Um Ato de Amor e Fé
Nosso querido amigo Chico há muito claudicava.
Doía-lhe um pé. Dr. Rocha, médico
vizinho e amigo, já lhe ministrara medicamentos, sem, contudo,
minorar seu
sofrimento. Dr. Rômulo, um admirável gerador magnético,
já lhe havia aplicado
assistência fluido terápica. Eu, de minha parte, também
colaborara, dentro das
minhas limitações. Tudo de pouca valia! As dores persistiam,
fazendo Chico
manquitolar horrivelmente.
Os funcionários retornavam às suas casas servindo-se de
uma charrete. (...) O
veículo adentrava a cidade por uma rua onde se localizava, então,
o meretrício.
Uma tarde, Chico e seus companheiros, ao passarem pelo prostíbulo;
- designação
vulgar dada ao logradouro - foram abordados por uma das moças
que habitavam o
lugar. E, dirigindo-se ao Chico, ela disse:
- Venha até a minha casa. Preciso lhe falar.
Gracejos, motejos, risadas e comentários infelizes fizeram-se
ouvir. Chico
desceu do carro com dificuldade, acompanhando a moça até
a sua residência.
Todas as meretrizes que lá viviam receberam-no com profundo respeito,
oferecendo-lhe uma cadeira, na qual Chico assentou-se.
A moça que o abordara trouxe uma pequena bacia com água
limpa. Humildemente,
pediu-lhe permissão para descalçá-lo dos sapatos,
colocando seu pé doente dentro
da bacia. Segurando raminhos de flores do campo, a moça rezou
e todas as outras
a acompanharam, contritas. Ela molhava os raminhos e os batia, delicadamente,
no
pé de Chico, repetidamente, por várias vezes. Em seguida,
enxugou-o, beijou-o e
o calçou novamente.
Dois dias depois, chorando de emoção, Chico contou-nos
o que presenciara na casa de encontros. Através de sua vidência,
registrou que o líquido da bacia foi
ficando escuro e lodoso, à medida que a mulher banhava-lhe o
pé, fazendo com que a dor se esvaísse lentamente.
Para todos os presentes, a água manteve-se inalterada, límpida,
nada mudara.
Chico nunca mais sentiu dor. A pobre meretriz, no ato humilde, no gesto
simples,
na bacia insignificante e nos raminhos de mato, mais que nós
outros, colocara em
sua oração algo sublime e operador de maravilhas: o AMOR!
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Do livro: Chico Xavier, Mandato
de Amor
A Caridade
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