O Professor Alexander Moreira-Almeida informou que
foi publicado matéria sobre o potente efeito protetor do envolvimento
religioso na inibição do comportamento violento.
Ótima matéria de Ana Elizabeth Diniz sobre o doutorado
de Juliane Gonçalves na Psiquiatria da USP.
Religiosidade impacta comportamento violento
Atividades voluntárias e vínculos sociais e familiares
podem inibir reações agressivas
Por Ana Elizabeth Diniz | Especial para O TEMPO
O que até agora era mera especulação passa a ter
comprovação por meio de uma pesquisa para tese de doutorado
realizada entre 2015 e 2020. A fisioterapeuta Juliane Piasseschi
de Bernardin Gonçalves pesquisou como a religiosidade
do brasileiro impacta o comportamento violento.
A pesquisadora foi aluna da Universidade de São Paulo e lançou
mão de dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas
(Lenad), da Universidade Federal de São Paulo, de 4.607 indivíduos
brasileiros acima de 14 anos. “O principal achado dessa pesquisa
é que percebemos menos atos violentos por parte dos indivíduos
que se autointitulam religiosos. E que a dependência de álcool
media essa relação: quando a religiosidade reduz a dependência
de álcool, ela indiretamente reduz a violência”,
comenta Juliane.
Segundo a pesquisadora, pessoas que possuem uma religião tiveram
três vezes menos chances de terem sido presas e metade da chance
de praticarem violência doméstica ou de se envolver em
luta corporal em comparação com os que não têm
religião. “Esses efeitos são ainda maiores entre
adolescentes: quatro vezes menos de chance de terem sido presos”,
contabiliza.
Os adolescentes “parecem se beneficiar do efeito protetor da
religiosidade quando têm alguma afiliação religiosa
e dão importância a ela, diferentemente dos adultos que
apresentam somente esse efeito redutor quando dão importância
à religião”. “Estar envolvido em atividades
religiosas juntamente com outras pessoas, mesmo que a religião
não tenha um papel central na vida do jovem, é uma das
justificativas para o efeito benéfico com relação
à violência”, explica Juliane.
Por outro lado, para os adultos, “dar importância e vivenciar
a religião de uma forma mais interna foi mais relevante para
preveni-lo de cometer atos violentos, o que pode decorrer do próprio
processo de maturação do ser humano diante da vida”,
emenda a pesquisadora.
Em sua tese, Juliane avaliou também o efeito da religiosidade
na violência infantil, a partir do relato que os participantes
de 14 a 99 anos fizeram sobre sua vida pregressa. “O que vimos
foi que os indivíduos mais religiosos relataram menos violência
sofrida na infância, o que pode indicar um efeito protetor nos
lares mais religiosos com relação à violência
infantil”, diz.
No entanto, a violência consolidada na infância elevou
para sete vezes as chances de o indivíduo propagá-la na
vida adulta, e, nesses casos, a religiosidade não reduziu o efeito.
“A partir do momento em que a violência se instala na infância,
a religiosidade não teve ‘forças’ para diminuir
a chance de a pessoa reproduzir esse padrão na vida adulta”,
sustenta a pesquisadora.
Pessoas que têm alguma religiosidade fazem menos uso de álcool,
e isso gera menos violência, especialmente a doméstica.
“O álcool tem um efeito indireto na relação
da religiosidade com a violência, especialmente a doméstica,
praticada entre casais. Isso significa que parte do efeito redutor da
religiosidade na violência se dá através da redução
da dependência de álcool”, diz Juliane.
Para ela, entre outros fatores que explicam o impacto da religiosidade
sobre a violência podem estar o envolvimento em atividades filantrópicas
e voluntárias, modelos de comportamento não violento para
resolver conflitos, estímulo ao perdão, vínculos
sociais e familiares.
Estímulo ao perdão e apoio familiar
também são importantes
“O fato de a pessoa ter uma afiliação religiosa
e frequentar templos religiosos pode ter efeito protetor mais potente
do que a religiosidade intrínseca (importância atribuída
à religião na vida de um indivíduo). Uma religião
formal normalmente engaja indivíduos em atividades filantrópicas,
bem como promove ajuste psicossocial e suporte social, que comumente
trazem filosofias e comportamentos não violentos”, pondera
a pesquisadora.
Por fim, o resultado da pesquisa mostra que a religiosidade parece
ser um importante fator associado ao menor nível de violência,
independentemente do grupo investigado.
Pessoas que têm alguma religiosidade fazem menos uso de álcool
e isso gera menos violência, especialmente a doméstica.
“O álcool tem um efeito indireto na relação
da religiosidade com a violência, especialmente a doméstica,
praticada entre casais. Isso significa que parte da explicação
do efeito redutor da religiosidade na violência e atuando através
da redução da dependência de álcool”,
diz Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves. (AED)
Artigo:
Gonçalves JPdB, Madruga CS, Lucchetti G, Dias Latorre MdR, Laranjeira
R, Vallada H (2020) The effect of religiosity on violence: Results from
a Brazilian population-based representative survey of 4,607 individuals.
PLoS ONE 15(8): e0238020
- https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371%2Fjournal.pone.0238020