29/07/2010
Recentemente foi lançado no mercado cultural
um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois
da morte, atribuído, justamente, ao Espírito Dom Helder
Camara, bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e
Recife, desencarnado no dia 28 de agosto de 1999 em Recife, Pernambuco.
O livro psicografado pelo médium Carlos Pereira, da Sociedade
Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte, causou muita surpresa
no meio espírita e grande polêmica entre os católicos.
O que causou mais espanto entre todos foi a participação
de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, que durante nove
anos foi secretário de Dom Helder Câmara, para a relação
ecumênica com as igrejas cristãs e as outras religiões.
Marcelo Barros secretariou Dom Helder Câmara no período
de 1966 a 1975 e tem 30 livros publicados. Ao prefaciar o livro Novas
Utopias, do Espírito Dom Helder, reconhecendo a autenticidade
do comunicante, pela originalidade de suas idéias e, também,
pela linguagem, é como se a Igreja Católica viesse a público
reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao negar a veracidade
do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos,
e desse ao livro de Carlos Pereira, toda a fé necessária
como o Imprimatur do Vaticano.
É importante destacar, ainda, que os direitos autorais do livro
foram divididos em partes iguais, na doação feita pelo
médium, à Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao
Instituto Dom Helder Câmara, de Recife, o que, aliás, foi
aceito pela instituição católica, sem nenhum constrangimento.
No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo
e teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável
da historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão,
ambos ligados a Igreja Católica. Conforme eles mesmos disseram,
essa obra talvez não seja uma produção direcionada
aos espíritas, que jáconvivem com o fenômeno da
comunicação, desde a codificação do Espiritismo;
mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da
militância católica, que é chamada a conhecer a
verdade espiritual, porque "os tempos são chegados";
estes ensinamentos pertencem à natureza e, conseqüentemente,
a todos os filhos de Deus.
A verdade espiritual não é propriedade dos espíritas
ou de outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque, tenha
chegado o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a
existência espiritual, a vida depois da morte e a comunicação
entre os dois mundos.Na entrevista com Dom Helder Câmara, realizada
pelos editores, o Espírito comunicante respondeu as seguintes
perguntas sobre a vida espiritual:
Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente um padre?
Não poderia deixar de me sentir padre, porque
minha alma, mesmo antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar
a existência no corpo físico, continuo como padre porque
penso e ajo como padre. Minha convicção à Igreja
Católica permanece a mesma, ampliada, é claro, com os
ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos meus irmãos
de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível, para o bem
da humanidade.
Do outro lado da vida o senhor tem alguma facilidade a mais para
realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento, ou ainda encontra muitas
barreiras com o preconceito religioso?
Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de
cá reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que
se formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades
de relacionamento, porque os pensamentos continuam firmados, cristalizados
em determinados pontos que não levam a nada.
Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta
do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas
podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar
aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma sintonia.
Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição
dedesencarnado?
Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações
com aqueles que passam fome, que estão nos hospitais, que são
injustiçados pelo sistema que subtrai liberdades, enriquece a
poucos e colocam na pobreza e na miséria muitos; todos aqueles
desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam semelhantemente
a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento
da humanidade.
Como é sua rotina de trabalho?
A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me,
porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver
atividades para as quais nos colocamos à disposição.
Há grupos que trabalham e que são organizados para o meio
católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração.
Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço
com muito prazer.
Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual
foi a suamaior alegria?
Eu já tinha a convicção de que estaria no seio
do Senhor e que não deixaria de existir.
Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos quais devotamos
o máximo de nosso apreço e consideração
e continuar a trabalhar, é uma grande alegria. A alegria do trabalho
para o Nosso Senhor Jesus Cristo.
O senhor, depois de desencarnado, tem estado com freqüência
nos Centros Espíritas?
Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico
são os hospitais; as casas de saúde; são lugares
onde o sofrimento humano se faz presente. Naturalmente vou à
igreja, a conventos, a seminários, reencontro com amigos, principalmente
em sonhos, mas minha permanência mais freqüente não
é na casa espírita.
O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre
este ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto
delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no livro. O que posso
dizer é que Deus age conforme a sua sabedoria sobre as nossas
vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a felicidade
mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas
experiências, isso será um processo natural.
Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?
Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas
têm da vida, para que elas percebam que continuamos a existir
e que essa nova visão possa mudar profundamente a nossa maneira
de viver.
Qual foi a sensação com a experiência da
escrita mediúnica?
Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever
foi muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente
como me adaptar ao médium para poder escrever. É necessário
que haja uma aproximação muito grande entre o pensamento
que nós temos com o pensamento do médium. É esse
o grande problema de todos nós porque o médium precisa
expressar aquilo que estamos intuindo a ele. No início foi difícil,
mas aos poucos começamos a criar uma mesma forma de expressão
e de pensamento, aí as coisas melhoraram. Outros (médiuns)
pelos quais tento me comunicar enfrentam problemas semelhantes.
Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escritamediúnica?
Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras
da mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não
procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse tempo
e oportunidade.
Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever
mediunicamente, relatarem suas impressões da vida espiritual.
Por que Dom Helder é quem está escrevendo?
Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar
aos meus irmãos da Terra que a vida continua e que não
paramos simplesmente quando nos colocam dentro de um caixão e
nos dizem "acabou-se". Eu já pensava que continuaria
a existir, sabia que haveria algo depois da vida física. Falei
isso muitas vezes. Então, senti a necessidade de me expressar
por um médium quando estivesse em condições e me
fossem dadas as possibilidades. É isto que eu estou fazendo.
Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em
nosso País ?
Sim. E não poucos. São muitos aqueles
que querem usar a pena mediúnica para poder expressar a sobrevivência
após a vida física. Não o fazem por puro preconceito
de serem ridicularizados, de não serem aceitos, e resguardam
as suas sensibilidades espirituais para não serem colocados numa
situação de desconforto. Muitos padres, cardeais até,
sentem a proteção espiritual nas suas reflexões,
nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo,
que na verdade são os irmãos que têm com eles algum
tipo de apreço e colaboram nas suas atividades.
Como o senhor se sentiu em interação com o médium
Carlos Pereira?
Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou
à disposição para o trabalho. No princípio
foi difícil juntar-me a ele por conta de seus interesses e de
seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar, foi muito fácil,
até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar
sobre a minha última vida física. Então ficou mais
fácil transmitir-lhe as informações que fizeram
o livro.
O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar
suas palavras pela mediunidade?
Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir
e que um dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade
com naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa revolucionar
o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos críticas, veementes
até, mas outros mais sensíveis admitirão as comunicações.
Este é o nosso propósito.
É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos
espíritas quando na vida física?
Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa
Igreja, por si só, já prega a sobrevivência após
a morte. Logo, fazermos contato com o plano físico depois da
morte seria uma conseqüência natural. Pensamentos espíritas
não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo
de constrangimento em ter negado alguns pensamentos espíritas,
digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências íntimas
espirituais.
Igreja - Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos
que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente tem um grau
evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se reconhecem
rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez, pela sua moralidade.
Não quero dizer que na Terra isto não ocorra, mas do lado
de cá da vida isto é tudo mais transparente; nós
captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não
se faz somente com um cargo transitório que se teve na vida terrena,
mas, sobretudo, pelo avanço moral.
Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro, representando
o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma responsabilidade
enorme para qualquer ser humano. Então fica muito fácil,
para nós que estamos de fora, atribuirmos para quem está
ali sentado, algum tipo de consideração. Não é
fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades,
não apenas materiais, mas descobri que as espirituais ainda em
maior grau. Eu posso ter uma visão ideológica de como
poderia ser a organização da Igreja; defendi isso durante
minha vida.
Mas tenho que admitir, embora acredite nesta visão ideal da Santa
Igreja, que as transformações pelas quais devemos passar
merecem cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução.
Queira Deus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI) possa ter a lucidez
necessária para poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.
O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja
cumpra seu papel?
Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física,
reforço. Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá
da vida, possuímos uma visão mais ampliada das coisas.
Determinados posicionamentos que tomamos, podem não estar em
seu melhor momento de implantação, principalmente por
uma conjuntura de fatores que daqui percebemos. Isto não quer
dizer que não devamos ter como referência os nossos principais
ideais e, sempre que possível, colocá-los em prática.
Espíritas no futuro?
Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos
a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais.
Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir
a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação
entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente
decorrem da vida espiritual.
Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão
cooperandocom o progresso do Brasil no mundo espiritual?
Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em
todas as localidades. Então, dizer um nome ou outro seria uma
referência pontual porque há muitos, que são poucos
conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho
fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.
Amor - Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos
agora, depois da morte?
Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser
possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à
alma. Se nós não tentarmos amar do fundo dos nossos corações,
tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme
nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora
da humanidade.
Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
Que amem também, porque não há divisão entre
espíritas e católicos ou qualquer outra crença
no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é
feita por nós, não pelo Criador. São aceitáveis
porque demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto,
a convergência é única, aqui simbolizada pela prática
do amor, pois devemos unir os nossos esforços.
Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira
geral?
Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem
do amor. Ela é a única e principal mensagem que se pode
deixar".
Livro: Novas Utopias
Autor: Dom Helder Câmara (espírito)
Médium: Carlos Pereira
Editora: Dufaux
Site: http://www.editoradufaux.com.br/
Dom Helder Camara, arcebispo de Recife e Olinda, retorna
através do médium Carlos Pereira para continuar sua missão.
Novas Utopias é um livro instigante porque traz ao debate a temática
da imortalidade do ser, da dimensão transcendental e da relação
intermundos, a espiritual e a física, independentemente da crença
religiosa.
Camara, Dom Helder (Espírito)
Pereira, Carlos (Médium)
290 PÁGINAS ISBN – 978-85-98080-46-8
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