Reflexão - o rio
Havia um homem apaixonado por um rio... Gastava longas
horas vendo suas águas a passar, carregando em seu dorso suave,
folhas e historias das cidades acima e isto lhe dava felicidade...
Sua grande alegria era quando chegava a tarde, depois
do trabalho. Ele ia correndo para o rio, pulava uma cerca e ficava lá
em uma prainha, com os pés mexendo nas areias grossas, bem embaixo
de um velho ingá...
Falava muito, confidenciava segredos, dava gargalhadas,
nunca ia embora, enquanto houvesse luz... e por muitas vezes só
se deu conta que era noite quando a lua ladrilhava de prata as águas
do rio...
Ficava lá, remoendo lembranças, indo
para o futuro em sonhos...
Seus olhos eram rio. O rio passeava com suas águas
amigas em seus olhos, como em nenhum outro. Ambos pareciam ter nascido
para ser daquele jeito, nunca sem o outro, a unidade de almas...
Dizia o homem:
Amor pra toda vida...
Consentia o rio...
Porem, um dia, o céu escureceu. Nuvens cobriram
a terra a chuva desabou sobre o mundo. A cabeceira do rio foi enchendo
e logo tudo virou correnteza.
Árvores foram arrancadas. Folhas deram lugar
aos galhos pesados, estes rachavam tudo o que encontravam, as barrancas
desmaiavam e sumiam devoradas pela fúria das águas.
O rio cresceu, ultrapassou as margens, derrubou cercas,
foi crescendo até chegar na casa do homem... Avançou o
jardim... margaridas e rosas desapareceram...
Quando veio o sol, veio também a desolação.
Tinha que recomeçar e como é difícil recomeçar.
Fez o que pode, sem olhar em direção
ao rio. Seu peito era uma amargura só.
Sua cabeça não ficava em silêncio. Só pensava
no que iria dizer. Então falou:
Por que? Por que fez isto?
Eu confiava em você, tinha certeza que isto
não iria acontecer...não conosco...
Havia muito amor entre nós... Amor que não
merecia acabar assim. Não é só a lama que esta
no jardim, é a confiança que nunca mais será confiança,
o amor que nunca mais será amor, é o adeus que será
para sempre adeus...
Foi inútil o rio tentar explicar. Nunca mais
se encontraram.
Nunca mais a lua cantou naquele lugar... e as águas
daquele rio, como o coração daquele homem, nunca mais
foram os mesmos....
O homem mudou-se para muito longe e o rio, quando
passava por lá, tentava não olhar... mas sonhava, bem
dentro, em suas águas mais profundas, um dia ver ali, debaixo
do ingá, quem nunca deveria ter ido embora...
Estas palavras falam por si... temos tendência
a esquecer fácil os bons momentos e damos uma eternidade para
as lembranças negativas...
Esquecemos as conversas onde só o coração
fala e perdemos tardes lindas de amor... abraços apertados, aconchego...por
não querer relevar. Não querer lutar um pouco mais.
As vezes temos 100% e por causa de 1% perdemos 99%...
já viram como sempre ficamos presos a este 1%???. Guardamos sempre
a imagem da casa destruída, mas, negamos dar vida ao rio iluminado..."
Autor Desconhecido