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O professor Jáder dos Reis
Sampaio, que foi vinculado ao Departamento de Psicologia da Fafich,
morreu na noite de ontem (domingo, 3), aos 58 anos. Ele sofria de
problemas renais e não resistiu a complicações
após um transplante recente.
O velório será realizado amanhã (terça,
dia 5), no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte,
das 8h30 às 11h30.
Jáder aposentou-se precocemente, em 2011, acometido de uma
doença renal, mas se manteve em atividade, estudando e até
participando de bancas de mestrado e doutorado.
Psicólogo formado na UFMG e doutor em Administração
pela USP, Jáder Sampaio ingressou como professor na UFMG
em 1996. Coordenou o Colegiado do Curso de Psicologia, pesquisou
questões relacionadas à psicologia organizacional
e do trabalho, publicou livros e artigos diversos em periódicos
acadêmicos. Também se dedicou intensamente, sobretudo
após a aposentadoria, a estudos da doutrina kardecista.
Muito jovem, Jáder começou a ter problemas de funcionamento
renal, o que culminou com sua aposentadoria. Desde então,
ficou dependente de hemodiálise.
Psicologia e religiosidade
“Jáder Sampaio tornou-se um dos mais respeitados escritores
sobre a doutrina kardecista. Sua morte deixa uma grande lacuna não
apenas na produção científica sobre psicologia,
mas também no aprofundamento dos estudos sobre espiritismo”,
afirma a professora Íris Barbosa Goulart, colega de departamento.
A propósito, o professor Miguel Mahfoud, outro colega, lembra
que, em 1998, eles criaram a disciplina Psicologia e senso religioso,
“quebrando o tabu de que religiosidade não seria tema
para a psicologia”.
A professora Delba Barros conta que conheceu melhor Jáder
Sampaio quando ambos saíram para fazer os estudos de doutorado
em São Paulo. Ela ressalta a generosidade do amigo, tanto
com os colegas quanto com os alunos. “Ele era muito exigente,
mas muito disponível, e foi homenageado várias vezes
pelas turmas de formandos. Certa vez, não mediu esforços
para ajudar a família de um estudante a trazê-lo de
volta do exterior, onde ele havia tido um problema”, ela conta,
lembrando também que Jáder era torcedor do América.
“Foi uma pessoa encantadora. No campo da religião,
ele mantinha relações respeitosas com evangélicos,
como eu, e com católicos, por exemplo.”
Solidariedade e luta
A professora Miriam Hermeto, que foi colega de Jáder na Fafich
– ela integra o Departamento de História – e
tem relação próxima com a família dele,
publicou no Facebook um texto de despedida. Ela afirma que a amizade
que os unia há mais de 30 anos era “sincera, fiel,
respeitosa”. Conta que eles partilharam o início de
construção do campo de pesquisa de história
do espiritismo no Brasil. “Pesquisamos juntos e, quando eu
saí, o orgulho de vê-lo seguir na lida sempre esteve
comigo, em cada curso, descoberta, livro, congresso, artigos seus”,
escreveu Miriam.
Ainda em sua mensagem, Miriam revela que acompanhar a batalha de
Jáder com a diálise, ainda tão jovem, foi “algo
muito impressionante”. “Porque você não
desistiu de viver com seus amores, cuidar de todos os laços
de afeto e levantar as bolas para o mundo cortar. Não abriu
mão da curiosidade que o fez um pesquisador de primeira,
mesmo que as condições da vida dificultassem o processo.
Não assumiu postura de vítima, tampouco o conformismo.
Você fez do cotidiano dos procedimentos uma rede de solidariedade
e uma luta pela saúde coletiva. E não perdeu a alegria
de viver. Você foi um homem digno. Dos mais dignos.”
Em depoimento ao Portal UFMG, Miriam Hermeto destacou ainda que
Jáder dedicou-se muito à UFMG e, mesmo afastado, continuou
pesquisando e atuou na Câmara de Ciências Humanas da
Fapemig por longo tempo.
Complicações
Jáder Sampaio fazia diálise três vezes por semana
e aguardava na fila do transplante. No início de fevereiro,
depois de 19 anos de espera, ele conseguiu o rim compatível
para o transplante. Mas o órgão não funcionou
e ele teve outras complicações. Foi submetido a duas
outras cirurgias e não mais deixou a UTI.
Jáder deixa viúva, Tatiana, e as filhas Carolina
e Júlia.