Espiritualidade e Sociedade




Alexandre Fontes da Fonseca

>    Se fosse um homem de bem, teria morrido

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Aos amigos espíritas:

"Se fosse um homem de bem teria morrido" ... e a covid19

 

Sob esse título, Fénelon, Espírito, em Sens, 1861 (item 22 do cap. V do ESE), apresentou uma breve dissertação sobre um ditado comum usado pelas pessoas quando um homem mal escapa de um perigo. Ele atesta que esse ditado retém em si uma grande verdade, muito embora fosse utilizado com revolta ou tristeza pelas pessoas.

Fénelon comenta que a lógica é simples: "sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação." Sim, para o Espiritismo, a vida espiritual é a verdadeira vida da alma, e a vida material é uma oportunidade de provação e aprendizado. Ensina também que o instinto de conservação nos move a preservá-la, e que só a Deus pertence o direito de dispor de uma vida material.

Assim, se a vida de um(a) amigo(a), familiar ou ente querido foi "tomada" pela covid19 ou qualquer outra doença fatal, embora nos solidarizamos ante a tristeza que se faz presente junto aos familiares, considere que sucedeu a Deus ter agraciado-o(a) com o retorno ao mundo espiritual.

Sobre nós outros, que conseguimos manter o isolamento e evitamos o contágio, ou que nos recuperamos da covid19 ou de qualquer outra doença grave, a dissertação de Fénelon convida-nos à reflexão de que a nossa estadia no mundo representa "prova mais longa" para aprendizado moral e intelectual de que ainda necessitamos pois, afinal, se já fôssemos homens de bem, é bem provável que já tivéssemos morrido...

Como desejo permanecer encarnado, essa reflexão me ajuda a me tornar mais humilde...

 

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22. Falando de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria morrido.” Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia.

Se morre um homem de bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: “Antes fosse este.” Enunciais uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao mau faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba terrestre? Que diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele pronunciada, fosse conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à liberdade um que a esta não tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro.

Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. –

Fénelon. (Sens, 1861.)



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