OS DOIS CÂNTAROS
Um moço religioso que vivia entre os monges
do deserto sentia-se pouco inteligente e incapaz de guardar os ensinamentos
recebidos.
Entristecido, procurou um velho sábio e lhe disse:
"Apesar dos esforços constantes que faço, não
chego a conservar na memória, durante muito tempo, as instruções
que recebo. Vão, também, para o esquecimento os trechos
mais belos que leio, diariamente, no evangelho."
O sábio que o escutava com paciência e bondade pegou dois
cântaros e falou ao jovem:
"Meu filho, toma um daqueles cântaros. Coloca um pouco
d'água, e depois lava-o cuidadosamente. Enxuga-o com o teu próprio
hábito e devolve-o ao lugar onde estava."
Obediente, o moço fez exatamente o que lhe
determinou o sábio.
Concluída a tarefa, o ancião perguntou-lhe qual dos dois
cântaros estava mais limpo e claro. O rapaz tomou nas mãos
o cântaro que acabara de secar e respondeu:
"Este, por certo, está mais limpo. Lavei-o com muito
cuidado." – disse sorrindo.
O sábio, então, retorquiu:
"Repara bem." – apontando para o cântaro limpo.
"Ele difere muito daquele outro que não foi lavado por você
e continua sujo e empoeirado. Porém, embora inegavelmente limpo,
este cântaro não retém mais vestígio algum
da água que o purificou. Também aquele que ouve, confiantemente
os ensinos do Evangelho, e se deixa tocar por eles, vivenciando-os,
embora não grave na memória a exata palavra dos ensinamentos
recebidos, traz o coração tão puro quanto um cântaro
lavado."
De nada adianta recitar belos trechos do evangelho
e não viver os ensinamentos do Cristo.
De nada adianta guardar na memória passagens belas e edificantes
da vida de nobres missionários se não exemplificamos em
nossos atos diários, as lições que julgamos tão
valiosas.
De nada adianta saber que Jesus é nosso modelo e guia, se nossos
passos ainda insistem em seguir por caminhos que nos distanciam do mestre
nazareno.
Em dias como os nossos em que o conhecimento a respeito de tantas coisas
nos é ofertado com grande rapidez e facilidade, devemos refletir
a respeito do uso que fazemos dele.
A cultura e o esclarecimento têm servido aos homens como alavancas
para o desenvolvimento intelectual.
O intelecto e a moral são as duas asas necessárias ao
progresso do espírito e a intelectual é a primeira asa
que os seres desenvolvem.
Mas com uma asa apenas não há como se alçar vôo.
Há, pois, outros progressos a serem alcançados.
A responsabilidade daquele que conhece a verdade é maior do que
a daquele que ainda permanece na escuridão da ignorância.
A luz do saber deve estar aliada ao desejo de acertar e de ser melhor.
Há tantos seres extremamente inteligentes que têm usado
sua capacidade privilegiada para praticar crimes que lesam milhares
de pessoas.
E assim, com o intuito de obter vantagens indevidas, enganam e criam
ciladas variadas.
Usufruem temporariamente de uma felicidade fictícia, porque a
própria consciência há de lhes exigir, cedo ou tarde,
a reparação pelo mal que praticaram.
Perceberão, um dia, que mais importante do que saber muito é
utilizar bem o pouco que já se sabe.
É necessário progredir também moralmente.
Eis aí a segunda asa que há de nos permitir atingir o
céu da felicidade verdadeira. Asa esta que só conquistaremos
quando fizermos uso adequado e justo dos conhecimentos que temos acumulado
ao longo das existências e dos séculos.
Pensemos nisso.
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Equipe de Redação do
Momento Espírita, com base no livro Os melhores contos de Malba
Tahan, Editora Record, 17ª edição, pp. 115-116.
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1152&let=D&stat=0
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