Conta-se que um monge e seus discípulos
iam por uma estrada e, ao cruzarem uma ponte sobre um rio, perceberam
um escorpião sendo arrastado pela correnteza.
Mais do que depressa, o monge entrou na água
e apanhou o animalzinho, que estava na iminência de se afogar.
Entretanto, ao tentar retirá-lo da água,
o escorpião picou o monge e, devido à dor, este o deixou
cair novamente no rio.
Sem desanimar, o monge correu até a margem,
tomou um galho de árvore e novamente entrou no rio, colheu o
escorpião e o salvou.
Em seguida, juntou-se novamente aos discípulos,
os quais haviam acompanhado tudo e agora olhavam para o monge, assustados
e perplexos.
Um dos discípulos, exteriorizando a curiosidade
de todo o grupo, exclamou:
Mestre, deve estar doendo muito!
Sim, está, redarguiu o mestre, comedido
como sempre.
Indignado, prosseguiu o aprendiz: Então,
por que o senhor retornou para salvar esse bicho ruim e venenoso? Deixasse
que ele se afogasse! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou
a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!
O mestre, sereno e brando, olhando para o grupo afirmou:
O escorpião agiu conforme a natureza dele e eu de acordo
com a minha.
* * *
Desde que nascemos, todos somos incluídos
na sociedade, criamos laços familiares e, aos poucos, vamos
assumindo nossos papéis sociais.
Somos pais, filhos, irmãos, tios,
primos, sobrinhos. E também patrões, empregados, voluntários,
prestadores de serviço, profissionais liberais.
Nem sempre tais relações
são livres de desavenças, discórdias, mágoas,
decepções.
Aqueles que buscamos exercer o convívio
social, de forma profícua, muitas vezes caímos na cilada
de querer que o outro se modifique conforme nossa própria maneira
de compreender o mundo.
Esperamos que, para o bem da relação,
o outro faça os devidos ajustes morais, pois é ele quem
permanece no erro. Esperamos sempre que o próximo se modifique,
para que, dessa forma, talvez nós possamos fazer alguns ajustes.
Entretanto, devemos nos lembrar de que
todos nós somos Espíritos imortais em busca da elevação
intelecto-moral.
Os erros que apontamos no outro, com
tanta veemência, podem estar, de forma ainda mais acentuada,
gravados em nós e, por isso, temos tanta facilidade para os
detectar no próximo.
Ademais, somos todos caminheiros do
progresso e temos nossas parcelas de erros e de acertos. Aquele que
ora nos fere e que nosso coração custa a perdoar, é
tão passível de se equivocar quanto nós.
Cada um age de acordo com seus preceitos
morais. A única certeza que temos é que não somos
os donos da verdade.
Antes, estamos em sua busca através
de Jesus, que teve a oportunidade de dizer: Eu sou o Caminho,
a Verdade e a Vida.
Na dúvida, procuremos seguir
as recomendações do Cristo, que nos sugere que não
julguemos o nosso próximo, que perdoemos setenta vezes sete
vezes, que oremos e que vigiemos - não o outro, mas a nós
mesmos.
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Redação do Momento Espírita,
com conto inicial de
autoria ignorada.
Em 12.3.2013.
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3781&stat=0
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