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12/03/2024

 

 

ESPIRITISMO SOB INVESTIGAÇÃO: AVALIANDO SUA PROGRESSIVIDADE

Texto de Humberto Schubert Coelho sobre o lançamento de Carlos Seth Bastos

 

 

 

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A historiografia do espiritismo nunca viu época melhor que os últimos dez anos. Como pesquisador do campo religioso, estou acostumado a encontrar nas bibliotecas dois tipos de estudos sobre a história da religião: a história da igreja e a história da religião como história da cultura. Nas estantes de história da igreja, encontramos a autoavaliação de uma comunidade religiosa sobre sua própria história. Nas estantes de história da(s) religião(ões), encontramos livros sobre a religião encarada como fenômeno social e cultural. Não necessariamente o segundo grupo de livros é escrito por pessoas sem religião, mas eles tendem a ser mais rigorosos com o fato e menos respeitosos ou sequer considerarem com a autoimagem religiosa. Os livros de história da igreja, por sua vez, não são necessariamente enviesados e apologéticos. Muitos deles, na verdade, são bastante críticos e apresentam rigor acadêmico, mas seu objetivo não é revelar a história através dos fatos, e sim a história da fé.

Para uma avaliação justa da história de um movimento religioso, é preciso ler ambas as fontes: os relatos de fé e os fatos históricos “frios”.

O espiritismo não é exatamente um movimento religioso, tendo se constituído como filosofia espiritualista da era científica, fortemente enraizado na ciência do século XIX. Repito, na ciência do século XIX. A partir da segunda década do século XX, aproximadamente, o espiritismo começou a perder os vínculos com a ciência. Esse processo é complexo, mas tem sido bem analisado pelos que se dedicam a esse período da história do espiritismo. Fato é que, a partir da Primeira Grande Guerra, o discurso espírita, mesmo em seus livros de maior circulação, passou a tratar os assduntos científicos de maneira apenas anedótica ou analógica, como um “colorido adicional” a um discurso que já não assentava sobre experimentos e fatos. Admitir isso não significa condenar tudo o que se realizou ou deixar de reconhecer os muitos méritos dos protagonistas do movimento espírita. Os que assim procedem, bem sabemos, estão muito mais preocupados com uma visão política e social sobre a evolução do espiritismo e suas maiores instituições. Carlos Seth Bastos realiza, aqui, um trabalho único, confirmando-se como um dos mais importantes pesquisadores do espiritismo de nossa geração. Em primeiro lugar, o texto é originalíssimo, e dificilmente teria saído de outra mente. O leitor terá, pela primeira vez, a sensação de percorrer a trajetória histórica dos grandes eventos espíritas, detectando com precisão o seu afastamento dos rigores acadêmicos.

O resultado final desse processo é a substituição da ciência e da filosofia por tendências culturais marcadas pelo carisma de alguns médiuns e palestrantes, em contradição com a proposta progressiva de Allan Kardec. Em outras palavras, ao olharmos para a história dos congressos mundiais, salta aos olhos a substituição de um processo investigativo, crítico, marcado pelo debate, por um movimento de massa, centrado no aspecto religioso e com palestrantes despreocupados com uma visão sistemática do espiritismo. O mais comum, aliás, é que não consigamos mais identificar a relação entre os temas centrais dos congressos e suas palestras. Nos sentimos confortáveis em apontar esse problema, na medida em que os próprios protagonistas desses eventos deles se queixam e vêm a público dizer o mesmo que aqui dizemos. Passamos da época em que os melindres impossibilitavam críticas desse tipo, condenando-as como “deselegantes” ou “descaridosas”. Em segundo lugar, o autor está longe de extrair dessas constatações um juízo depreciativo ou pessimista sobre o movimento espírita, entendendo-o como processo sócio-histórico e discriminando com precisão onde e como esse movimento cultural pode – sem grandes dificuldades, talvez – se reconectar à pesquisa científica.

 

Dados técnicos:
Número de páginas: 280 p.
Peso: 400 g; Largura: 16 cm; Altura: 23 cm; Espessura:
1,5 cm; ISBN 978-85-64907-29-4
Edição CCDPE-ECM: Preço especial: R$40,00; Preço
de capa: R$ 58,00.
Pré-venda: Adquira o seu exemplar. acesse
ccdpe.org.br/loja

 


Fonte: LIHPE NEWSLETTER - Ano 3 - Edição 20 - Março de 2024

 

 


 

 

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