Aproximam-se as eleições,
e como não poderia deixar de ser, os centros espíritas
são cortejados por candidatos à procura de votos, oferecendo
vantagens inúmeras e promessas falazes. Quase sempre esbarram
numa resistência férrea, de muitos espíritas,
que não admitem intromissão política nas instituições
doutrinárias, no que fazem muito bem.
Infelizmente nem todos tem esse cuidado, e por outro
lado, alguns exageram e propõem a criação de
um partido espírita, para fazer frente aos lobbys religiosos
que se formam nos cenários políticos do país,
procurando alcançar seus propósitos proselitistas. Até
hoje o bom senso espírita tem prevalecido e nos livramos dessa
possibilidade.
Entretanto, se as instituições
espíritas não devem se envolver com a política,
o espírita é cidadão e deve exercer os seus direitos
políticos com honradez. Aqueles que tem vocação
política devem procurar exercê-la, mas como lembra o
Prof. Herculano Pires, deverão revestir-se de honestidade até
a medula.
É muito bom que, a política militante,
que agita sentimentos, que perturba, que separa pessoas nas suas relações
de amizade e, não raro, até familiares, fique longe
das nossas Instituições Doutrinárias, mas já
não podemos dizer o mesmo da política vista como ciência
superior que trabalha por melhores condições de vida,
portanto, uma política de regras morais para o bem estar do
povo, essa é bem-vinda.
Rui Barbosa, o extraordinário estadista brasileiro
que recebeu o título de Águia de Haia, pela sua atuação
na Conferência Internacional, realizada naquela capital, ao
ser admoestado pelo presidente da Assembléia, após um
seu pronunciamento, porque a política estava excluída
dos debates, ele respondeu: "A política, no sentido mais
corrente da palavra, essa ninguém discute, está-nos
absolutamente vedada. Nada temos a ver com os assuntos internacionais,
com as contendas que dividem as nações, os litígios
de amor próprio, de ambição ou de honra, as questões
de influência, de equilíbrio ou de predomínio,
aquelas que conduzem ao conflito ou à guerra. Quanto a outra,
na elevada acepção do termo, a mais alta e nem por isso
menos prática, no que se relaciona com os interesses supremos
que unem as nações, umas com as outras, acaso pode ser-nos
vedada esta política? Não, senhores".
O que queremos dizer com este trecho do discurso de
Rui Barbosa, é que a política, como concebida por Rui,
não é vedada aos espíritas, porque trata-se da
justiça social, da convivência entre as pessoas, do amor
fraterno.
Trata-se da construção de um mundo melhor,
de paz, harmonia e dignidade, onde todos tenham o suficiente para
viver, onde não exista fome, pobreza, ignorância. Onde
exista assistência médica, emprego, lazer e escolas em
todos os níveis, para todos. Onde a criança e o idoso
sejam prioridade. Onde a vida seja vivida com dignidade.
Essa é a política a que todos espíritas
devem estar engajados, e como eleitores, precisamos votar em candidatos
que se afinem com essas idéias e vivam esses ideais.