Olhar de amor
Foi um choque
para aquela jovem mãe quando recebeu o diagnóstico de
câncer.
Sucederam-se os tratamentos e, naquele
dia, após o internamento, quando ela voltava para casa, se sentiu
muito triste.
Ela estava consciente da sua aparência.
Estava sem cabelos, por causa da radioterapia.
Sentia-se desencorajada. Seu marido
continuaria a amá-la? E seu filho?
Ele tinha apenas seis anos.
Quando chegou em casa, sentou-se na
cozinha, pensando em como explicar a seu filho porque estava tão
feia.
Ele apareceu na porta e ficou olhando-a,
curioso.
Quando ela iniciou o discurso que
ensaiara para ajudá-lo a entender o que via, o menino se aproximou
e se aconchegou em seu colo, quietinho, a cabeça recostada em
seu peito.
Ela acariciou a cabecinha do filho
e disse: "você vai ver como daqui a pouco o meu cabelo vai
crescer e eu vou ficar melhor, como era antes".
O menininho se levantou, olhou para
ela, pensativo.
Depois, com a espontaneidade da sua
infância, respondeu: "seu cabelo está diferente, mãe.
Mas o seu coração está
igualzinho."
A mãe não precisava
mais esperar por daqui a pouco para melhorar.
Com os olhos cheios de lágrimas,
ela se deu conta de que já estava muito melhor.
O essencial é invisível
aos olhos, dizia o pequeno príncipe, no livro de
Antoine de Saint Exupéry.
Quem ama vê além da aparência
física e é isto que ama: a essência.
Por isto os casamentos em que o amor
é o autêntico laço de união perdura, apesar
dos anos transcorridos.
Para quem têm olhos de amor,
o olhar penetra além do corpo físico que perdeu um tanto
do vigor e já não apresenta a exuberância plástica
dos verdes anos.
Para esses, o amor amadurece a cada
ano, solidificando-se a cada dificuldade enfrentada, a cada óbice
superado, a cada batalha vencida.
Enquanto os cabelos vão sendo
prateados pelo exímio pintor chamado tempo, enquanto a artista
plástica chamada idade vai colocando pequenos sinais na face,
aqui e ali, o amor mais cresce.
O sentimento se engrandece à
medida que o passo deixa de ser tão vigoroso e um se apóia
no outro para descer os degraus, para subir uma escadaria.
A solidariedade se torna mais intensa,
enquanto a vista se embaça um pouco e o extraordinário
computador que é o cérebro já não consegue
fazer as corretas equações matemáticas, para aquilatar
se dá ou não tempo para atravessar a rua.
Uma mão segura a outra, muda,
para afirmar: esperemos um pouco.
Envelhecer ao embalo do amor é
maravilhoso. Desfrutar do aconchego um do outro é reconfortante.
Felizes os casais que envelhecem juntos.
Felizes os filhos que sabem
aproveitar da companhia generosa de pais e avós que o tempo alcançou.
***
De todos os momentos da vida os mais preciosos são
os desfrutados com amor.
Quando as dificuldades se avolumam, os problemas crescem,
os dias solitários chegam, é maravilhoso ter momentos
de carinho para serem recordados.
Momentos que recebemos ou que ofertamos.
Momentos que nos fizeram extremamente felizes.
Momentos que, revividos, pelos fios invisíveis
do pensamento, ainda nos reconfortam e aquecem o coração.
Por tudo isso, ame muito e permita-se amar por seus
amores.
Autor Desconhecido
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