
As mensagens assim transmitidas cobriam numerosas páginas,
sem correções, nem erros de redação,
num estilo frequentemente belo e vigoroso. No entanto, não
me sinto embaraçado ao admitir que meu próprio espírito
era utilizado, e que o que era ditado podia depender, quanto à
forma, das faculdades mentais do médium. Pelo que sei, sempre
se pode encontrar indícios de particularidades do médium
nas comunicações assim obtidas. E não pode
mesmo ser de outra forma. Mas, fica a certeza de que as ideias que
passaram por mim eram, em sua totalidade, hostis, opostas às
minhas convicções firmadas. Além disso, em
várias ocasiões, informações que certamente
me eram alheias foram-me transmitidas, claras, precisas, definidas,
fáceis de verificar e sempre exatas. Em muitas sessões,
espíritos vinham e por pancadas na mesa davam informações
sobre si mesmos, bem nítidas, como verificávamos a
seguir. Em várias oportunidades, eu também recebi
informações pela escrita automática.
Como é fácil ver,
o reverendo Stainton Moses é um investigador metódico
em quem se pode confiar, e como ele declara estar certo de que as
comunicações não são dele, seja quanto
à escrita, seja quanto ao fundo, como afirma que as inteligências
que lhe dirigiam a mão indicaram-lhe coisas exatas que ele
ignorava, deve-se admitir que os espíritos se manifestam, apesar
da contrariedade que isso possa causar naqueles que vêem assim
caírem suas negações fantasiosas.
A teoria de um desdobramento do eu, dando origem a uma personagem
secundária, aqui é evidentemente insuficiente, porque
não é mais uma única individualidade que aparece,
mas várias, tendo cada uma delas sua característica
especial, que se revela não somente por uma escrita particular,
mas também por um estilo que se mantém durante anos,
sempre idêntico. Pode-se conceber a coexistência de tantas
personalidades separadas e tão diferentes num indivíduo
que goze da integralidade das suas faculdades normais? Para explicar
todos os fatos que devemos à observação espírita,
seria preciso estender mais os poderes dessa subconsciência
e supor que ela seja capaz de agir, simultaneamente e sem sabê-lo,
fora e dentro do organismo do médium. Eis uma prova que devemos
a W. Crookes (25):
Já foi provado que os fenômenos
espíritas são governados por uma inteligência.
É muito importante conhecer a origem dessa inteligência.
Será a do médium ou a de uma das pessoas que estão
no aposento, ou bem essa inteligência estará fora deles?
Sem querer pronunciar-me definitivamente quanto a este ponto, posso
dizer que, embora tendo contatado que em muitos casos a vontade
e a inteligência do médium aparentavam ter bastante
atuação nos fenômenos, observei também
vários casos que parecem mostrar de maneira conclusiva a
ação de uma inteligência externa e alheia a
todas as pessoas presentes (26). O
espaço não me permite expor aqui todos os argumentos
que se pode apresentar para provar essas afirmações,
mas, entre numerosos fatos, citarei livremente um ou dois.
Na minha presença, vários fenômenos produziam-se
ao mesmo tempo, e o médium não tinha conhecimento
de todos. Aconteceu-me ver a srta. Fox escrever automaticamente
uma comunicação para um dos assistentes, enquanto
uma outra comunicação sobre outro assunto, para outra
pessoa, lhe era transmitida por meio do alfabeto e por pancadas,
e durante todo o tempo o médium conversava com uma terceira
pessoa, sem qualquer dificuldade, sobre um assunto completamente
diferente dos dois outros…
Podemos relatar mais alguns testemunhos
da mesma espécie, colhidos em diferentes autores dignos de
todo crédito.
Lembro-me bem exatamente —
diz o dr. Wolfe(27) — que um dia o sr. Mansfield, enquanto
escrevia com as duas mãos em dois idiomas, me disse:
— Wolfe, você conhece na Colômbia um homem chamado
Jacobs?
Respondi afirmativamente. Ele continuou:
— Ele está aqui e quer comunicar-lhe que deixou seu
despojo mortal esta manhã.
Tive a confirmação
da notícia. O fato acontecera a algumas centenas de milhas
de distância. Que explicação se pode dar a esta
tripla manifestação intelectual?
O reverendo J. B. Fergusson
depõe sobre um fato semelhante (28).
Um caso análogo ocorrido na Inglaterra é narrado nos
Proceedings da Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Na América,
R. Hodgson, um dos mais eminentes membros dessa sociedade,
ao experimentar com a sra. Piper, conseguiu acompanhar com ela o desenvolvimento
da mediunidade automática. Apresentamos aqui um resumo da sua
dissertação, publicada nos Proceedings (29),
que nos familiariza com as diversas fases que o fenômeno pode
apresentar.
Observações do sr. R. Hodgson
sobre a mediunidade da sra. Piper.
O primeiro caso de escrita automática
que me foi dado observar pessoalmente produziu-se a 12 de março
de 1892.
O assistente, que era uma senhora,
tinha trazido, como meios de prova, diversos objetos, entre os quais
um anel que havia pertencido a Annie D.
Phinuit (30)
deu informações sobre aquela mulher e pronunciou o
nome Annie, depois, no momento em que a sessão ia encerrar-se,
a mão direita da sra. Piper pôs-se em movimento delicadamente,
até elevar-se acima da cabeça. O braço pareceu
fixar-se rigidamente nessa posição, como se contraído
por um espasmo, ao passo que a mão estava agitada por um
tremor rápido. Phinuit escreveu várias vezes: —
Ela está segurando minha mão — e acrescentou:
— ela quer escrever.
Pus um lápis entre os dedos
e um bloco de anotações sobre a cabeça, abaixo
do lápis. Nenhuma escrita se produziu, até que, aconselhado
por Phinuit a segurar a mão, segurei-a com firmeza, no ponto
de junção com o pulso, interrompendo assim os tremores,
ou vibrações. Então ela escreveu: — Sou
Annie D… (o nome foi transmitido exatamente). Não estou
morta… Não estou morta, mas viva… não
estou morta… o mundo… até breve… sou Annie
D…
Os dedos largaram o lápis
e Phinuit começou a murmurar:
— Baixe minha mão.
Baixe minha mão.
O braço continuou contraído
por mais alguns instantes, na mesma posição, depois,
enfim, delicadamente e aparentando certa dificuldade, caiu para
o lado, e pareceu que Phinuit recuperara seu domínio sobre
ele.
Antes desse fato, eu tinha visto
Phinuit escrever um pouco, mas não sabia que um outro agente
tinha se apoderado da mão, enquanto Phinuit se manifestava
ao mesmo tempo. Por essa época, soube pela srta. A. M. R.,
de quem descrevi no meu primeiro relatório algumas experiências
com a sra. Piper, que seu amigo H…, de quem ela fala como
tendo escrito enquanto possuía o corpo do médium,
na ausência de Phinuit, escreveu várias páginas,
no dia 23 de maio de 1891, e a srta. R… encontrou a nota que
havia redigido a esse respeito: Escreveu enquanto Phinuit ocupava
o corpo; mas H… diz que ele pegou, dirigiu a mão e
escreveu isto.
Nas semanas seguintes, durante
várias outras sessões, muita escrita foi obtida exatamente
pelo mesmo processo, tendo sempre o bloco de notas no alto da cabeça,
e era evidente que Phinuit sentia muito menos dificuldades. A 29
de abril de 1892, aproximei uma mesa sobre a qual o braço
direito da sra. Piper pôde apoiar-se sem problemas e expus
a opinião de que a mão poderia escrever sobre a mesa
em vez de fazê-lo sobre a cabeça. No entanto, o braço
retomou de novo sua posição, com a mão acima
da cabeça, com Phinuit dizendo que Georges Pelham(31) ia
escrever. Pouco a pouco, diante do meu repetido pedido para que
o braço retomasse sua nova posição, e também
utilizando uma força bastante considerável, a resistência
diminuiu diante das reiteradas solicitações que eu
fazia, repetindo: você deve escrever sobre a mesa. Consegui
baixar o braço e, a partir desse momento, a escrita se produziu
do modo habitual, com o braço apoiado mais ou menos numa
mesa colocada à direita da sra. Pipper.
Quando o braço é
apanhado para escrever, assim como no momento em que Phinuit toma
posse do corpo, produz-se um certo número de movimentos espasmódicos,
em alguns casos bem violentos, que rejeitam confusamente a mesa,
o lápis e o bloco de notas e exigem uma força notável
para serem contidos. Às vezes, mas muito raramente, a escrita
é interrompida por um movimento espasmódico do braço,
a mão resistindo violentamente e voltando-se para o pulso.
Ao fim de pouco tempo, que podemos estimar mais por segundos do
que por minutos, o espasmo relaxa e a mão recomeça
a escrever. Phinuit não precisa parar de conversar enquanto
a mão escreve. Numa ocasião, na minha presença,
Phinuit escutava a leitura do relatório estenografado de
uma sessão precedente, fazendo suas observações,
acrescentando detalhes aos fatos relatados, e ao mesmo tempo a mão
escrevia livremente e com rapidez sobre outros assuntos, respondendo
às perguntas de outra pessoa, amiga do espírito desencarnado
que se servia da mão do médium. Isso durou mais de
vinte minutos.
Em outro caso, ao qual não assisti, soube que Phinuit, por
mais de uma hora, falou de um modo singularmente rápido e
animado, com uma volubilidade maior do que costumava fazê-lo,
respondendo a várias moças que estavam presentes à
sessão, e durante todo o tempo a mão escrevia sobre
outras matérias, dando respostas a uma outra pessoa.
O único que não
conservou sua presença de espírito foi o assistente
ao qual a mão respondia e que o repreendeu por não
prestar bastante atenção à conversa.
Muitas vezes constatei que enquanto
Phinuit falava com uma pessoa e a mão com outra, ambos, durante
uma breve interrupção, e ao mesmo tempo, dirigiam-se
a mim; essa dupla ação nunca deixou de produzir-se
a meu pedido, quando Phinuit estava presente e a mão estava
sob o poder de um outro espírito. Em todos os casos em que
a mão escreve independentemente de Phinuit, a faculdade de
ouvir reside claramente na mão, quanto a quem a dirige, ao
passo que Phinuit sempre ouve certamente por via normal. Esse deslocamento
de sensibilidade será objeto de um estudo na segunda parte
do meu relatório.
As comunicações
escritas de que falamos nem sempre se apresentam como provenientes
da mesma pessoa e não se produzem em todas as sessões.
Quando uma ocorre, ela é comumente atribuída a algum
amigo falecido do assistente. Eu precisaria ir mais longe quanto
às particularidades apresentadas pela escrita em si. Por
enquanto, basta-me dizer que ela varia muito de aspecto conforme
o grau de excitação, se assim se pode dizer, do comunicante,
conforme a menor ou maior habilidade que ele já tenha adquirido,
e provavelmente, também, segundo muitas outras condições
que só podemos citar a título de hipóteses.
Além disso, pareceria que até quando a instruímos
de um modo qualquer, a quase- personalidade que guia a mão
ignora que ela escreve. Quanto a isso, o modo de ser do comunicante,
sobretudo, parece indicar uma viva preocupação de
transmitir suas idéias ao assistente.
Estou absolutamente certo de que
é assim, seja qual foi, a teoria que se adote sobre a identidade
do comunicante, quer seja o que ele afirma ser, ou simplesmente
uma outra camada da consciência da sra. Piper, considerando-se
ela própria como uma inteligência estranha.
Pouco depois desse início
da escrita, ocorreu-me constatar que a mão esquerda podia
escrever, e mesmo que as duas mãos escreviam e que Phinuit
falava, ao mesmo tempo, sobre assuntos diferentes, com pessoas diferentes.
Comentei com Phinuit que eu não desistia de ver um dia cada
dedo e cada artelho agindo sob outros tantos agentes distintos,
enquanto que ele continuaria a dirigir a voz.
A 24 de fevereiro de 1894, o que
nós chamamos de controle ‘E’ escreveu, entre
outras observações sobre certos médiuns: Nos
casos desse tipo, não há razão alguma que se
oponha ao fato de diversos seres espirituais poderem expor suas
idéias ao mesmo tempo através do mesmo organismo.
Apresentei então meu projeto de experiências sobre
as duas mãos, dizendo que me propunha a organizar um dia
uma experiência em que ‘E’ se serviria de uma
mão e Georges da outra, mas que, para o momento, não
tinha tomado as providências necessárias para fazer
uma tentativa desse gênero. Na sessão seguinte, a 26
de fevereiro de 1894, estando só e não contando com
nada, foi feita, logo no início da sessão, uma tentativa
de escrever com as duas mãos independentemente, coroada apenas
de um êxito bem limitado. A 8 de março de 1895, tendo-me
feito acompanhar, com esse propósito, pela srta. Edmonds,
fiz uma segunda tentativa que obteve um resultado muito mais satisfatório.
Sua falecida irmã escreveu com uma mão, Georges Pelham
com a outra, enquanto Phinuit conversava simultaneamente e sobre
assuntos diferentes. É verdade que a mão esquerda
escreveu muito pouco. O que pareceu principalmente provocar esse
resultado, foi que a mão esquerda não estava de modo
algum adaptada ao papel de máquina de escrever.
Às vezes, pouco antes que
a mão se ponha a escrever, Phinuit nos anuncia que alguém
vem para conversar com o senhor. Em outras ocasiões, a mão
é tomada, agita-se convulsivamente em todos os sentidos,
enquanto Phinuit, inconsciente do que se passa, fala sem interrupção
com um assistente, mesmo quando a escrita já começou.
Eis um exemplo impressionante
desse fato: numa sessão em que uma senhora envolvida a fundo
numa conversa muito pessoal com Phinuit a respeito de seus pais,
e a que eu estava presente e a que assistia porque conhecia intimamente
aquela senhora e toda a sua família, a mão foi tomada
com grande delicadeza, por assim dizer, sub-repticiamente, e escreveu
uma comunicação muito pessoal, dirigida a mim, apresentando-se
como proveniente de um amigo meu já falecido, que não
tinha qualquer relação com a senhora que evocava,
absolutamente como se um visitante entrasse num salão onde
duas pessoas que lhe eram estranhas estivessem conversando, mas
onde também encontraria um amigo, em cujo ouvido murmurasse
uma comunicação, de modo a não perturbar a
conversa das duas primeiras pessoas.
No entanto, quando chega um novo
comunicante, Phinuit geralmente pede ao evocador que fale com ele
(com o que escreve) embora não se recuse a participar também
da conversa quando lhe pedem. Parece mesmo preferir que seja assim;
mas se o evocador parece voltar a atenção principalmente
para a mão, Phinuit faz geralmente alguma observação
enigmática: Eu o ajudarei, ou então: Eu o ajudarei
a sair-se bem. Outras vezes, Phinuit pedirá que lhe dêem
um objeto qualquer, de modo a segurar algo que lhe prenda a atenção,
e o vi, no meio de uma sessão, enquanto a escrita seguia
seu curso, de repente deixar escapar uma observação
a respeito desse objeto. Em certos casos, Phinuit pode seguramente
ser tirado do seu silêncio e retoma a conversação,
enquanto a escrita continua imperturbavelmente sem hora para acabar.
Como se vê, estamos bem distantes,
aqui, dos casos simples assinalados por Taine ou pelos observadores
que não se dignaram compulsar a rica bibliografia espírita.
Encerramos esta breve revisão com um caso recente, que de certa
forma resume tudo o que acabamos de ver nas observações
particulares. Parece-nos que, para ser compreendido, ele necessita
absolutamente de inteligências alheias ao médium (32).
O relato desse curioso fenômeno
foi comunicado ao cel. Malvotti, e por este ao sr. Cavalli, com
os mais sérios protestos de sinceridade. Numa sessão
a que o narrador assistia, apresentaram-se vários espíritos:
um irmão falecido há vários séculos,
um francês, a mãe do narrador, a avó da sua
mulher e outros. Como experiência, pediram para comunicar-se
ao mesmo tempo. O médium narrador, funcionário do
Estado, que por isso mesmo não pode dar seu nome, numerou
as folhas de papel, depois escreveu. Aconteceu que a primeira comunicação,
começada na linha 1, continuava na linha 5, na linha 12,
na linha 15 etc., todas as linhas foram escritas na ordem 1, 2,
3, 4 etc. e, quando se queria ler seguindo essa ordem, não
se achava qualquer sentido na página escrita. Mas, seguindo
a ordem marcada pelos espíritos, encontravam-se belas comunicações.
Eis, porém, o mais curioso: a primeira comunicação
estava escrita em latim, a segunda em francês, a terceira
em italiano, a quarta em italiano revirado (devia-se ler no sentido
inverso, da direita para a esquerda), a quinta também em
italiano, mas, para lê-la, devia-se começar pela última
linha inferior e ir subindo. Depois, seguiu-se uma série
de predições, todas realizadas, entre as quais a de
uma doença grave do médium. Terá sido o subconsciente
que fez essa façanha? É muito duvidoso, e é
mais racional recorrer à hipótese espírita,
que, aliás, não exclui a hipótese do subconsciente.
Poderíamos acrescentar a
esta lista outros relatos em que a intervenção de inteligências
alheias ao médium é evidente. Nós os veremos
mais tarde, quando estudarmos as comunicações escritas
em línguas desconhecidas do médium, ou por crianças
de tenra idade e por analfabetos. Agora, devemos investigar antes
de mais nada se a escrita automática pode ser obtida pelo próprio
médium devido a uma certa disposição psicofisiográfica,
depois, quando tivermos constatado que isso é possível,
precisaremos distinguir as características que separam a escrita
automática subconsciente da que provém necessariamente
de outra fonte.
Os autores franceses que trataram desse assunto nos seus estudos sobre
a hipnose e a histeria, apenas afloraram esses problemas e contentaram-se
com analogias grosseiras, sem ir até o fundo da questão.
Temos o dever de não imitá-los, por isso logo passaremos
ao exame dos trabalhos dos srs. Binet e Pierre Janet, que conquistaram
certa notoriedade nesse tipo de pesquisas.
Existe uma confusão entre os fenômenos automáticos
e as verdadeiras comunicações espíritas, que
importa não deixar por mais tempo sem o crédito da ciência.
Pode-se certamente constatar em certas pessoas a existência
de uma forma automática da escrita, que se originou graças
a tentativas feitas em sessões espíritas, ou cuja formação
foi provocada por um treinamento gradual com histéricos nos
hospitais. Mas essas formas rudimentares do fenômeno não
são comparáveis à mediunidade, porque esta se
distingue por características especiais, que não permitem
confundi-la com o automatismo puro e simples. É o que vamos
constatar nos dois capítulos seguintes, apontando os erros
de interpretação que essas experiências ensejam.
NOTAS:
7 – Sobre este assunto, ver as pesquisas de
William Crookes, e o livro do sr. De Rochas: Extériorisation
de la Motricité.
8 – Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns, cap. XX, n°
230.
9 – Ver Gardy, Chercbons, p. 164.
10 – Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns, cap. XVII, n°
210.
11 – Nus, Eugène, Choses de l’autre Monde, p. 123.
12 – Taine, De l’Intelligence, tomo I, p. 16.
13 – Carpenter, The Principles of Mental Phisiology.
14 – Wallace, Les Miracles et le Moderne spiritualisme, p. 99
e 147.
15 – Aksakof, Animisme et Spiritisme, p. 472.
16 – Revue Spirite, 1878, p. 248. Conhecemos o autor do relato,
professor de grande valor e de uma
sinceridade absoluta.
17 – Aksakof, Animisme et Spiritisme, p. 381.
18 – Spiritual Magazine, setembro de 1863.
19 – Revue Spiritualiste, 1868.
20 – Myers, Proceedings, Automatic Writting, 1855.
21 – Revista Espírita, 1878.
22 – Aksakof, Animisme et Spiritisme, p. 476.
23 – Stainton Moses, Enseignements Spiritualistes, p. 21 e segs.
24 – Ver: Terceira parte, cap. IV.
25 – Crookes, William, Recherches sur te Spiritualisme, p. 100
e segs.
26 – Desejo que se compreenda bem o sentido das minhas palavras:
não quero dizer que a vontade e a
inteligência do médium empenham-se ativamente, de modo
consciente, ou desleal, na produção dos
fenômenos, mas bem que às vezes acontece que essas faculdades
pareçam agir de um modo consciente. (Nota de W. Crookes.)
27 – Wolfe, Startlings Facts in Modern Spiritualism, Cincinnati,
1874, p. 48, citado por Aksakof.
28 – Fergusson, Supra Mundane Facts, Londres, 1805, p. 57, citado
por Aksakof.
29 – Proceedings, 1897, p. 291.
30 – Phinuit era uma personalidade invisível manifestando-se
pela voz da sra. Piper e dizendo ser um doutor francês, falecido
em meados do séc. XIX.
31 – Georges Pelham é o pseudônimo de um amigo
do sr. Hodgson, morto inesperadamente alguns meses
antes, e que forneceu — durante o transe da sra. Piper —
os mais circunstanciados detalhes, que permitiram estabelecer-lhe
a identidade intelectual e moral. Mais tarde voltaremos à observação
desse caso notável.
32 – II Vessilo Spiritualista, dezembro de 1898, p. 3.
Fonte: http://www.cienciaespirita.org/a-mediunidade-mecanica/
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Bodier, Paul & Regnault, Henri: Gabriel Delanne, sua vida, seu apostolado
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