O Dicionário Aurélio, da Língua Portuguesa, define
paixão como sendo “um sentimento levado a um alto
grau de intensidade que se sobrepõe à lucidez e à
razão”.
Poderíamos, diante de tal definição, depreender,
equivocadamente, que seria a paixão um sentimento indesejável,
justamente por se sobrepor à lucidez e à razão,
e, portanto, ao bom senso.
Entretanto, a questão 908, de O Livro dos Espíritos,
nos afirma que as paixões, em si mesmas, não são
más, porque estão na natureza e são verdadeiras
alavancas que nos impulsionam na consecução dos objetivos
da Providência, e, por conseqüência, de nossa evolução
espiritual.
Mas as paixões também podem se tornar fatores nocivos
ao nosso crescimento espiritual, no momento em que deixamos de governá-las,
perdendo o controle sobre elas, conforme nos assevera aquela mesma
questão.
E as paixões desgovernadas têm sido a fonte de muitos
males que afligem a humanidade, notadamente neste planeta de provas
e expiações. Certamente são muitas as vezes em
que temos ouvido falar nos chamados crimes passionais, cometidos por
aqueles que diziam amar profundamente seus compares, os quais, por
algum motivo, transformaram-se em suas vítimas. A justificativa
que normalmente se dá é que “mataram por amor”.
Ora, mata-se por uma infinidade de razões; jamais por amor,
pois esse é o sentimento mais sublime que nos é possível
conquistar em nossas trajetórias terrestres.
Pesquisas científicas hodiernas têm nos prestado grandes
contribuições para a compreensão de determinados
sentimentos que se confundem diariamente em meio ao relacionamento
humano, como a paixão e o amor.
Os médicos Donald F. Klein e Michael Lebowitz, pesquisadores
do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque, ao estudarem
os cérebros de algumas pessoas apaixonadas, deduziram que eles
continham grandes quantidades de feniletilamina, que responderiam,
em grande parte, pelas sensações e modificações
fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados.
À semelhante conclusão chegou a Dra. Cindy Hazan, pesquisadora
e professora da Universidade Cornell de Nova Iorque.
Após entrevistar e testar 5.000 pessoas de 37 culturas diferentes,
descobriu que a paixão possui um certo "tempo de vida",
que varia de 18 a 30 meses, ou seja, de 1 ano e meio a 2 anos e meio.
Verificou, ainda, que, nos estados de paixão, o cérebro
apresenta significativos níveis de dopamina, norepinefrina,
feniletilamina, além da ocitocina, que são elementos
desencadeantes da inconstância, da insônia, da perda de
apetite, da euforia e da exaltação, reações
constantemente observadas no comportamento dos apaixonados.
Concluiu que, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente
aos efeitos daquelas substâncias, fazendo com que os sintomas
arrebatadores das paixões se desvaneçam gradativamente.
Verificou, ainda, que as relações baseadas unicamente
na empolgação, no entusiasmo, não conseguiam
resistir às dificuldades mais comuns, inerentes a uma vida
a dois. Nesse momento, então, o casal vê-se diante de
um conflito: separam-se ou se habituam às manifestações
mais brandas do amor, como o companheirismo, o afeto, a cumplicidade
e a tolerância, permanecendo juntos em busca da construção
de um sentimento mais sólido, principalmente quando há
filhos envolvidos.
Tais pesquisas nos oferecem interessantes subsídios que nos
permitem diferenciar sentimentos transitórios, e meramente
físicos, dos sentimentos mais profundos que temos vivenciado
em menor escala, estando, destarte, em plena consonância com
o que versa a Doutrina Espírita sob o tema.
É o que se observa claramente no ensinamento proferido pelos
espíritos à questão 939, ora transcrito:
“Duas
espécies há de afeição: a do corpo e
a da alma, acontecendo muito freqüentemente tomar-se uma pela
outra. Quando pura e simpática, a afeição da
alma é duradoura; efêmera a do corpo. Daí vem
que, muitas vezes, os que julgavam amar-se com eterno amor passam
a odiar-se, desde que a ilusão se desfaça.”
Maravilhosamente
atuais, portanto, são as orientações dos espíritos,
justamente por nos fazerem compreender que as paixões são
elementos de grande importância em nossas vidas, quando canalizadas
para nosso crescimento espiritual e respaldadas por uma certa dose
de ponderação.
Chegamos, finalmente, à conclusão de que, a finalidade
de nossas constantes presenças nos círculos carnais,
é, sem dúvida alguma, sublimar todas as nossas paixões,
transformando-as, lenta e gradualmente, em atos do mais verdadeiro,
puro e incondicional amor, o que se traduz, em última análise,
por reforma íntima.